Seleção
de fragmentos das homilias natalinas do Papa Bento XVI desde que ocupou a
cátedra de São Pedro em 2005 até hoje.
PREPARAÇÃO
–
«O Menino, que os pastores adoraram numa gruta na noite de Belém há cerca de
dois mil anos, não se cansa de visitar-nos na vida quotidiana, enquanto
caminhamos como peregrinos para o Reino. Invocar o dom do nascimento do
Salvador prometido significa, contudo, comprometer-se com plainar-lhe o
caminho, com preparar-lhe uma habitação digna não só no ambiente à nossa volta,
mas sobretudo no nosso coração» (19.12.2007).
–
«Chegou o momento que o Anjo tinha anunciado em Nazaré: «Darás à luz um filho,
ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do
Altíssimo» (cf. Lc 1, 31-32). Chegou o momento que Israel aguardava há muitos
séculos, durante tantas horas sombrias – o momento de algum modo esperado por
toda a humanidade, ainda que sob figuras confusas: que Deus viesse cuidar de
nós, que saísse do seu esconderijo, que o mundo fosse salvo e tudo se
renovasse. Podemos imaginar com quanto cuidado interior, com quanto amor Se
preparou Maria para aquela hora. A breve anotação «envolveu-O em panos»
deixa-nos intuir algo da santa alegria e do zelo silencioso de tal preparação.
Estavam prontos os panos, para que o Menino pudesse ser bem acolhido. Na
hospedaria, porém, não havia lugar. De algum modo a humanidade espera Deus, a
sua proximidade. Mas quando chega o momento, não tem lugar para Ele.
Temos
nós tempo para o próximo que necessita da nossa, da minha palavra, do meu
afeto? Para o doente que precisa de ajuda? Para o prófugo ou o refugiado que
procura asilo? Temos nós tempo e espaço para Deus? Pode Ele entrar na nossa
vida? Encontra um espaço em nós, ou temos todos os espaços do nosso pensamento,
da nossa ação, da nossa vida, ocupados para nós mesmos? (Missa da meia noite,
24.12.2007).
FÉ
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O mundo torna-se cada vez mais caótico e também violento: vemo-lo todos os
dias. E a luz de Deus, a luz da Verdade, apaga-se. A vida fica escura e
desorientada. Como é então importante que sejamos realmente crentes e como
crentes reafirmemos com vigor, com a nossa vida, o mistério de salvação que a
celebração do Natal de Cristo traz consigo! (19.12.2007).
–
«Ó homem moderno, adulto e ainda às vezes débil de pensamento e de vontade,
deixa o Menino de Belém conduzir-te pela mão; não temas, confia nele! » (Mensagem
Urbi et Orbi, de Roma ao mundo; 25.12.2005).
TESTEMUNHO
–
«Se não reconhecermos que Deus se fez homem, que sentido tem festejar o Natal?
A celebração torna-se vazia. Antes de tudo, nós cristãos devemos reafirmar com
profunda e sentida convicção a verdade do Natal de Cristo, para testemunhar
diante de todos a consciência de um dom inaudito que é riqueza não só para nós,
mas para todos. Disto brota o dever da evangelização» (19.12.2007).
ESPERANÇA
–
«O homem da era tecnológica corre o risco de ser vítima dos próprios êxitos da
sua inteligência e dos resultados das suas capacidades inventivas, caminha para
uma atrofia espiritual, um vazio do coração. Por isso, é importante abrir a sua
mente e o seu coração ao Natal de Cristo, acontecimento de salvação capaz de
imprimir uma renovada esperança à existência de todo o ser humano.
No
Natal, o nosso espírito abre-se à esperança, ao contemplar a glória divina
escondida na pobreza de um Menino envolto em panos e reclinado numa manjedoura:
é o Criador do universo, reduzido à impotência de um recém-nascido! Aceitar
esse paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a Verdade que liberta, o Amor
que transforma a existência. Na Noite de Belém, o Redentor faz-Se um de nós,
para ser nosso companheiro nas estradas insidiosas da história. Acolhamos a mão
que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas apenas dar».
(Mensagem Urbi et Orb:, de Roma ao mundo; 25.12.2005).
AMOR
–
«Deus é tão grande que Se pode fazer pequeno. Deus é tão poderoso que Se pode
fazer inerme e vir ter conosco como menino indefeso, para que O possamos amar.
Deus é tão bom que renuncia ao seu esplendor divino e desce ao estábulo para
que O possamos encontrar e, assim, a sua bondade chegue também a nós, se nos
comunique e continue a agir por nosso intermédio. Isto é o Natal. » (Missa da
meia noite, 24.12.2005).
–
«Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei». Deus tornou-Se um de nós, para que nós
pudéssemos viver com Ele, tornarmo-nos semelhantes a Ele. Como próprio sinal,
escolheu o Menino no presépio: Deus é assim» (Missa da meia noite, 24.12.2005).
–
«Naquele Menino deitado na manjedoura, Deus mostra a sua glória – a glória do
amor, em que Ele mesmo Se entrega em dom e Se despoja de toda a grandeza para
nos conduzir pelo caminho do amor. A luz de Belém nunca mais se apagou. Ao
longo de todos os séculos, envolveu homens e mulheres, «cercou-os de luz».
“Onde despontou a fé naquele Menino, aí desabrochou também a caridade – a
bondade para com todos, a carinhosa atenção pelos débeis e os doentes, a graça
do perdão” (Missa da meia noite, 24.12.2005).
APOSTOLADO
–
«Nada é mais belo, urgente e importante que doar gratuitamente aos homens o que
gratuitamente recebemos de Deus». Nada pode nos eximir ou nos tirar deste
oneroso e fascinante dever. A alegria do Natal que já experimentamos, enquanto
nos enche de esperança, alenta-nos, ao mesmo tempo, a anunciar a todos a
presença de Deus no meio de nós» (23.12.2007).
–
«Só redescobrindo o dom recebido a Igreja pode testemunhar a todos o Cristo
Salvador; fá-lo-á com entusiasmo e ardor, no pleno respeito de toda tradição cultural
e religiosa; fá-lo-á com alegria sabendo que Aquele que anuncia nada priva
daquilo que é autenticamente humano, mas leva-o à sua plenitude. Na verdade,
Cristo vem somente para destruir o mal: o pecado. O resto, todo o resto Ele
eleva e aperfeiçoa. » (Missa da meia noite, 24.12.2006).
–
«O verdadeiro mistério do Natal é o resplendor interior que vem deste Menino».
Deixemos que se comunique a nós esse esplendor interior, que acenda no nosso
coração a chama da bondade de Deus; todos nós levemos, com o nosso amor, a luz
ao mundo! Não deixemos que esta chama luminosa se apague por causa das
correntes frias do nosso tempo! Guardemo-la fielmente e demo-la aos outros! » (Missa
da meia noite, 25.12.2005).
CONVERSÃO
–
«Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama», ou seja,
homens que põem a sua vontade na dele, tornando-se assim homens de Deus, homens
novos, mundo novo». (25.12.2007).
–
«Este é o grande mistério do amor que nunca termina de nos surpreender. Deus
fez-se homem para que nos convertêssemos em filhos de Deus». (23.12.2007).
–
«Ele ama a todos, porque todos são criaturas suas. Mas, algumas pessoas têm a
sua alma fechada; o seu amor não encontra qualquer acesso a eles. Pensam que
não têm necessidade de Deus; não O querem. Outros, que moralmente talvez sejam
igualmente miseráveis e pecadores, pelo menos sofrem com isso. Estes esperam
Deus. Sabem que têm necessidade da sua bondade, embora não tenham uma ideia
precisa dela. No seu íntimo, aberto à expectativa, a luz de Deus pode entrar, e
com ela a sua paz» (25.12.2005).
HUMILDADE
–
«No estábulo de Belém, tocam-se o céu e a terra. O céu veio à terra. (...). «O
céu não pertence à geografia do espaço, mas à geografia do coração. E o coração
de Deus, na Noite santa, inclinou-Se até ao curral: a humildade de Deus é o
céu. E se formos ao encontro desta humildade, então tocamos o céu. Então a
própria terra se torna nova. Com a humildade dos pastores, ponhamo-nos a
caminho, nesta Noite santa, até junto do Menino no curral! Toquemos a humildade
de Deus, o coração de Deus! “Então a sua alegria tocar-nos-á a nós e tornará o
mundo mais luminoso». (25.12.2007).
–
«O Natal é o dia santo em que brilha a “grande luz” de Cristo portadora de paz!
Certamente, para reconhecê-la, para acolhê-la, é preciso fé, é preciso
humildade. A humildade de Maria, que acreditou na palavra do Senhor e foi a
primeira que, inclinada sobre a manjedoura, adorou o Fruto do seu ventre; a
humildade de José, homem justo, que teve a coragem da fé e preferiu obedecer a
Deus mais que preservar a própria reputação; a humildade dos pastores, dos
pobres e anônimos pastores, que acolheram o anúncio do mensageiro celeste e à
pressa foram à gruta onde encontraram o Menino recém-nascido e, cheios de
maravilha, O adoraram louvando a Deus (cf. Lc 2,15-20) ». (Mensagem Urbi et
Orbi: de Roma ao mundo; 25.12.2007).
TEMPO
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«Quem está preparado para abrir-Lhe a porta do coração? Homens e mulheres deste
nosso tempo, Cristo vem trazer a luz também a nós, vem dar-nos a paz também a
nós! Mas quem vigia, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração desperto
e em oração? Quem espera a aurora do novo dia, mantendo acesa a chamazinha da
fé? Quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se envolver pelo
fascínio do seu amor? » (25.12.2007).
FELICIDADE
–
« “À sede de sentido e de valores que hoje se percebe no mundo; à busca de
bem-estar e de paz que marca a vida de toda a humanidade; às expectativas dos
pobres, responde Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, com a sua
Natividade. Que as pessoas e as nações não temam reconhecê-Lo e acolhê-Lo” ». (Mensagem
Urbi et Orbi: de Roma ao mundo; 25.12.2007).
«Tem
ainda valor e sentido um “Salvador” para o homem do terceiro milênio? Como não
perceber que, precisamente do fundo desta humanidade prazenteira e desesperada,
surge um dilacerador pedido de ajuda? (...) É precisamente em sua intimidade,
no que a Bíblia chama o “coração”, em que sempre precisa ser salvado. E, na
época atual pós-moderna, necessita possivelmente ainda mais de um Salvador,
porque a sociedade em que vive se tornou mais complexa e se tornaram mais
insidiosas as ameaças para sua integridade pessoal e moral. Quem pode
defendê-lo a não ser Aquele que o ama até sacrificar na cruz a seu Filho
unigênito como Salvador do mundo? » (25.12.2006).
«Desperta,
ó homem! Por ti, Deus Se fez homem» (Santo Agostinho, Sermões, 185). Desperta,
ó homem do terceiro milênio! No Natal, o Onipotente faz-Se menino e pede ajuda
e proteção; o seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens; o
seu bater às nossas portas interpela-nos, interpela a nossa liberdade e
pede-nos para rever a nossa relação com a vida e o nosso modo de a conceber. »
(Mensagem Urbi et Orbi: a Roma e ao mundo; 25.12.2005).
Fonte:
Site do Opus Dei
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