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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Sábado IV do Tempo Comum

Evangelho (Mc 6,30-34): Os apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Ele disse-lhes: «Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!». Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós. Muitos os viram partir e perceberam a intenção; saíram então de todas as cidades e, a pé, correram à frente e chegaram lá antes deles. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas.

«Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco! Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer»

Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha).

Hoje, o Evangelho nos sugere uma situação, uma necessidade e um paradoxo que são muito atuais.

Uma situação. Os Apóstolos estão “estressados”: «Ele disse-lhes: Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer» (Mc 6,31). Frequentemente nós nos vemos achegados à mesma mudança. O trabalho exige boa parte de nossas energias; a família, onde cada membro quer palpar nosso amor; as outras atividades nas que nos comprometemos, que nos fazem bem e, ao mesmo tempo, beneficiam a terceiros... Querer é poder? Talvez seja mais razoável reconhecer que não podemos tudo aquilo que gostaríamos.

Uma necessidade. O corpo, a cabeça e o coração reclamam um direito: descanso. Nestes versículos temos um manual, frequentemente ignorado, sobre o descanso. Aí destaca a comunicação. Os Apóstolos «Os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-lhe tudo o que haviam feito e ensinado» (Mc 6,30). Comunicação com Deus, seguindo o fio do mais profundo de nosso coração. E — que surpresa!— encontramos a Deus que nos espera. E espera encontrar-nos com nossos cansaços.

Jesus lhes diz: «Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer» (Mc 6,31). No plano de Deus há um lugar para o descanso! É mais, nossa existência, com todo seu peso, deve descansar em Deus. O descobriu o inquieto Agostinho: «Nos criastes para ti e nosso coração está inquieto até que não descanse em ti». O repouso de Deus é criativo; não “anestésico”: encontrar-se com seu amor centra nosso coração e nossos pensamentos.

Um paradoxo. A cena do Evangelho acaba “mal”: os discípulos não podem repousar. O plano de Jesus fracassa: são abordados pelas pessoas. Não puderam “desconectar”. Nós, com frequência, não podemos liberar-nos de nossas obrigações (filhos, conjugue, trabalho...): seria como trair-nos! Impõe-se encontrar a Deus nestas realidades. Se existe comunicação com Deus, se nosso coração descansa Nele, relativizaremos tensões inúteis... E a realidade — desnuda de quimeras — mostrará melhor o sinal de Deus. Nele, ali, repousaremos.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

São Felipe de Jesus
e seus 25 companheiros mártires de Nagasaki
* Marcos 6,30-32. O acolhimento dado aos discípulos.
“Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia aí tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco" Estes versículos mostram como Jesus formava seus discípulos. Ele se preocupava não só com o conteúdo da pregação, mas também com o descanso. Levou-os a um lugar mais tranquilo para poder descansar e fazer uma revisão.

* Marcos 6,33-34. O acolhimento dado ao povo.
O povo percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, e eles foram atrás dele procurando alcançá-lo andando por terra até o outro lado. “Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles”. Ao ver aquela multidão, Jesus ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”. Ele esqueceu o descanso e começou a ensinar. Ao perceber o povo sem pastor, Jesus começou a ser pastor. Começou a ensinar. Como diz o Salmo: “O Senhor é meu pastor! Nada me falta! “Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo. Diante de mim preparas a mesa, à frente dos meus opressores” (Sl 23,1.3-5).” Jesus queria descansar junto com os discípulos, mas o desejo de atender à necessidade do povo levou-o a deixar de lado o descanso. Algo semelhante aconteceu quando ele se encontrou coma a samaritana. Os discípulos foram buscar comida. Quando voltaram, disseram a Jesus: “Mestre, come alguma coisa!” (Jo 4,31), mas ele respondeu: “Eu tenho um alimento para comer que vocês não conhecem” (Jo 4,32). O desejo de atender à necessidade do povo samaritano levou-a a esquecer da fome. “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34). Em primeiro lugar o atendimento ao povo que o procurava. A comida vem depois.

Então Jesus começou a ensinar muitas coisas para eles
O evangelho de Marcos muitas vezes informa que Jesus ensinava. O povo ficava impressionado: “Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!” (Mc 1,22.27). Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc 10,1). Por mais de quinze vezes Marcos diz que Jesus ensinava, mas raramente diz o que ele ensinava. Será que Marcos não se interessava pelo conteúdo? Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tinha para dar transparecia não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito de ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6,34). Queria bem ao povo. A bondade e o amor que transparecem nas suas palavras faziam parte do conteúdo. Eram o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado. Este novo jeito de ensinar de Jesus manifestava-se de muitas maneiras. Jesus aceita como discípulos não só homens, mas também mulheres. Ensina não só na sinagoga, mas em qualquer lugar onde houvesse gente para escutá-lo: na sinagoga, em casa, na praia, na montanha, na planície, no caminho, no barco, no deserto. Não cria relacionamento de aluno-professor, mas sim de discípulo-mestre. O professor dá aula e o aluno está com ele só durante o tempo de aula. O mestre dá testemunho e o discípulo convive com ele 24 horas por dia. É mais difícil ser mestre do que professor! Nós não somos alunos de Jesus, mas sim discípulos e discípulas! O ensino de Jesus era uma comunicação que transbordava da abundância do coração nas formas mais variadas: como conversa que tenta esclarecer os fatos (Mc 9,9-13), como comparação ou parábola que faz o povo pensar e participar (Mc 4,33), como explicação do que ele mesmo pensava e fazia (Mc 7,17-23), como discussão que não foge do polêmico (Mc 2,6-12), como crítica que denuncia o falso e o errado (Mc 12,38-40). Era sempre um testemunho do que ele mesmo vivia, uma expressão do seu amor! (Mt 11,28-30).

Para um confronto pessoal
1. Como você faz quando deve ensinar aos outros algo da fé e da religião? Imita Jesus?
2. Jesus se preocupa não só com o conteúdo, mas também com o descanso. Como foi o ensino de religião que você recebeu na infância? As catequistas imitavam Jesus?

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