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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Terça-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,18-21): Naquele tempo, Jesus dizia: A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? É como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu jardim: cresceu, tornou-se um arbusto, e os pássaros do céu foram fazer ninhos nos seus ramos. Jesus disse ainda: Com que mais poderei comparar o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até tudo ficar fermentado.

«A que é semelhante o Reino de Deus»

+ Rev. D. Francisco Lucas MATEO Seco (Pamplona, Navarra, Espanha)

Hoje, os textos da liturgia, mediante duas parábolas, põem diante de nossos olhos uma das características próprias do Reino de Deus: é algo que cresce lentamente - como um grão de mostarda - mas que chega a ser grande ao ponto de oferecer refúgio às aves do céu. Assim o manifestava Tertuliano: Somos de ontem e enchemos tudo!. Com essa parábola, Nosso Senhor exorta à paciência, à fortaleza e à esperança. Essas virtudes são particularmente necessárias a aqueles que se dedicam à propagação do Reino de Deus. É necessário saber esperar a que a semente plantada, com a graça de Deus e com a cooperação humana, vá crescendo, aprofundando suas raízes na boa terra y elevando-se pouco a pouco até converter-se em árvore. Faz falta, em primeiro lugar, ter fé na virtualidade – fecundidade - contida na semente do Reino de Deus. Essa semente é a Palavra; é também a Eucaristia, que se semeia em nós mediante a comunhão. Nosso Senhor Jesus Cristo se comparou a si mesmo com : verdade, em verdade vos digo; se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto;(Jn 12,24).

O Reino de Deus prossegue Nosso Senhor, é semelhante, é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha e toda a massa ficou levedada (Lc 13,21). Também aqui se fala da capacidade que tem a levedura de fazer fermentar toda a massa. Assim sucede com o resto de Israel, de que se fala no Antigo Testamento: o resto salvará e fermentará a todo o povo. Seguindo com a parábola, só é necessário que o fermento esteja dentro da massa, que chegue ao povo, que seja como o sal capaz de preservar da corrupção e de dar bom sabor a todo alimento (cf. Mt 5,13). Também é necessário dar tempo para que a levedura realize seu labor.

Parábolas que animam a paciência e a esperança; parábolas que se referem ao Reino de Deus e à Igreja, e que se aplicam também ao crescimento deste mesmo Reino em cada um de nós.

Ser fermento na massa

S. João Crisóstomo (cerca 345-407) - Homília 20 sobre os Atos dos Apóstolos

Há algo mais irrisório do que um cristão que não se preocupa com os outros? Não tomes como pretexto a tua pobreza: a viúva que pôs duas pequenas moedas na arca do tesouro (Mc 12,42) levantar-se-ia contra ti; Pedro também, ele que dizia ao coxo: “Não tenho ouro nem prata” (Ac 3,6), e Paulo, tão pobre que tinha muitas vezes fome. Não uses a tua condição social, pois os apóstolos também eram humildes e de baixa condição. Não invoques a tua ignorância, porque eles eram homens iletrados. Mesmo se tu eras escravo ou fugitivo, tu podias sempre fazer o que dependia de ti. Assim era Onésimo que Paulo elogiou. Serás tu de saúde frágil? Timóteo também o era. Sim, seja o que for que sejamos, não importa quem pode ser útil ao seu próximo, se ele quer verdadeiramente fazer o que ele pode.

Vês quantas árvores da floresta são vigorosas, belas, esbeltas? E contudo, nos jardins, preferimos árvores de fruto ou oliveiras cobertas de frutos. Belas árvores estéreis..., assim são os homens que apena s consideram o seu próprio interesse...

Se o fermento não levedasse a massa, não seria um verdadeiro fermento. Se um perfume não perfumasse os que estão perto, poderíamos chamá-lo de perfume? Não digas pois que é impossível teres uma boa influência sobre os outros, porque se és verdadeiramente cristão, é impossível que não se passe nada; isso faz parte da essência própria do cristão... Será tão contraditório dizer que um cristão não pode ser útil ao seu próximo como negar ao sol a possibilidade de iluminar e aquecer.

“Se o grão de trigo, lançado na terra, não morrer, fica só, como é; mas, se morrer, produz abundante fruto” (Jo 12,24)

S. Máximo de Turim (? - cerca 420), bispo - Sermão 25

“Um homem tomou um grão de mostarda e lançou-a no seu jardim; ela desenvolveu-se e tornou-se uma árvore, e os pássaros do céu abrigam-se nos seus ramos”. Procuremos a quem se aplica tudo isto… Penso que a comparação se aplica muito justamente a Cristo nosso Senhor que, nascendo na humildade da condição humana, como um grão, sobe finalmente ao céu como uma árvore. Ele é grão, o Cristo esmagado na Paixão; ele torna-se uma árvore na ressurreição. Sim, ele é uma semente quando, esfomeado, ele sofre por faltar o alimento; ele é uma árvore quando, com cinco pães, sacia cinco mil pessoas (Mt 14,13s). Lá ele sofre a carência da sua condição de homem, aqui ele derrama a saciedade pela força da sua divindade.

Eu diria que o Senhor é grão assim que ele é batido, desprezado, injuriado; ele é árvore quando dá a vista aos cegos, quando ressuscita os mortos e perdoa os pecados. Ele próprio reconhece que é grão: “Se o grão de trigo lançado na terra não morrer…”(Jo 12,24).

O Reino de Deus

S. Simeão o Jovem Teólogo, (Cerca de 949-1022) - Hino 17

Vou mostrar-te claramente que é aqui em baixo que tens de acolher o Reino dos céus, todo inteiro, se nele quiseres entrar também após a tua morte. Escuta Deus que te fala em parábolas: “A que compararei então o Reino dos céus? Ele assemelha-se, escuta bem, ao grão de mostarda que um homem tomou e lançou no seu jardim; e ele germinou e, na verdade, tornou-se uma grande árvore”. Esse grão é o Reino dos céus, é a graça do Espírito divino, e o jardim é o coração de cada homem, o sítio onde quem o recebeu esconde o Espírito no fundo de si mesmo, nas pregas das suas entranhas, para que ninguém o possa ver. E guarda-o com todo o cuidado, para que germine, para que se torne uma árvore e se eleve para o céu.

Se, então, disseres: “Não é aqui em baixo, mas só após a morte que acederão ao Reino todos os que o tiverem desejado com fervor”, estás a alterar o sentido das parábolas do Salvador nosso Deus. E, se não tomares o grão, esse grão de mostarda, como ele to disse, se não o lançares no teu jardim, ficarás totalmente estéril. Em que outro momento, se não for agora, receberás tu a semente?

“Aqui em baixo, recebe o penhor, diz o Mestre; aqui em baixo, recebe o selo. Já aqui, ilumina a tua lâmpada. Se fores sensato, é aqui em baixo que me tornarei para ti a pérola (Mt 13,45), é aqui em baixo que serei o teu trigo, bem como o teu grão de mostarda. É aqui em baixo que serei fermento e farei levedar a massa. É aqui que serei para ti como água e me tornarei fogo abrasador. É aqui que me tornarei a tua veste e o teu alimento e toda a tua bebida, se o desejares”. Eis o que diz o Mestre: “Se assim, pois, já aqui em baixo, me reconheceres como tal, também no céu me possuirás inefavelmente e eu tornar-me-ei tudo para ti”.

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