QUERIDOS IRMÃOS NO
CARMELO E NA IGREJA
Iniciado o Ano da Fé, comemorando os 50 anos do Vaticano II, daremos início, neste Tempo Comum, ao
estudo dos principais documentos deste Concílio, iniciando com a CONSTITUIÇÃO
DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM SOBRE A IGREJA,
tomando como base os textos do ITESC (Instituto Teológico de Santa Catarina).
Para tanto é necessário que você tenha em mãos os textos dos documentos
conciliares, encontrados em todas as boas livrarias católicas.
I – NECESSIDADE DE
REFORMA
Publicado
por admin em 8 de junho de 2012 em » Pe. Vitor
Galdino Feller, LUMEN GENTIUM (LG)
O
Concílio promoveu uma grande virada no modo de a Igreja se ver a si mesma e em
sua relação com o mundo, com as outras igrejas e com as religiões, na
celebração da liturgia e na leitura da Bíblia.
Para
entender a virada promovida pelo Concílio Vaticano II, convém situar
historicamente este grande evento, que marca hoje a nossa história.
O
Concílio Vaticano II foi a primeira ocasião, no longo período de seus 2000
anos, em que a Igreja parou para refletir sobre si mesma e para se enxergar
através dos olhos do mundo. Desde o século IV, quando o cristianismo foi
assumido como religião oficial do Império Romano, a Igreja havia assumido uma
postura conflitiva na sua relação com o mundo. Para efeito didático, esta
relação poderia ser assim apresentada:
Na
segunda metade do primeiro milênio, dos anos 400 a 1000, houve supremacia do
Império sobre a Igreja, os reis e imperadores interferindo nas coisas
eclesiásticas, na escolha de bispos, na criação de dioceses, nas decisões de
concílios e sínodos etc., com graves prejuízos para a liberdade da Igreja e o
anúncio do Evangelho.
A
primeira metade do segundo milênio, dos anos 1000 a 1500, foi caracterizada
como a época da cristandade medieval, com a supremacia da Igreja sobre a
sociedade, com o Papa interferindo sobre as coisas civis e temporais. Nessa
época, aconteceram as duas grandes divisões da Igreja: em 1054, o cisma entre
Oriente e Ocidente; no século XVI, a separação das igrejas da Reforma. A
imposição da verdade e a preocupação com o poder fizeram com que a Igreja se
tornasse protagonista de fatos claramente anti-evangélicos, como a inquisição e
o genocídio de culturas e povos indígenas.
Na
segunda metade do segundo milênio, dos anos 1500 até o Concílio Vaticano II,
houve um movimento progressivo de fechamento da Igreja, de distanciamento com
relação ao mundo, de oposição entre Igreja e mundo, com a Igreja se afirmando
como sociedade perfeita, com leis, estruturas e quadros próprios, em competição
ou oposição com o mundo.
Em
todo esse tempo, foi intenso e persistente o desejo de reformas. Por trás de
toda essa movimentação reformística estava a certeza de que a Igreja não pode
viver sem o mundo. Ela é, por sua própria constituição, fermento na massa,
semente na terra, sal na comida, grão lançado à terra. Fora do mundo, a Igreja
se perde, o grão apodrece sem poder germinar. Fora do mundo, a Igreja não tem
salvação.
Eis
uma breve resenha dos principais anseios de reforma:
No
século XI, com o papa Gregório VII, a Igreja que vivia sob a influência de reis
e imperadores, promove grande reforma, em busca da liberdade diante do poder
civil, para poder escolher seus papas e bispos, criar suas instituições etc.
Problema foi terem as coisas se invertido: a Igreja, com o fortalecimento do
papado, passa a dominar o poder civil e a interferir nos domínios dos estados e
da sociedade.
O
século XII foi marcado pelos movimentos pauperistas ou mendicantes, que queriam
uma Igreja mais pobre e simples, despojada da pompa e do poder. Alguns desses
movimentos (franciscanos e dominicanos) foram integrados na estrutura eclesial,
enquanto outros (cátaros, albigenses) enveredaram pelo caminho da heresia.
Os
grandes reformadores do século XVI (Lutero, Calvino, Zwinglio) reagiram ao
poder papal, ao materialismo da Igreja romana, ao apego às estruturas de poder;
pretendiam uma Igreja mais bíblica e espiritual, que se reconhecesse toda
inteira como povo sacerdotal.
A
resposta proporcionada pelo Concílio de Trento (1545-1563), seja na área da
doutrina (relação entre graça divina e liberdade humana, o realismo do pecado
original, a sacramentalidade da fé etc.), seja na disciplina (obrigatoriedade
de residência para os bispos, o cuidado na formação do clero etc.), foi fecunda
e fez surgir muitas congregações de corte missionário. Mas, o apego ao poder
levou ao surgimento de uma eclesiologia da “sociedade perfeita”, visível,
jurídica em que a Igreja é comparada a uma instituição puramente visível.
Durante
o século XIX, a Escola de Tübingen, na Alemanha, vinha apresentando algumas
propostas de reformas, com maior realce à presença do Espírito Santo na vida da
Igreja, ideias que foram abortadas pelo Concílio Vaticano I, em 1870, que
fortaleceu definiu o primado romano sobre a Igreja universal e o dogma da
infalibilidade papal.
Diversos
movimentos (litúrgico, bíblico-catequético, ecumênico, missionário etc.), o
estudo da Patrística, a Ação Católica, a nova teologia, movimentos leigos de
apostolado e de espiritualidade, prepararam, no decorrer do século XX, o
caminho que daria no Concílio Vaticano II.
É
necessário frisar que o ambiente cultural marcado pelas filosofias do
existencialismo e do personalismo, a experiência dramática das duas grandes
guerras mundiais, a criação da ONU e a promulgação dos Direitos Humanos, também
contribuíram para a realização do Concílio Vaticano II, acontecimento de enorme
repercussão dentro e fora da Igreja.
Leia,
abaixo, a Lectio Divina da Segunda-Feira da 1ª semana do Tempo Comum.
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