São Rafael de São José (Kalinowski), Presbítero
de nossa Ordem
S. Roque Gonzalez, S. Afonso Rodrigues e S. João de Castilhos, presbíteros e mártires.
Santa Mectildes de Helfa, virgem
Salmo Responsorial: 1 Cr 29
R. Celebramos,
Senhor, o vosso nome glorioso.
Bendito sejais, Senhor, para todo o sempre, Deus do nosso
Pai, Israel. A Vós, Senhor, a grandeza e o poder, a honra, a majestade e a
glória.
Tudo, no céu e na terra, Vos pertence, sois o Rei soberano
de todas as coisas. De Vós nos vem a riqueza e a glória, sois Vós o Senhor de
todo o universo.
Na vossa mão está o poder e a força, em vossas mãos tudo se firma
e cresce. Nós Vos louvamos, Senhor, nosso Deus, e celebramos o vosso nome
glorioso.
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu
conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
Evangelho (Lc
19,45-48): Naquele tempo, Jesus entrou no templo e começou a expulsar os que
ali estavam vendendo. E disse: «Está escrito: Minha casa será casa de oração.
Vós, porém, fizestes dela um antro de ladrões». Todos os dias, ele ficava
ensinando no templo. Os sumos sacerdotes, os escribas e os notáveis do povo
procuravam um modo de matá-lo. Mas não sabiam o que fazer, pois o povo todo
ficava fascinado ao ouvi-lo falar.
«Minha casa será casa de oração»
P. Josep LAPLANA OSB Monge de Montserrat (Montserrat, Barcelona, Espanha)
O Novo Rito é a palavra de Jesus. Por isso, São Lucas
associou à cena da purificação do templo a apresentação de Jesus, nele pregando
cada dia. O novo culto centra-se na oração e na escuta da Palavra de Deus. Mas,
na realidade, o centro do centro da instituição cristã é a própria pessoa viva
de Jesus, com a sua carne entregue e o seu sangue derramado na cruz e
oferecidos na Eucaristia. Também Santo Tomás o destaca de modo muito belo:
«Recumbens com fratribus (...) se dat suis manibus» («Sentado à mesa com os
irmãos (...) dá-se a si mesmo com as suas próprias mãos»).
No Novo Testamento, inaugurado por Jesus, já não são
necessários nem bois nem vendedores de cordeiros. Tal como «todo o povo ficava
fascinado ao ouvi-lo falar» (Lc 19,48), também nós não temos de ir ao templo
para imolar vítimas, mas para receber Jesus, o autêntico cordeiro imolado por
nós, de uma vez para sempre (cf. He 7,27), e para unir a nossa vida à de Jesus.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 19,45: A expulsão
dos vendedores do templo. Chegando no Templo, Jesus faz um gesto violento:
“Começou a expulsar os vendedores”. No
evangelho de Marcos se diz que “derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras
dos vendedores de pombas. Ele não deixava ninguém carregar nada através do
Templo” (Mc 11,15-16). E no evangelho de João chegou a usar um chicote de
cordas para ameaçar o pessoal (Jo 2,15). Conforme o gesto simbólico de Jesus,
descrito por Marcos (Mc 11,12-14), o Templo de Jerusalém, do jeito que estava
funcionando, não passava de uma árvore frondosa, bonita, cheia de folhas, mas
sem oferecer fruto para o povo faminto que buscava o Deus da vida. Por isso,
num gesto violento de autoridade, Jesus declara encerrado o expediente do
Templo e põe fim ao culto da maneira como este estava sendo realizado. Já não
tinha mais sentido: “Nunca mais ninguém coma do teu fruto!” (Mc 11,14.20).
* Lucas 19,46: O que estava errado no culto do Templo? E
disse: "Está nas Escrituras: 'Minha casa será casa de oração'. No entanto,
vocês fizeram dela um antro de ladrões." Jesus cita dois profetas: Isaías
e Jeremias. Isaías dizia que o Templo devia ser uma casa de oração para todos
os povos (Is 56,7). A realidade, porém, era outra. Estrangeiros, mulheres e
pessoas consideradas impuras não podiam entrar no templo. Eram excluídas. Por
meio deste texto de Isaías, Jesus ensina que o Templo deve ser não um lugar de
exclusão, mas sim de inclusão. Deve estar aberto para todos. Jeremias dizia que
o Templo tinha sido transformado num “covil de ladrões” (Jr 7,11). O mesmo
estava acontecendo no tempo de Jesus. Assim, citando Jeremias, Jesus denuncia o
mau uso do Templo. A religião não pode ser usada para explorar o povo nem para
sustentar e legitimar os privilégios da classe dirigente.
* Lucas 19,47-48: As
autoridades decidem matar Jesus. Os chefes dos sacerdotes, os doutores e os
anciãos, incomodados pelo gesto de Jesus, decidem matá-lo. Mas eles têm medo do
povo que estava maravilhado com o ensinamento de Jesus. À tardezinha, diante
das ameaças das autoridades, Jesus sai de novo da cidade e volta para Betânia,
o nome significa Casa da Pobreza.
* A contradição do
Templo: casa de oração e covil de ladrões. Na festa de Páscoa o povo
romeiro vinha caminhando, dos lugares mais distantes para encontrar-se com Deus
no Templo. O Templo ficava no alto de um pequeno morro na zona norte-nordeste
da cidade, chamado Monte Sião. O povo observava a beleza do Templo, a firmeza
das muralhas e a grandeza das montanhas ao redor. Esse conjunto imponente fazia
lembrar a proteção de Deus. Por isso rezava: "Aqueles que confiam em Javé
são como o monte Sião: ele nunca se abala, está firme para sempre. Jerusalém é
rodeada de montanhas, assim Javé envolve o seu povo, desde agora e para sempre”.
(Sl 125,1-2). Em Jerusalém estavam também a sede do Governo, o palácio dos
chefes e a casa dos sacerdotes e doutores. Todos estes diziam exercer o poder
em nome de Javé, mas na realidade, muitos deles exploravam o povo com tributos
e impostos. Usavam a religião como instrumento para se enriquecer e para
fortalecer a sua dominação sobre a consciência do povo. Transformaram o Templo,
a Casa de Deus, num “covil de ladrões” (Jr 7,11; cf. Lc 19,46; Mc 11,17). Uma
contradição pesava sobre o Templo. De um lado, lugar de encontro e de
reabastecimento da consciência e da fé. De outro lado, fonte de alienação e de
exploração do povo. Hoje também permanece a mesma contradição: de um lado,
devemos contribuir para a conservação das igrejas e a digna manutenção do
culto. De outro lado, tem gente que se aproveita disso para se enriquecer. A
expulsão dos vendedores ajuda a compreender o motivo pelo qual os homens do
poder decidiram matar Jesus. O Templo, aquela figueira bonita e frondosa,
deveria dar fruto, mas não estava dando, pois uma elite de sacerdotes, anciãos
e escribas tinha-se apoderado dele e o tinha transformado numa fonte de lucro e
num instrumento de dominação das consciências (cf. Mc 11,13-14). O comércio dos
animais, destinados aos sacrifícios no Templo, era controlado pelas famílias
dos Sumos Sacerdotes a um preço mais alto do que no mercado comum na cidade. Só
na noite de páscoa, eram imolados milhares e milhares de ovelhas! Com este
lucro injusto eles faziam caridade para os pobres! O Reino anunciado por Jesus
coloca um ponto final a esta exploração, simbolizada pelos vendedores,
compradores e cambistas do Templo: “Ninguém jamais coma do teu fruto!” Jesus
traz um novo tipo de religião, em que o acesso a Deus se faz através da fé (Mc
11,22-23), da oração (Mc 11,24) e da reconciliação (Mc 11,15-26). Por isso
mesmo, os chefes não gostaram da ação de Jesus e decidiram eliminá-lo.
Para um confronto pessoal
1. Você conhece
casos de pessoas ou de instituições que se aproveitam da religião para se
enriquecer ou para levar uma vida mais fácil? Qual tem sido a sua reação diante
destes abusos?
2. Se Jesus
aparecesse hoje e se entrasse na igreja ou no templo da nossa comunidade, o que
diria e faria?
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