Santo Amaro (Mauro) |
Comentário:
Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic, Barcelona, Espanha)
Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem
tem autoridade, não como os escribas
Hoje, primeira terça-feira do
tempo comum, São Marcos apresenta-nos Jesus ensinando na sinagoga e, ato
seguido, comenta: «Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os
ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas» (Mc 1,22). Essa
observação inicial é impressionante. De fato, a razão dessa admiração dos
ouvintes, por um lado, não é a doutrina, senão o mestre; não aquilo que se
explica, senão Aquele que o explica; e, por outro lado, não é já o predicador
visto globalmente, senão remarcado especificamente. Jesus ensinava «com
autoridade», quer dizer, com poder legítimo e irrecusável. Essa particularidade
fica ulteriormente confirmada por meio de uma nítida contraposição: «Não como
os escribas».
Mas, num segundo momento, a cena
da cura do homem possuído por um espírito maligno incorpora à motivação
admirativa pessoal o dado doutrinal: «Que é isto? Um ensinamento novo, e com
autoridade» (Mc 1,27). Porém, notemos que o qualificativo não é tanto de conteúdo
quanto de singularidade: a doutrina é «nova». Está é outra razão de contraste:
Jesus comunica algo inaudito (nunca como aquí este qualificativo tem sentido).
Acrescentamos uma terceira
advertência. A autoridade provem, também, do fato que a Jesus «até os espíritos
imundos lhe obedecem». Estamos diante uma contraposição tão intensa quanto as
duas anteriores. À autoridade do Mestre e à novidade da doutrina há que somar a
força contra os espíritos do mal.
Irmãos! Pela fé sabemos que esta
liturgia da palavra nos faz contemporâneos do que acabamos de escutar e que
estamos comentando. Perguntemo-nos com humilde agradecimento: Tenho consciência
de que nenhum outro homem tenha jamais falado como Jesus, a Palavra de Deus
Pai? Me sinto rico de uma mensagem que não tem comparação? Dou-me conta da
força libertadora que Jesus e seu ensino tem na vida humana e, mais
precisamente na minha vida? Movidos pelo Espírito Santo, digamos ao nosso
Redentor: Jesus-vida, Jesus-doutrina, Jesus-vitória, faz que, como lhe comprazia
dizer ao memorável Ramon Llull, vivamos na continua “maravilha” de Você!
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
Reflexão
*
A sequência dos evangelhos dos dias desta semana. O evangelho de ontem
informava sobre a primeira atividade de Jesus: chamou quatro pessoas para
formar comunidade com ele (Mc 1,16-20). O evangelho hoje descreve a admiração
do povo diante do ensinamento de Jesus (Mt 1,21-22) e o primeiro milagre
expulsando um demônio (Mt 1,23-28). O evangelho de amanhã narra a cura da sogra
de Pedro (Mc 1,29-31), a cura de muitos doentes (Mc 1,32-34) e a oração de
Jesus num lugar isolado (Mc 1.35-39). Marcos recolheu estes episódios, que eram
transmitidos oralmente nas comunidades, e os uniu entre si como tijolos numa
parede. Nos anos 70, ano em que ele escreve, as Comunidades necessitavam de orientação.
Descrevendo como foi o início da atividade de Jesus, Marcos indicava como elas
deviam fazer para anunciar a Boa Nova. Marcos faz catequese contando para as
comunidades os acontecimentos da vida de Jesus.
*
Jesus ensina com autoridade, diferente dos escribas. A primeira coisa que o
povo percebe é o jeito diferente de Jesus ensinar. Não é tanto o conteúdo, mas
sim o jeito de ensinar, que impressiona. Por este seu jeito diferente, Jesus
cria consciência crítica no povo com relação às autoridades religiosas da
época. O povo percebe, compara e diz: Ele ensina com autoridade, diferente dos
escribas. Os escribas da época ensinavam citando autoridades. Jesus não cita
autoridade nenhuma, mas fala a partir da sua experiência de Deus e da vida. Sua
palavra tem raiz no coração.
*
Vieste para nos destruir! Em Marcos, o primeiro milagre é a expulsão de um
demônio. Jesus combate e expulsa o poder do mal que tomava conta das pessoas e
as alienava de si mesmas. O possesso gritava: “Eu sei quem tu és: tu és o Santo
de Deus!” O homem repetia o ensinamento oficial que apresentava o messias como
“Santo de Deus”, isto é, como um Sumo Sacerdote, ou como rei, juiz, doutor ou
general. Hoje também, muita gente vive alienada de si mesma, enganada pelo
poder dos meios de comunicação, da propaganda do comércio. Repete o que ouve
dizer. Vive escrava do consumismo, oprimida pelas prestações em dinheiro,
ameaçada pelos cobradores. Muitos acham que sua vida ainda não é como deveria
ser se eles não puderem comprar aquilo que a propaganda anuncia e recomenda.
*
Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!” O espírito sacudiu o
homem, deu um grande grito e saiu dele. Jesus devolve as pessoas a si mesmas.
Devolve a consciência e a liberdade. Faz a pessoa recuperar o seu perfeito
juízo (cf. Mc 5,15). Não é nem era fácil, nem ontem, nem hoje, fazer com que a
pessoa comece a pensar e atuar diferentemente da ideologia oficial.
*
Ensinamento novo! Ele manda até nos espíritos impuros. Os dois primeiros sinais
da Boa Nova que o povo percebe em Jesus, são estes: o seu jeito diferente de
ensinar as coisas de Deus, e o seu poder sobre os espíritos impuros. Jesus abre
um novo caminho para o povo conseguir a pureza. Naquele tempo, uma pessoa
declarada impura já não podia comparecer diante de Deus para rezar e receber a
bênção prometida por Deus a Abraão. Ela teria que purificar-se primeiro. Esta e
muitas outras leis e normas dificultavam a vida do povo e marginalizavam muita
gente como impura, longe de Deus. Agora, purificadas pelo contato com Jesus, as
pessoas impuras podiam comparecer novamente na presença de Deus. Era uma grande
Boa Notícia para eles!
Para um confronto
pessoal
1)
Será que posso dizer: “Eu sou plenamente livre, senhor de mim mesmo”? Se não o
posso dizer de mim mesmo, então algo em mim é possesso por outros poderes. Como
faço para expulsar este poder estranho?
2)
Hoje muita gente não vive, mas é vivido. Não pensa, mas é pensado pelos meios
de comunicação. Já não tem pensamento crítico. Já não é dono de si mesmo. Como
expulsar este “demônio”?
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