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sexta-feira, 4 de abril de 2025

V Domingo da Quaresma

São Pedro de Verona, presbítero e mártir
Beato Miguel Rua, presbítero
 
1ª Leitura (Is 43,16-21):
O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».
 
Salmo Responsorial: 125
R. Grandes maravilhas fez por nós o Senhor.
 
Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião, parecia-nos viver um sonho. Da nossa boca brotavam expressões de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo.
 
Diziam então os pagãos: «O Senhor fez por eles grandes coisas». Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor, estamos exultantes de alegria.
 
Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos, como as torrentes do deserto. Os que semeiam em lágrimas recolhem com alegria.
 
À ida, vão a chorar, levando as sementes; à volta, vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas.
 
2ª Leitura (Fl 3,8-14): Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.
 
Convertei-vos a Mim de todo o coração, diz o Senhor; porque sou benigno e misericordioso.
 
Evangelho (Jo 8,1-11): Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou ao templo, e todo o povo se reuniu ao redor dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi flagrada cometendo adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais mulheres. E tu, que dizes?». Eles perguntavam isso para experimentá-lo e ter motivo para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever no chão, com o dedo. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: «Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!» Inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou sozinho com a mulher que estava no meio, em pé. Ele levantou-se e disse: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor!» Jesus, então, lhe disse: «Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais».
 
«Eu também não te condeno»
 
Pe. D. Pablo ARCE Gargollo (Cidade de México, México)
 
Hoje vemos Jesus «escrever no chão, com o dedo» (Jo 8,6), como se estivesse ao mesmo tempo ocupado e divertido com algo mais do que escutar aos que acusam a mulher que lhe apresentam porque foi «apanhada em adultério» (Jo 8,3).
 
É de chamar a atenção a serenidade e inclusive o bom humor que vemos em Jesus Cristo, mesmo em momentos que, para outros, são de grande tensão. É um ensinamento prático para cada um de nós, nestes nossos dias de vertiginosa velocidade em que nos inquietam os nervos em um bom número de ocasiões.
 
A fuga sigilosa e divertida dos acusadores nos recorda de que quem julga é apenas Deus e que todos nós somos pecadores. Em nossa vida diária, por ocasião do trabalho, nas relações familiares ou de amizade, fazemos juízos de valor. Mas algumas vezes nossos juízos são errôneos e obscurecem a boa reputação dos demais. Trata-se de uma verdadeira injustiça que nos obriga a reparar, tarefa nem sempre fácil. Ao contemplar Jesus em meio a essa “matilha” de acusadores, entendemos muito bem o que assinalou Santo Tomás de Aquino: «A justiça e a misericórdia estão tão unidas que uma sustenta a outra. A justiça sem misericórdia é crueldade; e a misericórdia sem justiça é ruína, destruição».
 
Temos de nos encher de alegria ao saber, com certeza, que Deus perdoa-nos tudo, absolutamente tudo, no sacramento da confissão. Nestes dias de Quaresma, temos a oportunidade magnífica de acorrer a quem é rico em misericórdia no sacramento da reconciliação.
 
Além disso, um propósito concreto para o dia de hoje: ao ver os demais, direi, no interior de meu coração, as mesmas palavras de Jesus: «Eu também não te condeno» (Jo 8,11).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Como podem os pecadores cumprir a Lei e castigar a aquela mulher? Que cada um se olhe a si mesmo, entre no seu interior e se apresente ao tribunal do seu coração e da sua consciência, e será obrigado a confessar-se pecador» (Santo Agostinho)
 
«O Deus Redentor, o Deus terno, sofre por causa da dureza do coração» (Francisco)
 
«O amor, como o Corpo de Cristo, é indivisível: nós não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amarmos o irmão ou a irmã, que vemos. Recusando perdoar aos nossos irmãos ou irmãs, o nosso coração fecha-se, a sua dureza torna-o impermeável ao amor misericordioso do Pai (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.840)
 
«Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!»
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
* O texto de hoje leva-nos a meditar acerca das desavenças entre Jesus e os escribas e fariseus.
Jesus, pelo seu modo de pregar e de agir, não é um homem estimado pelos doutores da lei e pelos fariseus. Por isso, procuram por todos os meios acusá-lo e eliminá-lo. Põem diante dele uma mulher, surpreendida a cometer adultério, para saber da própria boca de Jesus se deviam ou não cumprir a lei que ordenava a morte de uma mulher por lapidação se fosse encontrada a cometer adultério. Queriam provocar Jesus. Fazendo-se passar por pessoas observantes da lei, servem-se da mulher para argumentar contra Jesus.
 
* A história repete-se muitas vezes. Nas três religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo – sob o pretexto de fidelidade a Deus, foram condenadas e massacradas muitas pessoas. Ainda hoje isto acontece. Sob a capa da fidelidade às leis de Deus, muitas pessoas estão marginalizadas, da comunhão e até da comunidade. Criam-se leis e costumes que excluem e marginalizam certas categorias de pessoas.
 
* Durante a leitura de Jo 8, 1-11 convém fazer a leitura como se o texto fosse um espelho em que se reflete o nosso rosto. Lendo-o, procuremos ter em conta os comportamentos, as palavras e os gestos das pessoas que aparecem no episódio: escribas, fariseus, a mulher, Jesus e as pessoas.
 
* Os especialistas nas Escrituras afirmam que o Evangelho de João cresce lentamente, isto é, foi escrito pouco a pouco. Através do tempo, até finais do século I, os membros das comunidades de João, na Ásia Menor, recordavam e acrescentavam detalhes aos factos da vida de Jesus. Um destes factos, a que se acrescentaram estas particularidades, é o texto de hoje, o episódio da mulher que está à beira de ser lapidada (Jo 8, 1-11). Pouco antes deste texto, Jesus dissera: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!” (Jo 7, 37). Esta declaração provoca muitas discussões (Jo 7, 40-53). Os fariseus ridicularizam o povo, considerando-o ignorante por acreditar em Jesus. Nicodemos reage e diz: “Porventura a nossa Lei julga alguém sem primeiro o escutar e saber o que faz?” (Jo 7, 51-52). Depois do nosso texto encontramos uma nova declaração de Jesus: “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 8, 12), que provoca uma discussão com os judeus. Entre estas duas afirmações, com as consequentes discussões, aparece o episódio da mulher que a lei condenara, mas que Jesus perdoa (Jo 8, 1-11). O contexto anterior e posterior sugere que o facto foi inserido para esclarecer que Jesus, luz do mundo, ilumina a vida das pessoas e aplica melhor a lei do que os fariseus.
 
* João 8, 1-2: Jesus e o povo. Depois da discussão, descrita no final do capítulo sétimo (Jo 7, 37-52), todos voltam para casa (Jo 7, 53). Jesus não tem casa em Jerusalém e, por isso, vai para o Monte das Oliveiras. Aí encontra um jardim, onde costumava passar a noite em oração (Jo 18, 1). No dia seguinte, antes do sol nascer, Jesus encontra-se de novo no templo. O povo aproxima-se dele para o escutar. Habitualmente as pessoas sentavam-se em círculo à volta de Jesus e ele ensinava-as. O que ensinaria Jesus? Seguramente o que ensinava era muito belo visto que as pessoas chegavam antes do nascer do sol para o escutar.
 
* João 8, 3-6a: As provocações dos adversários.
Chegam alguns escribas e fariseus que trazem consigo uma mulher surpreendida em flagrante adultério. Colocam-na no centro do círculo entre Jesus e o povo. Segundo a lei, esta mulher deve ser lapidada (Lev 20, 10; Dt 22, 22.24). Dizem: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei Moisés mandou-nos lapidar tais mulheres. E tu, que dizes?”. Era uma provocação, uma armadilha. Se Jesus dissesse: “Aplicai a lei”, os escribas diriam ao povo: “Não é tão bom como parece, porque manda matar a mulher”. Se dissesse. “Não a mateis”, diriam: “Não é tão bom como parece porque não observa a lei”. Sob a capa da aparente fidelidade a Deus, manipulam a lei e servem-se de uma mulher para poderem acusar Jesus.
 
* João 8, 6b: A reação  de Jesus: escreve na terra. Parecia uma armadilha sem escapatória. Mas Jesus não se assusta nem fica nervoso. Antes pelo contrário. Com calma, como uma pessoa dona da situação, inclina-se e começa a escrever na terra com o dedo. Que significado tem escrever na terra? Alguns afirmam que Jesus escreve na terra os pecados dos acusadores. Outros, que é um simples gesto de quem é dono da situação e não faz caso das acusações . Mas é também possível que se trate de um ato simbólico, a alusão a qualquer coisa muito comum. Se tu escreves qualquer coisa na terra, na manhã seguinte não encontrarás o que escreveste, porque o vento ou a chuva apagaram-na e fizeram-na desaparecer. Encontramos uma alusão ao que estamos a dizer em Jeremias, onde se lê que os nomes atribuídos a Deus são escritos na terra, quer dizer que não têm futuro. O vento ou a chuva os farão desaparecer (cf. Jer 17, 13). Talvez Jesus queira dizer: o pecado que acusais a esta mulher, Deus já o perdoou com estas letras que estou a escrever na terra. De agora em diante os pecados não serão mais recordados.
 
* João 8, 7-8: Segunda provocação e a mesma reação de Jesus. A calma de Jesus enerva os adversários. Insistem e querem uma opinião de Jesus. Jesus levanta-se e diz: “Quem de vós está sem pecado atire a primeira pedra”. E inclinando-se começa de novo a escrever na terra. Não entra numa discussão estéril e inútil acerca da lei quando, na realidade, o problema é outro. Jesus altera o centro da discussão. Em vez de permitir que se coloque a luz da lei sobre a mulher para a condenar, quer que os seus adversários se examinem à luz do que a lei exige deles. Jesus não discute a letra da lei. Discute e condena a conduta malévola de quem manipula as pessoas e a lei para defender os interesses que são contrários a Deus, autor da lei.
 
* João 8, 9-11: Epílogo final: Jesus e a mulher. A resposta de Jesus desconcerta e desarma os adversários. Os fariseus e escribas retiram-se envergonhados, um após outro, “começando pelos mais velhos”. Aconteceu o contrário do que eles queriam. A pessoa condenada pela lei não era a mulher mas eles mesmos que se tinham por fiéis à lei. Finalmente Jesus fica a sós com a mulher. Jesus levanta-se e dirige-se a ela: “Mulher, onde estão? Ninguém te condenou?”. Ela responde: “Ninguém, Senhor!”. E Jesus diz: “Tampouco eu te condeno. Vai, e não peques mais”. Jesus não permite que ninguém use a lei de Deus para condenar o irmão, mesmo quando o irmão é pecador. Quem tem uma trave no próprio olho não pode acusar quem tem no olho somente uma palha. “Hipócrita, tira primeiro a trave dos teus olhos e então poderás ver bem para tirar a palha do olho do teu irmão” (Lc 6, 42).
 
* Este episódio, melhor do que qualquer outro ensinamento, revela que Jesus é a luz do mundo (Jo 11, 12) que faz aparecer a verdade. Faz ver o que está escondido nas pessoas, no seu mais íntimo. À luz da palavra de Jesus, os que pareciam ser os defensores da lei, mostram-se cheios de pecados e eles próprios o reconhecem e saem um após outro, começando pelos mais velhos. E a mulher, considerada culpada e ré da pena de morte, está de pé diante de Jesus, perdoada, redimida, cheia de dignidade (cf. Jo 3, 19-21). O gesto de Jesus fá-la renascer e restitui-a como mulher e filha de Deus.
 
* Ao comentar este episódio, Santo Agostinho diz luminosamente que só ficaram dois em cena: a miserável e a misericórdia! Os escribas e fariseus prenderam e acusaram a mulher, mas foram eles que se sentiram acusados, desvendados, lidos, descobertos no esconderijo do seu próprio pecado! Nem sequer viram a mulher como uma pessoa: nunca falam com ela ou para ela; falam simplesmente dela, como se de um objecto se tratasse. É o MESTRE Jesus o primeiro na cena que fala para a mulher, e não a prende, mas liberta-a, colocando-a no caminho novo da liberdade: «Vai e não tornes a pecar», diz-lhe Jesus.
 
MEDITAÇÃO
a) Estou à espreita do agir de meus irmãos a fim de criticá-los?
b) Ponho em dúvida a misericórdia de Deus para com os outros?
c) Já experimentei a misericórdia de Deus em minha vida?
d) Esforço-me para não voltar a pecar?

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