M E D I T A Ç Õ E S Q U A R E S M A I S
Vigiai e orai
A agonia do mestre é grande. Grande também
sua preocupação com seus discípulos. Jesus interrompe seu momento de oração e
volta aos discípulos. Talvez buscasse neles um pouco de amparo, mas ele os
encontrou dormindo. Envolvidos pela tristeza e a não compreensão do que estava
acontecendo, dormiram. A tristeza enche muitas vezes a alma de sono. Como somos
iguais aos discípulos. Jesus os adverte: Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. O espírito
é o “novo homem”, a nova vida, a fé, criada pelo Espírito Santo. Conforme esta
fé, estamos dispostos a abandonar a própria vida para seguir a Cristo. Mas
ainda estamos na carne. Temos nossa natureza carnal, nosso “velho homem”, que
sempre de novo nos puxam de volta ao pecado, para amarmos o mundo e as coisas
que há no mundo, e dessa fonte procedem os maus pensamentos, o medo, o pavor
(Mateus 15.19). Assim existe dentro dos cristãos uma luta constante entre a
nova vida e a natureza carnal, ou como costumamos dizer: entre o novo e o velho
homem. Daí a advertência: Vigiai e orai. Devemos examinar nossos pensamentos e
desejos à luz da palavra de Deus e combater as investidas de Satanás. Orai!
Buscai forças, pela oração, junto a Deus. Ele tem todo o poder e ordenou: Pedi,
e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á (Lucas 11.9).
Do Ofício de Leituras:
Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir
(Séc.III)
Quem nos deu a vida também nos ensinou a orar
Os preceitos evangélicos, irmãos caríssimos, não são outra coisa que ensinamentos divinos, fundamentos para edificar a esperança, bases para consolidar a fé, alimento para revigorar o coração, guias para mostrar o caminho, garantias para obter a salvação. Enquanto instruem na terra os espíritos dóceis dos que crêem, eles os conduzem para o Reino dos céus.
Outrora quis Deus falar e fazer-nos ouvir de muitas maneiras pelos profetas, seus servos. Mas muito mais sublime é o que nos diz o Filho, a Palavra de Deus, que já estava presente nos profetas e agora dá testemunho pela sua própria voz. Ele não manda mais preparar o caminho
para aquele que há de vir, mas vem, ele próprio, mostrar-nos e abrir-nos o caminho para que nós, outrora cegos e imprevidentes,errantes nas trevas da morte, iluminados agora pela luz da graça, sigamos o caminho da vida, sob a proteção e guia do Senhor.
Entre as exortações salutares e os preceitos divinos com que orienta seu povo para a salvação, o Senhor ensinou o modo de orar e nos instruiu e aconselhou sobre o que havemos de pedir. Quem nos deu a vida, também nos ensinou a orar com a mesma bondade com que se dignou conceder-nos tantos outros benefícios, a fim de que, dirigindo-nos ao Pai com a súplica e oração que o Filho nos ensinou, sejamos mais facilmente ouvidos.
Jesus havia predito que chegaria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade. E cumpriu o que prometera. De fato, tendo nós recebido por sua graça santificadora o Espírito e a verdade, podemos adorar a Deus verdadeira e espiritualmente
segundo os seus ensinamentos.
Pode haver, com efeito, oração mais espiritual do que aquela que nos foi ensinada por Cristo, que também nos enviou o Espírito Santo? Pode haver prece mais verdadeira aos olhos do Pai do que aquela que saiu dos lábios do próprio Filho que é a Verdade? Assim, orar de maneira
diferente da que o Senhor nos ensinou não é só ignorância, mas também culpa, pois ele mesmo disse: Anulais o mandamento de Deus a fim de guardar as vossas tradições (cf. Mc 7,9).
Oremos, portanto, irmãos caríssimos, como Deus, nosso Mestre, nos ensinou. A oração agradável e querida por Deus é a que rezamos com as suas próprias palavras, fazendo subir aos seus ouvidos a oração de Cristo.
Reconheça o Pai as palavras de seu Filho, quando oramos. Aquele que habita interiormente em nosso coração, esteja também em nossa voz; e já que o temos junto ao Pai como advogado por causa de nossos pecados, digamos as palavras deste nosso advogado quando, como pecadores,
suplicarmos por nossas faltas. Se ele disse que tudo o que pedirmos ao Pai em seu nome nos será dado (cf. Jo 14,13), quanto mais eficaz não será a nossa súplica para obtermos o que pedimos em nome de Cristo, se pedirmos com sua própria oração!
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