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sábado, 18 de outubro de 2014

Domingo XXIX do Tempo Comum

Textos: Isaias 45, 1, 4-6; 1 Tess 1, 1-5; Mateus 22, 15-21

Evangelho (Mt 22,15-21): Os fariseus saíram e fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. Mandaram os seus discípulos, junto com alguns partidários de Herodes, para perguntar: «Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Não te deixas influenciar por ninguém, pois não olhas a aparência das pessoas. Dize-nos o que pensas: é permitido, ou não, pagar imposto a César? ». Jesus percebeu-lhes a maldade e disse: «Hipócritas! Por que me armais uma cilada? Mostrai-me a moeda do imposto! ». Apresentaram-lhe a moeda. «De quem é esta figura e a inscrição? », perguntou ele. «De César», responderam. Ele então lhes disse: «Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus»

Comentário: P. Antoni POU OSB Monje de Montserrat (Montserrat, Barcelona, Espanha)

Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus

Hoje, apresenta-se nos para nossa consideração uma “famosa” afirmação de Jesus Cristo: «A César o que é de César e a Deus, o que é de Deus» (Mt 22,21).

Não entenderíamos bem esta frase sem levar em conta o contexto no qual Jesus a pronuncia: «Os fariseus saíram e fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra» (Mt 22,15), e Jesus advertiu a sua maldade (cf. v. 18). Assim, pois a resposta de Jesus está calculada. Ao ouvi-la, os fariseus ficaram surpreendidos, não a esperavam. Se claramente, tivesse ido contra César, lhe teriam podido denunciar; se tivesse ido claramente a favor de pagar o tributo ao César, teriam marchado satisfeitos de sua astúcia. Mas Jesus Cristo, sem falar contra César, o tem relativizado: tem que dar a Deus o que é de Deus, e Deus é Senhor inclusive dos poderes deste mundo.

O César, como todo governante, não pode exercer um poder arbitrário, porque seu poder lhe é dado como “prenda” ou garantia; como os servos da parábola dos talentos, que têm que responder ante o Senhor pelo uso dos talentos. No Evangelho de São João, Jesus diz a Pilatos: «Tu não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto» (Jo 19,11). Jesus não quer apresentar-se como um agitador político. Simplesmente, põe as coisas em seu lugar.

A interpretação que se tem feito às vezes de Mt 22,21 é que a Igreja não deveria “imiscuir-se em política”, senão somente ocupar-se do culto. Mas esta interpretação é totalmente falsa, porque ocupar-se de Deus não é só ocupar-se do culto, senão preocupar-se pela justiça, e pelos homens, que são os filhos de Deus. Pretender que a Igreja permaneça nas sacristias, que faça-se de surda, cega e muda ante os problemas morais e humanos de nosso tempo, é tirar de Deus o que é de Deus. «A tolerância que só admite Deus como opinião privada, mas que lhe nega o domínio público (...) não é tolerância, senão hipocrisia» (Bento XVI).

Ao César, o tributo; e a Deus, o culto, e não ao contrário.

Pe. Antonio Rivero L. C.

19 de outubro - S. Pedro de Alcântara
Padroeiro do Brasil
Resumo da mensagem: O Evangelho não afasta os cristãos da política, mas quer que o cristão participe com especial responsabilidade e testemunho da construção do bem comum. O difícil é como fundamentar no evangelho este compromisso, isto é, como uni-lo ao compromisso religioso para que não se perpetue aquela nefasta separação entre fé e práxis, entre o tributo que devemos dar a Deus e o tributo que devemos dar ao César. A Palavra de Deus nos ajuda hoje neste problema.

Em primeiro lugar, a Palavra de Jesus afirma que o Reino de Deus e o de César não se excluem, como pensavam os judeus. Agora bem, Jesus deixa bem claro que o poder político e militar são radicalmente relativizados, enquanto que o Reino de Deus é absoluto. A pergunta que lhe fizeram os fariseus e os de Herodes não era uma pergunta, mas uma armadilha para lobo: se Jesus disser que não paguem ao César, entra em jogo a sua cabeça; mas se disser que paguem, então entra em jogo o prestígio e, com ele, a sua campanha eleitoral pelo reinado dos céus. A pergunta era uma hipocrisia, uma tentação. Tentação de idolatria. A moeda do tributo era o denário, que levava a inscrição: “Tiberius divus et pontifex máximus” (Tibério, deus e sumo pontífice). E o segundo mandamento do decálogo dizia: “Não esculpirás imagem alguma, nada se pareça ao que existe lá em cima no céu...” (Ex 20, 4; Dt 4, 15-20). Por isso Jesus responde: a César o que é de César, que é a obediência para com a autoridade nas coisas que mandem respeitando a Lei de Deus, e o que é de Deus a Deus, que é a adoração. Velas, uma e somente para Deus. Prevê-nos do fanatismo, absolutismo e sacralização da política.

Em segundo lugar, como deve se comportar então um cristão, um discípulo de Cristo diante do reino de César, isto é, diante do Estado e da ordem constituída? Obediência ou liberdade? Este é o dilema de sempre. O Novo Testamento resolve este dilema: o discípulo de Cristo fica livre não só para resistir ao Estado, mas também para obedecê-lo. O Estado não é um absoluto, um poder divino, como era antes da vinda de Cristo. Cristo modificou o conceito de poder e o substitui com o serviço. Os nossos césares ou governantes de hoje entendem isso? O discípulo de Cristo pode aceitar o poder estatal em liberdade, sem o medo de cair no Estado-latria, ou seja no culto ao estado ou ao imperador. Só dará o seu tributo ao César quando tem consciência de que será um compromisso justo para a transformação da sociedade, quando tem consciência de que a sua colaboração com as leis, os votos e os impostos será construtiva, e quando essas leis emanadas do poder civil concordem e respeitem a Lei divina.

Finalmente, quando é que um discípulo de Cristo deve dizer “não” ao poder estatal e fazer resistência? Quando a liberdade deve prevalecer sobre a obediência? Também o Novo Testamento responde: quando está em jogo a própria fé, isto é, quando o Estado se desvia dos planos de Deus e se erige de novo como absoluto, como era antes de Cristo, e não permite mais “dar a Deus o que é de Deus”. Não devemos dar o nosso voto para políticos vivedores, insolventes, corruptos, golfos com dinheiro dos nossos impostos, governantes prepotentes, totalitários, antidemocráticos, que criam um Estado absoluto. Não demos o nosso voto para governantes que emitem ou propõem leis contra do bem comum, que atacam o matrimonio, a família, a vida, a liberdade de ensino, a propriedade privada, o homem e Deus. Esta situação se repete hoje, em alguns regimes políticos, onde a Igreja é forçada a guardar silêncio e o cristão não pode - não deve- com toda a sua lealdade dizer um “sim” incondicional a tal Estado. O cristão se encontra num verdadeiro estado de perseguição. E às vezes até em situação de martírio.

Para refletir:
1. Somos conscientes de que “dar a Deus o que é de Deus” significa devolver o seu absoluto poder legislativo, executivo, judicial, que está acima de todos os parlamentos, governos, partidos e Estados do mundo?
2. Devolvemos a Deus o título de propriedade exclusiva de todos os bens da criação e nos contentamos com o título que temos, o de administradores desses bens, exercendo a sua função social: pão, trabalho, dinheiro, bens... de Deus para todos? Pensemos nesta frase de santo Agostinho: “Deo, ait, reddendus est christianus amor, régibus humanus timor” (Livro I contra Epístola Parm, c. 7: a Deus é preciso dar o amor cristão, aos reis o temor humano).     

Para rezar:
Quero rezar com Calderón da Barca, poeta do século XVIII espanhol: “Ao rei, a fazenda e a vida se há de dar; mas a honra é patrimônio da alma e a alma só é de Deus”. Senhor, ajudai-me a dar-Vos minha adoração, e ao estado, meu respeito e minha submissão em tudo aquilo que respeite vossa santa Lei. Mas quando o estado me peça coisas contra da vossa santa Lei, dai-me a força de dizer “Não”, embora isso signifique a proscrição, a defenestração e o martírio. 


Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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