Salmo Responsorial: 70
R. A minha boca
proclamará a vossa salvação.
Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido. Pela
vossa justiça, defendei-me e salvai-me, prestai ouvidos e libertai-me.
Sede para mim um refúgio seguro, a fortaleza da minha
salvação. Vós sois a minha defesa e o meu refúgio: meu Deus, salvai-me do
pecador.
Sois Vós, Senhor, a minha esperança, a minha confiança desde
a juventude. Desde o nascimento Vós me sustentais, desde o seio materno sois o
meu protetor.
A minha boca proclamará a vossa justiça, dia após dia a
vossa infinita salvação. Desde a juventude Vós me ensinais e até hoje anunciei
sempre os vossos prodígios.
2ª Leitura (1Cor 12,31—13,13): Irmãos: Aspirai com
ardor aos dons espirituais mais elevados. Vou mostrar-vos um caminho de
perfeição que ultrapassa tudo: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos
anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que
retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e
toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar
montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus
bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade,
de nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é
invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o
próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a
injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há de cessar, a
ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita
conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é
perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como
criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem,
deixei o que era infantil. Agora vemos como num espelho e de maneira confusa,
depois, veremos face a face. Agora, conheço de maneira imperfeita, depois,
conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a
esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.
Aleluia. O Senhor enviou-me a anunciar a
boa nova aos pobres, a proclamar aos cativos a redenção. Aleluia.
Evangelho (Lc 4,21-30): Então, começou a
dizer-lhes: «Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de
ouvir.” Todos testemunhavam a favor dele, maravilhados com as palavras cheias
de graça que saíam de sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José?»
Ele, porém, dizia: «Sem dúvida, me citareis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti
mesmo’. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze também aqui, na
tua terra!» E acrescentou: «Em verdade, vos digo que nenhum profeta é bem
recebido na sua própria terra. Ora, a verdade é esta que vos digo: no tempo do
profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e uma grande
fome atingiu toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a
nenhuma delas foi enviado o profeta Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na
Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas
nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio”. Ao ouvirem estas palavras, na
sinagoga, todos ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade.
Levaram-no para o alto do morro sobre o qual a cidade estava construída, com a
intenção de empurrá-lo para o precipício. Jesus, porém, passando pelo meio
deles, continuou o seu caminho.
«Nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra»
+ P. Pere SUÑER i Puig
SJ (Barcelona, Espanha)
O Evangelho comenta que os de Nazaré estranhavam que dos
seus lábios saíssem aquelas palavras de graça. O facto de que Jesus fosse bem
conhecido dos nazarenos, já que tinha sido seu vizinho durante a infância e
juventude, não facilitava a sua predisposição para aceitarem que era um
profeta. Lembremos a frase de Natanael: «De Nazaré pode sair algo de bom?» (Jo
1,46). Jesus censura a sua incredulidade, lembrando que: «Em verdade, vos digo
que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra» (Lc 4,24). E cita-lhes
o exemplo de Elias e de Eliseu, que fizeram milagres para os forasteiros, mas
não para os seus concidadãos.
Mas a reação dos nazarenos foi violenta. Queriam atirá-lo
para um precipício. Quantas vezes pensamos que Deus tem que realizar as suas ações
salvadoras adaptando-se aos nossos grandiloquentes critérios! Ofende-nos que se
sirva do que nós consideramos pouca coisa. Gostaríamos de ter um Deus espetacular.
Mas isso é próprio do tentador, no pináculo: «Se és Filho de Deus, lança-te
daqui abaixo» (Lc 4,9). Jesus Cristo revelou-se como um Deus humilde: o Filho
do homem «não veio para ser servido, mas para servir» (Mc 10,45). Imitemo-Lo.
Para salvar as almas, não é necessário ser grande como São Xavier. A humilde
Teresa do Menino Jesus é sua companheira, como padroeira das missões.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Assim, toda alma, privada da virtude e do conhecimento de
Deus, ao receber a palavra divina, aprende a alimentar a palavra com o pão das
virtudes e a regar a ciência da virtude com a fonte da vida» (S. Basílio Magno)
«Coragem, Deus está sempre a te abençoar, pois caminha
contigo. Precisamente pelo dom do Espírito, Jesus fará com que os fiéis
participem da sua comunhão filial e da sua intimidade com o Pai» (São João
Paulo II)
«No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito
do Senhor repousaria sobre o Messias esperado (cf. Is 11,2), em vista da sua
missão salvífica. A descida do Espírito Santo sobre Jesus, aquando do seu
baptismo (…) foi o sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o
Messias, o Filho de Deus» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.286).
Cristo e os seus seguidores seremos sinal de contradição.
Pe. Antonio Rivero,
L.C.
Em primeiro lugar, Cristo foi desde que nasceu sinal de
contradição; assim disse Simeão a Maria e a José quando estes o apresentaram no
templo (cf. Lc 2, 21-40). Jesus foi falar três vezes na sua cidade, Nazaré. Na
primeira o aplaudiram até o ponto de sair fumaça das palmas da mão, porque
falava “como os anjos”, era o seu paisano e não tinha mais do que falar. Na
segunda o vaiaram porque emendou a página ao profeta Isaias, o filho do
carpinteiro ao profeta, até ai podemos chegar, dizendo que o Messias não é o
Deus das vinganças, mas o Deus das bondades e do perdão. Na terceira vez, foi a
vencida: porque igualou diante de Deus os estrangeiros, judeus e pagãos,
empurram-no pelas ruas até os arredores da cidade, ao precipício, e uma
investida do povo e… como pode passar pela cabeça de alguém colocar no mesmo
nível dos pagãos, estrangeiros e judeus, estes últimos que eram raça eleita por
Deus? Definitivamente esse Jesus de Nazaré pirou de vez. Sinal de contradição!
Porque prega outra Notícia diferente- as bem-aventuranças-, mais interior e não
tanto exterior e escrava de preceitos, e que não fazia ressoar o eco do Antigo
Testamento… está desfigurando a religião de Israel! Porque ia aos banquetes,
comia e bebia com pecadores. Porque permitia ser tocado pelos pecadores, era
considerado um proscrito e que cheirava mal. Porque deixava que o acompanhassem
mulheres que o serviam nas suas necessidades, e não cumpria a lei de Moisés.
Porque ensinava nas ruas e nas estradas sem ter o seu título e sem ser escriba
sabichão e sem levar um livro debaixo do braço, era criticado. Porque deixava
que as crianças se aproximassem Dele, e as acariciava e abençoava, estava
debaixo da lupa dos fariseus e dos doutores da lei. Porque era um peregrino itinerante
que não tinha onde reclinar a cabeça, era considerado esquisito e fora do
comum. Sinal de contradição! “Veio aos seus e os seus não o receberam” (Jo
1,11). Para quem Jesus é sinal de contradição e pedra de escândalo? Para os
soberbos, para os que se resistem a crer, converte-se em “rocha de escândalo”
(cf. 1 Pe 2,8). E é o mesmo Senhor quem adverte: “Bem- aventurado o que não se
escandalize de mim” (Mt 11,6).
Em segundo lugar, a Igreja também foi, é e será sinal de
contradição. A pregação da Igreja, a sua mesma presença no meio do mundo,
resulta incômoda quando, fazendo-se eco do ensinamento de Cristo, pronuncia o
que não deseja ser ouvido; quando recorda que o homem não é Deus, que a lei
ditada pelos homens nem sempre coincide com a lei de Deus; quando desafia os
convencionalismos pacificamente aceitados pelo nosso egoísmo, pela nossa
comodidade e pela nossa soberba; quando proclama a verdade do matrimônio uno,
indissolúvel, fecundo, até a morte. A Igreja é sinal de contradição quando não
comunga com as ideologias de moda. Como Jeremias (1ª leitura) e como Cristo, a
Igreja não deve se amedrontar. É Deus quem faz para o profeta praça forte,
coluna de ferro e muralha de bronze. A força da Igreja não provém do poder das
armas, o do dinheiro, o do prestigio mundano. A força da Igreja provém da sua
fidelidade ao Senhor. A resistência da Igreja radica na força paradoxal do
amor; um amor que “desculpa sem limites, crê sem limites, espera sem limites,
aguenta sem limites” (1Cor 13,7). A autêntica prioridade para a Igreja,
escreveu o Papa Bento XVI, é “o compromisso laborioso pela fé, pela esperança e
pelo amor no mundo”. Com essa prioridade devemos trabalhar todos, aceitando o
desafio da rejeição, e dando, incansavelmente, testemunho do amor de Deus.
Finalmente, os autênticos seguidores de Cristo, os profetas
de Deus experimentarão também este sinal de contradição. Esta é uma constante
que acompanha os autênticos profetas, desde o Antigo Testamento até os tempos
presentes. Os falsos profetas, os que dizem o que as pessoas querem escutar e,
sobretudo, o que compraz os ouvidos dos poderosos, prosperam. Mas os profetas
verdadeiros resultam incômodos e provocam uma reação em contra quando na sua
pregação tocam temas candentes, colocando o dedo na ferida de alguma injustiça
ou situação de infidelidade. Se não, perguntemos a São João Batista ao
denunciar o adultério do rei Herodes. Ou ao beato Oscar Romero, que ganhou o
apelido de “a voz dos sem voz”. A sua defesa dos mais desfavorecidos de El
Salvador fez que o Parlamento britânico o propusesse como candidato para o
Premio Nobel da Paz em 1979. Desgraçadamente, os seus contínuos chamamentos ao
diálogo, para que os ricos não se aferrassem ao poder, e os oprimidos não
optassem pelas armas, não surtiram efeito, apesar da popularidade que
alcançaram as suas homilias dominicais. Obstinados em reprimir toda oposição,
agentes do Estado terminaram por assassinar monsenhor Romero, no dia 23 de
marco de 1980, e continuaram violando os direitos humanos, provocando uma
guerra civil em El Salvador que duraria onze anos e causaria 70.000 mortos.
Para refletir: reflitamos
nestas palavras do Papa Francisco: “Mantemos o olhar fixo em Jesus, porque a
fé, que é o nosso “sim” à relação filial com Deus, vem dele, vem de Jesus. É
Ele o único mediador desta relação entre nós e o nosso Pai que está no céu.
Jesus é o Filho, e nós somos filhos Nele. […] Por isto Jesus diz: veio trazer
divisão; não é que Jesus queira dividir os homens entre si, ao contrário: Jesus
é a nossa paz, a nossa reconciliação. Mas esta paz não é a paz dos sepulcros,
não é neutralidade, Jesus não traz neutralidade, esta paz não é uma fábula a
qualquer preço. Seguir Jesus comporta renunciar o mal, o egoísmo e eleger o
bem, a verdade, a justiça, inclusive quando isto requer sacrifício e renúncia
aos próprios interesses. E isto sim, divide; sabemos disto, divide inclusive as
relações mais próximas. Porém, atenção: não é Jesus quem divide. Ele põe o
critério: viver para si mesmos, ou viver para Deus e para os demais; fazer-se servir,
ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Eis aqui em que sentido
Jesus é “sinal de contradição” (Homilia de S.S. Francisco, 18 de agosto de
2013).
Para rezar: Senhor,
dai-me coragem para poder ser sinal de contradição sem medo, seguindo vosso
exemplo e de tantos irmãos e irmãs cristãos, que inclusive deram a vida por Vós
e pelo Evangelho
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o
padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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