MÊS DE MARIA
MEDITAÇÃO – 27º dia
Solenidade de
Pentecostes
Para a vigília:
Para a vigília:
O Espírito da Verdade vos conduzirá à verdade plena.
(Dos Sermões de São Leão Magno, papa)
Amados
filhos, os corações de todos os católicos reconhecem que a hodierna solenidade
deve ser venerada dentre as principais festas. Sem dúvida, uma grande
reverência inspira este dia consagrado pelo Espírito Santo com o extraordinário
milagre do dom que ele fez de si mesmo. Com efeito, é o décimo dia depois que o
Senhor subiu ao mais alto de todos os céus para se assentar à direita de Deus.
Este dia refulge também como o quinquagésimo
depois da ressurreição, seu ponto de partida, encerrando grandes mistérios dos
antigos e dos novos sacramentos, que demonstram claramente ter sido a graça
prenunciada pela Lei e a Lei cumprida pela graça.
Como atestam os Atos dos Apóstolos, quando
chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
De repente, veio do céu um ruído como de um forte vento, que encheu a casa em
que estavam sentados. Então apareceram línguas como que de fogo que se
repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia
expressar-se (At 2,1-4). Como é veloz a palavra da Sabedoria! E onde Deus é
mestre, quão depressa se aprende o que é ensinado! Não houve necessidade de
tradução para ser entendida, nem de prática para ser utilizada, nem de tempo
para ser estudada. Mas, pela ação do Espírito que sopra onde quer (cf. Jo 3,
8), as línguas próprias de cada povo se tornaram comuns, começando então a
ressoar pelo mundo inteiro a pregação do Evangelho.
Desde esse dia, uma chuva de carismas e
rios de bênçãos irrigaram todo deserto e toda terra árida, pois, a fim de
renovar a face da terra, o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1,2). E
para dissipar as antigas trevas, cintilaram os fulgores de uma nova luz quando,
pelo esplendor das línguas refulgentes, foi concebida a palavra luminosa do
Senhor, palavra de fogo, possuidora de eficácia e de força para queimar,
despertando a capacidade de compreensão e consumindo o pecado.
Amados filhos, a própria forma do
acontecimento foi admirável, e, sem dúvida, naquela harmonia exultante de todas
as vozes humanas, estava presente a majestade do Espírito Santo; mas, ninguém
pense que sua substância divina tenha aparecido nos fatos vistos com os olhos
do corpo. A natureza invisível, igualmente comum ao Pai e ao Filho, mostrou a
qualidade de seu dom e de sua obra através do sinal que quis. No entanto,
manteve oculto em sua divindade o que é próprio de sua essência. Pois, assim
como o Pai e o Filho não podem ser alcançados pelo olhar humano, assim também o
Espírito Santo.
Nada na Trindade divina é dessemelhante,
nada é desigual, e todos os atributos que se podem pensar a respeito de sua
substância em nada se distinguem, nem pelo poder nem pela glória nem pela
eternidade. Quanto às propriedades das Pessoas, um é o Pai, outro é o Filho e
outro é o Espírito Santo; todavia, a divindade não é diferente, nem é diversa a
natureza. Do Pai é o Filho Unigênito, e o Espírito Santo é o Espírito do Pai e
do Filho, não, porém, como qualquer criatura que pertence ao Pai e ao Filho,
mas enquanto com ambos vive e possui o poder, subsistindo eternamente naquilo
que é o Pai e o Filho.
Por isso, o Senhor, na véspera de sua
paixão, prometendo a seus discípulos a vinda do Espírito Santo, afirma: Tenho
ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora.
Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos conduzirá à verdade plena. Ele não
falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará até as
coisas futuras. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso, eu vos disse que ele
receberá do que é meu para vos anunciar (Jo 16, 12-13.15).
Isso não significa que algumas coisas
pertençam ao Pai, outras ao Filho e outras ao Espírito Santo, mas tudo o que o
Pai tem, o Filho igualmente tem, e o Espírito Santo também tem. Na Trindade
sempre houve esta comunhão, porque nela tudo ter é o mesmo que sempre existir.
A seu respeito, não se insinue na mente noção alguma de tempo, grau ou
diferença; e se ninguém pode explicar o que é Deus, ninguém ouse afirmar acerca
dele o que não é. É mais desculpável não falar da natureza inefável o que ela
merece, do que atribuir-lhe o que é contrário.
Tudo o que os corações piedosos puderem
conceber sobre a eterna e imutável glória do Pai, devem compreendê-lo como
inseparável e sem distinção tanto do Filho como do Espírito Santo. Por
conseguinte, proclamamos que a bem-aventurada Trindade é um só Deus, porque nas
três Pessoas não há diferença alguma de substância, de poder, de vontade ou de ação.
Para o dia:
Realiza-se
em vós o que foi prenunciado nos dias da vinda do Espírito Santo
(Dos
sermões de Santo Agostinho, Bispo)
Irmãos,
despontou para nós o dia feliz em que a Santa Igreja brilha nos rostos dos
fiéis e se abrasa em seus corações. De fato, estamos celebrando o dia em que o
Senhor Jesus Cristo, glorificado pela ascensão depois que ressuscitou, mandou à
terra o Espírito Santo. Efetivamente, está escrito no Evangelho: Se alguém tem
sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água
viva. E prosseguindo o evangelista explica e afirma: Ele falava do Espírito que
deviam receber os que nele cressem; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus
não fora ainda glorificado (Jo 7,37-39). Estava pois faltando agora que Jesus,
já glorificado, após ter ressuscitado dos mortos e subido ao céu, mandasse o
Espírito Santo. Enviá-lo-ia aquele que o prometera. E foi assim que aconteceu.
Depois
de ter passado quarenta dias com seus discípulos, subiu ao céu o Senhor
ressuscitado. E no qüinquagésimo dia, que hoje celebramos, enviou o Espírito
Santo, como está escrito: De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar
de impetuoso vendaval. E apareceram umas como linguas de fogo, que se
distribuiram e foram pousar sobre cada um deles. E começaram a falar em outras
linguas, conforme o Espírito os impelia a falarem (At 2,2.3.4).
Aquele
vento purificava os corações da palha da carne. Aquele fogo consumia o fogo da
velha concupiscência. Aquelas linguas faladas pelos que estavam repletos do
Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, que haveria de estar entre as
linguas de todos os povos. De fato, após o dilúvio, a impiedade soberba dos
homens construiu uma torre elevada contra o Senhor, e o gênero humano mereceu
ser dividido em linguas diversas, começando cada povo a falar sua lingua para
não ser entendido pelos outros povos. Agora, ao invés, a humilde piedade dos
fiéis recolheu a diversidade destas linguas na unidade da Igreja, onde a
caridade reuniu aquilo que a discórdia tinha espalhado. E os membros dispersos
do corpo humano, como membros de um único corpo, voltam a ser unificados na
única cabeça que é Cristo, fundidos na unidade de seu santo corpo pelo fogo do
amor.
Por
isso são inteiramente estranhos ao dom do Espírito Santo os que odeiam a graça
da paz e não conservam a comunhão e a unidade. E, embora também eles hoje se
reúnam solenemente e ouçam estas leituras em que se fala da promessa e da vinda
do Espírito Santo, ouvem-nas como condenação e não como prêmio. Pois de que
lhes serve ouvir com os ouvidos aquilo que rejeitam com o coração e celebrar o
dia cuja luz odeiam? Vós, porém, irmãos, membros do corpo de Cristo, germes de
unidade, filhos da paz, celebrai este dia alegres, celebrai-o seguros. Porque
em vós se realiza aquilo que era prefigurado nos dias em que veio o Espírito
Santo. Porque, como outrora quem recebia o Espírito Santo, embora fosse um
homem só, falava todas as linguas, assim agora fala todas as linguas, através
de todos os povos, a própria unidade. Estabelecidos nela, possuis o Espírito
Santo, os que não estais separados por nenhum cisma da Igreja de Cristo que
fala todas as linguas.
LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA PARA A SEMANA DE PENTECOSTES.
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