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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Quinta-feira depois das Cinzas

São Teotônio de Coimbra, Presbítero

1ª Leitura (Deut 30:15-20): Moisés falou ao povo dizendo: "Vê que eu hoje te proponho a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Se obedecerdes aos preceitos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, amando ao Senhor teu Deus, seguindo seus caminhos e guardando seus mandamentos, suas leis e seus decretos, viverás e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te abençoará na terra em que vais entrar, para possuí-la. Se, porém, o teu coração se desviar e não quiseres escutar, e se, deixando-te levar pelo erro, adorares deuses estranhos e os servires, eu vos anuncio hoje que certamente perecereis. Não vivereis muito tempo na terra onde ides entrar, depois de atravessar o Jordão, para ocupá-la. Tomo hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós, de que vos propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele pois ele é a tua vida e prolonga os teus dias a fim de que habites na terra que o Senhor jurou dar aos teus pais Abraão, Isaac e Jacó".

Salmo Responsorial: 1

R. É feliz quem a Deus se confia!

Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; que não entra no caminho dos malvados, nem junto aos zombadores vai sentar-se; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar.

Eis que ele é semelhante a uma árvore, que à beira da torrente está plantada; ela sempre dá seus frutos a seu tempo, e jamais as suas folhas vão murchar. Eis que tudo o que ele faz vai prosperar.

Mas bem outra é a sorte dos perversos. Ao contrário, são iguais à palha seca espalhada e dispersada pelo vento. Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, mas a estrada dos malvados leva à morte.

Convertei-vos, nos diz o Senhor, está próximo o reino de Deus!

Evangelho (Lc 9,22-25): Naquele tempo, Jesus disse: «É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia. E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?».

«Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me»

Frei Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha)

Hoje é a primeira quinta-feira da Quaresma. Ainda temos fresca as cinzas que a Igreja nos punha ontem sobre a testa, e que nos introduzia neste tempo santo, que é uma trajetória de quarenta dias. Jesus, no Evangelho, nos ensina duas rotas: o Via Crucis que Ele deve recorrer, e nosso caminho em seu seguimento.

Sua senda é o Caminho da Cruz e da morte, mas também o de sua glorificação: «E acrescentou: «O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia» (Lc 9,22). Nossa senda, não é essencialmente diferente da de Jesus, e nos assinala qual é a maneira de segui-lo: «Depois Jesus disse a todos: «Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga» (Lc 9,23).

Abraçado a sua Cruz, Jesus seguia a Vontade do Pai; nós, carregando a nossa sobre os ombros, o acompanhamos em sua Via Crucis.

O caminho de Jesus se resume em três palavras: sofrimento, morte, ressurreição. Nosso Sendero também é constituído por três aspectos (duas atitudes e a essência da vocação cristã): negarmos a nós mesmos, tomar cada dia a cruz e acompanhar a Jesus.

Se alguém não se nega a si mesmo e não toma a cruz, quer afirmar-se e ser o mesmo, quer «salvar sua vida», como diz Jesus. Mas, querendo salvá-la, a perderá. Em compensação, quem não se esforça por evitar o sofrimento e a cruz, por causa de Jesus, salvará sua vida. É o paradoxo do seguimento de Jesus: «De fato, que adianta um homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo?» (Lc 9,25).

Esta palavra do Senhor, que encerra o Evangelho de hoje, agitou o coração de Santo Inácio e provocou sua conversão: «Que aconteceria se eu fizesse o que fez São Francisco e isso que fez São Domingos?». Tomara que nesta Quaresma a mesma palavra nos ajude também a converter-nos!

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Ontem entramos na Quaresma. Até agora a liturgia diária seguia o evangelho de Marcos, passo a passo. A partir de hoje até o dia de Páscoa, a sequência das leituras diárias será dada pela tradição antiga da quaresma com suas leituras próprias, já fixas, que nos ajudarão a entrar no espírito da quaresma e da preparação para a Páscoa. Já desde o primeiro dia, a perspectiva é a Paixão, Morte e Ressurreição e o significado deste mistério para a nossa vida. É o que nos é proposto pelo texto bem pequeno do evangelho de hoje. O texto fala da paixão, morte e ressurreição de Jesus e afirma que o seguimento de Jesus implica em carregar a cruz atrás de Jesus.

* Pouco antes em Lucas 9,18-21, Jesus tinha perguntado: “Quem diz o povo que eu sou?”. Eles responderam relatando as várias opiniões: - “João Batista”.  - “Elias ou um dos antigos profetas”. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O Cristo de Deus!”, ou seja, o senhor é aquele que o povo está esperando! Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isto ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo todos esperavam o messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz, ou profeta! Jesus pensa diferente. Ele se identifica com o messias servidor e sofredor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9; 52,13-53,12).

* O primeiro anúncio da paixão.

 Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça (Is 49,4-9; 53,1-12). Lucas costuma seguir o evangelho de Marcos, mas aqui ele omitiu a reação de Pedro que desaconselhava Jesus de pensar no messias sofredor e omitiu também a dura resposta: “Vá embora Satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens!” Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que Pedro o afaste da sua missão.

* Condições para seguir Jesus.

Jesus tira as conclusões que valem até hoje: Quem quiser vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me! Naquele tempo, a cruz era a pena de morte que o império romano impunha aos criminosos e marginais. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. Era o mesmo que romper com o sistema. Como dizia Paulo na carta aos Gálatas: “O mundo é um crucificado para mim, e eu um crucificado para o mundo” (Gl 6,14). A Cruz não é fatalismo, nem é exigência do Pai. A Cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão.

Para um confronto pessoal

1) Todos esperavam o messias, cada um do seu jeito. Qual o messias que eu espero e que o povo hoje espera?

2) A condição para seguir Jesus é a cruz. Como me situo frente às cruzes da vida?

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