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sexta-feira, 19 de julho de 2013

SOLENIDADE DE NOSSO PAI SANTO ELIAS, PROFETA

Evangelho - Lucas 9, 28b-36 - Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predileto. “Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.

LEITURA:

GÉNERO LITERÁRIO: Tal como o texto do Batismo do Senhor, trata-se de uma “teofania”. Há vários elementos que nos fazem dar conta de que estamos diante de um gênero literário: um alto monte, estar sozinho, uma cor branca e brilhante como ninguém da terra poderia ser capaz de deixá-la assim, o grande profeta (Elias) e o grande legislador (Moisés) falando com Jesus, a nuvem que se detêm sobre eles e a voz que confirma o Senhor como o Filho amado do Pai. Numa palavra: o relato está tecido de ecos da teofania do Sinai, tomados de diversos lugares do relato de Ex.24: a montanha alta, os seus dias, as três pessoas escolhidas como testemunhas, a voz, o temor… A nuvem, a sombra, aponta, para o cenário das grandes revelações; a nuvem é o sinal da presença do próprio Deus, a Shekkinah. A nuvem sobre a tenda da grande revelação indica a presença de Deus.

CONTEXTO

São Lucas fala de «oito» dias. E acrescenta «depois destas palavras», ou mais literalmente “depois deste discurso” ou “depois destes acontecimentos”. Que acontecimentos: Depois da primeira missão e do regresso dos Doze; depois da multiplicação… Depois de que discurso? Oito dias depois de Jesus ter falado sobre a necessidade de o Filho do Homem sofrer, ser entregue e morrer, para ressuscitar (Lc. 9,21-22) e depois de ter enunciado umas cinco máximas sobre o seguimento dos discípulos (Lc. 9,23-27).

Em todos os evangelhos, a Transfiguração situa-se depois do primeiro anúncio da Paixão. Em Lc., na frase anterior ao relato da transfiguração falava-se de «ver o Reino de Deus», isto é, de reconhecer a realeza do Senhor Ressuscitado. É o que de certo modo vai acontecer por antecipação, em visão. A expressão «oito dias depois» pode sugerir-nos as aparições do Ressuscitado.

QUEM?
Pedro, Tiago e João… Os mesmos que o acompanharam quando esteve no horto do Getsêmani (Mc. 5,37) e os mesmos que o acompanharam em vários de seus milagres, como por exemplo, o da ressurreição da filha de Jairo (Mc. 5,37). Também Moisés quando sobe ao Sinai leva consigo Aarão, Nadab e Abju, além dos 70 discípulos.

ONDE?
Já sabemos do valor simbólico do monte, como lugar de revelação… pensemos nos diversos montes de Jesus: o monte da tentação, do sermão, da oração, da transfiguração, da agonia, da cruz, da ascensão…

O QUE FAZEM?
Jesus subiu ao monte, para orar. Aliás, é muito comum em São Lucas o acento na Oração. A própria transfiguração acontece, «enquanto orava».

O QUE ACONTECEU A JESUS?

A “metamorfose” não parece afetar senão as vestes de Jesus. Na literatura apocalíptica a extrema brancura da veste é atributo celestial (Dn. 7,9). A transformação luminosa é atributo dos eleitos. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Lucas não fala, como Mt e Mc, de «transfiguração» ou de «metamorfose». Diz apenas que o seu “rosto” se tornou outro, se tornou distinto do que tinha. Evoca a experiência de Moisés (Ex.34,29) que, quando saía da tenda, tinha o rosto resplandecente, iluminado pela glória de Deus. O que os discípulos vêem no seu rosto é a «glória de Deus».

QUEM FALA COM JESUS?
Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias: A referência a Moisés e Elias, que aparecem «em glória», prepara para o acolhimento de Jesus, como Palavra definitiva do Pai. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas, todo o Antigo Testamento e acenam para Jesus, que deverá agora ser o «escutado». Eles são as testemunhas da Antiga Aliança.

DE QUE FALAM?
Literalmente, falam do «êxodo», da «partida», da «passagem» de Jesus para o Pai. Falam afinal da sua morte, ressurreição e ascensão… Jerusalém é o lugar para onde tudo se encaminha.

COMO REAGEM OS DISCÍPULOS?
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer.

AS TRÊS TENDAS
As tendas apontam para a Festa das Tendas, das Cabanas ou dos Tabernáculos, que recordava a peregrinação de Israel, pelo deserto, onde os judeus tinham vivido em tendas, na expectativa da tenda eterna. Durante sete dias, os judeus viviam em tendas, recordando a experiência do deserto e o dom da Lei no Sinai. Inicialmente esta era a última e a mais importante festa das colheitas ou vindimas (na Lua Cheia de Setembro-Outubro), em torno dos frutos da eira e do lagar; nesta festa também se recolhia a água das primeiras chuvas e se derramava essa água, pedindo um tempo favorável, com a abundância da chuva.

Temos aqui as reações dos discípulos, que vão do «sono pesado», ao «despertar» (da morte à vida) até ao desejo de permanecer ali. É uma reação de sentimentos opostos e confusos, mas que denota a experiência real de quem segue Jesus entre o cansaço, a ilusão e o desejo de segui-lo. Só Lucas diz que eles «viram a glória de Jesus», (cf. II Pe. 1,17-18) fizeram a experiência da sua Luz. Tratam Jesus não por «Rabi», mas por «Mestre». Lc refere que Pedro não sabia o que estava a dizer. Era impossível deter a beleza da experiência que ali fizeram.

QUAL A REVELAÇÃO? DE QUEM PROCEDE?

A voz divina dirige-se às testemunhas da cena e não ao próprio Jesus, contrariamente ao que acontece na cena do batismo (Mc. 1,11). Em São Marcos Jesus é declarado pelo Pai, o seu “Filho muito amado”, que é a forma grega de dizer no hebraico “Teu filho, teu filho único” (Gn. 22,2.12.16). Esta expressão “Filho muito amado” coincide com a do batismo.

Isaac e Jesus: “Podemos reler a decisão da grande página de Gn 22 em paralelo com a perícope da transfiguração. Aí Isaac («Teu Filho muito amado») é conduzido por Abraão ao altar do monte Moriá, enquanto Jesus conduz os seus três discípulos à montanha, para que O escutem, como a voz do céu o designa, como o Filho muito amado de Deus. Para Mc, Jesus é o novo Isaac de Deus, Filho Único e amado, que Deus envia em último lugar, justamente na linha dos profetas, mas que, ao contrário de Isaac, não será poupado” (Benoit Standaert, in Cadernos Bíblicos, n.111, p. 50).

Mas o texto acrescenta algo mais que o «Filho muito amado», Diz: “escutai-O”, recolhendo assim a frase de Dt. 8,15 sobre o profeta escatológico (= futuro, definitivo) semelhante a Moisés (Dt.18,15): “O Senhor, teu Deus, suscitará no meio de vós, dentre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar”. Esse Filho a escutar é a própria revelação divina! Aqui se torna evidente a afinidade com a subida de Moisés ao Sinai, pano de fundo da história da transfiguração. No monte, Moisés tinha recebido a Torah, a palavra com o ensinamento de Deus. Agora referindo a Jesus, é-nos dito: «escutai-O». Jesus tornou-se a própria palavra divina da revelação. Jesus é a própria Torah viva, a Palavra inteira de Deus. Os discípulos devem voltar a descer com Jesus e aprender sempre de novo: «escutai-O».

Até então Jesus perguntara: «Quem dizem os homens que Eu sou» (v.18). Agora é o próprio Pai que, como no Batismo, o declara Filho seu, mas agora seu “Eleito”. O versículo 35 é o versículo chave desta revelação. Repare-se que em Lc não se diz «Filho muito amado» ou «Filho querido», mas «Eleito». E diz-se que é «Este» e não outro. E é a este Filho e não a Moisés ou a Elias que devemos escutar: “A Ele escutai», diz literalmente. O foco de luz, de certo modo, passa de Moisés e Elias para se fixar unicamente em Jesus.

QUE ACONTECE DEPOIS DE TUDO ISTO?

A JESUS
Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Jesus fica «isolado», só sobre Ele é que a luz «deste cenário» incide. Ele é a Palavra definitiva do Pai. Moisés e Elias ficam em contraluz.

AOS DISCÍPULOS
Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto. O «segredo» é típico do Evangelho de Marcos. Teriam de passar pela Páscoa para poderem falar do assunto. À ordem de silêncio coloca-se, pela primeira vez, um limite: a ressurreição do Filho do Homem. (Mc. 9,9).

SENTIDO TEOLÓGICO
A transfiguração, assim entendida, transforma-se num encontro antecipado com a glória de Deus em Jesus de Nazaré, antes de sua ressurreição, logo depois de sua morte de cruz. Este episódio tanto se liga ao Batismo como à Páscoa de Jesus, onde aparecem as vestes brancas e o temor…

MEDITAÇÃO: O QUE ME DIZ O SENHOR NESTE TEXTO?
• Que sinto ou experimento, como reajo ao ler este texto? Sono? Espanto? Medo? Maravilhamento? Sinto-me envolvido nesta nuvem? Sinto-me diante de Jesus, como «Este» tudo que o Pai tem para dar?
• Sinto que Jesus me leva a um “alto monte” para estar a sós com Ele?
• Tenho experimentado em minha vida que Jesus se transfigura, ou seja, que me dá a conhecer seu poder e glória como Deus e Senhor? Em que situações?
• Tenho “boa memória” da experiência da transfiguração ou ponho mais acento nas experiências de desolação?
• Percebo que a transfiguração hoje, em minha vida, pode dar-se através de uma forte experiência de encontro com Jesus na oração e na vida sacramental?
• Onde estou parado hoje: no topo do encontro com Deus, no vale da desolação e do sofrimento, na subida do monte ao encontro com o Senhor?
• Tenho a tentação de Pedro de ficar no “topo da experiência mística” da transfiguração e não decidir-me por baixar esta experiência a realidade de minha vida quotidiana? Busco levar a experiência da oração a minha vida quotidiana?
• Assusta-me que Deus revele a sua glória e o seu poder diante de mim? Deixo que a “voz” do Pai confirme uma e mil vezes que Jesus é seu Filho amado e predileto?

• Escuto e obedeço ao Filho amado e predileto do Pai?

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