Evangelho
(Jo 18,1—19,42)
Comentário: Rev. D. Francesc CATARINEU i Vilageliu
(Sabadell, Barcelona, Espanha)
Ele tomou o vinagre e
disse: “Está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito
Hoje
celebramos o primeiro dia do Tríduo Pascal. Por tanto é o dia da Cruz
vitoriosa, desde donde Jesus nos deixou o melhor de Ele mesmo: Maria como mãe,
o perdão —também os verdugos— e a confiança total em Deus Pai.
Escutamos
na leitura da Paixão que nos transmite o testemunho de São João, presente no
Calvário com Maria, a Mãe do Senhor e as mulheres. É um relato rico em
simbologia, onde cada pequeno detalhe tem sentido. Mas também o silêncio e a
austeridade da Igreja, hoje nos ajudam a viver num clima de oração, atentos ao
dom que celebramos.
Diante
deste mistério tão grande, estamos chamados —mais que tudo— a ver. A fé cristã
não é a relação reverencial a um Deus que está longe e abstrato que
desconhecemos, senão a adesão a uma Pessoa, verdadeiro homem como nós e também
verdadeiro Deus. O “Invisível” fez-se carne da nossa carne, e assumiu ser homem
até a morte e morte de cruz. Foi uma morte aceitada como resgate por todos,
morte redentora, morte que nos dá vida. Aqueles que estavam aí e o viram, nos
transmitiram os fatos e ao mesmo tempo, nos descobrem o sentido daquela morte.
Ante isto,
sentimo-nos agradecidos e admirados. Conhecemos o preço do amor: «Ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos» (Jo 15,13). A
oração cristã não é só pedir, senão— e principalmente— admirar agradecidos.
Para nós,
Jesus é modelo que temos que imitar, quer dizer, reproduzir em nós as suas
atitudes. Temos que ser pessoas que amam até darmo-nos e que confiamos no Pai
em toda adversidade.
Isto
contrasta com a atmosfera indiferente da nossa sociedade; por isso o nosso
testemunho tem que ser mais valente do que nunca, já que o dom é para todos.
Como diz Melitão de Sardes, «Ele nos fez passar da escravidão à liberdade, das
trevas à luz, da morte à vida. Ele é a Páscoa da nossa salvação».
A morte de Cristo.
Sto Tomás de Aquino.
Foi
conveniente que Cristo morresse, pelas seguintes razões:
1. Para consumar a nossa redenção, pois, apesar da Paixão ter virtude
infinita por causa da união da divindade, não foi durante um sofrimento
qualquer que nossa redenção foi consumada, mas na morte de Cristo. Por isso diz
o Espírito Santo pela boca de Caifás (Jo 11, 50): convém que morra um homem
pelo povo. E santo Agostinho: Admiremos, congratulemo-nos, rejubilemo-nos,
amemos, louvemos e adoremos, pois, pela morte de nosso redentor, fomos chamados
das trevas à luz, da morte à vida, do exílio à pátria, do luto à alegria.
2. Para o aumento da fé, da
esperança e da caridade.
Quanto ao
crescimento da fé, aquilo do salmista: quanto à mim, estou só até que eu passe,
i. é, deste mundo ao Pai. Mas, quando tiver passado deste mundo ao Pai, então
serei multiplicado. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece
só.
Quanto ao
crescimento da esperança, diz o Apóstolo (8, 32): O que não poupou nem o seu
próprio Filho, mas por nós todos o entregou, como não nos dará também com ele
todas as coisas? É inegável que dar todas as coisas é ainda menos que entregar
Cristo à morte por nós. São Bernardo diz: "Quem não se encherá da
esperança de possuir confiança, se considerar a posição do corpo crucificado de
Cristo? Sua cabeça inclinada, para dar-nos o ósculo da paz; seus braços
estendidos, para nos abraçar; suas mãos traspassadas, para nos cumular de bens;
seu coração aberto, para nos amar; seus pés cravados, para permanecer
conosco". Lemos nas Escrituras (Ct 2, 14): "Pomba minha, tu que te
recolhes nas aberturas da pedra".
Nas chagas de Cristo, a Igreja estabeleceu e fez seu ninho, colocando a
esperança de sua salvação na Paixão do Senhor; e assim protege-se das surpresas
do falcão, i. é, do diabo.
Quanto ao
crescimento da caridade, aquilo das Escrituras (Ecle 43, 3): "Ao meio dia
queima a terra". Ou seja, no fervor da Paixão, ardem de amor os corações
terrestres. Diz ainda são Bernardo: "O cálice que bebestes, ó bom Jesus,
mais que tudo, vos fez amável. A obra de nossa redenção reivindica absoluta e
prontamente todo nosso amor para si; ela faz agradável a devoção, torna-a mais
justa, une-nos mais estreitamente e com maior veemência nos toca o
coração."
3. Por causa do
sacramento da nossa salvação, para que, pelo exemplo de sua morte,
morrêssemos para este mundo. "Por isso a minha alma prefere a suspensão,
os meus ossos preferem a morte" (Jó 7, 15). E são Gregório comenta:
"A alma é a intenção do espírito, os ossos são a força da carne. O que
está suspenso, foi erguido do chão. A alma, portanto, foi erguida às coisas da
eternidade, para que morram os ossos, pois o amor da vida eterna destrói em nós
toda a força da vida exterior". Ser desprezado pelo mundo é o sinal desta
morte. São Gregório acrescenta: "o mar retém os corpos viventes, mas
rejeita os cadáveres".
De humanit.
Christi
(P. D.
Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
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