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quarta-feira, 8 de agosto de 2012


SANTA TERESA BENEDITA DE CRUZ - EDITH STEIN – (1891 – 1942)
Virgem e mártir de nossa Ordem
Memória facultativa
Comum de uma virgem e mártir.
Oração:
Deus de nossos pais, conduzistes Santa Teresa Benedita da Cruz, vossa mártir, ao conhecimento e à imitação até à morte de vosso Filho crucificado; fazei que por sua intercessão todos os homens reconheçam no Cristo seu Salvador e possam, graças a Ele, contemplar sem fim a vossa face. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

“Se te decides por Cristo, isto pode custar-te a vida”

“Se quiseres entrar com Ele na glória celeste, tens que te deixar cravar na sua cruz”

“A ciência da cruz só se pode adquirir se se chega a experimentar profundamente a cruz”

"Não são os livros que podem salvar o mundo; somente a Cruz pode salvar a humanidade; e é meu vivo desejo participar da Cruz!”

"O mundo está feito de opostos... porém no final não restará nada destes contrastes. Somente permanecerá o grande amor".

Edith Stein e a Ciência da Cruz
Comunidade Shalom
A Igreja aponta como exemplo uma mulher que achava injusto produzir filosofia e fechar os olhos à miséria. A canonização de Edith Stein, no dia 11 de outubro de 1998, como todo ato solene da Igreja ao declarar a santidade de uma pessoa, apresentou-a como modelo de vida.

Santa Teresa Benedita da Cruz — nome que Edith Stein adotou ao entrar no Carmelo — buscou no recolhimento interior a fonte de um dinamismo avassalador que a levou a uma produção de mais de mil e quinhentas páginas impressas, numa das quais declarou: "quanto mais profundamente alguém é atraído para Deus, tanto mais intensamente deve 'sair de si' para irradiar ao mundo vida divina".

Nascida em 12 de outubro de 1891, Edith Stein foi a sétima filha de um casal de judeus piedosos habitantes de um gueto na cidade de Breslau (hoje Wroclaw, no sudoeste da Polônia). Seu pai morreu em uma viagem de negócios quando ela tinha apenas três anos, o que fez sua mãe assumir o comércio familiar de madeiras. Com o amadurecimento nos estudos, especialmente da filosofia, irá se desligando da religião: "a sede da verdade era minha única prece". Em Göttingen, reúne-se ao grupo da fenomenologia de Husserl, de que faziam parte Dietricht von Hildebrand e Max Scheler. Dedica-se com empenho às pesquisas acadêmicas até que em agosto de 1914 interrompe os estudos e ingressa na Cruz Vermelha para colaborar no cuidado das vítimas da primeira Guerra Mundial.

Husserl a convida para ir a Friburgo organizar os seu manuscritos em 1916. Edith Stein doutora-se no ano seguinte. Mulher sóbria, mas com muitos amigos, como os Conrad´Martius, na casa dos quais passa uma temporada para descansar um pouco. Era uma residência de férias na Baviera. Numa noite de insônia, procura um livro e toma nas mãos uma obra de Santa Teresa de Jesus, o Livro da Vida, que é uma narração clássica, na verdade um convite que em certas passagens adquire um tom de intimação carinhosa para que a alma entre por caminhos de oração. No dia seguinte providencia um missal e um catecismo que estudará cuidadosamente. Dias depois, assiste à Santa Missa e pede ao pároco que lhe administre o batismo.

Após ter sido advertida de que é necessária uma preparação prévia — a catequese — Edith pede que ele a interrogue. Admirado com os conhecimentos da jovem, o sacerdote marca a data do batismo para o dia 1º de janeiro de 1922, e ela escolhe o nome cristão de Teresa. A conversão de membros de famílias hebraicas provoca uma mudança de vida. Edith Stein não ignora a profundidade das conseqüências de sua atitude, mas faz questão de contar para a mãe a sua opção. Cai de joelhos à sua frente e diz: "Mamãe, eu sou católica". Anos mais tarde recorda que foi a primeira vez que a viu chorar. Carinhosa e filial, permanece em Breslau seis meses acompanhando a mãe e freqüentando com ela a sinagoga. Não há como negar os fatos, e a anciã deixa-se impressionar: "Eu nunca vi ninguém rezar como Edith".

Após doze anos de espera, ingressa no Carmelo em 15 de outubro de 1933. Nos intervalos entre as atividades do convento, escreve muitas obras, como o livro Ser finito e ser eterno, um tratado sobre o homem e Deus em que se ocupa da Einfühlung, ou empatia, tema próprio da fenomenologia. A empatia para ela é uma das várias possibilidades de encontrar o outro e viver em uma comunidade. Na sua opinião é injusto produzir filosofia e manter-se alheio à miséria e às mortes do mundo. Para fugir do nazismo dirige-se, sob ordens de suas superioras, a um carmelo em Echt, na Holanda, onde aprenderá seu sétimo idioma, o holandês.

Para a fenomenologia, o aparecer dos conceitos na mente, a intuição, a experiência vital são temas centrais. Como o valor de uma doutrina se mede pela sua potencialidade de ser encarnada em pessoas, o valor da obra de Edith é significativo — seu último livro, A ciência da cruz, foi uma espécie de antevisão do que aconteceria com ela. No dia 2 de agosto de 1942 os oficiais nazistas buscaram-na no parlatório do convento. Em sua última carta às monjas diria: "A ciência da cruz não se pode adquirir sem que ela nos pese realmente sobre os ombros. Desde o primeiro instante eu estava convencida, e a mim mesma me dizia: Ave crux, spes unica!".

A data e o local exato de sua morte são desconhecidos, sendo bastante provável que tenha morrido em Auschwitz, entre 2 e 9 de agosto de 1942. Na cerimônia de sua canonização, a que assistiram milhares de pessoas, o Papa João Paulo II disse que o ato deveria ser uma "ponte de compreensão" entre os católicos e os judeus. A declaração de santidade de uma pessoa que viveu a espiritualidade católica deve ser interpretada como uma proclamação de que os melhores exemplos para os católicos são os santos, entre os quais está Edith Stein. Como autêntica judia, solidarizava-se com os sofrimentos de seu povo. Como autêntica cristã, soube encontrar a Cruz nos horrores da perseguição nazista.

Em suas palavras, "mas agora se acendeu de repente uma luz em mim! Deus tinha colocado de novo sua mão bem pesada sobre seu povo e compreendi que a sorte desse povo era também a minha", e "o que se poderia dizer a mim para consolo? Consolo humano certamente não há, mas quem coloca a cruz como passagem para a vida, entende que o peso se torna suave e leve". Não há cristianismo verdadeiro, genuíno, sem participar, de algum modo, no mistério da Cruz. Os santos compreenderam essa realidade, e a Cruz os eleva até os cumes do amor de Deus: dar a vida. A Igreja aponta como exemplo uma mulher que achava injusto produzir filosofia e fechar os olhos à miséria.

O Papa João Paulo II beatificou-a em 01/05/1987 em Colônia, na Alemanha e, canonizou-a em 11/10/1998 na Praça de São Pedro, em Roma.
  
Uma vida que deixou marcas...
Fr. Alzinir Debastiani(Padre Provincial da Ordem dos Carmelitas Descalços - Brasil)

     Por ocasião dos 40 anos da morte de Edith Stein, apareceu o informe de Joahannes Wieners, motorista de um ônibus dos correios ZBV. Narra ele o encontro com um vagão na estação de manobra dos trens de Breslau. Um sentinela abriu a porta corrediça do vagão. Assim o refere com sua palavras:

     "Vimos então pessoas prostradas, atiradas apáticas sobre o chão do vagão. Ficamos impressionados com o fedor que desprendia do vagão. Então apareceu na porta uma mulher com hábito de monja. Como parecia que me mostrava compassivo, disse-me: "É terrível; nem sequer temos recipientes onde fazer nossas necessidades". Olhei-a interrogativamente e disse-me, vacilando: "Agora vamos para a morte". Impressionou-me muito aquilo. Então perguntei-lhe sério: "Sabem isto os que vão com a Senhora?" E com a voz embargada respondeu: "É melhor que não o saibam".... Perguntei-lhe: "Podemos dar-lhe alguma coisa para comer ou beber?" Respondeu-me: "Não, obrigado; não aceitamos nada". No vagão podia ler-se que vinha da Holanda.... quando voltei do cativeiro, em 1948, li um folheto sobre Edith Stein. Na foto reconheci a monja daquele dia, 7 de agosto de 1942. Como dia de sua morte, colocaram 9 de agosto."

Trechos do livro A Ciência da Cruz 
Santa Teresa Benedita da Cruz - Edith Stein

1. ”A gradual mortificação da própria natureza cada vez mais dá lugar à luz sobrenatural e à vida divina, apoderando-se das forças naturais e transformando-as em forças divinas e espirituais. Realiza-se assim, no cristão, uma nova humanidade de Cristo, a qual corresponde à ressurreição da morte na cruz. O novo homem carrega os estigmas de Cristo no seu corpo, a memória da miséria do pecado, do qual ressuscitou para a vida beatífica, e a memória do preço pago para isto. E fica-lhe a dor do anseio pela plenitude da vida, até que ele possa passar pela porta da morte real e corporal para a luz sem sombra. Assim, a união nupcial da alma com Deus é a meta para a qual ela foi criada, redimida pela cruz, realizada na cruz e selada por toda a eternidade com a cruz”.

      2. ”Fé pode significar, também: voltar-se para uma realidade, na qual todas as verdades se resumem em Deus. Se a alma experimenta nessa entrega o fato de ser tocada pelo Deus escondido e incompreensível, então isso significa a contemplação escura, onde o próprio Deus se revela à alma como luz e amor”.

      3. ”Eis o que é inerente à própria perfeição do ser: união indissolúvel com Deus e realização da união de outros com Deus e com a sua perfeição do ser. Mas o ingresso para tudo isto é a cruz. E o anúncio da cruz seria vão, se ele não fosse expressão de uma vida em união com o crucificado”.

      4. ”Quanto mais alto se eleva a alma para Deus, tanto mais desce em si mesma: a união realiza-se no íntimo da alma, no mais profundo da alma”.

      5. ”A cruz é mais eficiente do que a mortificação que se exerce por livre e própria escolha. Sim, a cruz enviada por Deus, exterior e interior”.

      6. ”A fé coloca diante da alma o próprio Cristo: aos pobres, rebaixados, crucificados, abandonados na própria cruz pelo divino Pai. Na sua pobreza e abandono ela se reencontra a si. Aridez, nojo e miséria são a cruz ’puramente espiritual’, que lhe é oferecida. Acolhendo-a, sente-se que a mesma é jugo suave e peso leve. A cruz se torna cajado que é a ajuda mais fácil na subida à montanha. Quando a alma reconhece que Cristo em sua extrema humilhação e destruição na cruz realizou o máximo, ou seja, a reconciliação e a unificação da humanidade com Deus, então ela desperta para o entendimento que também para si ’a morte na cruz, real e espiritual’, leva a unificação com Deus. Como Jesus no seu abandono da morte se entregou nas mãos invisíveis e cheias de compreensão de Deus, assim também a alma se entregará na escuridão noturna da fé, a qual é o único caminho para o Deus incompreensível”.

      7. ”No sofrimento e morte de Cristo, nossos pecados foram devorados pelo fogo. Aceitando isso na fé e acolhendo o Cristo inteiro na entrega fiel, escolhemos o caminho da imitação de Cristo. A partir deste abandono, Ele nos guia ’pelo seu sofrimento e cruz para a glória da ressurreição’. É justamente isto que nos faz experimentar a contemplação: caminhar pela expiação abrasadora para a união da bem-aventurança. Por isso, explica-se seu duplo caráter. Ele é morte e ressurreição. Depois da ’noite escura’ resplandece a ’chama viva do amor’.”

     8. ”Na vida do Senhor, com certeza, as horas mais felizes foram aquelas em noite tranquila, em diálogo solitário com o Pai. Mas estas significaram somente o respirar depois de uma atividade, que O colocava em meio à turbulência dos homens e Lhe dava, como bebida de vinagre e fel, a mistura de bem humana riqueza, infâmia e maldade, diariamente e a toda hora”.

      9. ”Quem, entretanto, conseguir se livrar de todo apego aos bens temporais, alcançará a liberdade de espírito, a clareza da razão, calma, tranqüilidade e confiança em Deus, além da submissão da vontade à vontade divina”.
      ”É graça, quando nos atinge o anúncio da fé, a divina verdade. É graça, que nos oferece a força para colher o anúncio da fé – apesar de ser exigida de nós a decisão livre – e com isso nos faz crescer na fé. Sem a ajuda da graça não existe oração e não é possível meditação. Mesmo assim, ela exige a adesão de nossa liberdade e opera-se com a ajuda de nossas próprias forças. Depende também de nós, se e de que maneira, e quanto tempo demoramos em oração”.

     10. ”Visto que o intelecto natural não pode compreender a luz divina, deve ser guiado pela contemplação na escuridão”.

      11. ”A alma se entrega a Deus para que Ele possa operar nela aquilo que Ele deseja com tais comunicações sobrenaturais. Assim mesmo, permanecerá na escuridão da fé, porque ela não somente aprendeu mas experimentou que tudo isto não é Deus, mas que ela, no entanto, possui na fé tudo o que lhe é preciso: o próprio Cristo, que é eterna sabedoria, e nEle o Deus incompreensível. Ela estará pronta para tal renúncia e perseverança na fé tanto mais, quanto mais estiver purificada pela noite escura”.

      12. ”Por isso, a alma pode considerar a aridez e a escuridão quais sinais felizes: sinais que Deus está operando nela, libertando-a de si; Ele tira das mãos suas forças da alma. Certamente ela poderia ter trabalhado muito com isso, mas jamais tão perfeita, segura e firmemente como agora, quando Deus a onde e para onde – por caminhos que ela mesma no caminhar mais feliz com o uso de seus próprios olhos e pés jamais poderia ter encontrado. Com isso ela progride muito, sem sequer suspeitar, ainda que julgue estar perdida”.

      13.”Na aridez e no vazio, a alma torna-se humilde. O orgulho anterior desaparece, quando não se encontra mais nada dentro de si, que poderia ser motivo de olhar com certo desprezo para os outros. Pelo contrário, agora os outros parecem-nos muito mais perfeitos. Inspiram amor e estima. Estamos agora por demais preocupados com nossa própria miséria para olharmos para os outros. Pelo desamparo e abandono, a alma torna-se submissa e obediente; ela anseia por aconselhamento para chegar ao caminho certo”.

      14. ”O espírito – isto é, não somente o intelecto, mas também o coração – por ocupar-se continuamente com Deus, está com Ele familiarizado; conhece-o e ama-o. Esse conhecimento e amor fazem parte de seu ser, como o relacionamento de duas pessoas que convivem há longo tempo intimamente familiarizadas. Tais pessoas não precisam mais de informações sobre a outra pessoa para se conhecerem mutuamente e convencerem-se de sua amabilidade. Quase não precisam trocar palavras. Cada nova convivência, no entanto, traz para elas novo despertar e um crescimento de amor, talvez um conhecimento mais profundo de alguns traços novos. Mas isto acontece automaticamente, não precisando de maior esforço. Assim também é a convivência de uma alma com Deus, depois de longo exercício na vida espiritual. Ela não precisa mais meditar, para conhecer a Deus e aprender a amá-lo. O caminho já está muito atrás dela, pois ela repousa nEle. Assim que ela começa a orar, está em Deus e permanece, pela entrega amorosa, em sua presença. O silêncio da mesma Lhe agrada mais do que muitas palavras”.

      15. ”A poderosa realidade do mundo natural e de graças sobrenaturais deve ser movida por meio de uma realidade mais poderosa ainda. Isto acontece na noite passiva (da alma), pois sem ela a ativa nunca poderia chegar à meta. A mão forte do Deus vivo deve interferir para soltar a alma dos laços de tudo o que foi criado e para atraí-la a si. Esse intervir é a escura e mística contemplação, ligada à privação de tudo aquilo que até agora fora luz, sustento e consolo”.

      16. ”Já se tem pronunciado o pensamento de que os sofrimentos da ’noite escura’ são uma participação do sofrimento de Cristo, em especial do sofrimento mais profundo: o abandono de Deus. ’O Cântico Espiritual’ (de São João da Cruz) deu sua impressionante confirmação, porque aqui o desejo ardente pelo Deus escondido é o sofrimento que domina integralmente o caminho místico. Nem sequer acaba na beatitude de união dos noivos; até aumenta com o crescimento do conhecimento e do amor divinos, porque com os mesmos pressentimos cada vez mais o que a clara contemplação de Deus na glória nos poderá trazer”.

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