LECTIO
DIVINA - Textos: Atos
9, 26-31; 1 João 3, 18-24; João 15, 1-8.
Evangelho
(Jo 15,1-8): «Eu sou a videira
verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele
corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós
já estais limpos por causa da palavra que vos falei. Permanecei em mim, e eu
permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não
permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em
mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer. Quem
não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará. Tais ramos são
apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se permanecerdes em mim, e minhas
palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. Nisto meu
Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos».
Comentário: Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí,
Girona, Espanha)
Nisto meu Pai é
glorificado: que deis muito fruto
Hoje,
o Evangelho apresenta-nos a alegoria da videira e os ramos. Cristo é a
verdadeira videira, nós somos os ramos e o Pai o agricultor.
O
Pai pretende que demos fruto. É logico. Um agricultor semeia a videira e a
cultiva para que produza fruto abundante. Se criarmos uma empresa, vamos querer
que produza. Jesus insiste: «Fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes
fruto» (Jo 15,16).
És
um escolhido. Deus te olhou. Pelo Batismo te enxertou na videira que é Cristo.
Tu tens a vida de Cristo, a vida cristã. Possuis o elemento principal para dar
fruto: a união com Cristo, porque «o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se
não permanecer na videira» (Jo 15,4). Jesus o disse taxativamente: «sem mim,
nada podeis fazer» (Jo 15,5). «Sua força é suavidade; nada tão brando como
isto, e nada como isto tão firme» (São Francisco de Sales). Quantas coisas
quiseste fazer afastado de Cristo? O fruto que o Pai espera de nós é aquele das
boas obras, da prática das virtudes. Qual é a união com Cristo que nos faz
capazes de dar este fruto? A fé e a caridade, ou seja, permanecer em graça de
Deus.
Quando
vives em graça, todos os atos de virtude são frutos agradáveis ao Pai. São
obras que Jesus Cristo faz através de ti. São obras de Cristo que dão glória ao
Pai e convertem-se em céu para ti. Vale a pena viver sempre em graça de Deus!
«Quem não permanecer em mim [pelo pecado] será lançado fora, como um ramo, e
secará; depois (…) são lançados ao fogo e queimados» (Jo 15,6). É uma clara
alusão ao inferno. Eres como um ramo cheio de vida?
Que
a Virgem Maria nos ajude a aumentar a graça para produzirmos frutos em
abundância que deem glória ao Pai.
Cristo é a Videira ou
Cepa, nós os ramos.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
A
imagem da videira é constante na Bíblia. A relação de Israel com Deus é
apresentada com esta comparação. A videira alimenta os ramos, lhes da vida.
Pelos ramos corre e circula a seiva, formada com água e nutrientes compostos. A
seiva transporta o alimento para os ramos. Cristo é a Videira e a seiva da
Igreja, das nossas comunidades e da nossa alma (evangelho). E os frutos desses
ramos unidos à Videira são: a caridade (2ª leitura), a valentia na pregação para
outros se enxertarem nessa Videira que é Cristo (1ª leitura).
Em
primeiro lugar, a vinha era o emblema nacional para Israel, que a mesma coisa
estava no escudo guerreiro dos Macabeus - heróis da resistência palestina
contra Síria no século II a.C.- que se pendurava no templo de Jerusalém. No
vestíbulo do Sancta Sanctorum estava pendurada uma gigantesca videira de ouro e
o sonho do judeu emigrante, peregrino ou turista, era chegar um dia com punhado
de ouro para acrescentar àquela videira uma uva àquele cacho, uma folha, uma
gavinha, um ramo. Foi neste contexto agrícola e ampelógrafo, cultual e cultural
quando Jesus disse: “Eu sou a videira, vós os sarmentos”, “sem mim nada podeis
fazer”, e todos entenderam. Nós também? São João entendeu; quem nos seus
escritos repete 24 vezes e são Paulo até 164 vezes a frase ou o seu equivalente
insertados e enxertados “em Cristo Jesus”, pois fora Dele, nada, nada de nada.
Nós entendemos isso, colonos da vinha mística, que é a Igreja, ramos vivos da
Videira imortal, que é Cristo? Nós, por cujos vasos peneirados e liberianos
corre a seiva divina, que arrasta em emulsão a graça sobrenatural, que é a vida
de Deus?
Em
segundo lugar, ramos unidos ou desprendidos da Videira-Cristo? Desenlace
distinto e distante. Os ramos unidos a essa Videira-Cristo, darão muito fruto.
Foi o dia do nosso batismo quando os nossos ramos se uniram a essa
Videira-Cristo. Desde esse dia começou a fluir em todo o nosso organismo a
seiva divina, a vida de Deus, com os nutrientes da fé, da esperança e da
caridade. O nosso ramo necessita mais seiva, isto é, vida divina, para crescer,
desenvolver-se e obter os caules, os galhos, as folhas e os frutos esperados.
Esta seiva vem injetada em nós na participação dos sacramentos, sobretudo na
Eucaristia. Que frutos? Frutos na vida pessoal são as virtudes. Frutos na vida
familiar: união, diálogo, respeito, fidelidade, educação dos filhos. Frutos na
vida profissional: honestidade, retidão, responsabilidade. Frutos na vida
pastoral: interesse pelas pessoas, abertura aos diversos grupos, movimentos e
carismas, colaboração mútua, compromisso com a evangelização. Mas os ramos
desprendidos dessa Videira-Cristo morrerão. O ramo se desprende da Videira-
Cristo quando peca. O que acontece? O pecado mortal impede totalmente a
irrigação sobrenatural e nos converte num galho seco e estéril. E para que
serve um galho seco senão para ser jogado no fogo da inutilidade? As faltas
veniais, as imperfeições e mediocridades constantes são como uma
arteriosclerose que endurece pouco a pouco o nosso coração por falta de
irrigação, pois as artérias da alma se tornam rígidas e grossas, dificultando a
circulação sanguínea da vida divina.
Finalmente,
tem que ficar bem claro que os ramos mais frutíferos serão podados para darem
mais fruto ainda. É um paradoxo que não podemos entender. Deus às vezes o quer
e permite. É interessante repassar a vida dos santos: quanto mais santos, mais
podas e provas tinham: físicas, morais e espirituais. Deus os podava para que
dessem mais fruto. Provou santa Teresa de Jesus e são João da Cruz, e como os
provou. Provou e podou santa Teresinha de Lisieux. Provou e podou são João
Bosco. Provou e podou o santo padre Pio de Pietrelcina. Provou e podou são João
Paulo II. Graças a essa poda, caem de nós os galhos inúteis, os empecilhos que
dificultavam a passagem triunfal da seiva de Cristo, as folhas secas da nossa
vontade própria, dos nossos desejos vácuos, infantis e caprichosos. Diante das
podas, paciência. E olhar para Cristo que foi podado até o final da sua vida:
bofeteado, pisoteado, feito um verme por nós na cruz. E no final deu o fruto
dos frutos: a salvação eterna da humanidade e a reconciliação com o seu Pai
celestial.
Para refletir: Estou unido a Cristo- Videira na
oração, na Eucaristia? Quais pâmpanos está dando o meu ramo? Quanto tive a
desgraça de me desprender dessa Videira, corri para a Confissão onde sempre
receberei de novo a irrigação da vida divina perdida pelo pecado? Deixo-me
podar por Deus para que o meu ramo produza o melhor fruto ou me rebelo? Ofereço
aos meus irmãos os frutos dos meus ramos?
Para rezar: Senhor, apertai o meu ramo com a
vossa Videira para que cada dia a vossa vida divina invada todo o meu ser.
Senhor, mandai a vossa chuva do céu para que sempre esteja verde o meu ramo e
cresça. Senhor, não tenhais medo da poda, porque assim me desprenderás de todas
as gavinhas inúteis.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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