São João Bosco, Presbítero
Salmo Responsorial: 3
R. Erguei-Vos,
Senhor, e salvai-me.
Senhor, são tantos os meus inimigos, tão numerosos os que se
levantam contra mim! Muitos são os que dizem a meu respeito: «Deus não o vai
salvar».
Vós, porém, Senhor, sois o meu protetor, a minha glória e
Aquele que me sustenta. Em altos brados clamei ao Senhor, Ele respondeu-me da
sua montanha sagrada.
Deito-me e adormeço, e me levanto: sempre o Senhor me
ampara. Não temo a multidão, que de todos os lados me cerca.
Aleluia. Apareceu no meio de nós um grande profeta: Deus visitou o seu
povo. Aleluia.
Evangelho (Mc 5,1-20): Jesus e os discípulos
chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu
do barco, um homem que tinha um espírito impuro saiu do meio dos túmulos e foi
a seu encontro. Ele morava nos túmulos, e ninguém conseguia amarrá-lo, nem
mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido preso com grilhões e com
correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava os grilhões, e ninguém
conseguia dominá-lo. Dia e noite andava entre os túmulos e pelos morros,
gritando e ferindo-se com pedras. Ao ver Jesus, de longe, o homem correu, caiu
de joelhos diante dele e gritou bem alto: «Que queres de mim, Jesus, Filho de
Deus Altíssimo? Por Deus, não me atormentes!». Jesus, porém, disse-lhe:
«Espírito impuro, sai deste homem!»- E perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» Ele
respondeu: «Legião é meu nome, pois somos muitos». E suplicava-lhe para que não
o expulsasse daquela região Entretanto estava pastando, no morro, uma grande
manada de porcos. Os espíritos impuros suplicaram então: “Manda-nos entrar nos
porcos». Jesus permitiu. Eles saíram do homem e entraram nos porcos. E os
porcos, uns dois mil, se precipitaram pelo despenhadeiro no mar e foram se
afogando. Os que cuidavam deles fugiram e espalharam a notícia na cidade e no
campo. As pessoas saíram para ver o que tinha acontecido. Chegaram onde estava
Jesus e viram o possesso sentado, vestido e no seu perfeito juízo — aquele que
tivera o Legião. E ficaram com medo. Os que tinham presenciado o fato
explicavam-lhes o que havia acontecido com o possesso e com os porcos. Então,
suplicaram Jesus para que fosse embora do território deles. Enquanto Jesus
entrava no barco, o homem que tinha sido possesso pediu para que o deixasse ir
com ele. Jesus, porém, não permitiu, mas disse-lhe: «Vai para casa, para junto
dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti».
O homem foi embora e começou a anunciar, na Decápole, tudo quanto Jesus tinha
feito por ele. E todos ficavam admirados.
«Espírito impuro, sai deste homem!»
Rev. D. Ramon Octavi
SÁNCHEZ i Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)
A atitude deles, mesmo que humanamente poderia parecer
lógica, não deixa de ser francamente recriminável: prefeririam ter salvado seus
porcos antes que a cura do endemoninhado. Isto é, antes os bens materiais, que
nos proporcionam dinheiro e bem estar, que a vida em dignidade de um homem que
não é dos “nossos”. Porque o que estava possuído por um espírito maligno só era
uma pessoa que «Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes,
gritando e ferindo-se com pedras» (Mc 5,5).
Nós temos muitas vezes este perigo de apegar-nos ao que é
nosso, e desesperar-nos quando perdemos aquilo que só é material. Assim, por
exemplo, o camponês se desespera quando perde uma colheita mesmo tendo-a
assegurada, ou o jogador de bolsa faz o mesmo quando suas ações perdem parte de
seu valor. Em compensação, muitos poucos se desesperam vendo a fome ou a
precariedade de tantos seres humanos, alguns dos quais vivem ao nosso lado.
Jesus sempre pôs em primeiro lugar as pessoas, mesmo antes
que as leis e os poderosos de seu tempo. Mas nós, muitas vezes, pensamos só em
nós mesmos e naquilo que acreditamos que nos traz felicidade, mesmo o egoísmo
nunca traz felicidade. Como diria o bispo brasileiro Helder Câmara: «O egoísmo
é a fonte mais infalível de infelicidade para si mesmo e para os que o
rodeiam».
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«É como se Jesus dissesse: Sai da minha casa, o que fazes na
minha casa? Eu desejo entrar: Sai deste homem, desta morada preparada para mim»
(São Clemente de Roma)
«O cristão é alguém que carrega consigo um desejo profundo:
o de encontrar o seu Senhor com os seus irmãos ... É isso que nos faz felizes!»
(Francisco)
«O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a
caridade, torna necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma
conversão do coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da
Reconciliação» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1856).
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* O poder do mal
oprime, maltrata e aliena as pessoas. Os versículos iniciais descrevem a
situação do povo antes da chegada de Jesus. Na maneira de descrever o
comportamento do endemoninhado, Marcos associa o poder do mal com cemitério e
morte. É um poder sem rumo, ameaçador, descontrolado e destruidor, que mete
medo em todos. Priva a pessoa da consciência, do autocontrole e da autonomia.
* Diante da simples
presença de Jesus o poder do mal desmorona e desintegra. Na maneira de
descrever o primeiro contato entre Jesus e o homem possesso, Marcos acentua a
desproporção total! O poder, que antes parecia tão forte, se derrete e se
desmancha diante de Jesus. O homem cai de joelhos, pede para não ser expulso da
região e entrega até o seu nome Legião. Através deste nome, Marcos associa o
poder do mal com o poder político e militar do império romano que dominava o
mundo através das suas Legiões.
* O poder do mal é
impuro e não tem autonomia nem consistência. O demônio não tem poder sobre
os seus próprios movimentos. Só consegue ir para dentro dos porcos com a
permissão de Jesus! Uma vez dentro dos porcos, estes se precipitam no mar. Eram
2000 porcos! Na opinião do povo, o porco era símbolo da impureza que impedia o
ser humano de relacionar-se com Deus e sentir-se acolhido por Ele. O mar era
símbolo do caos que existia antes da criação e que, conforme a crença da época,
ameaçava a vida. Este episódio dos porcos que se precipitam no mar é estranho e
difícil de ser entendido. Mas a mensagem é muito clara: diante de Jesus, o
poder do mal não tem autonomia nem consistência. Quem crê em Jesus já venceu o
poder do mal e já não precisa ter medo!
* A reação do povo do
lugar. Alertado pelos empregados que tomavam conta dos porcos, o povo do
lugar veio e viu o homem liberto do poder do mal “em perfeito juízo”. Mas eles
ficaram sem os porcos! Por isso, pedem a Jesus para ir embora. Para eles, os
porcos eram mais importantes que o ser humano que acabava de ser devolvido a si
mesmo. Assim é hoje: o sistema neoliberal pouco se importa com as pessoas. O
que importa é o lucro!
* Anunciar a Boa Nova
é anunciar “o que o Senhor fez por você!” O homem liberto quer “seguir
Jesus”, mas Jesus diz: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncia a eles o
que o Senhor fez por você!”. Esta frase de Jesus, Marcos a dirige às
comunidades e a todos nós. Para a maioria de nós “seguir Jesus” significa: “Vá
para sua casa e anuncia aos seus o que o Senhor te fez!”
Para um confronto
pessoal
1) Qual o ponto
deste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por que?
2) O homem curado
quer seguir Jesus. Mas ele deve ficar em casa e contar a todo mundo o que Jesus
fez por ele. O que Jesus fez por você que pode ser contado para os outros?
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