O profeta
Elias aparece nas Sagradas Escrituras como o homem de Deus que caminha na
presença do Senhor, e que, abrasado de zelo, luta pela defesa do culto do único
Deus verdadeiro. Defendeu os direitos de Deus num desafio público, realizado no
monte Carmelo entre ele e os sacerdotes de Baal. Entregou-se à íntima
experiência do Deus vivo no monte Horeb. Nele se inspiraram os primeiros eremitas
que, por volta do séc. XII, iniciaram no Monte Carmelo um novo estilo de vida
que originou a Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte
Carmelo. Por este motivo, o profeta Elias é considerado o Fundador ideal da
Ordem.
1ª LEITURA: 1Rs
19,1-9.11-14 - Acab contou a Jezabel tudo que Elias tinha
feito e como tinha passado ao fio da espada todos os profetas de Baal. Então
Jezabel mandou um mensageiro a Elias para lhe dizer: “Os deuses me cumulem de
castigos, se amanhã, a esta hora, eu não tiver feito contigo o mesmo que
fizeste com a vida desses profetas”. Elias ficou com medo e, para salvar sua
vida, partiu. Chegou a Bersabéia de Judá e ali deixou o seu servo. Depois,
adentrou o deserto e caminhou o dia todo. Sentou-se, finalmente, debaixo de um
junípero e pediu para si a morte, dizendo: “Agora basta, Senhor! Tira a minha
vida, pois não sou melhor que meus pais”. E, deitando-se no chão, adormeceu à
sombra do junípero. De repente, um anjo tocou-o e disse: “Levanta-te e come!”
Ele abriu os olhos e viu junto à sua cabeça um pão assado na pedra e um jarro
de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mas o anjo do SENHOR veio pela segunda
vez, tocou-o e disse: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a
percorrer”. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento,
andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus.
Chegando ali, entrou numa gruta, onde passou a noite. Então a palavra do SENHOR
veio a ele, dizendo: “Que fazes aqui, Elias?” Ele respondeu: “Estou ardendo de
zelo pelo SENHOR, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua
aliança, demoliram teus altares, mataram à espada teus profetas. Só eu escapei;
mas agora querem matar-me também”. O SENHOR disse-lhe: “Sai e permanece sobre o
monte diante do SENHOR”. Então o SENHOR passou. Antes do SENHOR, porém, veio um
vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas
o SENHOR não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o SENHOR
não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o SENHOR não
estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo
isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu,
então, uma voz que dizia: “Que fazes aqui, Elias?” Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo
SENHOR, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança,
demoliram teus altares e mataram à espada teus profetas. Só eu escapei. Mas,
agora, querem matar-me também”. – Palavra do Senhor.
SALMO DE MEDITAÇÃO
R. “És tu o meu Senhor, fora de ti
não tenho bem algum”.
Diante dos
meus olhos tenho presente o Senhor.
Protege-me,
ó Deus: em ti me refugio.
Eu digo ao
SENHOR: “És tu o meu Senhor,
Fora de ti
não tenho bem algum”.
O SENHOR é
a minha parte da herança e meu cálice.
Nas tuas
mãos, a minha porção.
Para mim a
sorte caiu em lugares deliciosos,
maravilhosa
é minha herança.
Sempre
coloco à minha frente o SENHOR,
Ele está à
minha direita, não vacilo.
Disso se
alegra meu coração, exulta a minha alma;
também meu
corpo repousa seguro,
Pois não
vais abandonar minha vida no sepulcro,
Nem vais
deixar que teu santo experimente a corrupção,
O caminho
da vida me indicarás,
alegria
plena à tua direita, para sempre.
2ª LEITURA: 1Pd 1,8-12 - Sem terdes
visto o Senhor, vós o amais. Sem que agora o estejais vendo, credes nele. Isto
será para vós fonte de alegria inefável e gloriosa, pois obtereis aquilo em que
acreditais: a vossa salvação. Esta
salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles
profetizaram a respeito da graça que estava destinada para vós. Procuraram
saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava
neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória que
viria depois. Foi-lhes revelado que não
para si mesmos, mas para vós é que estavam ministrando esses ensinamentos, que
agora são anunciados a vós. Agora vo-los anunciam aqueles que vos pregam a Boa
Nova em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; são revelações que até os
anjos desejam contemplar!
Aleluia. “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Aleluia.
EVANGELHO: Lc 9,28B-36 - Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à
montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa
ficou branca e brilhante. Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias.
Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que
Jesus iria consumar em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam com muito
sono. Quando acordaram, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam
com ele. E enquanto esses homens iam se afastando, Pedro disse a Jesus:
“Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para
Moisés e outra para Elias”. Nem sabia o que estava dizendo. Estava ainda
falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Ao entrarem na
nuvem, os discípulos ficaram cheios de temor. E da nuvem saiu uma voz que
dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Enquanto a voz ressoava,
Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e, naqueles dias, a ninguém
contaram nada do que tinham visto.
CONHECER, RESPEITAR, SITUAR Ler,
reler e confrontar passagens paralelas: Lucas 9, 28b-36;
Um breve olhar
pode ajudar-nos de imediato a ver muitas semelhanças e algumas diferenças. Para
isso leiamos, de novo, o texto, passo a passo:
QUANDO? CONTEXTO - Oito dias depois destas palavras: Mt
e Mc falam de «seis dias». São Lucas fala
de «oito». E acrescenta «depois destas
palavras», ou mais literalmente “depois deste discurso” ou “depois destes
acontecimentos”.
Que acontecimentos:
Depois da primeira missão e do regresso dos Doze; depois da
multiplicação...
Depois de que discurso?
Oito dias depois
de Jesus ter falado sobre a necessidade de o Filho do Homem sofrer, ser entregue
e morrer, para ressuscitar (Lc.9,21-22) e depois de ter enunciado umas cinco
máximas sobre o seguimento dos discípulos (Lc.9,23-27). Em todos os evangelhos, a Transfiguração
situa-se depois do primeiro anúncio da Paixão.
Em Lc. na frase
anterior ao relato
da transfiguração falava-se de
«ver o Reino de Deus», isto é, de reconhecer a realeza do Senhor
Ressuscitado. É o que de certo modo vai acontecer
por antecipação, em visão. A expressão
«oito dias depois»
pode sugerir-nos as
aparições do Ressuscitado.
QUEM? - Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago:
Repare-se na ordem dos três íntimos de Jesus, que é diversa da de Mt e Mc:
Pedro, Tiago e João...
O QUE FAZEM? -
e subiu ao monte, para orar: já sabemos
do valor simbólico do monte, como lugar de revelação... Lucas precisa a
finalidade da subida: «para orar». Aliás
é muito comum
em São Lucas
o acento na
Oração. A própria transfiguração
acontece, «enquanto orava».
O QUE ACONTECEU A
JESUS?
- Enquanto orava,
alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma
brancura refulgente. Lucas
não fala, como Mt
e Mc, de «transfiguração» ou de
«metamorfose». Diz apenas que o seu
“rosto” se tornou outro, se tornou distinto do que tinha. Evoca a experiência
de Moisés (Ex.34,29) que, quando saía
da tenda, tinha o
rosto resplandecente, iluminado pela glória de Deus. O que os discípulos veem no seu rosto é a
«glória de Deus».
QUEM FALA COM JESUS? - Dois homens falavam com Ele: eram
Moisés e Elias: A referência a Moisés e Elias, que aparecem «em glória»,
prepara para o acolhimento de Jesus, como Palavra definitiva do Pai. Moisés e
Elias representam a Lei e os Profetas, todo o
Antigo Testamento e
acenam para Jesus, que
deverá agora ser
o «escutado». No caminho de Emaús,
Jesus retoma os textos da Lei e dos profetas
para iluminar o sentido
dos acontecimentos da sua
morte e ressurreição (Lc.24, 27.32).
DE QUE FALAM? -
que, tendo aparecido em glória, falavam da «partida» de Jesus, que ia
consumar-se em Jerusalém: Lucas é o único
que revela o conteúdo da conversa. Literalmente,
falam do «êxodo», da «partida», da «passagem» de Jesus para o Pai. Falam afinal da sua morte, ressurreição e
ascensão... Jerusalém é o lugar para onde tudo se encaminha.
COMO REAGEM OS
DISCÍPULOS? - Pedro
e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de
Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro
disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos
aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra
para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer: Temos aqui as reações dos discípulos, que vão
do «sono pesado», ao «despertar» (da morte à vida) até ao desejo de permanecer
ali. É uma reação de sentimentos opostos
e confusos, mas que denota a experiência real de quem segue Jesus entre o
cansaço, a ilusão e o desejo de O seguir. Só Lucas diz que eles «viram a glória
de Jesus», (cf. II Pe.1,17-18) fizeram a
experiência da sua Luz. Tratam Jesus não
por «Rabi», mas por «Mestre». Como Mc, Lc refere que Pedro não sabia o que
estava a dizer. Era impossível deter a beleza da experiência que ali fizeram.
QUAL A REVELAÇÃO? DE
QUEM PROCEDE? - Enquanto
assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios
de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu
Filho, o meu Eleito: escutai-O». A cena é
muito semelhante à do Batismo (Lc.3,22).
Trata-se de uma teofania. Deus manifesta-se. A nuvem, a sombra, aponta,
para o cenário das grandes revelações. Até
então Jesus perguntara: «Quem dizem os
homens que Eu sou» (v.18). Agora é o próprio Pai que, como na Baptismo, o
declara Filho seu, mas agora seu “Eleito”. O versículo 35 é o versículo chave desta
revelação. Repare-se que não se diz «Filho muito amado» ou «Filho querido», mas
«Eleito». E diz que é «Este» e não outro. E é a este Filho e não a Moisés ou a Elias
que devemos escutar: “A Ele escutai», diz literalmente. O foco de luz, de certo modo, passa de Moisés
e Elias para se fixar unicamente em Jesus.
QUE ACONTECE DEPOIS DE
TUDO ISTO?
A JESUS - Quando a voz se fez ouvir, Jesus
ficou sozinho. Jesus fica «isolado», só sobre Ele é que a luz «deste cenário»
incide. Ele é a Palavra definitiva do
Pai. Moisés e Elias ficam em contraluz.
AOS DISCÍPULOS - Os discípulos guardaram silêncio e,
naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto. O «segredo» é típico
do Evangelho de Marcos e aparece aqui,
de novo, «naqueles dias»
ou mais literalmente «por momentos». Teriam de passar pela Páscoa
para poderem falar do assunto.
O QUE ME DIZ O SENHOR NESTE TEXTO?
RUMINAR, ACTUALIZAR, DIALOGAR...
•Que valores
profundos me evoca o texto? Cruz e Luz. Bênção, Oração e Paz... Alturas e
profundidades... •Que sinto ou experimento, como reajo ao ler este texto? Sono?
Espanto? Medo? Maravilha mento?
•Sinto-me envolvido
nesta nuvem? Sinto-me
a morrer de sono,
de cansaço...? •Preciso de descansar
para ficar sem «olheiras» e ficar de rosto luminoso? •Sinto-me diante de Jesus,
como «Este» tudo que o Pai tem para dar? •Com que relaciono o texto? Com que
acontecimentos de Cruz e de Luz na minha vida?
III- ORAÇÃO (ORATIO)
- QUE DIGO
EU AO SENHOR QUE ME FALA NESTE TEXTO? Suplicar, louvar, recitar •Em
silêncio, pela palavra, pelo canto, pelo gesto, que digo ao Senhor? •Que palavras,
canto, silêncio ou gesto me provoca a Palavra escutada?
•Pode
cantar-se «Este é o Meu Filho muito amado. Escutai-O. Escutai-O».
IV. CONTEMPLAÇÃO (CONTEMPLATIO): ver, saborear, agir
a. “CUM-TEMPLUM”: é estar num lugar à parte; deixar-se
possuir pela Palavra; deixar-se
abraçar pelo Absoluto
que nos toma
«à parte». Assim
a contemplação é como que: o retorno ao paraíso, dando-nos a consolação;
a irrupção do divino na História; a visão panorâmica (teoria) de tudo à luz do Crucificado
do Ressuscitado; Trata-se de saborear o texto e alimentar-se dele.
b. CONSOLAÇÃO: que Dom me é concedido? Paz... Renovação...
transformação...
Decisão
(que fruto de vida sou chamado a viver?)
- ACTIO Três condições que favorecem a
transfiguração:
a) Oração...
b) Lectio Divina...
c) Vontade de mudar:
O Pior
obstáculo é não querer mudar! - Rom.12,2 Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar,
adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir qual é a vontade de
Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito.Rom.8,29 Porque
àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem
idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogênito de muitos irmãos.
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