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sábado, 20 de julho de 2013

XVI Domingo do Tempo Comum

«MARIA ESCOLHEU A MELHOR PARTE»

Continuamos neste domingo a caminhada com Jesus. E com ele vamos parar a casa de Marta e Maria, duas amigas do Senhor, que o recebem com grande carinho. É na relação da amizade que Jesus tem com estas duas irmãs que ele nos quer ensinar como crescer como discípulos/as. Como crescer na escuta da Sua Palavra e na realização dessa Palavra na nossa vida. Contemplativos na ação, agindo porque cheios desta Palavra que se fez Vida nas nossas vidas. Escolhendo sempre a melhor parte: Cristo vivo em nós! Escolhendo a melhor parte: o difícil Todo!
Pe. Tarcízio Morais, sdb

Evangelho segundo S. Lucas (Lc 10,38-42) - Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».

Meditação:

Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa.

Jesus, em caminho, visita a casa de Marta que o recebe em sua casa. Curiosamente, a “povoação” onde Jesus se encontra não é aqui identificada. Sabemos, no entanto, que é Betânia. Nem mesmo se fala de Lázaro, irmão de Marta e Maria. O acolhimento de Jesus é realizado por Marta, que recebe a Jesus na sua própria casa, na sua intimidade, no seio da sua família, onde está também Maria, sua irmã.

Jesus continua a sua missão de portador da mensagem do Reino. E é recebido, em ambiente familiar, em casa dos seus amigos de Betânia. Receber a Jesus na própria vida, oferecer-lhe hospitalidade, é a primeira tarefa dos discípulos de todos os tempos. Que há em mim que possa dar espaço a que Jesus seja hóspede na minha vida? Donde me é dado que venha visitar-me o meu Senhor? Que é necessário ainda na minha vida para que possa acolher, em plenitude, o mensageiro do Reino e a Sua Palavra? Para que possas receber Jesus em tua casa, que é preciso ainda preparar?

Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.

Maria é a segunda personagem da família de Betânia que nos surge. Maria escuta a Palavra do Mestre, numa atitude de atenção e escuta. Acolhendo a Jesus, deixa de parte os trabalhos domésticos, para centrar a sua atenção, como autêntica discípula, na mensagem, ouvindo a sua palavra. Jesus honra-a com um gesto original, porque, contrariamente à pratica dos rabinos, dá espaço a que uma mulher possa escutá-lo como discípula.

Acolher a Jesus tem dinâmicas muito diversificadas e respostas diferenciadas. Se a hospitalidade a Jesus abre o coração para o encontro com Ele, acolhê-lo para ouvir e escutar a Sua Palavra, leva ao abandono de tudo o resto, centrando a atenção no que é fundamental, na novidade da sua Palavra, na disponibilidade a acolher (também e sobretudo) o seu projeto. A missão de Jesus é formar verdadeiros ouvintes da Sua Palavra – autênticos discípulos – que depois a levem à prática, à vida, à ação. Quem quer receber a Jesus precisa de dispor-se para acolher a Sua Palavra, demorando-se na sua companhia. Como me disponho para receber Jesus: apenas de uma forma superficial e externa, como tantos no mundo de hoje, dizendo-se cristãos e atuando como descrentes? Ou ouvindo a sua Palavra e na concretização da sua mensagem criando o Reino de Deus em mim e à minha volta na interioridade e profundidade do meu ser?

Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me».

Marta multiplica-se em atenções “atarefada com muito serviço” para acolher da melhor maneira a Jesus. Como que indignada pela atitude de Maria, sua irmã, que a deixa sozinha, em todas aquelas lides, pede ajuda. É uma cena familiar que facilmente podemos perceber: querendo acolher da melhor maneira o Mestre, Marta tudo faz para que Jesus se sinta acolhido com mil detalhes de atenção. Marta reclama e pede a Jesus que intervenha.

Para Marta a atitude de Maria é desadequada: então, com tanto trabalho, não me ajudas em nada? Para Marta o que Maria faz não é “serviço” (“não te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir”). Mas Marta não é a única serva. Maria está ocupada, completamente, na escuta da Palavra. Duas atitudes diferentes. Uma de total atenção e escuta, a outra de afã pelos afazeres que um hóspede supõe. As duas atitudes são importantes: mas quem escolheu a melhor parte?

O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».

Marta acolhe a Jesus, mas não o escuta, atarefada e inquieta, preocupada com muitas coisas. Maria escolhe a melhor parte. Jesus não aprova o afã, a agitação, a dispersão de Marta. Qual é pois o seu erro? Não entender que a presença de Cristo, é uma grande ocasião a não perder e, por conseguinte a necessidade de sacrificar o urgente ao importante.

Maria, diante de Jesus, escolhe “recebê-lo”, Marta, pelo contrário, toma decididamente o caminho do dar, do atuar. Maria coloca-se no plano do “ser” e dá a Jesus a primazia da escuta. Marta precipita-se no “fazer” e este “fazer” não nasce da escuta atenta da Palavra de Deus, e consequentemente, pode levar à esterilidade o seu fazer. Marta acolhe Jesus em casa. Maria acolhe a Jesus no seu coração. Oferece-lhe a hospitalidade naquele espaço interior, secreto, disposto para Jesus, reservado para Ele, “que não lhe será tirado”. Se Marta oferece a Jesus coisas, Maria oferece-se a si mesma. Jesus felicita Maria e repreende Marta. Maria, de fato, realizou a melhor opção: a única necessária para um autêntico discipulado – decidiu aprender a escutar a Palavra e a deixar-se interpelar pela presença do Mestre. E nós como somos: mais Marta ou Maria? Nenhuma das duas?

Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.

A melhor parte de Maria é a escuta da Palavra, na presença do Mestre. Uma experiência única e privilegiada. Segundo o juízo de Jesus, Maria escolheu a melhor parte (que apesar das aparências, não é a mais cômoda: não é fácil escutar a Palavra e pô-la em prática). Porque o problema é precisamente este: descobrir pouco a pouco que é que Jesus quer de nós, escolhendo a melhor parte que não nos será tirada.

À raiz deste texto discute-se muitas vezes qual é a melhor parte: a contemplação ou a ação? Uma e outra são necessárias porque o fundamento é o mesmo: contemplamos a Jesus a quem escutamos e agimos porque escutamos a sua Palavra.  Quando uma e outra (ação e contemplação) exigem romper com os ritmos loucos e frenéticos do dia-a-dia, para que a vida quotidiana se possa enriquecer do fundamento sereno e atento que supõe a presença de escuta de vida, de Jesus e da sua mensagem. A opção fundamental é sempre colocar-nos aos seus pés, escutar a sua Palavra, para a levarmos à vida, a um autêntico discipulado no nosso vida. Por isso, ação e contemplação são complementares, são discipulado, são seguimento deste Senhor Jesus que quer o melhor das nossas vidas, a escolha da melhor parte: Jesus plenamente em nós.

Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».

Marta serve a Jesus, Maria escuta-o. As duas atitudes são lógicas. Nenhuma é desatendida por Jesus. É, porém quem mais se afana quem pior se sente tratado. Quando Jesus torna público o seu reparo, encarrega-se de indicar como gosta de ser hospedado: prefere atenção às atenções; gosta de encontrar a escuta da sua Palavra mais do que o agasalho da sua pessoa. A atenção melhor que se lhe pode dar é escutar a sua Palavra e ficar pendentes do seu ensinamento. Jesus não louva Maria por não fazer nada, defende-a porque fez da escuta de Jesus a sua única ocupação. Marta não é corrigida pelo que faz, mas pelo que deixa de fazer: escutar a Jesus e a Sua Palavra.


É curioso verificarmos como um fato simples da vida de Jesus e do seu Evangelho se transforma para nós numa lei de vida cristã. Do episódio de Marta e Maria podemos aprender alguma coisa, todos aqueles que procuramos que Jesus venha visitar-nos, porque sentimos a sua falta ou porque desejaríamos acolhê-lo como merece. A atenção preferida que Jesus nos pede é um amor que torna acolhimento a sua presença, e um amor que torna acolhimento a sua Palavra. Marta e Maria são para nós exemplo de amor: porque O acolhem e porque acolhendo-O, escutam a Palavra do Mestre. Como iríamos ter a Jesus presente em nós, como hóspede das nossas vidas, se não permitíssemos que a sua Palavra fosse alimento, tarefa, amor a ser concretizado em mil ações? Deixemos, pois, que Jesus nos fale quando vem até nós; convertamo-nos à sua vontade. Não vem dar-nos trabalho (Marta), mas repouso (Maria). Não nos preocupemos com o que lhe vamos dar se não nos dermos a Ele. Mais do que as atenções que lhe possamos dar, pede-nos toda a atenção da nossa vida, tempo e escuta.

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