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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

MÊS DE SÃO JOSÉ - Terça-feira da 3ª semana da Quaresma

ORAÇÃO PREPARATÓRIA - Com humildade e respeito aqui nos reunimos, ó Divino Jesus, para oferecer, todos os dias deste mês, as homenagens de nossa devoção ao glorioso Patriarca S. José. Vós nos animais a recorrer com toda a confiança aos vossos benditos Santos, pois que as honras que lhes tributamos revertem em vossa própria glória. Com justos motivos, portanto, esperamos vos seja agradável o tributo quotidiano que vimos prestar ao Esposo castíssimo de Maria, vossa Mãe santíssima, a São José, vosso amado Pai adotivo. Ó meu Deus, concedei-nos a graça de amar e honrar a São José como o amastes na terra e o honrais no céu. E vós, ó glorioso Patriarca, pela vossa estreita união com Jesus e Maria; vós que, à custa de vossas abençoadas fadigas e suores, nutristes a um e outro, desempenhando neste mundo o papel do Divino Padre Eterno; alcançai-nos luz e graça para terminar com fruto estes devotos exercícios que em vosso louvor alegremente começamos. Amém.

Lectio Divina

Evangelho (Mt 18,21-35): Pedro dirigiu-se a Jesus perguntando: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.  O Reino dos Céus é, portanto, como um rei que resolveu ajustar contas com seus servos. Quando começou o ajuste, trouxeram-lhe um que lhe devia uma fortuna inimaginável. Como o servo não tivesse com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher, os filhos e tudo o que possuía, para pagar a dívida. O servo, porém, prostrou-se diante dele pedindo: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. Diante disso, o senhor teve compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida.  Ao sair dali, aquele servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia uma quantia irrisória. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. O companheiro, caindo aos pés dele, suplicava: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei'. Mas o servo não quis saber. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que estava devendo. Quando viram o que havia acontecido, os outros servos ficaram muito sentidos, procuraram o senhor e lhe contaram tudo. Então o senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: ‘Servo malvado, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me suplicaste. Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti? O senhor se irritou e mandou entregar aquele servo aos carrascos, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão».

«O senhor teve compaixão, (…) perdoou-lhe a dívida»

Rev. D. Enric PRAT i Jordana  (Sort, Lleida, Espanha)

Hoje, o Evangelho de Mateus convida-nos a uma reflexão sobre o mistério do perdão, propondo um paralelismo entre o estilo de Deus e o nosso na hora de perdoar.

O homem atreve-se a medir e a levar em conta a sua magnanimidade perdoadora: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» (Mt 18,21). A Pedro parece-lhe que sete vezes já é muito e que é, talvez, o máximo que podemos suportar. Bem visto, Pedro continua esplêndido, se o compararmos com o homem da parábola que, quando encontrou um companheiro seu que lhe devia cem denários, «Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’» (Mt 18,28), negando-se a escutar a sua súplica e a promessa de pagamento.

Fechadas as contas, o homem, ou se nega a perdoar, ou mede estritamente a medida do seu perdão. Verdadeiramente ninguém diria que receberíamos da parte de Deus um perdão infinitamente reiterado e sem limites. A parábola diz: «o senhor teve compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida» (Mt 18,27). E a divida era muito grande.

Mas a parábola que comentamos põe acento no estilo de Deus na hora de outorgar o perdão. Depois de chamar à ordem o seu devedor em atraso e de o fazer ver a gravidade da situação, deixou-se enternecer repentinamente pelo seu pedido contrito e humilde: «‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. Diante disso, o senhor teve compaixão…» (Mt 18, 26-27). Este episódio põe à vista aquilo que cada um de nós conhece por experiência própria e com profundo agradecimento: que Deus perdoa sem limites ao arrependido e convertido. O final negativo e triste da parábola, contudo, faz honras de justiça e manifesta a veracidade daquela outra sentença de Jesus em Lc 6,38: «Com a medida com que medirdes sereis medidos».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* O Evangelho de hoje fala da necessidade do perdão. Não é fácil perdoar. Pois certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas que dizem: "Eu perdôo, mas não esqueço!" Rancor, tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação. Vamos meditar as palavras de Jesus que falam da reconciliação (Mt 18,21-22) e que trazem a parábola do perdão sem limites (Mt 18,23-35).

* Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!. Jesus tinha falado sobre a importância do perdão e sobre a necessidade de saber acolher os irmãos e as irmãs para ajudá-los a se reconciliar com a comunidade (Mt 18,15-20). Diante destas palavras de Jesus, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” O número sete indica uma perfeição. No caso, era sinônimo de sempre. Jesus vai mais longe do que a proposta de Pedro. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: "Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Ou seja, setenta vezes sempre!  Pois não há proporção entre o perdão que recebemos de Deus e o perdão que nós devemos oferecer ao irmão, como ensinará a parábola do perdão sem limites.

* A expressão setenta vezes sete era uma alusão clara às palavras de Lamec que dizia: “Por uma ferida, eu matei um homem, e por uma cicatriz matei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta vezes sete" (Gn 4,23-24). Jesus quer reverter a espiral da violência que entrou no mundo pela desobediência de Adão e Eva, pelo assassinato de Abel por Caim e pela vingança de Lamec. Quando a violência desenfreada toma conta da vida, tudo desanda e a vida se desintegra. Surge o Dilúvio e aparece a Torre de Babel da dominação universal (Gn 2,1 a 11,32).

*  Mateus 18,23-35: A parábola do perdão sem limite.  A dívida de dez mil talentos valia em torno de 164 toneladas de ouro. A dívida de cem denários valia 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois! Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fossem trabalhar a vida inteira, jamais seriam capazes de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é nada mais do que justo que também nós perdoemos ao irmão a insignificante dívida de 30 gramas de ouro, setenta vezes sempre! O único limite para a gratuidade do perdão de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão! (Mt 18,34; 6,15).

*  A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. E nas comunidades cristãs, o rigor de alguns na observância da Lei levava para dentro da convivência os mesmos critérios da sinagoga. Além disso, lá para o fim do primeiro século, nas comunidades cristãs começavam a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade entre rico e pobre (Tg 2,1-9). Em vez da comunidade ser um espaço de acolhimento, ela corria o risco de tornar-se um lugar de condenação e de conflitos. Mateus quer iluminar as comunidades, para que sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma Boa Notícia para os pobres.

Para um confronto pessoal
1. Por que será que é tão difícil perdoar?
2. Na nossa comunidade existe espaço para a reconciliação? De que maneira?

ORAÇÃO - Ó glorioso S. José, a bondade de vosso coração é sem limites e indizível, e neste mês que a piedade dos fiéis vos consagrou mais generosas do que nunca se abrem as vossas mãos benfazejas. Distribui entre nós, ó nosso amado Pai, os dons preciosíssimos da graça celestial da qual sois ecônomo e o tesoureiro; Deus vos criou para seu primeiro esmoler. Ah! que nem um só de vossos servos possa dizer que vos invocou em vão nestes dias. Que todos venham, que todos se apresentem ante vosso trono e invoquem vossa intercessão, a fim de viverem e morrerem santamente, a vosso exemplo nos braços de Jesus e no ósculo beatíssimo de Maria. Amém.

LADAINHA DE SÃO JOSÉ
Senhor tende piedade de nós.
Jesus Cristo tende piedade de nós.
Senhor tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, escutai-nos.
Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, rogai por nós.
São José,
Ilustre Filho de Davi,
Luz dos Patriarcas,
Esposo da mãe de Deus,
Guarda da puríssima Virgem,
Sustentador do Filho de Deus,
Zeloso defensor de Jesus Cristo,
Chefe da Sagrada Família,
José justíssimo,
José castíssimo,
José prudentíssimo,
José fortíssimo,
José obedientíssimo,
José fidelíssimo,
Espelho de paciência,
Amante da pobreza,
Modelo dos operários,
Honra da vida de família,
Guarda das virgens,
Amparo das famílias,
Alívio dos sofredores,
Esperança dos doentes,
Consolador dos aflitos,
Patrono dos moribundos,
Terror dos demônios,
Protetor da Santa Igreja,
Patrono da Ordem Carmelita,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade nós.

V. - O Senhor o constituiu dono de sua casa.
R. - E fê-lo príncipe de todas as suas possessões.

ORAÇÃO: Deus, que por vossa inefável Providência vos dignastes eleger o bem-aventurado São José para Esposo de vossa Mãe Santíssima concedei-nos, nós vos pedimos, que mereçamos ter como intercessor no céu aquele a quem veneramos na terra como nosso Protetor. Vós que viveis e reinais com Deus Padre na unidade do Espírito Santo. Amém.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Segunda-feira da 3ª semana da Quaresma

Evangelho (Lc 4,24-30): E acrescentou: «Em verdade, vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Ora, a verdade é esta que vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e uma grande fome atingiu toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a nenhuma delas foi enviado o profeta Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio».  Ao ouvirem estas palavras, na sinagoga, todos ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no para o alto do morro sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de empurrá-lo para o precipício. Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

«Nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra»

Rev. P. Higinio Rafael ROSOLEN IVE (Cobourg, Ontario, Canadá)

Hoje, no Evangelho, Jesus nos diz «que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria» (Lc 4,24). Jesus, ao usar este provérbio, está se apresentando como profeta.

“Profeta” é o que fala em nome de outro, o que leva a mensagem de outro. Entre os hebreus, os profetas eram homens enviados por Deus para anunciar, já com palavras, já com signos, a presença de Deus, a vinda do Messias, a mensagem de salvação, de paz e de esperança.

Jesus é o Profeta por excelência, o Salvador esperado; Nele todas as profecias têm cumprimento. Mas, igual como sucedeu nos tempos de Elias E Eliseu, Jesus não é “bem recebido” entre os seus, pois são estes quem cheios de ira «o joga fora da cidade» (Lc 4,29).

Cada um de nós, por motivo de seu Batismo, também está chamado a ser profeta. Por isso:

1º. Devemos anunciar a Boa Nova. Para eles, como disse o Papa Francisco, temos que escutar a Palavra com abertura sincera, deixar que toque nossa própria vida, que nos reclame que nos exorte que nos mobilize, pois se não dedicamos um tempo para orar com essa Palavra, então se seremos um “falso profeta”, um “contraventor” ou um “charlatão vazio”.

Viver o Evangelho. Novamente o Papa Francisco: «Não nos pedem que sejamos imaculados, mas sim que estejamos sempre em crescimento, que vivamos o desejo profundo de crescer no caminho do Evangelho, e não baixemos os braços». É indispensável ter a segurança de que Deus nos ama, de que Jesus Cristo nos salvou, de que seu amor é para sempre.

Como discípulos de Jesus, ser conscientes de que assim como Jesus experimentou a rejeição, a ira, o ser jogado fora, também isto vai estar presente no horizonte de nossa vida cotidiana.

Que Maria, Rainha dos profetas, nos guie em nosso caminho.

«Em verdade, vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra»

Rev. D. Santi COLLELL i Aguirre (La Garriga, Barcelona, Espanha)

Hoje escutamos do Senhor que «nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra» (Lc 4,24). Esta frase — na boca de Jesus — tem sido para muitos e muitas — em mais de uma ocasião — justificação e desculpa para não nos complicar a vida. Jesus Cristo só quer advertir aos seus discípulos que as coisas não serão fáceis e que frequentemente, entre aqueles que pensamos que nos conhecem melhor, ainda será mais complicado.

A afirmação de Jesus é o preâmbulo da lição que quer dar à gente reunida na sinagoga e assim, abrir os seus olhos à evidencia de que pelo simples feito de serem membros do “Povo escolhido” não têm nenhuma garantia de salvação, cura, purificação (isso o confirmará com os dados da história da salvação).

Mas, dizia que a afirmação de Jesus, para muitas e muitos é, com excessiva frequência, motivo de desculpa para não “comprometer-nos evangelicamente” no nosso ambiente cotidiano. Sim, é uma daquelas frases que todos aprendemos de memória e, que efeito faz!

Parece como gravada na nossa consciência de maneira particular e quando no escritório, no trabalho, com a família, no círculo de amigos, no nosso meio social quando devemos de tomar decisões compreensíveis à luz do Evangelho, esta “frase mágica” tira-nos para trás como dizendo-nos: — Não vale a pena esforçar-te, nenhum profeta é bem recebido na sua terra! Temos a desculpa prefeita, a melhor das justificações para não ter que dar testemunho, para não apoiar a aquele companheiro que é vítima da gestão da empresa, ou ignorar e não ajudar à reconciliação daquele casal conhecido.

São Paulo dirigiu-se em primeiro lugar aos seus: foi à sinagoga onde «Paulo foi então à sinagoga e, durante três meses, falava com toda liberdade, discutindo e persuadindo os ouvintes acerca do Reino de Deus» (At 19,8). Não acredita que isso é o que Jesus queria dizer-nos?

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* O evangelho de hoje (Lc 4,24-30) faz parte de um conjunto mais amplo (Lc 4,14-32). Jesus tinha apresentado o seu programa na sinagoga de Nazaré por meio de um texto de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 61,1-2) e que refletia a situação do povo da Galileia no tempo de Jesus. Em nome de Deus, Jesus tomou posição e definiu sua missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos. Terminada a leitura, ele atualizou o texto e disse: “Hoje se cumpriu esta escritura nos ouvidos de vocês!” (Lc 4,21). Todos os presentes ficaram admirados (Lc 4,16-22ª). Mas logo em seguida, houve uma reação de descrédito. O povo na sinagoga ficou escandalizado e já não queria saber de Jesus. Dizia: “Não é este o filho de José? ” (Lc 4,22b). Por que ficaram escandalizados? Qual o motivo daquela reação tão inesperada?

* É que Jesus citou o texto de Isaías só até onde diz: "proclamar um ano de graça da parte do Senhor", e cortou o final da frase que dizia: “e proclamar um dia de vingança do nosso Deus” (Is 61,2). O povo de Nazaré ficou bravo porque Jesus omitiu a frase sobre a vingança. Eles queriam que a Boa Nova da libertação dos oprimidos fosse uma ação de vingança da parte de Deus contra os opressores. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de pensar. A sua experiência de Deus como Pai ajudou-o a entender melhor o sentido das profecias. Descartou a vingança. O povo de Nazaré não aceitou esta proposta e começou a diminuir a autoridade de Jesus: “Não é este o filho de José? ”

* Lucas 4,24: Nenhum profeta é bem aceito em sua pátria. O povo de Nazaré ficou com ciúme de Jesus por ele não ter feito nenhum milagre em Nazaré como tinha feito em Cafarnaum. Jesus responde: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria! ” No fundo, eles não aceitavam a nova imagem de Deus que Jesus lhes comunicava através desta nova interpretação mais livre de Isaías. A mensagem do Deus de Jesus ultrapassava os limites da raça dos judeus e se abria para acolher os excluídos e toda a humanidade.

* Lucas 4,25-27: Duas histórias do Antigo Testamento.  Para ajudar a comunidade a superar o escândalo e entender o universalismo de Deus, Jesus usou duas histórias bem conhecidas do AT: uma de Elias e outra de Eliseu. Por meio destas histórias ele criticava o fechamento do povo de Nazaré. Elias foi enviado para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado para atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14).

* Lucas 4,28-30: Queriam mata-lo, mas ele prosseguia o seu caminho. A apelo de Jesus não adiantou. Ao contrário! O uso destas duas passagens da Bíblia provocou mais raiva ainda. A comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer matar Jesus. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, Jesus mesmo foi excluído! Mas ele manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra assim como é difícil superar a mentalidade do privilégio e do fechamento. Mostrava ainda que a polêmica abertura para os pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as comunidades estavam tendo no tempo de Lucas.

Para um confronto pessoal
1. Será que o programa de Jesus está sendo o meu programa, o nosso programa? Minha atitude é a de Jesus ou do povo de Nazaré?
2. Quais os excluídos que deveríamos acolher melhor na nossa comunidade?

sábado, 27 de fevereiro de 2016

III Domingo da quaresma

Textos: Ex 3, 1-8a.13-15; 1 Co 10, 1-6.10-12: Lc 13, 1-9

Evangelho (Lc 13,1-9): Nesse momento, chegaram algumas pessoas trazendo a Jesus notícias a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando o sangue deles com o dos sacrifícios que ofereciam. Ele lhes respondeu: «Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que qualquer outro Galileu, por terem sofrido tal coisa?”. Digo-vos que não. Mas se vós não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que qualquer outro morador de Jerusalém? Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo». E Jesus contou esta parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi lá procurar figos e não encontrou. Então disse ao agricultor: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Para que está ocupando inutilmente a terra? ’ Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa-a ainda este ano. Vou cavar em volta e pôr adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então a cortarás».

«Se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo»

Cardeal Jorge MEJÍA Arquivista e Bibliotecário da S.R.I. (Città del Vaticano)

Hoje, terceiro domingo de Quaresma, a leitura evangélica contem uma chamada à penitência e à conversão. Ou, mais bem, uma exigência de mudar de vida.

“Converter-se” significa, na linguagem do Evangelho, mudar de atitude interior, e também de estilo externo. É uma das palavras mais utilizada no Evangelho. Lembremos que, antes da vinda do Senhor Jesus, São Batista resumia sua predicação com a mesma expressão: «Pregando um batismo de conversão» (Mc 1,4). E, logo depois, a predicação de Jesus se resume com estas palavras: «Convertei-vos e crede na Boa Nova» (Mc 1,15).

Esta leitura de hoje tem, contudo, características próprias, que pedem atenção fiel e resposta consequente. Pode-se dizer que a primeira parte, com ambas as referências históricas (o sangue derramado por Pilatos e a torre derribada), contem uma ameaça. Impossível chamá-la de outro jeito! Lamentamos as duas desgraças –então sentidas e choradas- mas Jesus Cristo, com muita seriedade, nos diz a todos: «Se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo» (Lc 13,5).

Isto mostra-nos duas coisas. Primeiro, a absoluta seriedade do compromisso cristão. E segundo: de não respeitá-lo como Deus quer, a possibilidade de uma morte, não neste mundo, mas muito pior, no outro: a eterna perdição. As duas mortes do nosso texto não são mais que figuras de outra morte, sem comparação com a primeira.

Cada qual, saberá como esta exigência de mudança se lhe apresenta. Ninguém fica excluído. Se isto causa-nos inquietação, a segunda parte nos consola. O “vinhateiro”, que é Jesus, pede ao dono da vinha, seu Pai, que espere um ano ainda. E, entretanto, Ele fará todo o possível (e o impossível, morrendo por nós) para que a vinha dê fruto. Que dizer, mudemos de vida! Esta é a mensagem da Quaresma. Levemo-lo, então a sério. Os santos –São Inácio, por exemplo, embora tarde em sua vida- por graça de Deus mudam e nos animam a mudar.

A figueira da nossa vida está dando frutos de penitência e conversão?

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Continuamos no ano da Misericórdia. Sem dúvida alguma que todos os males que sofremos a nível pessoal, familiar, social, eclesial, mundial… devem-se aos nossos pecados. Não é que Deus está nos castigando. Mas os nossos pecados não ficam impunes. Pagamos as consequências dos nossos extravios. Por isso, urge dar frutos de conversão. Somente se nos arrependermos, obteremos a misericórdia de Deus (Evangelho) e Ele nos encherá de frutos de santidade. Quaresma é o tempo da experiência da misericórdia e da libertação de Deus (1ª leitura). Quem crer que está firme, que tome cuidado para não cair (2ª leitura).

Em primeiro lugar, Cristo nesta Quaresma, e durante toda a nossa vida, chama-nos à conversão e a dar frutos de conversão. Só desse jeito chegaremos preparados para a Páscoa. Somos figueiras que Ela plantou no jardim do mundo. Deus nos dotou com a capacidade de fazer o bem, de cultivar a justiça e de manter umas relações sãs com os demais e com Deus mesmo. Mas como dono e Senhor dessas figueiras que somos nós, pode exigir de nós e pedir contas. A conversão leva consigo a renúncia ao pecado e ao estado de vida incompatível com o ensinamento de Cristo, e a volta sincera a Deus. Não bastaria o nosso simples propósito de mudar de vida, se não existir dor pelas faltas cometidas. A conversão não é só fazer penitência, no sentido de realizar umas obras de jejum e de esmola. A palavra grega para penitência é “metanóia”, que significa mudança de mentalidade. O que Deus nos pede nesta Quaresma é uma mudança num nível bastante mais profundo do que no nível das meras obras externas. Uma conversão, se for autêntica, “faz dano”, porque significa meter o “dedo na chaga” e corrigir as raízes dos nossos males. Se tiver que “operar”, temos que estar dispostos a pegar o bisturi e cortar o que for necessário, e não nos conformar com a aplicação de uma pomada suave que não chega às raízes do nosso mal. E o que temos que cortar sem contemplações são as causas dos nossos pecados que ofendem a Deus e os nossos irmãos.

Em segundo lugar, Cristo espera frutos concretos de conversão da nossa figueira (evangelho). Paulo na segunda leitura aos cristãos de Corinto jogou na cara deles que alguns dos israelitas que fizeram o caminho com Moisés pelo deserto não agradaram a Deus, nem foram fiéis à Aliança, deixando-se levar pelas tentações dos povos vizinhos. Procuraram outros deuses permissivos. Por isso não entraram na terra prometida. Para Paulo isso deveria servir para nós de escarmento. Não basta com pertencer ao povo de Deus, ou com dizer umas orações ou levar umas medalhas ou ir de peregrinação a um Santuário. Algo tem que mudar na nossa vida para que a nossa figueira pessoal dê os frutos que Deus espera. Temos que ser sinceros e entrar na nossa horta interior e matar todo bicho ou praga que estiver destruindo a nossa figueira: egoísmo, indiferenças, domínio, rebeldias interiores, maltrato ao próximo, infidelidade matrimonial ou sacerdotal, mentiras e trapaças. Se tiver que fumigar com adubo eficaz a horta, o que estamos esperando? Se tiver que regar com a oração, por que vamos dando mais tempo ao assunto? Se tiver que podar, peguemos as tesouras e cortemos sem contemplações. A paciência de Deus pode ter um limite: “corte essa figueira”.      

Finalmente, quantos séculos faz que Deus vem pedindo frutos! Pensemos naquela Europa cristã, que recebeu a primeira semente da fé por boca dos mesmos apóstolos, regada com o sangue de inumeráveis mártires, protegida pelos santos pastores, civilizada pela multidão de monges, enriquecida com toda classe de dons. Beneficiária, ela também, de um amor de grande predileção da parte do Senhor. E o que encontra esse Dono? Alguns frutos bons, bendito seja Deus! Mas quanto fruto mau: ateísmo, agnosticismo, indiferentismo, relativismo, descenso da fé e fechamento de igrejas e mosteiros, avanço de outras religiões fanáticas e blasfemas, como disse o Papa Francisco, que em nome de Deus perpetram atentados desumanos. Onde estão as virtudes cristãs que fizeram possível a edificação das magníficas catedrais, a criação das escolas e das universidades, a construção de uma sociedade que tinha por lei o Evangelho, os tesouros da arte, as obras mestras da literatura cristã, o governo de príncipes santos: São Fernando III de Castela, Santa Margarida da Escócia, São Vladimiro de Kiev, São Luís IX da França, Santa Matilde de Ringelheim, e tantos outros? Oremos pelos cristãos fiéis que na velha Europa, mãe da nossa cultura e da nossa fé, continuam combatendo o bom combate, e peçamos com eles ao dono do campo que conceda àquela bendita terra “um ano mais”, e a graça de que os seus corações se abram à penitência que dá frutos de vida eterna.

Para refletir: Nosso Senhor Jesus Cristo é um Rei misericordioso que perdoará a quem confessar humildemente os seus pecados; não perdoará a quem se recusar a abandonar-se em suas mãos bondosas. Abramos as nossas almas ao presente da sua misericórdia! Só assim poderemos dar frutos de conversão, de santidade e de vida eterna. Olhemos o nosso coração, quais frutos estamos dando a nível pessoal, a nível familiar, a nível laboral, a nível paroquial?

Para rezar: Senhor e Deus nosso, tende paciência de mim, pois quero dar fruto abundante para maior glória vossa. Não me maldigais, como maldissestes aquela figueira na que só encontrastes folhas (cf. Mt 21,19). Não quero que me tireis o vosso Reino, para entregá-lo a um povo que produza frutos que esperais (cf. Mt 21,43). Que seja consciente, Senhor, que o vosso Pai Deus será glorificado quando eu der muito fruto e mostre assim que sou o vosso discípulo (cf. Jo 15,8).

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

VIA SACRA COM OS SANTOS CARMELITAS

1ª Estação: Jesus é condenado à morte

Quando a alma chega a não prestar atenção aos louvores, cada vez menos presta atenção às críticas. A crítica fortalece a alma, a qual vai adquirindo um particular e terno amor cada vez maior para com os seus perseguidores. Santa Teresa de Ávila.

Senhor, a minha alma está diante de ti. Tu conheces-me profundamente, sabes tudo sobre mim, lês o mais profundo da minha intimidade. Tu recolhes cada lágrima e respondes aos meus sorrisos. Na minha vida não há nenhum espaço ou tempo que tu não visites com o teu amor e com a tua amizade. Dou-te graças por tudo isto, meu Deus. O meu caminho nesta vida está já decidido: quero estar contigo em cada momento, na alegria e no cansaço, na paz e na incompreensão, na companhia e na solidão. A tua presença, ó Jesus, fortalece a minha alma, mesmo na debilidade.

2ª Estação: Jesus carrega com a cruz

Jesus prodigaliza as suas cruzes como o sinal mais seguro da sua ternura, porque deseja fazer-te semelhante a Ele. Porquê ter medo de não ser capaz de levar a cruz sem desfalecer? Santa Teresinha do Menino Jesus.

Senhor, muitas vezes na minha vida experimentei a tua ternura, sobretudo nos momentos de dor, quando não encontrei palavras para pronunciar, quando me era impossível orar, quando sozinho se fazia presente a noite… Tu estavas a meu lado, talvez no silêncio, com um toque apenas perceptível. Ó Jesus, muitas vezes te vi assim e pude olhar-te nos olhos. Quando voltava para a luz, quando as lágrimas tinham secado, sentia-me um pouco mais igual a ti, um pouco mais filho e irmão teu.

3ª ESTAÇÃO: Jesus cai pela primeira vez sob o peso da cruz

A “ciência da cruz” só pode ser adquirida somente depois de ter chegado a sentir radicalmente a cruz. A totalidade dos erros humanos pode ser eliminada pela expiação da cruz. Santa Teresa Benedita da Cruz.

Senhor, sei que não te conheço como deveria nem como desejaria. Sei que me falta muito caminho por andar indo atrás de ti, seguindo as tuas pisadas à sombra da cruz. Do que unicamente posso presumir é das minhas debilidades e dos meus erros. Humanamente falando, ó Jesus, sou pouca coisa, mas tendo-te a ti no coração e na vida, sinto-me rico e feliz. Não quero esconder-me de ti; abro as minhas mão e o meu coração para que possas entrar na minha pobreza com a verdadeira riqueza, que é a tua Cruz. Sim, meu Salvador, este é o sinal do Amor.

4ª ESTAÇÃO: Jesus encontra a sua Mãe

O Evangelho não coloca nenhuma palavra na boca da tua Mãe que está ao pé da cruz. Também tu, meu Jesus, não pronuncias nem uma só palavra. O teu silêncio é a palavra mais eloquente. Beato Tito Brandsma.

Senhor, eu também quero permanecer em silêncio neste momento para captar o intercâmbio de amor infinito que vos une a ti e à tua Mãe. Ó Jesus, levanto os olhos e vejo-te, continuo a olhar o teu rosto, teus olhos de Filho, que refletem a figura da tua Mãe. Tu não falas, mas ofereces a tua Presença: entregas-te a ti mesmo e entregas a tua Mãe. Eu a recebo como minha Senhora, como minha Mãe dulcíssima.

5ª ESTAÇÃO: O Cireneu ajuda Jesus a levar a cruz

Cada um tem a cruz que deve levar, ainda que cada cruz seja diferente das outras. Quem quiser conquistar a liberdade de espírito e não sentir-se continuamente atribulado, deve começar por não espantar-se da cruz. Então verá como o Senhor o ajuda a levá-la. S. João da Cruz.

Senhor, tenho medo. Desejaria fugir perante qualquer dor ou provação. Sobretudo, espanta-me e bloqueia-me a solidão, Cada vez que aparece na minha vida a sombra da cruz custa-me continuar a esperar. Sinto-me cansado, ó Jesus. Não obstante, desejo provar uma vez mais, desejo aproximar-me do teu coração. Estendo a minha mão e tomo a tua; ofereço-te a pouca força que tenho, o nada que sou. Somente contigo poderei levar também a cruz.

6ª ESTAÇÃO: A Verónica enxuga o rosto de Jesus

Ao longo do caminho da cruz Jesus não está só. Hoje como então, estão não só os adversários como também as pessoas que o ajudam. Representando a quantos o amam e desejam ajudá-lo está a Verónica. Santa Teresa Benedita da Cruz.

Senhor, tenho um desejo no coração: ser teu amigo, caminhar contigo, compartilhar a vida contigo. Sei que estás a sofrer ao percorrer o caminho da dor. Vejo muitas pessoas à tua volta. Também eu te procuro, aproximo-me o mais que posso. Quero amar-te; já nada mais me importa. Junto à Verónica procuro o teu rosto, pois tu és a minha Luz.

7ª ESTAÇÃO: Jesus cai pela segunda vez

Quando caminhas na noite escura e no vazio da pobreza espiritual, pensas que te falta tudo e todos – inclusivamente Deus -. Contudo não te falta nada. S. João da Cruz.

Faltas-me, Senhor! Como podes dizer que estás perto de mim, que compartilhas tudo comigo? Sinto a solidão, a dor, a angústia. Também tu caíste sob o peso de um infinito sofrimento. Como poderei encontrar-te de novo, meu Pastor? Eu, ovelha tresmalhada, tenho necessidade de ti. Levanta-te, aparece de novo, ó bom Pastor! Então seguir-te-ei todos os dias da minha vida.

8ª ESTAÇÃO: Jesus consola as filhas de Jerusalém

Ó Jesus, deixa que eu chore por mim mesmo, pois não sou senão uma árvore seca que só serve para ser lançada ao fogo. Porém tu dás nova vida à árvore seca enxertando-a na árvore da cruz. Beato Tito Brandsma.

Tu, Senhor, és o meu Fogo. Como árvore pobre e sem vida, só desejo lançar-me nos teus braços. Recebe-me, rogo-te. Não importa que isto signifique que terei de abraçar-me à cruz da tua dor. Só contigo posso novamente ser feliz. As nossas lágrimas unir-se-ão num canto de alegria.

9ª ESTAÇÃO: Jesus cai pela terceira vez

Ainda que caias cem vezes, levanta-te cada vez mais com maior presteza, demonstrando assim o teu amor por Ele. Santa Teresinha do Menino Jesus.

Senhor, tenho vergonha de mim mesmo; caio e volta a cair, perco-me, afasto-me, encerro-me. Quando estou assim, no chão e sem forças, entendo que a única coisa que há que fazer, o único passo a dar, é voltar a entrar em mim mesmo, como o filho pródigo da parábola, e ali, no fundo da alma, voltar a descobrir o teu amor por mim. Agarrado a ele poderei ressurgir, movido somente por uma infinita confiança em tua ternura de Amigo, ó meu Salvador.

10ª ESTAÇÃO: Jesus é despojado das suas vestes

A alma despojada de si mesma e revestida de Jesus Cristo não tem de temer nada do mundo exterior. Por isso, renuncio cada dia a mim mesma, a fim de que Cristo possa crescer em mim. Beata Isabel da Trindade.

Senhor, muitas vezes senti-me despojado do que considerava valioso, indispensável para viver. Muitas experiências no mundo ajudaram-me a entender que no fim nada permanece, senão unicamente a tua presença, o teu amor fiel. Então pensei abandonar muitas coisas inúteis, inclusivamente muitas companhias que não me conduziam a ti. Aos poucos fui-me despojando e revesti-me do vestido mais formoso que és tu, ó Jesus.

11ª ESTAÇÃO: Jesus é cravado na cruz

Decidi permanecer em espírito aos pés da cruz para receber aí o orvalho divino, o sangue que caía no chão, sem que ninguém se apressasse a recolhê-lo. Então compreendi que devia derramá-lo sobre as almas. Santa Teresinha do Menino Jesus.

Senhor, pela tua graça cheguei até aqui, até aos pés da tua cruz. Contemplo-te cravado no madeiro, cravado sobretudo à dor, ao amor, à vontade de nos salvar. Cada gota do teu sangue que cai é uma promessa de vida nova para cada um de nós, teus filhos, espalhados pelo mundo inteiro, ao longo da pobre história humana. Como teu irmão, ó Jesus, desejo aprender em cada dia a recolher as gotas preciosas da tua palavra para nós, do teu infinito amor por nós, e quero entregá-lo depois a quantos encontro no meu caminho, sem o guardar para mim.

12ª ESTAÇÃO: Jesus morre na cruz

A morte não pode resultar amarga para a alma que ama, já que nela encontra toda a doçura e o deleite do amor. A alma goza da morte como se estivesse a pensar no seu noivado ou no seu matrimónio, por isso deseja o dia e a hora da sua morte. S. João da Cruz.

Senhor, a tua morte é uma grande escola para mim; nela posso aprender a amar, a viver de verdade; nela posso encontar sentido para a minha vida. Diante de ti, Crucificado, descubro que o amor e a dor são uma mesma coisa e que por isso a morte foi anulada e a partir de agora jamais poderá triunfar. Junto a ti, toda a pequena morte, converte-se em doce experiência de vida, porque agora sei que na dor posso encontar o amor. Obrigado, Senhor Jesus.

13ª Estação: Jesus é descido da cruz

Seguindo os teus caminho não poderás chegar aonde desejas, nem sequer através da mais alta contemplação, mas somente através de uma grande humildade e de uma total disponibilidade do coração.  Santa Teresinha do Menino Jesus.

Senhor, eu sei que não tenho nada de grande, vistoso e importante para te oferecer. Não tenho nada, unicamente o meu coração. Depois deste longo caminho seguindo os teus passos na prova e na dor da cruz, somente desejo entregar-te o meu coração, o meu amor, a minha vida. Entrego-me ao teu abraço sabendo que me acolhes tal como sou.

14ª ESTAÇÃO: O corpo de Jesus é colocado no túmulo

A alma tem de esvaziar-se de tudo o que não é Deus para poder ir até Deus… Por amor de Cristo deve desejar entrar numa completa desnudez e pobreza  relativamente a tudo. S. João da Cruz.

Senhor, o último passo é uma descida profunda, é entrar na obscuridade do túmulo. Ao chegar ao cimo eu esperava ver uma luz mais clara, receber os benéficos raios do sol. No entanto, ainda não é o tempo. Quero permanecer contigo, baixar também até à solidão tenebrosa do túmulo. Não tenho medo, pois creio que o teu amor é mais forte; sei que ressuscitarás e também me farás viver.

Dia de Nossa Senhora da Confiança

Terço de Nossa Senhora da Confiança 

 Credo, Pai-nosso, Ave Maria

Nas contas do Pai-nosso:
Ó Maria!
Em vossas mãos ponho esta súplica (pede-se):
abençoai-a e depois apresentai-a a Jesus;
fazei valer o vosso amor de Mãe e o vosso poder de Rainha.

Nas contas da Ave Maria:
Ó Maria!
Eu conto com o vosso auxílio.
Confio em vosso poder.

Em lugar do Glória ao Pai:
Entrego-me a vossa vontade.
Tenho confiança vossa misericórdia.
Ó Mãe de Deus e minha,
Rogai por mim.

No final do terço:
Ó Maria, vós sois o nosso Perpétuo Socorro
Valei-me, eu confio em vós.

Ó Maria, vós sois a Consoladora dos aflitos,
Valei-me, eu confio em vós.

Ó Maria, vós sois a Causa de nossa alegria,
Valei-me, eu confio em vós.

Sábado II da Quaresma

Evangelho (Lc 15,1-3.11-32): Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam contra ele. «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Então ele contou-lhes esta parábola: E Jesus continuou. «Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha esbanjado tudo o que possuía, chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. Então, foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu sítio cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: «Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’.  Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. Ele respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque recuperou seu filho são e salvo’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistiu com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Mas quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado».

«Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti»

Rev. D. Llucià POU i Sabater (Granada, Espanha)

Hoje vemos a misericórdia, a característica distintiva de Deus Pai, no momento em que contemplamos uma Humanidade “órfã”, porque —esquecida— não sabe que é filha de Deus. Cronin fala de um filho que saiu de casa, esbanjou o dinheiro, a saúde, a honra da sua família e acabou na prisão. Pouco antes de sair em liberdade, escreveu para casa: se o tivessem perdoado, então que pendurassem um pano branco na macieira, que ficava ao pé da linha do comboio. Se ele visse o pano, voltaria a casa; se não, nunca mais o veriam a ele. No dia em que saiu, ao aproximar-se de casa, nem se atrevia a olhar... Estaria lá, o pano? «Abre os teus olhos!... vê!», diz-lhe um amigo. E então, qual não foi o seu espanto: na macieira não havia apenas um pano branco, mas sim centenas; estava cheia de panos brancos.

Recorda-nos aquele quadro de Rembrandt, no qual se vê como o filho que regressa, fragilizado e esfomeado, é abraçado por um ancião, com duas mãos diferentes: uma mão de pai, que o abraça com força; outra de mãe, afetuosa e doce, que o acaricia. Deus é pai e mãe...

«Pai, pequei!» (cf. Lc 15,21), queremos nós também dizer, e sentir o abraço de Deus no sacramento da confissão, e participar na festa da Eucaristia: «Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver» (Lc 15,23-24). Assim sendo, já que «Deus nos espera —em cada dia— como aquele pai da parábola esperava o seu filho pródigo» (São Josemaria), percorramos o caminho com Jesus, ao encontro do Pai, onde tudo se torna claro: «o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente» (Concílio Vaticano II).

O protagonista é sempre o Pai. Que o deserto da Quaresma nos leve a interiorizar esta chamada a participar na misericórdia divina, já que viver é regressar ao Pai.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Nossa Senhora da Confiança
* O capítulo 15 do evangelho de Lucas está pendurado na seguinte informação: "Todos os publicanos e pecadores se aproximavam para ouvir Jesus. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: Esse homem recebe os pecadores e come com eles!" (Lc 15,1-3). Em seguida, Lucas traz três parábolas ligadas entre si pelo mesmo assunto: a ovelha perdida (Lc 15,4-7), a moeda perdida (Lc 15,8-10), o filho perdido (Lc 15,11-32). Esta última parábola é o assunto do evangelho de hoje.

* Lucas 15,11-13: A decisão do filho mais novo.  Um homem tinha dois filhos. O mais novo pede a parte da herança que lhe toca. O pai divide tudo entre os dois. Tanto o mais velho como o mais novo, ambos recebem a sua parte. Receber herança não é mérito. É um dom gratuito. A herança dos dons de Deus está distribuída entre todos os seres humanos, tanto judeus como pagãos, tanto cristãos como não cristãos. Todos têm algo da herança do Pai. Mas nem todos cuidam da mesma maneira. Assim, o filho mais novo parte para longe e gasta a sua herança numa vida dissipada, esquecendo-se do Pai. No tempo de Lucas, o mais velho representava as comunidades vindas do judaísmo, e o mais novo, as comunidades vindas do paganismo. E hoje, quem é o mais velho e o mais novo?

* Lucas 15,14-19: A desilusão e a vontade de voltar para a casa do Pai.  A necessidade de ter o que comer faz com que o mais novo perca a sua liberdade e se torne escravo para cuidar dos porcos. Recebe tratamento pior que os porcos. Esta era a condição de vida de milhões de escravos no império romano no tempo de Lucas. A situação em que está faz o mais novo cair em si e lembrar-se da casa do Pai. Ele faz uma revisão de vida e decide voltar para casa. Prepara até as palavras que vai dizer ao Pai: “Já não mereço ser teu filho! Trata-me como um dos teus empregados!” Empregado executa ordens, cumpre a lei da servidão. O filho mais novo quer ser cumpridor da lei, como o queriam os fariseus e os escribas no tempo de Jesus (Lc 15,1). Era isto que os missionários dos fariseus impunham aos pagãos que se convertiam ao Deus de Abraão (Mt 23,15). No tempo de Lucas, cristãos vindos do judaísmo conseguiram que alguns cristãos, convertidos do paganismo, se submetessem ao jugo da lei (Gl 1,6-10).

* Lucas 15,20-24: A alegria do Pai ao reencontrar o filho mais novo.  A parábola diz que o filho mais novo ainda estava longe de casa e o Pai já o viu, corre ao seu encontro e o cumula de beijos. A impressão que Jesus nos dá é que o Pai ficou o tempo todo na janela olhando a estrada para ver o filho apontar lá longe na esquina! Conforme o nosso modo humano de pensar e de sentir, a alegria do Pai parece exagerada. Nem deixa o filho terminar as palavras que tinha preparado. Nem escuta! O Pai não quer que o filho seja seu escravo. Quer que seja filho! Esta é a grande Boa Nova que Jesus nos trouxe! Túnica nova, sandálias novas, anel no dedo, churrasco, festa! Nesta alegria imensa do reencontro, Jesus deixa transparecer como era grande a tristeza do Pai pela perda do filho. Deus estava muito triste e isto a gente só fica sabendo agora, vendo o tamanho da alegria do Pai quando reencontra o filho! E é uma alegria partilhada com todo mundo na festa que ele manda preparar.

* Lucas 15,25-28b: A reação do filho mais velho.  O filho mais velho volta do serviço no campo e encontra a casa em festa. Não entra. Quer saber de que se trata. Quando soube do motivo da festa, ficou com muita raiva e não quis entrar. Fechado em si mesmo, ele pensa ter o seu direito. Não gostou da festa e não entendeu a alegria do Pai. Sinal de que não tinha muita intimidade com o Pai, apesar de viver na mesma casa. Pois, se tivesse, teria notado a imensa tristeza do Pai pela perda do filho mais novo e teria entendido a alegria dele pela volta do filho. Quem vive muito preocupado em observar a lei de Deus, corre o perigo de esquecer o próprio Deus! O filho mais novo, mesmo longe de casa, parecia conhecer o Pai melhor que o filho mais velho, que morava com ele na mesma casa! Pois o mais novo teve a coragem de voltar para a casa do Pai, enquanto o mais velho não quer mais entrar na casa do Pai! Ele não se dá conta de que o Pai, sem ele, vai perder a alegria. Pois também ele, o mais velho, é filho do mesmo jeito que o novo!

* Lucas 15,28a-30: A atitude do Pai e a resposta do filho mais velho.  O pai sai de casa e suplica ao filho mais velho para entrar. Mas este responde: "Pai, tantos anos que eu sirvo ao senhor. Jamais transgredi um só dos seus mandamentos, e o senhor nunca me deu um cabrito sequer para festejar com meus amigos. E vem esse seu filho, que devorou seus bens com prostitutas e o senhor manda matar até o novilho gordo!" O mais velho também quer festa e alegria, mas só com os amigos. Não com o irmão, nem com o pai. Ele nem sequer chama o mais novo de irmão, mas "esse seu filho", como se não fosse mais irmão dele. E é ele, o mais velho, que fala em prostitutas. É a malícia dele que interpretou assim a vida do irmão mais novo. Quantas vezes o irmão mais velho não interpreta mal a vida do irmão mais novo! Quantas vezes nós católicos interpretamos mal a vida e a religião dos outros! A atitude do Pai é outra. Ele acolheu o filho mais novo, mas também não quer perder o filho mais velho. Os dois fazem parte da família. Um não pode excluir o outro!

* Lucas 15,31-32: A resposta final do Pai.  Da mesma maneira como o Pai não deu atenção aos argumentos do filho mais novo, assim também não dá atenção aos argumentos do mais velho e lhe diz: "Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu! Mas esse teu irmão estava morto e tornou a viver. Estava perdido e foi reencontrado!" Será que o mais velho tinha realmente consciência de estar sempre com o Pai e de encontrar nesta presença a causa da sua alegria? A expressão do Pai "Tudo que é meu é teu!" inclui também o filho mais novo que voltou! O mais velho não tem o direito de fazer distinção. Se ele quer ser mesmo filho do Pai, terá que aceitá-lo do jeito que ele é e não do jeito que ele gostaria que o Pai fosse! A parábola não diz qual foi a resposta final do irmão mais velho. Isto fica por conta do próprio irmão mais velho que somos nós!

* Quem experimenta a gratuita e surpreendente entrada do amor de Deus em sua vida torna-se alegre e quer comunicar esta alegria aos outros. A ação salvadora de Deus é fonte de alegria: “Alegrem-se comigo!” (Lc 15,6.9) É desta experiência da gratuidade de Deus que nasce o sentido da festa e da alegria (Lc 15,32). No fim da parábola, o Pai manda ser alegre e fazer festa. A alegria ficou ameaçada por causa do filho mais velho que se recusa a entrar. Ele pensa ter direito a uma alegria só com os seus amigos e não quer a alegria com todos da mesma família humana. Ele representa os que se consideram justos e observantes e acham que não precisam de conversão.

Para um confronto pessoal
1. Qual a imagem de Deus que está em mim desde a minha infância? Ela mudou ao longo dos anos? Se mudou, por que mudou?
2. Eu me identifico com qual dos dois filhos: com o mais novo ou com o mais velho? Por quê?