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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Sagrada Família

1ª Leitura (1Sam 1,24-28): Naqueles dias, Ana tomou Samuel consigo e, levando um novilho de três anos, três medidas de farinha e um odre de vinho, conduziu-o à casa do Senhor, em Silo. O menino era muito pequeno. Imolaram o novilho e apresentaram o menino a Heli. Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor. Por tua vida, eu sou aquela mulher que esteve aqui orando ao Senhor na tua presença. Eis o menino por quem orei: o Senhor ouviu a minha súplica. Por isso também eu o ofereço para que seja consagrado ao Senhor todos os dias da sua vida». E adoraram o Senhor.

Salmo Responsorial: 127

R. Felizes os que esperam no Senhor e seguem os seus caminhos.

Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda, no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira, ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém, todos os dias da tua vida.

2ª Leitura (Col 3,12-21): Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em ação de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.

Aleluia. Reine em vossos corações a paz de Cristo, habite em vós a sua palavra. Aleluia.

Evangelho (Lc 2,41-52): Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando completou doze anos, eles foram para a festa, como de costume. Terminados os dias da festa, enquanto eles voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Pensando que se encontrasse na caravana, caminharam um dia inteiro. Começaram então a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Mas, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém, procurando-o. Depois de três dias, o encontraram no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos aqueles que ouviam o menino ficavam maravilhados com sua inteligência e suas respostas. Quando o viram, seus pais ficaram comovidos, e sua mãe lhe disse: «Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura!» Ele respondeu: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai?» Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes falou. Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens.

«O encontraram no templo, sentado entre os mestres. Ficavam maravilhados com sua inteligência»

+ Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida, Espanha)

Hoje contemplamos, como continuação do Mistério da Encarnação, a inserção do Filho de Deus na comunidade humana por excelência, a família e, a progressiva educação de Jesus por parte de José e Maria. Como diz o Evangelho, «E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2,52).

O livro do Eclesiástico, lembra-nos que «Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe» (Si 3,2). Jesus tem doze anos e manifesta a boa educação recebida no lar de Nazaré. A sabedoria que mostra evidencia, sem dúvidas, a ação do Espírito Santo, mas também o inegável bom saber educador de José e Maria. A inquietação de Maria e José põe de manifesto sua solicitude educadora e sua companhia amorosa para com Jesus.

Não é necessário fazer grandes arrazoamentos para ver que hoje, mais do que nunca, é necessário que a família assuma com força a missão educadora que Deus lhe confiou. Educar é introduzir na realidade e, somente o pode fazer aquele que a vive com sentido. Os pais e mães cristãos devem educar desde Cristo, fonte de sentido e de sabedoria.

Dificilmente podem pôr remédio aos déficit de educação do lar. Tudo aquilo que não se aprende em casa não se aprende fora, se não é com grande dificuldade. Jesus vivia e aprendia com naturalidade no lar de Nazaré as virtudes que José e Maria exerciam constantemente: espírito de serviço a Deus e aos homens, piedade, amor ao trabalho bem feito, solicitude de uns pelos outros, delicadeza, respeito, horror ao pecado... As crianças, para crescerem com cristãos, necessitam testemunhos e, se estes são os pais, essas crianças serão afortunadas.

É necessário que todos vamos hoje buscar a sabedoria de Cristo para levá-la a nossas famílias. Um antigo escritor, Orígenes, comentado no Evangelho de hoje, dizia que é necessário que aquele que procura Cristo, o procure não de maneira negligente e com desleixo, como o fazem alguns que não o acham nunca. Há que procurá-lo com “inquietude”, com grande afã, como o procuravam José e Maria.

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«Como gostaríamos que o amor ao silêncio se renovasse e se reforçasse em nós, este hábito admirável e indispensável do espírito. —Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento e a interioridade» (São Paulo VI)

«O Senhor entrou humildemente na terra. Ele cresceu como uma criança normal, ele passou pelo teste de trabalho, mesmo também pela prova da cruz. No final, ele ressuscitou. O Senhor nos ensina que na vida nem tudo é mágico, o triunfalismo não é cristão» (Francisco)

«Jesus compartilhou, durante a maior parte da sua vida, a condição da grande maioria dos homens: uma vida cotidiana sem importância aparente, uma vida de trabalho manual, uma vida Religioso judeu sujeito à lei de Deus, uma vida em comunidade. De todo esse período nos é dito que Jesus foi "submetido" a seus pais e que 'ele progrediu em sabedoria, estatura e na graça diante de Deus e dos homens ' (Lc 2,51-52)» (Catecismo da Igreja Católica, n. 531)

Que a Sagrada Família de Nazaré seja um exemplo para nós.

O autor, no v. 41, apresenta uma informação geográfica importante, por se tratar do Evangelho segundo Lucas: o deslocamento da família de Jesus de Nazaré (ou da Galileia) para Jerusalém. Esse movimento perpassará todo esse evangelho e será a direção tomada por Jesus durante seu ministério público, até sua morte em Jerusalém.

A peregrinação anual a Jerusalém fazia parte dos costumes judaicos. A Lei prescrevia que cada judeu deveria peregrinar três vezes ao ano a Jerusalém para celebrar as grandes festas: da Páscoa, das Cabanas e das Semanas (Pentecostes). No entanto, aqueles que morassem longe (a distância de um dia) eram dispensados dessa lei. A família de Jesus peregrina a Jerusalém para ter a oportunidade de estar no Templo e cumprir algumas prescrições religiosas, pelo menos uma vez por ano, ainda que morasse distante, como nos informa o relato.

No judaísmo, o jovem, a partir dos 13 anos, adquiria a maturidade religiosa e tinha o direito de ler a Torá na sinagoga. Não temos, porém, dados para saber se realmente isso era realizado no tempo de Jesus, apesar de esse ritual nos ajudar a compreender a permanência de Jesus no Templo entre os mestres da Lei e a ver nele não somente alguém pleno de sabedoria, mas também aquele que revela a sabedoria do Pai. Jesus também é identificado como Mestre, como aquele que fala com autoridade (cf. Lc 4,32).

O evangelista não nos oferece nenhum detalhe sobre o que realmente ocorreu ou como foi possível não notar a ausência do filho na caravana de volta para Nazaré (vv. 43-45), dado que, provavelmente, a intenção do autor era realçar a preocupação dos pais ao perceberem a perda do filho.

Nos vv. 46-50, o narrador expõe a cena do encontro de Maria e José com Jesus e enfatiza a resposta deste diante da angústia dos pais. A indicação de tempo, após “três dias” (v. 46), é muitas vezes interpretada como uma alusão à morte e à ressurreição de Jesus, apesar de isso não ser uma característica de Lc. No entanto, tal aspecto pode ser considerado quando se sublinham as afinidades existentes entre esse relato e as narrativas da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

No diálogo, nos vv. 48b-50, Jesus apresenta sua identidade e missão, ao se revelar como Filho de Deus (cf. Lc 4,43) e ao exprimir sua total disponibilidade à vontade do Pai. A cena do encontro de Maria com o filho é descrita de maneira simples, com um tom semelhante ao daquelas situações em que pais aflitos encontram os filhos supostamente perdidos, nas quais há uma mistura de preocupação, angústia, cuidado, “raiva”, como forma de desabafar o desespero que os sufocavam. Percebe-se, porém, que se trata de família que vive as exigências de sua vocação específica e, dialogando, tenta discernir a vontade de Deus diante dos acontecimentos cotidianos.

Apesar da incompreensão da atitude de Jesus, Maria não fica indiferente a esse mistério e o guarda no coração. Note-se que o Evangelho de Lucas permanece fiel à sua finalidade de revelar a verdadeira identidade de Jesus somente depois da ressurreição.

Os vv. 51-52 apresentam Jesus novamente submisso aos seus pais, vivendo conforme a Lei de Deus e cumprindo os mandamentos, sobretudo o de “honrar pai e mãe” (cf. Dt 5,16 e o texto da I leitura). Apesar do contraste com a cena precedente e da consciência de Jesus de sua filiação divina, estes versículos nos mostram que realmente o Filho de Deus assume a condição humana e o processo normal de crescimento. De fato, Lucas descreve Jesus adolescente, que progride em sua maturidade humana, física e espiritual. Também confirma o que é dito na I leitura, ou seja: aquele que é obediente aos pais e os trata com respeito receberá as bênçãos de Deus. O termo “graça” pode ser também traduzido por “amor”, “caridade”, ou bondade, que, conforme a II leitura, é o vínculo da perfeição.

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