«Aprendei de Mim, que
sou manso e humilde de coração …»
Tornar
realidade a utopia de Deus. Tornar verdade a construção do Reino da plenitude e
da verdade. Este é o caminho que Jesus nos apresenta na sua pessoa,
apresentando-nos a Deus-Pai na simplicidade do que somos, fazendo do nosso
caminhar a sua oração. Fazendo-nos aprender com Ele, que é “manso e humilde de
coração”. Para encontrarmos o descanso na leveza do seu jugo. De muitos modos
nos falou Deus. Por último falou-nos por Seu Filho. Para aliviar os que andamos
cansados e oprimidos. Livres para construir o Reino onde a vida é plena e a
utopia do amor eterno realidade. Mas não esqueçamos que foi aos simples e
pequeninos que revelou tudo isto… porque os demasiado sábios e inteligentes
andam demasiado ocupados sem esta liberdade interior capaz da plenitude…
Pe. Luciano Miguel, SDB
Evangelho
(Mt 11,25-30) - Naquele tempo, Jesus
exclamou: “Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste
estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Tudo me
foi dado por meu Pai. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e
aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais
cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei
de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as
vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve”.
Naquele
tempo, Jesus exclamou: “Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque
escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos
pequeninos.
Estas
palavras de Jesus vêm a seguir às suas lamentações pela rejeição e falta de fé
que encontrara nas cidades de Corozaim, Betsaida e Cafarnaúm onde estivera
anunciando a Boa Nova. E diante dessa indiferença louva e dá graças ao Pai
porque há pessoas simples, de coração puro, que estão abertas à Sua mensagem em
contraposição com as gentes das elites civis e religiosas. Ao mesmo tempo
insiste na sua relação íntima com o Pai.
Frequentes
vezes Jesus – e depois também os Apóstolos – foca esta reação diferente entre
as pessoas ditas “sábias e inteligentes” (aqui, mais diretamente escribas e
fariseus), e a das “simples e humildes como crianças”, ao anúncio da Boa Nova.
A bondade, a verdade, a humanidade e a paz parecem não encontrar lugar nas
pessoas que assentam a sua vida no poder, na sabedoria humana e na autossuficiência.
Sucedia já com Jesus. E hoje? Quando julgamos ter tudo, para que precisamos
ainda de Deus? Não interessa, não é útil. Será que nós – eu – temos a mesma
atitude, inconscientemente? Que peso e aceitação tem a mensagem evangélica em
mim? No meu coração haverá simplicidade, espaço, necessidade de sentir a mão de
Deus que agarra a minha e me conduz pelas sendas da verdade e do amor?
“Tudo me
foi dado por meu Pai. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
”
Jesus
continua a dar graças ao Pai porque Ele realizou a Sua missão de acordo com a
vontade do Pai. E porque todos aqueles que O não aceitaram a Ele também
rejeitaram o Pai, pois Ele e o Pai são um. E sobretudo porque os simples foram
escolhidos pelo Pai como destinatários privilegiados.
São
João passa quase todo o seu Evangelho a falar da relação e da união entre Jesus
e o Pai. As citações seriam infindas. Mais: Jesus faz sempre a vontade do Pai e
tudo acontece segundo o “agrado” do Pai, mesmo na aceitação ou rejeição que os
homens fazem do Enviado Jesus. E por isso Ele bendiz o Pai. Como vemos nós esta
comunhão de Jesus com o Pai? Em que medida sentimos que, seguindo a Jesus,
realizamos a vontade do Pai? Jesus poderá dar graças ao Pai pela minha vida,
pelo que faço, porque O aceito e O testemunho?
“Ninguém
conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a
quem o Filho o quiser revelar. ”
De
novo a comunhão/união entre Jesus e o Pai. São Paulo fala-nos de que “só o
Espírito conhece Deus”, o Espírito que vem Jesus e do Pai, pois só o próprio
Deus se pode conhecer a si mesmo na sua unidade e Trindade. E nós só podemos
conhecer a Deus se Ele, por sua própria e livre iniciativa, se der a revelar.
“A Deus ninguém O viu” – diz-nos São João.
Tentar negar a existência de Deus porque não somos capazes de O conhecer só por
nós próprios, é querer igualar o finito ao infinito. Mas Deus, na sua infinita
bondade, deu-se a conhecer através de Jesus Cristo. É o próprio Jesus quem o
diz: “Quem Me vê, vê o Pai”. Como deve ser grande a nossa gratidão por Deus se
nos ter revelado, por podermos conhecê-Lo, por podermos estar em comunicação e
convivência com Ele, senti-Lo preocupado por nós, e saber que nos ama infinitamente
e caminha ao nosso lado.
“Vinde a
Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”.
Jesus
depois de exteriorizar a ação de graças ao Pai e a alegria de se sentir em
comunhão com Ele, como que se vira para os homens a quem vê “cansados e
oprimidos” e promete aliviá-los dos seus fardos. Deus nunca se fecha em si
mesmo pois Ele Amor e o Amor é sempre difusivo, irradiante, contagioso. A Sua
preocupação é a felicidade de toda a Sua Criação. Daí o apelo para ir ao Seu
encontro.
Que
convite mais maravilhoso! Quem o poderia fazer a não ser o próprio Deus? Ir ao
encontro de Deus, deixar que Ele nos encontre, é ter a certeza de que seremos
aliviados de tudo aquilo que nos cansa e nos oprime. Se é Ele quem o afirma,
por que duvidar? Quando Deus se compromete nunca falha. Cansados e oprimidos
não apenas fisicamente, mas também da Religião mal entendida, da rotina que nos
esgota, do que temos de suportar da parte dos outros, das frustrações que nos
desanimam, da falta de correspondência aos nossos esforços, à nossa doação.
Jesus oferece-nos poder dizer em muitas dessas situações: “Que alívio! ”. Quem
não aceitará?
“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas
almas”.
Entre
os Judeus o “jugo”, em geral, mais do que à relação “senhor-escravo”,
referia-se à submissão à Lei: carregar a Lei, carregar o “jugo de Deus”. Mas
também cada “Mestre” tinha o seu “jugo” que impunha aos discípulos. Jesus vê
que a Lei judaica, com os seus 613 preceitos, impostos pelos escribas e
fariseus, era um “jugo” demasiado pesado e deixava o povo abatido pois se
sentia quase condenado, dado que não conseguiam pô-los todos em prática. Jesus
propõe-lhes o “Seu jugo” mais leve.
Aquilo
que a Lei devia fazer – ser instrumento para aproximar mais facilmente as
pessoas de Deus – torna-se em algo insuportável. Jesus propõe-lhes outra Lei -
a do Evangelho – onde Deus aparece mais humano – “manso e humilde de coração” - e que eles poderão cumprir encontrando assim
“descanso para as suas almas”. E apresenta-se como modelo: “Aprendei de Mim…”,
pois Deus é assim, é como Eu faço e vivo. Em que medida aceitamos tomar sobre
nós o jugo de Jesus, tão explícito no Evangelho? Com “quem” aprendemos e “o que”
aprendemos? Até que ponto ousamos imitá-Lo na mansidão e na humildade de
coração? São desafios para qualquer cristão.
“Porque
o meu jugo é suave e a minha carga é leve”.
Para
substituir o “jugo insuportável da Lei” (At 12, 10), Jesus propõem-nos o “Seu
jugo” e a “Sua carga”. E a razão que apresenta é “porque é mais suave e mais
leve”. Jesus tinha consciência da diferença entre a Lei judaica em vigor e a
proposta da Boa Nova do Reino. E era isso que tentava transmitir, sobretudo
diante da recusa e aversão dos chefes religiosos judeus.
Ninguém
pode negar que “Jesus passou pelo mundo fazendo o bem” – como diz São Pedro.
Isso já caracteriza o “jugo” que, como “Mestre”, impõem aos seus discípulos.
Mas o final da vida de Jesus termina na Cruz. Como conjugar estas duas
realidades? Há uma certa semelhança entre o jugo e a cruz. E Jesus convida-nos:
“Quem quiser ser meu discípulo tome a sua cruz dia a dia e siga-me…”? Para
Jesus o “carregar a cruz” não é um “tormento”, mas sim um sinal de libertação e
de amor. Não se trata de uma proposta milagreira, que facilita tudo. O que ela
cria é, sim, uma aproximação vital a esse Deus que só quer a felicidade das
suas criaturas. Como consideramos nós a “adesão a Jesus”? Um peso? Ou o melhor
meio para encontrar sentido para a nossa vida? Consideramos mais leve seguir
Jesus ou seguir as promessas e ofertas do mundo?
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