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sexta-feira, 14 de abril de 2017

Sábado Santo

P. Jacques PHILIPPE  (Cordes sur Ciel, França)

Hoje, não meditamos nenhum evangelho em particular, dado que é um dia que carece de liturgia. Mas, com Maria, a única que permaneceu firme na fé e na esperança depois da trágica morte de seu Filho, preparamo-nos, no silêncio e na oração, para celebrar a festa da nossa libertação em Cristo, que é o cumprimento do Evangelho.

A coincidência temporal dos acontecimentos entre a morte e a ressurreição do Senhor e a festa judaica anual da Páscoa, memorial da libertação da escravidão no Egito, permite compreender o sentido libertador da cruz de Jesus, novo cordeiro pascal, cujo sangue nos preserva da morte.

Outra coincidência no tempo, menos assinalada, porém sem dúvida muito rica em significado, é a que existe com a festa judaica semanal do “Sabbat”. Esta começa na tarde de sexta-feira, quando a mãe de família acende as luzes em cada casa judia, terminando no sábado de tarde. Recordando que depois do trabalho da criação, depois de ter feito o mundo do nada, Deus descansou no sétimo dia. Ele quis que também o homem descanse no sétimo dia, em ação de graças pela beleza da obra do Criador, e como sinal da aliança de amor entre Deus e Israel, sendo Deus invocado na liturgia judaica do Sabbat como o esposo de Israel. O Sabbat é o dia em que se convida cada um a acolher a paz de Deus, o seu “Shalom”.

Deste modo, depois do doloroso trabalho da cruz, «em que o homem é forjado de novo» segundo a expressão de Catarina de Sena, Jesus entra no seu descanso no mesmo momento em que se acendem as primeiras luzes do Sabbat: “Tudo está realizado” (Jo 19,30). Agora completou-se a obra da nova criação: o homem, antigo prisioneiro do nada do pecado, converte-se numa nova criatura em Cristo. Uma nova aliança entre Deus e a humanidade, que nada poderá jamais romper, acaba de ser selada, já que doravante toda a infidelidade pode ser lavada no sangue e na água que brotam da cruz.

Diz a Carta aos Hebreus: «Por isso, resta um repouso sabático para o povo de Deus» (Heb 4,9). A fé em Cristo a ele nos dá acesso. Que o nosso verdadeiro descanso, a nossa paz profunda, não a de um só dia, mas para toda a vida, seja uma esperança total na infinita misericórdia de Deus, de acordo com o convite do Salmo 16: «A minha carne descansará na esperança, pois tu não entregarás a minha alma ao abismo». Que nos preparemos com um coração novo para celebrar na alegria as bodas do Cordeiro e nos deixemos desposar plenamente pelo amor de Deus manifestado em Cristo.

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