Repassemos
as partes desta Solene Vigília Pascal, desentranhando o significado profundo
sacramental e espiritual.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Depois de
um dia transcorrido na oração e no silêncio, no Sábado, ao redor do sepulcro do
Senhor, a comunidade cristã se reúne nesta noite para a celebração principal de
todo a ano; a passagem da morte e do sepulcro à vida nova. Esta Vigília é o
ponto de partida para os cinquenta dias da Páscoa, sete semanas de prolongação
festiva que nos levarão à solenidade conclusiva, Pentecoste.
Em primeiro
lugar, tudo começa desde fora da igreja, com o fogo novo, abençoado pelo
sacerdotes, aspergindo-o com água benta. Iniciamos uma procissão seguindo o
Círio Pascal, símbolo de Cristo Luz do mundo, e progressivamente com círios
acesos nas mãos dos fiéis. É a figura do amor de Cristo que deseja arder como
uma tocha acesa em cada alma. É como uma chama divina que deseja abrasar todas
as almas para acendê-las no desejo das coisas eternas. Mas é também um fogo que
deve queimar as nossas misérias, um fogo abrasador que nos purifique do nosso
amor próprio, que nos vazie de nós mesmos para encher-nos de Deus. Depois
escutamos o pregão inicial – “Exsultet” -, da festa pascal. Hino belíssimo que
se remonta aos primeiros séculos do Cristianismo; cântico impregnado de júbilo
pela ressurreição de Cristo, sobre o telão de fundo do pecado do homem e da
misericórdia de Deus. Júbilo do céu, da terra e da Igreja. É o rito de entrada,
hoje mais solene. Poderíamos chamar festa da luz ou “lucernário”.
Em segundo
lugar, a proclamação da Palavra tem hoje mais leituras, sobretudo do Antigo
Testamento, que vão nos conduzindo desde a criação até a nova criação ou
ressurreição de Jesus. Aqui se cumpre o que Jesus disse aos de Emaús: “tudo o
que está escrito na lei de Moisés e nos profetas e salmos sobre mim, tinha que
se cumprir”. Estas leituras resumem as maravilhas de Deus a favor dos homens,
culminando com a do evangelho da ressurreição que nos relata São Lucas.
Palavras sagradas as que devemos recorrer com frequência para alimentar a alma,
para saciar a sede de eternidade. Palavras que brotam do Senhor como da sua
fonte para esclarecer a nossa inteligência e acender em nós o entusiasmo pelas
coisas celestiais. É a festa da Palavra.
Em terceiro
lugar, a parte sacramental desta noite é mais rica: antes de tudo celebramos o
Batismo, junto com a renovação das promessas batismais por parte dos que estão
já batizados. Pelo batismo fomos enxertados em Cristo. Foi a nossa ressurreição
espiritual, pois graças a Ele passamos da morte a vida. Nesta parte invocamos a
Deus para que com o seu poder santifique a água com que serão batizados, os
catecúmenos. Recorremos para isso à Igreja triunfante, à Igreja do céu, através
das ladainhas, rogando aos anhos e aos santos que intercedam diante do trono de
Deus por nós e pelos que serão batizados. Ao abençoar a água, o sacerdote
introduz nela o círio pascal, imagem de Cristo, com cujo contato adquire a sua
virtude santificadora. É a festa da água.
Em quarto
lugar, passamos agora aa Eucaristia, a principal de todo ano, na que
participamos do Corpo e do Sangue do Ressuscitado. É Cristo como alimento para
o caminho e para a luta pela santidade. É a festa do Pão e do Vinho,
convertidos em comida celestial para a nossa salvação. A Eucaristia é um
banquete. Venham e comam! Não fiquem com fome! É um banquete no qual Deus Pai
nos serve o Corpo e o Sangue, a alma e a divindade do seu próprio Filho, feito
Pão celestial. Pão singelo, pão terno, pão sem fermento… Mas já não é pão, mas
o Corpo de Cristo. Venham e comam! Só se necessita o traje de gala da graça e
da amizade com Deus, senão, não podemos nos aproximar da comunhão, pois “quem
comer o Corpo de Cristo indignamente, come a sua própria condenação”, diz-nos
São Paulo (1 Cor 11,27). Este pão da Eucaristia nos liberta desta morte e nos
dá a vida imortal. Todo alimento nutre de acordo as suas propriedades. O
alimento da terra alimenta para o tempo. O alimento celestial, Cristo
Eucaristia, alimenta para a vida eterna.
Finalmente,
especial esta noite é também a conclusão da Eucaristia, com os “aleluias” da
despedida, a saudação cantada à Virgem e a prolongação, se for possível, de um
pequeno ágape dos participantes no salão principal da paróquia. É a festa da
vida pascal, feita convívio e caridade fraterna.
Para refletir: Do Pregão Pascal da Vigília Pascal,
meditemos:
Esta é a
noite em que,
Quebradas
as correntes da morte,
Cristo
ascende vitorioso do abismo.
De que
serviria termos nascido
Se não
fossemos sido resgatados?
Que
assombroso benefício do vosso amor por nós!
Que
incomparável ternura e caridade!
Para
resgatar o escravo, entregaste o Filho!
Necessário
foi o pecado de Adão,
Que foi
apagado pela morte de Cristo.
Feliz culpa
que mereceu tão grande Redentor!
Para rezar: Louvamos-te, Senhor, pela vossa
ressurreição maravilhosa! Obrigado por morrer como o grão de trigo para nos
gerar como os muitos grãos cheios com a vossa vida divina! Obrigado por morrer
como o Unigênito de Deus e ressuscitar como o Primogênito, conosco como os
muitos irmãos! Agora somos filhos e irmãos de Cristo! Obrigado por fazer-nos a
semente corporativa, vossa continuação e vossa produção! Senhor, só queremos
colaborar convosco o melhor possível hoje, permitindo-Vos viver em nós para nós
poder viver-vos! Somos a vossa expressão e a vossa continuação, somos os vossos
“longos dias”!
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