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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Mês de São José - Segunda-feira da 2ª semana da Quaresma


Evangelho (Lc 6,36-38): Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante será colocada na dobra da vossa veste, pois a medida que usardes para os outros, servirá também para vós».

Comentário: + Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic, Barcelona, Espanha)

Dai e vos será dado

Hoje, o Evangelho segundo São Lucas proclama uma mensagem mais densa do que breve, e note-se que é mesmo muito breve! Podemos reduzi-la a dois pontos: um enquadramento de misericórdia e um conteúdo de justiça.

Em primeiro lugar, um enquadramento de misericórdia. Com efeito, a máxima de Jesus sobressai como uma norma e resplandece como um ambiente. Norma absoluta: se o nosso Pai do céu é misericordioso, nós, como filhos seus, também o devemos ser. E como é misericordioso, o Pai! O versículo anterior afirma: «(...) e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus» (Lc 6,35).

Em segundo lugar, um conteúdo de justiça. Efetivamente, encontramo-nos perante uma espécie de “lei de talião”, nos antípodas (oposta) da que foi rejeitada por Jesus («Olho por olho, dente por dente»). Aqui, em quatro momentos sucessivos, o divino Mestre ensina-nos, primeiro, com duas negações; depois, com duas afirmações. Negações: «Não julgueis e não sereis julgados»; «Não condeneis e não sereis condenados». Afirmações: «Perdoai e sereis perdoados»; «Dai e vos será dado».

Apliquemo-las fielmente à nossa vida de todos os dias, atendendo especialmente à quarta máxima, como faz Jesus. Façamos um corajoso e lúcido exame de consciência: se em matéria familiar, cultural, econômica e política o Senhor julgasse e condenasse o nosso mundo como o mundo julga e condena, quem poderia enfrentar esse tribunal? (Ao regressar a casa e ao ler os jornais ou escutar as notícias, pensemos apenas no mundo da política). Se o Senhor nos perdoasse como o fazem normalmente os homens, quantas pessoas e instituições alcançariam a plena reconciliação?

Mas a quarta máxima merece uma reflexão particular já que, nela, a boa lei de talião que estamos a considerar fica, de alguma forma, superada. Com efeito, se dermos, nos darão na mesma proporção? Não! Se dermos, receberemos — notemo-lo bem — «Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante» (Lc 6,38). É pois à luz desta bendita desproporção que somos exortados a dar previamente. Perguntemo-nos: quando dou, dou bem, dou procurando o melhor, dou com plenitude?

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* Os três breves versículos do Evangelho de hoje (Lc 6,36-38) são a parte final de um pequeno discurso de Jesus (Lc 6,20-38). Na primeira parte deste discurso, ele se dirige aos discípulos (Lc 6,20) e aos ricos (Lc 6,24) proclamando para os discípulos quatro bem-aventuranças (Lc 6,20-23), e para os ricos quatro maldições (Lc 6,20-26). Na segunda parte, ele se dirige a todos que o escutam (Lc 6,27), a saber, aquela multidão imensa de pobres e doentes, vinda de todos os lados (Lc 6,17-19). As palavras que ele diz a este povo e a todos nós são exigentes e difíceis: amar os inimigos (Lc 6,27), não amaldiçoar (Lc 6,28), oferecer a outra face a quem bate no rosto e não reclamar quando alguém toma o que é nosso (Lc 6,29). Como entender estes conselhos tão exigentes? A explicação nos é dada nos três versículos do evangelho de hoje, nos quais atingimos o centro da Boa Nova que Jesus nos trouxe.

* Lucas 6,36: Ser misericordioso como vosso Pai é misericordioso. As bem-aventuranças para os discípulos (Lc 6,20-23) e as maldições contra os ricos (Lc 6,24-26) não podem ser interpretadas como uma ocasião para os pobres se vingarem dos ricos. Jesus manda ter a atitude contrária. Ele diz: "Amai os vossos inimigos!" (Lc 6,27). A mudança ou conversão que Jesus quer realizar em nós não consiste em virar a mesa apenas para inverter o sistema, pois aí nada mudaria. Ele quer é mudar o sistema. O Novo que Jesus quer construir vem da nova experiência que ele tem de Deus como Pai/Mãe cheio de ternura que acolhe a todos, bom e maus, que faz brilhar o sol para maus e bons e faz chover sobre injustos e justos (Mt 5,45). O amor verdadeiro não depende nem pode depender do que eu recebo do outro. O amor deve querer o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz por mim. Pois assim é o amor de Deus por nós. Ele é misericordioso não só para com os bons, mas para com todos, até “para com os ingratos e com os maus” (Lc 6,35). Os discípulos e as discípulas de Jesus devem irradiar este amor misericordioso.

* Lucas 6,37-38: Não julgar para não ser julgado. Estas palavras finais repetem de maneira mais clara o que ele tinha dito anteriormente: “Aquilo que vocês desejam que os outros façam a vocês, vocês devem fazer a eles” (Lc 6,31; cf. Mt 7,12). Se você não deseja ser julgado, não julgue! Se não deseja ser condenado, não condene! Se quiser ser perdoado, perdoe! Se quiser receber uma boa medida, dê uma boa medida aos outros! Não fique esperando até que o outro tome a iniciativa, mas tome você a iniciativa e comece já! E verá que dará certo!

Para um confronto pessoal
1) Quaresma é tempo de conversão. Qual a conversão que o evangelho de hoje pede de mim?
2) Você já tentou ser misericordioso como o Pai do céu é misericordioso?

Mês de São José - Domingo II da Quaresma

Textos: Gn 22, 1-2.9-13.15-18; Rm 8, 31-34; Mc 9, 2-10

Evangelho (Mc 9,2-10): Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e Moisés, conversando com Jesus. Pedro então tomou a palavra e disse a Jesus: «Rabi, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias». Na realidade, não sabia o que devia falar, pois eles estavam tomados de medo. Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai-o!». E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém: só Jesus estava com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. Eles ficaram pensando nesta palavra e discutiam entre si o que significaria esse “ressuscitar dos mortos”.

Comentário: Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)

Ele foi transfigurado diante deles

Hoje contemplamos a cena «na qual os três apóstolos Pedro, Tiago e João aparecem como extasiados pela beleza do Redentor» (João Paulo II): «ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim» (Mc 9,2-3). Pelo que nós podemos entrelaçar uma mensagem: «o qual destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do evangelho» (2Tm 1,10), assegura São Paulo a seu discípulo Timóteo. É o que contemplamos cheios de assombro, como os três Apóstolos prediletos, neste episódio próprio do segundo domingo de Quaresma: a Transfiguração.

É bom que seja o nosso exercício de quaresma acolher este estalido de sol e de luz no rosto e nos vestidos de Jesus. É um maravilhoso ícone da humanidade redimida, que já não se apresenta na feia imagem do pecado, senão em toda a beleza que a divindade comunica à nossa carne. O bem-estar de Pedro é expressão do que um sente quando se deixa invadir pela graça divina.

O Espírito Santo transfigura também os sentidos dos Apóstolos, e graças a isto podem ver a glória divina do Homem Jesus. Olhos transfigurados para ver o que resplandece mais; ouvidos transfigurados para escutar a voz mais sublime e verdadeira: a do Pai que põem a sua complacência no Filho. Para nós tudo resulta demasiado surpreendente, já que nos encontramos na mediocridade. Só se nos deixamos tocar pelo Senhor, nossos sentidos serão capazes de ver e de escutar o que há de mais belo e gozoso, em Deus, e nos homens divinizados por Aquele que ressuscitou dentre os mortos.

«A espiritualidade cristã — escreveu João Paulo II— tem como característica o dever do discípulo de configurar-se cada vez mais plenamente com o seu Mestre», de tal maneira que — a través de uma assiduidade que poderíamos chamar “amizade”— chegarmos até ao ponto de «respirar seus sentimentos». Ponhamo-nos nas mãos de Santa Maria a meta da nossa verdadeira “transfiguração” em seu Filho Jesus Cristo.

Por que Deus nos faz subir tantos montes na vida? O que existe detrás ou em cima desses montes?

Pe. Antonio Rivero, L.C

Romaria do Senhor dos Passos
Ao longo da nossa vida Deus nos faz subir diversos montes. Hoje fez Abraão subir o monte Moriá (primeira leitura). Hoje Cristo sobe com os seus íntimos o monte Tabor (evangelho). Deus fez o seu Filho subir o Calvário e o entregou por todos nós (segunda leitura). É bom que na Quaresma reflitamos no sentido espiritual e teológico dos montes que Deus nos pede subir. Em cada monte Deus exige algo e oferece algo. Vejamos.

Em primeiro lugar, vejamos alguns dos montes do Antigo Testamento. Faz Abraão subir o monte Moriá (cf. Gen 22), onde lhe pede pegar o seu filho único, subir esse monte e sacrificar esse filho; oferece-lhe em troca, a sua benção e a fecundidade na descendência. Deus fez Moises subir o monte Sinai (cf. Ex 3 e 4; 19 e 20) onde pediu que tirasse as sandálias, ir ao faraó e libertar o seu povo da escravidão do Egito; e ao mesmo tempo, Deus lhe oferece e segurança da sua presença e a promessa da terra prometida. Elias sobe o monte Carmelo, e ai Deus pede para ele fazer converterem-se os que se afastaram de Deus e andam servindo os “baais” ou deuses falsos; também ali Elias põe à prova e deixa no chão esses falsos deuses e manda matar esses falsos profetas que os servem. Deus lhe oferece a segurança no triunfo e no seu poder e na sua força.

Em segundo lugar, vejamos os montes mais importantes os quais Jesus nos convida subir. Hoje Jesus sobe o monte Tabor, onde manifesta a sua glória e dá alento aos seus íntimos para enfrentar o gole amargo da Paixão e não se escandalizam Dele- quem veem aqui com o rosto transfigurado- quando o vejam com o rosto desfigurado. É uma pregustar do que será o céu. E dentro de uns dias, o Pai celeste fará Jesus subir o monte Calvário para resgatar a humanidade do pecado e nos conceder uma nova vida, através da sua morte e da sua ressurreição. E Jesus obedece e oferece livremente a sua vida, embora isto suponha ver o seu corpo destroçado, o seu coração trespassado e as suas mãos pregadas na cruz. E aqui neste monte Calvário lança as suas sete palavras como último testamento.

Finalmente, na nossa vida Deus nos faz subir esses montes, sem que nós planejemos ou peçamos isso. No monte Moriá Deus foi bem claro conosco: “Sacrifica para mim esses caprichos, esses desejos, esses sonhos que tanto acaricias e amas”. No monte Sinai nos convidou a renovar a sua Aliança conosco um e outra vez para que não nos esqueçamos de que Ele é o nosso único Deus e Senhor, e não somos escravos de nada e de ninguém. No monte Carmelo nos pede dar morte aos nossos vícios, maus hábitos, atitudes pecaminosas, afetos secretos e inconfessados, para oferecer-lhe todo o nosso coração. No monte Tabor nos chama à intimidade com Ele, para entrarmos na sua nuvem divina, contemplar o seu lindo rosto e nos apaixonar por Ele, e escutarmos a voz do Pai. E no monte Calvário nos pede morrer com Cristo para ressuscitar a uma vida nova; ser grão de trigo que cai na terra e morre para dar bom fruto; fazer a Vontade de Deus e não a nossa, e saciar a sua sede implacável. 

Para refletir: Quais montes eu já subi? Quais são montes que eu ainda não subi? De qual deles desci só porque era muito difícil e preferi a planície da mediocridade e da tibieza? Ajudo os meus irmãos a subir estes montes, animando-os e consolando-os?

Para rezar: Senhor, dai-me forças para empreender o caminho até o monte que Vós me indicardes. Tirai dos meus pés os grilhões que querem me atar à planície da vida fácil. Renovai a minha alegria durante a subida. E estando nesse monte, dobrai os meus joelhos para eu vos adorar, escutar-vos e beijar as vossas mãos abençoadas. E que assim eu desça desse monte com os olhos purificados, o coração ardente e a vontade decidida a seguir-vos sempre e em todas as partes.  

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

Sábado I da Quaresma

Evangelho (Mt 5,43-48): «Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Ora, eu vos digo: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito».

Comentário: Rev. D. Joan COSTA i Bou (Barcelona, Espanha)

Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem.

Hoje, o Evangelho exorta-nos ao mais perfeito amor. Amar é querer o bem do outro e nisto se baseia a nossa realização pessoal. Não amamos para procurar o nosso bem, mas sim o bem de quem amamos, e assim fazendo crescemos como pessoas. O ser humano, como afirmou o Concílio Vaticano II, «não pode encontrar a sua plenitude senão na entrega sincera de si mesmo aos outros». A isso se referia Santa Teresa do Menino Jesus quando pedia para fazermos da nossa vida um holocausto. O amor é a vocação humana. Todo o nosso comportamento, para ser verdadeiramente humano, deve manifestar a realidade do nosso ser, realizando a vocação do amor. Como escreveu João Paulo II, «o homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si mesmo um ser incompreensível, a sua vida fica privada de sentido se não se lhe revela o amor, se não se encontra com o amor, se não o experimenta e o faz próprio, se não participa nele vivamente».

O amor tem o seu fundamento e a sua plenitude no amor de Deus em Cristo. A pessoa é convidada a um diálogo com Deus. Cada um existe pelo amor de Deus que o criou e pelo amor de Deus que o conserva, «e só pode dizer-se que vive na plenitude da verdade quando reconhece livremente este amor e se confia totalmente ao seu Criador» (Concílio Vaticano II): esta é a razão mais alta da sua dignidade. O amor humano deve, portanto, ser custodiado pelo Amor divino, que é a sua fonte, nele encontra o seu modelo e nele é levado à plenitude. Portanto, o amor, quando é verdadeiramente humano, ama com o coração de Deus e abraça inclusive os inimigos. Se não é assim, não se ama de verdade. Daqui decorre que a exigência do dom sincero de si mesmo se torne um preceito divino: «Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5,48).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* No evangelho de ontem vimos como Jesus interpretou o mandamento “Não Matarás” para que a sua observância leve à prática do amor. Além de “Não Matarás” (Mt 5,21), Jesus citou outros quatro mandamentos da antiga lei: não cometer adultério (Mt 5,27), não jurar falso (Mt 5,33), olho por olho, dente por dente (Mt 5,38) e, no evangelho de hoje: “Amarás o próximo e odiarás o teu inimigo” (Mt 5,43). Assim, ao todo, por cinco vezes, ele criticou e completou a maneira antiga de observar estes mandamentos e apontou um caminho novo para atingir o objetivo da lei que é a prática do amor (Mt 5,22-26; 5, 28-32; 5,34-37; 5,39-42; 5,44-48).

* Amar os inimigos. No evangelho de hoje, Jesus cita a antiga lei que dizia: “Amarás o próximo e odiarás o teu inimigo”. Este texto não se encontra tal qual no Antigo Testamento. Trata-se mais da mentalidade reinante, segundo a qual o povo não via nenhum problema no fato de uma pessoa ter ódio ao seu inimigo. Jesus discorda e diz: “Mas eu digo Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem!” E ele dá o motivo: “Pois, se amais somente aos que vos amam, que recompensa vocês tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente vossos irmãos, o que é que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como é perfeito vosso Pai que está no céu." E Jesus deu a prova. Na hora de ser crucificado observou o que ensinou.

* Pai, perdoa! Eles não sabem o que fazem!  Um soldado prendeu o pulso de Jesus no braço da cruz, colocou um prego e começou a bater. Deu várias pancadas. O sangue espirrava. O corpo de Jesus se contorcia de dor. O soldado, mercenário, ignorante, alheio ao que estava fazendo e ao que estava acontecendo ao redor, continuava batendo como se fosse um prego na parede da casa dele para pendurar um quadro. Neste momento Jesus rezou pelo soldado que o torturava e dirigiu esta prece ao Pai: “Pai, perdoa! Eles não sabem o que estão fazendo!” Amou o soldado que o matava. Por mais que quisessem, a desumanidade não conseguiu apagar em Jesus a humanidade e o amor. Eles o prenderam, xingaram cuspiram no rosto dele, deram soco na cara, fizeram dele um rei palhaço com coroa de espinhos na cabeça, flagelaram, torturaram, o obrigaram andar pelas ruas como um criminoso, teve de ouvir os insultos das autoridades religiosas, no calvário o deixaram totalmente nu à vista de todos e de todas. Mas o veneno da desumanidade não conseguiu alcançar a fonte do amor e da humanidade que brotava de dentro de Jesus. A água do amor que jorrava de dentro era mais forte que o veneno do ódio que vinha de fora. Olhando aquele soldado ignorante e bruto, Jesus teve dó dele e rezou por ele e por todos: “Pai perdoa!” E ainda arrumou uma desculpa: “Eles não sabem o que estão fazendo!” Jesus se fez solidário com aqueles que o torturavam e maltratavam. Era como o irmão que vem com seus irmãos assassinos diante do juiz e ele, vítima dos próprios irmãos, diz ao juiz: “São meus irmãos, sabe, são uns ignorantes. Perdoa. Eles vão melhorar!” Amou o inimigo!

* Ser perfeito como o Pai do céu é perfeito. Jesus não quer simplesmente virar a mesa, pois aí nada mudaria. Ele quer mudar o sistema da convivência humana. O Novo que ele quer construir vem da nova experiência que ele tem de Deus como Pai cheio de ternura que acolhe a todos! As palavras de ameaça contra os ricos não podem ser ocasião para os pobres se vingarem. Jesus manda ter a atitude contrária: "Amai os vossos inimigos!" O amor verdadeiro não pode depender do que eu recebo do outro. O amor deve querer o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz por mim. Pois assim é o amor de Deus por nós.

Para um confronto pessoal
1) Amar os inimigos. Será que sou capaz de amar os meus inimigos?
2) Contemplar em silêncio Jesus que, na hora de ser morto, amava o inimigo que o matava.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

VIA SACRA CARMELITA

C – Irmãos, preparemos os nossos corações à contemplação da Paixão e Morte de nosso Salvador.  Sua Morte nos releva o quanto Deus nos ama, e, ao mesmo tempo, nos manifesta a gravidade do nosso pecado.  Ao arrependimento deve unir-se a gratidão e o empenho por uma vida nova no amor.  Peçamos, então, perdão dos nossos pecados, para que possamos meditar com devoção o Mistério da Paixão e Morte do Senhor Jesus.

T - Senhor meu Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, Criador e Redentor meu: por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, e porque Vos amo e estimo, pesa-me, Senhor, de todo o meu coração, de Vos Ter ofendido; pesa-me também de Ter perdido o céu e merecido o inferno; e proponho firmemente, ajudado com o auxílio de Vossa divina graça, emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender. Espero alcançar o perdão de minhas culpas pela Vossa infinita misericórdia.

P – Concedei-nos, Senhor nosso Deus, sermos encontrados também nós, por vossa graça, caminhando sempre alegremente na mesma caridade com a qual, por amor do mundo, vosso Filho entregou-se à morte. Por Cristo, nosso Senhor.

T – Amém.
A
1º Passo: Jesus angustiado no Jardim das Oliveiras

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DO EVANGELHO DE SÃO LUCAS: Conforme o seu costume, Jesus dirigiu-se para o monte das Oliveiras, seguido dos seus discípulos.   Ao chegar àquele lugar, disse-lhes: Orai para que não caiais em tentação. Depois afastou-se deles à distância de um tiro de pedra e, ajoelhando-se, orava: Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua.  Apareceu-lhe então um anjo do céu para confortá-lo. Ele entrou em agonia e orava ainda com mais instância, e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra.

C - Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória

P - Concedei-nos, ó Deus onipotente, pela Paixão de vosso Filho unigênito, que respiremos aliviados, nós que desfalecemos por causa da nossa fraqueza. Por Cristo, nosso Senhor.

T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

2º Passo: Jesus preso e condenado pelo Sinédrio

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DO EVANGELHO DE SÃO LUCAS: À frente da multidão vinha um dos Doze, que se chamava Judas. Achegou-se de Jesus para beijá-lo.  Jesus perguntou-lhe: Judas, com um beijo traís o Filho do Homem? ... Prenderam-no então e conduziram-no à casa do príncipe dos sacerdotes. Os homens que guardavam Jesus escarneciam dele e davam-lhe bofetadas. Cobriam-lhe o rosto e diziam: Adivinha quem te bateu!   E injuriavam-no ainda de outros modos.

C - Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

P - Senhor, Deus e Pai nosso, que pela Paixão de vosso Filho unigênito nos destes a vida, fazei que, unidos à sua Morte pela penitência, possamos também participar, com todos os homens, de sua ressurreição. Por Cristo, nosso Senhor.
T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

3º Passo: Jesus flagelado

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DOS EVANGELHOS DE SÃO LUCAS E SÃO JOÃO: Pilatos ainda interveio: Mas que mal fez ele, então? Não achei nele nada que mereça a morte; irei, portanto, castigá-lo e, depois, o soltarei... Pilatos, então, mandou flagelar Jesus.

C - Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

P - Concedei, ó Deus onipotente e misericordioso, que, movidos e confortados por vosso Espírito, portemos sempre em nosso corpo a mortificação de Jesus, a fim de que se manifeste em nós também a sua Vida. Por Cristo, nosso Senhor.
T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

4º Passo: Jesus coroado de espinhos

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DO EVANGELHO DE SÃO MATEUS: Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e rodearam-no com todo o pelotão.  Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate. Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: Salve rei dos judeus! Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na cabeça.

C - Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

P - Olhai com amor, ó Pai, para a vossa família, pela qual nosso Senhor Jesus Cristo não hesitou em entregar-se aos inimigos e sofrer o suplício da cruz. Vós que viveis e reinais para sempre.
T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

5º Passo: Jesus condenado por Pilatos.

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO: Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação.   Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Eis o homem! Mas eles clamavam: Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o! Pilatos entregou-o então a eles para que fosse crucificado.

C - Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

P - Ó Deus eterno e todo-poderoso, destes aos homens, por modelo, o Cristo, vosso Filho e nosso Salvador, feito homem e humilhado até a morte na cruz: concedei-nos lembrar-nos sempre do ensinamento de sua paixão, para participarmos da glória de sua ressurreição.  Por Cristo, nosso Senhor.
T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

6º Passo: Jesus carrega a cruz para o Calvário.

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DO EVANGELHO DE SÃO LUCAS: Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam.  Voltando-se para elas, Jesus disse: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos.

C - Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

P - Ó Deus, pela Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo destruístes a morte que o pecado transmitiu a todos. Concedei que nos tornemos semelhantes ao vosso Filho e, assim como trouxemos pela natureza a imagem do homem terreno, possamos trazer pela graça a imagem do homem novo. Por Cristo, nosso Senhor.
T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

7º Passo: Jesus morre na Cruz.

C - Bendita e louvada seja a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
T - Que quis padecer e morrer na cruz por nosso amor.

L - DO EVANGELHO DE SÃO LUCAS: Chegados ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. E Jesus dizia: Pai perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. ... Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona.  Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio.  Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou.

C- Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos.
R - Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

P - Ó Deus, vós quisestes que vosso Filho sofresse por nós o suplício da cruz a fim de nos libertar do poder do inimigo; concedei que nós, vossos servos, alcancemos a graça da ressurreição. Por Cristo, nosso Senhor.
T – Amém.

C - Santa Mãe, isto eu vos peço: que fiquem no meu peito bem impressas
R - As chagas de Jesus crucificado e as dores do vosso maternal Coração.

Ritos finais:

P. Sobre vosso povo, Senhor, que celebrou a Paixão de vosso Filho esperando em sua Ressurreição, fazei que desçam copiosas bênçãos, venha o perdão, seja dado o consolo, aumente a fé e firme-se a eterna redenção. Ó Por Cristo, nosso Senhor.

T - Deus nosso Pai, que haveis determinado que se salvem vossos escolhidos por meio dos sofrimentos e da Cruz!  Ajudai-nos a suportar os nossos sofrimentos com o Espírito de paciência e resignação que nos deixou vosso unigênito Filho Jesus Cristo, e fazei que em todas as nossas aflições, sejam da alma, sejam do corpo, repitamos com fé e submissão as palavras que Ele Vos dirigiu em sua dolorosa agonia.  “Pai, não se faça minha vontade, mas sim a vossa!" Amém.

Benção final

P. Deus, Pai de misericórdia, que vos propõe, na Paixão de seu Filho unigênito, o modelo da caridade, vos dê também de receber, servindo a Deus e aos homens, o dom inefável de sua bênção.
T. Amém.

P. Ele vos alcance a graça da vida eterna por meio de Cristo, cuja Morte temporal, conforme a vossa fé, vos livrou da morte eterna.
T – Amém.

P. Ele vos dê participar da Ressurreição de Cristo que vos ensinou o caminho da mortificação e da penitência.
T – Amém.

P. E a benção de Deus todo-poderoso, Pai e Filho, e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça para sempre.
T – Amém.

P. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe
T. Graças a Deus.

Sexta-feira da 1ª semana da Quaresma

Evangelho (Mt 5,20-26): Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar 'imbecil' será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar 'louco' será réu da Geena do fogo. Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta. Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último centavo.»

Comentário: Fr. Thomas LANE (Emmitsburg, Maryland, Estados Unidos)

Deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão.

Hoje, o Senhor, ao falar-nos do que se passa nos nossos corações, incita-nos à conversão. O mandamento diz-nos «Não matarás» (Mt 5,21), mas Jesus recorda-nos que existem outras formas de matar a vida nos outros. Podemos fazê-lo abrigando no nosso coração uma ira excessiva contra eles, ou tratando-os sem respeito e de forma insultuosa («imbecil»; «louco»: cf. Mt 5,22).

O Senhor chama-nos a ser pessoas íntegras: «Deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão» (Mt 5,24), querendo dizer-nos que a fé que professamos quando celebramos a Liturgia deve influenciar a nossa vida quotidiana e determinar a nossa conduta. Portanto, Jesus pede-nos que nos reconciliemos com os nossos inimigos. Um primeiro passo no caminho da reconciliação é orar pelos nossos inimigos, como Jesus solicitou. E se tal nos parecer difícil, então será bom recordar imaginando, na nossa mente, Jesus Cristo morrendo por aqueles de quem não gostamos. Se fomos seriamente prejudicados por outros, oremos para que cicatrizem as recordações dolorosas e para que obtenhamos a graça de os perdoarmos. E, de cada vez que orarmos, peçamos ao Senhor que revisite conosco o tempo e o lugar da ferida - substituindo-a com o Seu amor— para que assim sejamos livres para poder perdoar.

Nas palavras de Bento XVI, «se queremos apresenta-nos perante Ele, também devemos pôr-nos a caminho no sentido de nos encontrarmos uns com os outros. Para isso, é necessário aprender a grande lição do perdão: não deixar que o ressentimento se instale no nosso coração, mas sim abri-lo à magnanimidade da escuta do outro, abri-lo à compreensão, à eventual aceitação dos seus pedidos de desculpa e à generosa oferta dos nossos próprios».

Comentário: Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Sant Quirze del Vallès, Barcelona, Espanha)

Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.

Hoje, Jesus chama-nos a irmos para lá da legalidade: «Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu» (Mt 5,20). A Lei de Moisés aponta o mínimo necessário para garantir a convivência; mas o cristão, instruído por Jesus Cristo e cheio do Espírito Santo, deve procurar superar este mínimo para chegar ao máximo do amor possível. Os doutores da Lei e os fariseus eram cumpridores estritos dos mandamentos; ao rever a nossa vida, qual de nós poderia dizer o mesmo? Andemos com cuidado, por tanto, para não menosprezar sua vivência religiosa.

O que hoje Jesus nos ensina é a não darmos como certo o fato de que se cumprirmos esforçadamente determinados requisitos possamos reclamar méritos a Deus, como faziam os doutores da Lei e os fariseus. De preferência, devemos por a ênfase no amor a Deus e aos nossos irmãos, amor esse que nos leva para lá da Lei fria e a reconhecer as nossas faltas numa conversão sincera.

Há quem diga: “Eu sou bom porque não roubo, nem mato, nem faço mal a ninguém”; mas Jesus diz-nos que isto não é suficiente, pois existem outras formas de roubar ou matar. Podemos matar as ilusões do outro, podemos menosprezar o próximo, anulá-lo ou deixá-lo marginalizado, podemos ter-lhe rancor; e tudo isto é matar, não com uma morte física, mas com uma morte moral e espiritual.

No decorrer da nossa vida podemos encontrar muitos adversários, mas o pior de todos eles somos nós próprios quando nos afastamos do caminho do Evangelho. Por isso mesmo, na procura da reconciliação com os irmãos, devemos, em primeiro lugar, estar reconciliados conosco. Santo Agostinho diz-nos: «Enquanto fores adversário de ti próprio, a Palavra de Deus será tua adversária. Torna-te amigo de ti mesmo e te reconciliarás com ela».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* O texto do evangelho de hoje faz parte de uma unidade maior de Mt 5,20 até Mt 5,48. Nela Mateus mostra como Jesus interpreta e explica a Lei de Deus. Por cinco vezes ele repete a frase: "Antigamente foi dito, mas eu vos digo!" (Mt 5,21. 27.33.38.43). Um pouco antes, ele tinha dito: “Não pensem que vim acabar com a Lei e os Profetas. Não vim acabar, mas sim dar-lhes pleno cumprimento (Mt 5,17). A atitude de Jesus frente à lei é, ao mesmo tempo, de ruptura e de continuidade. Ele rompe com as interpretações erradas, mas mantém firme o objetivo que a lei quer alcançar: a prática da justiça maior que é o Amor.

* Mateus 5,20: A justiça maior que a justiça dos fariseus. Este primeiro versículo dá a chave geral de tudo que segue no conjunto de Mt 5,20-48. A palavra Justiça aparece nenhuma vez em Marcos, e sete vezes no Evangelho de Mateus (Mt 3,15; 5,6.10.20; 6,1.33; 21,32). Isto tem a ver com a situação das comunidades para as quais Mateus escreve. O ideal religioso dos judeus da época era "ser justo diante de Deus". Os fariseus ensinavam: "A pessoa alcança a justiça diante de Deus quando chega a observar todas as normas da lei em todos os seus detalhes!" Este ensinamento gerava uma opressão legalista e trazia muita angústia para as pessoas, pois era muito difícil alguém observar todas as normas (cf. Rom 7,21-24). Por isso, Mateus recolhe palavras de Jesus sobre a justiça mostrando que ela deve ultrapassar a justiça dos fariseus (Mt 5,20). Para Jesus, a justiça não vem do que eu faço por Deus observando a lei, mas sim do que Deus faz por mim, acolhendo-me como filho ou filha. O novo ideal que Jesus propõe é este: "Ser perfeito com o Pai do céu é perfeito!" (Mt 5,48). Isto quer dizer: eu serei justo diante de Deus, quando procuro acolher e perdoar as pessoas da mesma maneira como Deus me acolhe e me perdoa, apesar dos meus defeitos e pecados.

* Por meio de cinco exemplos bem concretos, Jesus vai mostrar como fazer para alcançar esta justiça maior que supera a justiça dos escribas e dos fariseus. Como veremos, o evangelho de hoje traz o primeiro exemplo relacionado com a nova interpretação do quinto mandamento: Não matarás! Jesus vai revelar o que Deus queria quando entregou este mandamento a Moisés.

* Mateus 5,21-22: A lei diz "Não matarás!" (Ex 20,13) - Para observar plenamente este quinto mandamento não basta evitar o assassinato. É preciso arrancar de dentro de si tudo aquilo que de uma ou de outra maneira possa levar ao assassinato, como por exemplo, raiva, ódio, xingamento, desejo de vingança, exploração, etc.

* Mateus 5,23-24: O culto perfeito que Deus quer. Para poder ser aceito por Deus e estar unido a ele, é preciso estar reconciliado com o irmão, com a irmã. Antes da destruição do Templo, no ano 70, quando os judeus cristãos participavam das romarias a Jerusalém para fazer suas ofertas no altar e pagar suas promessas, eles sempre se lembravam desta frase de Jesus. Nos anos 80, no momento em que Mateus escreve, o Templo e o Altar já não existem. Tinham sido destruídos pelos romanos. A própria comunidade e a celebração comunitária passam ser o Templo e o Altar de Deus.

* Mateus 5,25-26: Reconciliar. Um dos pontos em que o Evangelho de Mateus mais insiste é a reconciliação. Isto mostra que, nas comunidades daquela época, havia muitas tensões entre grupos radicais com tendências diferentes e até opostas. Ninguém queria ceder diante do outro. Não havia diálogo. Mateus ilumina esta situação com palavras de Jesus sobre a reconciliação que pedem acolhimento e compreensão. Pois o único pecado que Deus não consegue perdoar é a nossa falta de perdão aos outros (Mt 6,14). Por isso, procure a reconciliação, antes que seja tarde demais!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Ser tentado é bom.

Frei Patrício Sciadini, ocd

Estamos iniciando hoje o caminho quaresmal, quarenta dias estão na nossa frente de caminho duro onde somos chamados ao deserto onde o demônio nos vai tentar como um dia tentou Jesus e nele todos nós. Não se pode chegar à Páscoa, à Terra Prometida, à Ressurreição sem passar através dos desertos que nos ferem e nos obrigam a ter a verdadeira visão dos nossos valores e dos nossos defeitos. Marcos situa as tentações de Jesus depois do batismo recebido de João Batista no rio Jordão e depois que o Pai proclamou para todos que este Jesus não é um profeta qualquer, mas sim o seu "Filho bem amado em quem colocou toda sua complacência".

Hoje somos levados pelo Espírito Santo ao deserto para sermos tentados. É necessário nos perguntar: quais são os desertos de hoje? E quais são as tentações que hoje o mal, vestido de bem, de anjo de luz, coloca na nossa frente?

1. O deserto do relativismo da fé: o mundo contemporâneo tem medo de se comprometer com valores que vão exigindo dele rupturas com seus contrários. Por isso procuram uma religião descartável, mutável, que possa de um lado satisfazer suas necessidades religiosas básicas, e de outro que não exija nenhuma renúncia do que gosta.

2. O deserto afetivo: temos perdido o sentido da alegria que nasce do sofrimento e da renúncia. É por isso que o ser humano vive na busca de uma felicidade "artificial, química", Vemos uma busca desenfreada do prazer de todos os tipos e de todas as marcas: físico, intelectual, sexual, emocional. O que importa é eu ser feliz neste rápido momento da vida.

3. O deserto do poder: a corrida pela aparência, o ser humano vale na medida em que ele exerce um poder sobre os outros e sobre as coisas. E o único caminho ao poder é o dinheiro, que faz do ser humano um "deus",

4. O deserto das limitações: Mais cedo ou tarde somos obrigados a nos deparar com as nossas limitações em todos os campos: físicas, espirituais, corporais e intelectuais. É o deserto duro onde não se avalia o ser humano por aquilo que ele é: imagem e semelhança de Deus.

Em nossas vidas podemos contemplar com clareza estes quatro desertos. Devemos passá-los, enfrentá-los e combatê-los não com as nossas forças, mas sim pela graça de Deus. O deserto nos prepara para a missão.

Senhor, dá-me a coragem de reconhecer o deserto em que estou, saber superar e lutar contra o mal, para que possa ser consagrado no teu amor.