Mártires Carmelitas da Província Bética |
Em Andaluzia, a perseguição foi breve, mas muito
sangrenta. Lá se encontravam os carmelitas, que moravam nos conventos de Motoro
e Duque de Hinojosa. Seu trabalho era essencialmente pastoral e não tinham nada
a ver com assuntos políticos. Não obstante, os republicanos os consideravam um
obstáculo para os planos futuros.
Apesar dos poucos dados biográficos que se têm
desses religiosos, a Congregação para as Causas dos Santos comprovou seu
martírio porque a saída mais fácil para evitar que morressem ou que fossem
presos era a de renunciar à vida religiosa; no entanto, eles permaneceram fiéis
à sua vocação, mostraram o amor e o perdão aos seus verdugos e até o final
demonstraram seu amor a Cristo.
Por isso, a causa para a sua canonização foi
inscrita em 1958 na diocese de Córdoba, onde os habitantes ainda falam e
lembram desse grupo de mártires. Alguns comentam favores recebidos por sua
intercessão. Também há algumas ruas com seus nomes.
"Eram
duas comunidades diferentes e foram martirizadas em momentos diversos",
OS QUATRO MÁRTIRES DA
MONTORO (CÓRDOBA)
Pe. José Mª Mateos Carbadillo, Pe. Eliseo Mª Durán
Cintas, Frei Jaime Mª Carretero Rojas, Frei Ramón Mª Pérez Sousa. |
· A comunidade carmelita de Montoro vivia alheia a
toda ação política. Seus religiosos se dedicavam ao ensino do carisma
carmelita. Os milicianos entraram neste convento com o fim de assassinar
"tudo que cheirasse a cera".
O
prior não escondeu a grave situação em que se encontravam. "Senhores,
estamos prestes a entrar para o Tribunal de Deus, preparem-se!". Então,
deu liberdade aos seus irmãos de optarem pela atitude que considerassem mais
prudente: ficar no convento ou ir embora. O Pe. José Mª Mateos Carbadillo (que
acabara de ser nomeado Prior, homem de grande zelo apostólico), o Pe. Eliseo Mª
Durán Cintas (padre jovem e simples, muito estimado pelos alunos), Frei Jaime
Mª Carretero Rojas (que se preparava para receber o Ordens Sacras), e Frei Eliseo
Durán, continuaram nos seus postos,
permanecendo durante toda a noite de 19 para 20, em oração diante do Santíssimo
Sacramento.
Na
manhã do dia 21, a multidão entrou no convento encontrando os quatro frades na
capela, ajoelhados, com os braços estendidos. Assim, prenderam os religiosos
que foram conduzidos para a prisão, localizada na antiga sacristia do convento
carmelita e onde se concentravam 60 presos, cujo único crime foi o de serem
cristãos. Os frades se dedicaram a confessar outros prisioneiros, a dar-lhes
esperança no Senhor e a dirigir momentos de oração.
No
dia 22 de julho, os milicianos comunistas assaltaram a prisão. “Vamos matá-los
todos”! - gritavam os milicianos. Ao abrir as portas da prisão os presos
formaram um grupo compacto, em busca de proteção mútua. Na fila da frente
estavam os nossos carmelitas novamente ajoelhados, com os braços estendidos. Eles
haviam se preparado para o martírio com disposição penitencial, comendo somente
pão, "pois, como sabiam que iam morrer, queriam estar mais bem preparados
para o martírio, observando cabalmente a abstinência do dia", disse uma
testemunha, que foi citada na Positio apresentada à Congregação para
a Causa dos Santos. Os primeiros a cair foram os frades, banhados em seu
próprio sangue.
Pe.
JOSÉ MARÍA MATEOS
Este sacerdote nasceu em 1902. Aos 17 anos, entrou
na comunidade e foi ordenado sacerdote em 1925. Serviu como prefeito de
teólogos, leitor de teologia, examinador sinodal e professor de teologia.
Suas boas pregações, sua sensibilidade pelas
necessidades dos pobres e seu zelo pelo trabalho, ainda nas pequenas coisas,
eram suas características mais destacadas.
Dois anos antes de sua morte, foi nomeado
vice-prior do convento e depois prior. Celebrou sua última Missa no dia em que
os milicianos entraram no convento. Os que estiveram presos com ele contam que
pediu aos verdugos que assassinassem eles ao invés dos pais de família que
estavam lá presentes.
"Comportou-se bem lá na prisão, incentivando
todos; ele nos dirigia na oração do santo terço. Eu o via sentado em sua
poltrona e alguns se aproximavam dele, talvez para ser ouvidos por ele em
confissão", disse Apolinar Peralbo, um dos seus colegas de cativeiro.
Outra das testemunhas afirma que, antes de ser
assassinado, colocaram nele uma coroa de espinhos, dizendo-lhe: "Como o
seu divino Mestre".
"Morreu no dia 22 de julho, por volta das 16h.
Tínhamos terminado de almoçar e rezar o terço quando aquela tropa chegou e
começou a matá-los, primeiro com machados, depois com tiros e depois a
facadas", disse uma testemunha da sua morte.
"Eu tinha subido com outros no andar de cima,
ouvi a voz, mas não entendi o que dizia. Depois, pelo rumor da rua, eu soube
que lhes dissera que matassem eles e não os demais, que eram pais de
família", recordou.
Pe.
ELISEO DURÁN
O Pe. Eliseo Durán, que nasceu em 1906, entrou na
comunidade em 1924 e foi ordenado em 1932.
Junto com o Pe. José María, ofereceu sua vida pelos
pais de família. Ele se encarregava da formação dos meninos, era alegre, jovial
e simples. "Tinha fama de religioso bom e muito querido por todos, por sua
humildade e simplicidade", disse uma das testemunhas na Positio.
FREI
JAIME MARÍA CARRETERO
O frei Jaime
María Carretero, nasceu em 1911. Entrou em 1929 e morreu no ano em que havia
feito sua profissão solene, 1936. Seus irmãos o viam como "modelo de
obediência" e alguns o chamavam de "pequeno santo".
FREI
RAMÓN PÉREZ SOUSA
Frei
Ramón Pérez Sousa havia entrado na comunidade somente 3 anos antes de sua
morte, aos 33 anos. Apesar de ter terminado seu noviciado pouco antes, tinha
uma forte convicção de sua vocação. Dele sobressaíam "sua obediência e sua
austeridade".
MASSACRE EM HINOJOSA DEL DUQUE (CÓRDOBA)
MASSACRE EM HINOJOSA DEL DUQUE (CÓRDOBA)
Pe Carmelo Mª Moyano Linares, Pe. José Mª González Delgado, Frei Eliseo Mª Carmargo Montes, Frei José Luis Mª Ruíz Cardeñosa, Frei Antonio Mª Martín Povea, Pedro Velasco Narbona (postulante ) |
Outros 50 religiosos carmelitas moravam no convento da pequena cidade de Hinojosa del Duque, situada na província de Córdoba, em Andaluzia. Esta se caracterizava por ser muito pacífica.No entanto, no dia 27 de julho de 1936, vários milicianos irromperam a calma, entrando no convento. Alguns religiosos, por precaução, haviam sido enviados às casas das suas famílias, alguns dias antes.
"Lá, o ambiente era de destruir tudo o que cheirasse a religião, tanto as imagens sagradas como os edifícios sagrados ou templos; os milicianos eram assassinos e incendiários, profanavam tudo o que encontravam pela frente; por exemplo, colocavam os confessionários nas portas do templo, para que servissem de guaritas", diz uma testemunha citada na Positio.
"Lá, o ambiente era de destruir tudo o que cheirasse a religião, tanto as imagens sagradas como os edifícios sagrados ou templos; os milicianos eram assassinos e incendiários, profanavam tudo o que encontravam pela frente; por exemplo, colocavam os confessionários nas portas do templo, para que servissem de guaritas", diz uma testemunha citada na Positio.
Muitos
deles perceberam que o martírio se aproximava, razão pela qual quiseram
dispor-se interiormente, fazendo penitência e comendo somente pão e água.
"Só
sei que pareciam todos valentes e decididos para receber ou sofrer o martírio.
Isso eu sei também por sua família", disse Irmã Damiana Goñi Senosaín, uma
das testemunhas.
PE . CARMELO MARIA MOYANO
LINARES
Este
sacerdote, foi o provincial da comunidade entre 1926 e 1932. Nasceu em 1891 e
entrou na comunidade em 1907. Recebeu o sacramento da ordem em 1914, na
basílica de São João de Latrão, em Roma.
"Era
culturalmente de maior nível. Havia entendido e estava convencido de que
deveriam sofrer o martírio", disse o Pe. Grosso.
O
Pe. Moyano permaneceu 38 dias preso por seus perseguidores antes de ser
assassinado. Foi amontoado junto a outras 70 pessoas e humilhado da pior
maneira: jogaram fezes nele e o deixaram em uma cela com uma prostituta. Ele
permaneceu fiel ao voto de celibato.
"Tiravam-no
de lá para realizar operações de limpeza pública, como varredor, ou trabalhos
pesados, carregar sacos, regar as árvores do parque. Espancavam-no até fazê-lo
sangrar", conta uma testemunha.
"Ele
pediu para ser o último em morrer, para poder absolver os pecados de todos os
seus companheiros de cativeiro", conta,
"Sua
conduta na prisão foi exemplar. E eu o ouvi dizer ao meu irmão que costumava
exigir deles um perdão positivo dos seus inimigos", assegurou Juan Jurado
Ruiz, outra testemunha.
PE. JOSÉ MARÍA
GONZÁLEZ DELGADO
O
amor a Nossa Senhora e ao Santíssimo Sacramento era o que mais caracterizava
José María González Delgado, nascido em 1908. Aos 21 anos, ingressou na Ordem e
fez sua profissão solene em 1935.
"A
era dos mártires ainda não terminou. Talvez Deus tenha nos destinado a seguir
os passos daqueles heróis", escreveu uma vez ao seu diretor espiritual.
E
foi ele o primeiro em morrer após a invasão ao convento de Hinojosa del Duque.
Os milicianos jogaram uma bomba. "Ele fugiu e foi buscar sua família. Uma
prima não o acolheu, outra sim", conta o Pe. Grosso. "Depois,
descobriram uma medalha no pescoço dele e assim o prenderam", conta seu
postulador.
Uma
das testemunhas relatou como o levaram até a morte, junto a outros presos:
"Serviram como escudos humanos. No meio da confusão, foram matando todos a
tiros, no pátio da prefeitura".
FREI ELISEO CAMARGO
MONTES,
FREI JOSÉ MARÍA RUIZ CARDEÑOSA,
FREI ANTONIO MARÍA MARTÍN POVEA
FREI PEDRO VELASCO NARBONA.
FREI JOSÉ MARÍA RUIZ CARDEÑOSA,
FREI ANTONIO MARÍA MARTÍN POVEA
FREI PEDRO VELASCO NARBONA.
Frei Eliseo Camargo
Montes nasceu em
1887 e entrou no convento aos 28 anos, depois de ter mantido sua família com
seu trabalho, devido à morte prematura dos seus pais. Era o cozinheiro da
comunidade. No dia da invasão, pulou o muro do convento e foi hospedou em uma
casa de família. No entanto, os milicianos o capturaram supostamente para que
servisse de guia na busca de armas. Obrigaram-no a pisotear o sangue dos seus
irmãos. Foi assassinado junto com o Frei
José María. "Ambos demonstraram valor diante dos sofrimentos, sem
queixar-se; foram presos e depois assassinados unicamente por serem religiosos.
Fundo esta crença no conhecimento que tive de ambos", disse Alfonso María Cobos
López, uma das testemunhas.
Nessa
invasão, foi martirizado também José
María González Cardeñosa, nascido em 1902. Sua mãe morreu quando ele tinha
2 anos e por isso ficou sob os cuidados da sua avó. Aos 23 anos, fez sua
profissão solene, apesar de que seu pai se opunha à sua vocação. Seus irmãos
lembravam dele como alguém humilde, caridoso com o próximo e obediente com seus
superiores. No dia da invasão ao convento, ele quis ficar junto com Antonio María Martín e Pedro Velasco Narbona.
Também
morreu Antonio María Povea, que
entrou na comunidade aos 36 anos. Era o porteiro do convento e nele se
destacava a paciência, a simplicidade e a humildade. Foi ele quem abriu a porta
aos milicianos e, nesse momento, foi tomado como refém. "Só sei que deve
ter morrido por ser religioso, pois não havia outro motivo ou razão",
disse a testemunha José Lotillo Rubio.
Por último, está o postulante Pedro Velasco Narbona, nascido em 1892 e membro da Ordem desde 1933. Junto com Antônio, decidiu permanecer no convento, apesar de que isso colocava sua vida em risco. Era o sapateiro e cumpria muito bem suas tarefas como postulante.
Por último, está o postulante Pedro Velasco Narbona, nascido em 1892 e membro da Ordem desde 1933. Junto com Antônio, decidiu permanecer no convento, apesar de que isso colocava sua vida em risco. Era o sapateiro e cumpria muito bem suas tarefas como postulante.
25 novos beatos de nossa Ordem.
Além destes dez Carmelitas da
Antiga Observância, serão também beatificados onze Carmelitas Descalços, que
morreram em Tarragona e em Lleida entre julho e novembro de 1936 em diversas
circunstancias relacionadas com o início da Guerra Espanhola e quatro Irmãos da
Congregação dos Irmãos Carmelitas de la Enseñanza, fundada no Século XIX pelo
Beato Francisco Palau.
Demos graças a Nosso Senhor e a sua Mãe Santíssima pela beatificação destes nossos 25 irmãos carmelitas que, com suas vidas e na morte, testemunharam sua fidelidade ao Evangelho.
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