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sábado, 6 de abril de 2019

V Domingo da Quaresma


1ª Leitura (Is 43,16-21): O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».

Salmo Responsorial: 125
R. Grandes maravilhas fez por nós o Senhor.

Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião, parecia-nos viver um sonho. Da nossa boca brotavam expressões de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo.

Diziam então os pagãos: «O Senhor fez por eles grandes coisas». Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor, estamos exultantes de alegria.

Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos, como as torrentes do deserto. Os que semeiam em lágrimas recolhem com alegria.

À ida, vão a chorar, levando as sementes; à volta, vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas.

2ª Leitura (Flp 3,8-14): Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.

Convertei-vos a Mim de todo o coração, diz o Senhor; porque sou benigno e misericordioso.

Evangelho (Jo 8,1-11): Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou ao templo, e todo o povo se reuniu ao redor dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi flagrada cometendo adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais mulheres. E tu, que dizes?» Eles perguntavam isso para experimentá-lo e ter motivo para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever no chão, com o dedo. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: «Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!» Inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou sozinho com a mulher que estava no meio, em pé. Ele levantou-se e disse: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor!» Jesus, então, lhe disse: «Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais».

«Eu também não te condeno»

D. Pablo ARCE Gargollo (México, D. F., México)

Hoje vemos Jesus «escrever no chão, com o dedo» (Jo 8,6), como se estivesse ao mesmo tempo ocupado e divertido com algo mais do que escutar aos que acusam a mulher que lhe apresentam porque foi «apanhada em adultério» (Jo 8,3).

É de chamar a atenção a serenidade e inclusive o bom humor que vemos em Jesus Cristo, mesmo em momentos que, para outros, são de grande tensão. É um ensinamento prático para cada um de nós, nestes nossos dias de vertiginosa velocidade em que nos inquietam os nervos em um bom número de ocasiões.

A fuga sigilosa e divertida dos acusadores nos recorda de que quem julga é apenas Deus e que todos nós somos pecadores. Em nossa vida diária, por ocasião do trabalho, nas relações familiares ou de amizade, fazemos juízos de valor. Mas algumas vezes nossos juízos são errôneos e obscurecem a boa reputação dos demais. Trata-se de uma verdadeira injustiça que nos obriga a reparar, tarefa nem sempre fácil. Ao contemplar Jesus em meio a essa “matilha” de acusadores, entendemos muito bem o que assinalou Santo Tomás de Aquino: «A justiça e a misericórdia estão tão unidas que uma sustenta a outra. A justiça sem misericórdia é crueldade; e a misericórdia sem justiça é ruína, destruição».

Temos de nos encher de alegria ao saber, com certeza, que Deus perdoa-nos tudo, absolutamente tudo, no sacramento da confissão. Nestes dias de Quaresma, temos a oportunidade magnífica de acorrer a quem é rico em misericórdia no sacramento da reconciliação.

Além disso, um propósito concreto para o dia de hoje: ao ver os demais, direi, no interior de meu coração, as mesmas palavras de Jesus: «Eu também não te condeno» (Jo 8,11).

Vamos ver quem atira a primeira pedra contra o pecador.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

A liturgia de hoje continua dando pistas para viver melhor o ano da misericórdia. A misericórdia de Deus nos convida a não recordar o passado (1ª leitura), pois as águas impetuosas da sua graça limparam a nossa consciência no dia do batismo, abriram caminho no deserto da nossa vida e fizeram correr rios na terra árida do nosso coração. Essa misericórdia divina, como a São Paulo, alcançou-nos e nos conquistou, lançando-nos para frente, sem olhar para trás, rumo a meta da santidade (2ª leitura). Finalmente, essa misericórdia divina se encarnou em Cristo que não confissão nos absolve dos nossos pecados e nos coloca o compromisso: “Vai e não peques mais” (Evangelho) e também a não atirar a pedra da nossa condena a ninguém, pois não somos juízes.

Em primeiro lugar, quem pode atirar a primeira pedra contra esta mulher surpreendida em adultério? Esta mulher do evangelho é solteira, virgem e noiva. Por isso os acusadores, juristas de profissão, pedem contra ela a pena de morte a pedradas e, assim, por lapidação se executavam então a adultera solteira, virgem e noiva prometida (cf. Dt 22,24), porque a outra, a adultera casada, era executada livremente (cf. Lv 20,10; Dt 22,22), ordinariamente por estrangulação. Que aqui tem adultério, sim tem, porque os acusadores sabem o que estão colocando em jogo se estiverem mentindo, porque ela sabe a morte que a espera e não se queixa, porque Jesus lhe diz: “Não peques mais”. Sinal de que tinha pecado. Sinal de que o adultério é pecado e, a julgar pelo castigo legal, pecado grave e, segundo a doutrina de São Paulo, pecado mortal de condenação eterna (cf. 1 Cor 6,9). E o que aconteceu com o homem que a adulterou? Talvez era um fugitivo porque, embora os pegassem em flagrante, nem rastro. Pulou a janela? Quando o marido entra pela porta, o adúltero pula pela janela, às vezes cai de mal jeito no chão e fica coxo para toda a sua vida. Este casado adúltero tem a seu favor a lei do funil: para o homem o amplio, para a mulher, o agudo. Muito se encasquetam os homens e as mulheres com a adúltera: elas, com as suas críticas a marcam com fogo, como uma res, para os restos. E eles, dispostos a apedrejá-la. Amigo, aqui ninguém atira uma pedra nem a pega do chão nem a toca nem a olha! Porque não existe um só inocente no mundo, aqui todos pecadores. E os piores, os pecadores do mesmo pau, que apedrejam os seus iguais para dissimular o seu pecado pessoal. Os piores são os jovens, ainda ingênuos, mas os velhos, com mais trapaças que anos, arteiros nisso de jogar pedra e esconder a mão.

Em segundo lugar, Jesus jogará a pedra? Se Jesus escolher deixar de lado o mandado bíblico poderia ser acusado de quebrantar a lei de Deus e, portanto, condenado; se escolher se afastar neste caso do que ensinado- amor e misericórdia- contradiria os seus próprios ensinamentos, perdendo assim toda autoridade. Porém, como ao longo de todo o evangelho, os inimigos se verão confundidos pela sabedoria do Mestre que os deixa sem resposta e os põe diante da obrigação de mudar, eles sim, de atitude diante da verdade que lhes é denunciada. Cristo usa com esses inimigos um técnica com estes passos: primeiro, a indiferença, “inclinando-se começou escrever no chão com o dedo”. Segundo, diante da insistência para atirar a pedra, Jesus dá uma resposta habilíssima que consegue três fins: colocar-se do lado da lei, com o qual não poderão acusá-lo; perdoar a pecadora, que é o que o seu coração quer, e confundir a maldade dos hipócritas: “O que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”. Convida-os a entrar dentro de si mesmos. Quem faz isto, descobre que é pecador também. Mas os fariseus e escribas estavam cegos pela soberba. Jesus, que condena o adultério, salva a adúltera: “Tampouco eu te condeno” à morte. Condena-se o pecado, mas não o pecador. Na história da humanidade, teve só um homem inocente que, chegado o momento de jogar a primeira pedra, agachou-se, rabiscava o chão, fez-se o distraído, espantou todos os acusadores e, erguido, disse à mulher já de pé: “Tampouco eu te condeno”.  

Finalmente, o que nós podemos aprender hoje? Quantos de nós talvez guardamos pedras para jogá-las contra os nossos irmãos pecadores! Quantos já atiraram pedras com a língua afiada, com atitudes de ódio, de desprezo e de silêncio! Quantos já estão dispostos a jogá-las contra os governantes, contra o Papa, os bispos, sacerdotes, chefes de trabalho, parentes, vizinhos, paroquianos, companheiros de grupo…! Aprendamos estas coisas: primeiro, não desesperemos diante dos nossos pecados, pois Deus é misericórdia. Segundo, não demoremos a conversão ao Senhor nem a atrasemos de um dia para outro. Terceiro, a finalidade da lei é a glória de Deus e a salvação do homem. Quem a aplica sem caridade, como estes fariseus do evangelho de hoje, sem buscar que o pecador se arrependa e recupere a dignidade de filho de Deus, contradiz a vontade do mesmo Deus, que quer que todos se salvem (1 Tm 2,4). Ai daquele que se cobre com a máscara da justiça e da virtude, sem caridade no coração! Sim, devemos ser inflexíveis com o pecado, mas cheios de misericórdia com o pecador.

Para refletir: Julgo os meus irmãos? Tenho misericórdia no meu coração? Meditei suficientemente nesta frase de Cristo: “Porque à medida com que medirdes, também vós sereis medidos” (Mt 7,2)?

Para rezar: Senhor, tende piedade de mim que sou um pecador. Neste ano da misericórdia, dai-me um coração misericordioso como o vosso.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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