São Pedro
de Verona, presbítero e mártir
Beato Miguel Rua,
presbítero
1ª
Leitura (Is 43,16-21): O Senhor abriu outrora caminhos através do mar,
veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um
exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem,
extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos
lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas
antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a
vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais
selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei
brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo
escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».
Salmo
Responsorial: 125
R. Grandes maravilhas fez por
nós o Senhor.
Quando o Senhor fez regressar os
cativos de Sião, parecia-nos viver um sonho. Da nossa boca brotavam expressões
de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo.
Diziam então os pagãos: «O Senhor
fez por eles grandes coisas». Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor, estamos
exultantes de alegria.
Fazei regressar, Senhor, os
nossos cativos, como as torrentes do deserto. Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.
À ida, vão a chorar, levando as
sementes; à volta, vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas.
2ª
Leitura (Fl 3,8-14): Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo,
comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por
Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a
Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a
que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé.
Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos
seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição
dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a
perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui
alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só
penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente,
continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me
chama em Cristo Jesus.
Convertei-vos a Mim de todo o
coração, diz o Senhor; porque sou benigno e misericordioso.
Evangelho
(Jo 8,1-11): Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou
ao templo, e todo o povo se reuniu ao redor dele. Sentando-se, começou a
ensiná-los. Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em
adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi
flagrada cometendo adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais
mulheres. E tu, que dizes?». Eles perguntavam isso para experimentá-lo e ter
motivo para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever no chão, com
o dedo. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: «Quem dentre
vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!» Inclinando-se de novo, continuou
a escrever no chão. Ouvindo isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais
velhos. Jesus ficou sozinho com a mulher que estava no meio, em pé. Ele
levantou-se e disse: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela
respondeu: «Ninguém, Senhor!» Jesus, então, lhe disse: «Eu também não te
condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais».
«Eu também não te condeno»
Pe. D. Pablo ARCE Gargollo (Cidade
de México, México)
Hoje vemos Jesus «escrever no
chão, com o dedo» (Jo 8,6), como se estivesse ao mesmo tempo ocupado e
divertido com algo mais do que escutar aos que acusam a mulher que lhe
apresentam porque foi «apanhada em adultério» (Jo 8,3).
É de chamar a atenção a
serenidade e inclusive o bom humor que vemos em Jesus Cristo, mesmo em momentos
que, para outros, são de grande tensão. É um ensinamento prático para cada um
de nós, nestes nossos dias de vertiginosa velocidade em que nos inquietam os
nervos em um bom número de ocasiões.
A fuga sigilosa e divertida dos
acusadores nos recorda de que quem julga é apenas Deus e que todos nós somos
pecadores. Em nossa vida diária, por ocasião do trabalho, nas relações
familiares ou de amizade, fazemos juízos de valor. Mas algumas vezes nossos
juízos são errôneos e obscurecem a boa reputação dos demais. Trata-se de uma
verdadeira injustiça que nos obriga a reparar, tarefa nem sempre fácil. Ao
contemplar Jesus em meio a essa “matilha” de acusadores, entendemos muito bem o
que assinalou Santo Tomás de Aquino: «A justiça e a misericórdia estão tão
unidas que uma sustenta a outra. A justiça sem misericórdia é crueldade; e a
misericórdia sem justiça é ruína, destruição».
Temos de nos encher de alegria ao
saber, com certeza, que Deus perdoa-nos tudo, absolutamente tudo, no sacramento
da confissão. Nestes dias de Quaresma, temos a oportunidade magnífica de
acorrer a quem é rico em misericórdia no sacramento da reconciliação.
Além disso, um propósito concreto
para o dia de hoje: ao ver os demais, direi, no interior de meu coração, as
mesmas palavras de Jesus: «Eu também não te condeno» (Jo 8,11).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Como podem os pecadores cumprir
a Lei e castigar a aquela mulher? Que cada um se olhe a si mesmo, entre no seu
interior e se apresente ao tribunal do seu coração e da sua consciência, e será
obrigado a confessar-se pecador» (Santo Agostinho)
«O Deus Redentor, o Deus terno,
sofre por causa da dureza do coração» (Francisco)
«O amor, como o Corpo de Cristo,
é indivisível: nós não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amarmos o
irmão ou a irmã, que vemos. Recusando perdoar aos nossos irmãos ou irmãs, o
nosso coração fecha-se, a sua dureza torna-o impermeável ao amor misericordioso
do Pai (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.840)
«Quem dentre vós não tiver
pecado, atire a primeira pedra!»
Do site da Ordem do Carmo em
Portugal.
* O texto de hoje leva-nos a
meditar acerca das desavenças entre Jesus e os escribas e fariseus. Jesus,
pelo seu modo de pregar e de agir, não é um homem estimado pelos doutores da
lei e pelos fariseus. Por isso, procuram por todos os meios acusá-lo e
eliminá-lo. Põem diante dele uma mulher, surpreendida a cometer adultério, para
saber da própria boca de Jesus se deviam ou não cumprir a lei que ordenava a
morte de uma mulher por lapidação se fosse encontrada a cometer adultério.
Queriam provocar Jesus. Fazendo-se passar por pessoas observantes da lei,
servem-se da mulher para argumentar contra Jesus.
* A história repete-se muitas
vezes. Nas três religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo
– sob o pretexto de fidelidade a Deus, foram condenadas e massacradas muitas
pessoas. Ainda hoje isto acontece. Sob a capa da fidelidade às leis de Deus,
muitas pessoas estão marginalizadas, da comunhão e até da comunidade. Criam-se
leis e costumes que excluem e marginalizam certas categorias de pessoas.
* Durante a leitura de Jo 8,
1-11 convém fazer a leitura como se o texto fosse um espelho em que se reflete
o nosso rosto. Lendo-o, procuremos ter em conta os comportamentos, as
palavras e os gestos das pessoas que aparecem no episódio: escribas, fariseus,
a mulher, Jesus e as pessoas.
* Os especialistas nas
Escrituras afirmam que o Evangelho de João cresce lentamente, isto é, foi
escrito pouco a pouco. Através do tempo, até finais do século I, os membros
das comunidades de João, na Ásia Menor, recordavam e acrescentavam detalhes aos
factos da vida de Jesus. Um destes factos, a que se acrescentaram estas
particularidades, é o texto de hoje, o episódio da mulher que está à beira de
ser lapidada (Jo 8, 1-11). Pouco antes deste texto, Jesus dissera: “Se alguém
tem sede, venha a mim e beba!” (Jo 7, 37). Esta declaração provoca muitas
discussões (Jo 7, 40-53). Os fariseus ridicularizam o povo, considerando-o ignorante
por acreditar em Jesus. Nicodemos reage e diz: “Porventura a nossa Lei julga
alguém sem primeiro o escutar e saber o que faz?” (Jo 7, 51-52). Depois do
nosso texto encontramos uma nova declaração de Jesus: “Eu sou a luz do mundo!”
(Jo 8, 12), que provoca uma discussão com os judeus. Entre estas duas
afirmações, com as consequentes discussões, aparece o episódio da mulher que a
lei condenara, mas que Jesus perdoa (Jo 8, 1-11). O contexto anterior e
posterior sugere que o facto foi inserido para esclarecer que Jesus, luz do
mundo, ilumina a vida das pessoas e aplica melhor a lei do que os fariseus.
* João 8, 1-2: Jesus e o povo.
Depois da discussão, descrita no final do capítulo sétimo (Jo 7, 37-52), todos
voltam para casa (Jo 7, 53). Jesus não tem casa em Jerusalém e, por isso,
vai para o Monte das Oliveiras. Aí encontra um jardim, onde costumava passar a
noite em oração (Jo 18, 1). No dia seguinte, antes do sol nascer, Jesus
encontra-se de novo no templo. O povo aproxima-se dele para o escutar.
Habitualmente as pessoas sentavam-se em círculo à volta de Jesus e ele
ensinava-as. O que ensinaria Jesus? Seguramente o que ensinava era muito belo
visto que as pessoas chegavam antes do nascer do sol para o escutar.
* João 8, 3-6a: As provocações
dos adversários. Chegam alguns escribas e fariseus que trazem consigo uma
mulher surpreendida em flagrante adultério. Colocam-na no centro do círculo
entre Jesus e o povo. Segundo a lei, esta mulher deve ser lapidada (Lev 20, 10;
Dt 22, 22.24). Dizem: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante
adultério. Na Lei Moisés mandou-nos lapidar tais mulheres. E tu, que dizes?”.
Era uma provocação, uma armadilha. Se Jesus dissesse: “Aplicai a lei”, os
escribas diriam ao povo: “Não é tão bom como parece, porque manda matar a
mulher”. Se dissesse. “Não a mateis”, diriam: “Não é tão bom como parece porque
não observa a lei”. Sob a capa da aparente fidelidade a Deus, manipulam a lei e
servem-se de uma mulher para poderem acusar Jesus.
* João 8, 6b: A reação de Jesus: escreve na terra. Parecia uma
armadilha sem escapatória. Mas Jesus não se assusta nem fica nervoso. Antes
pelo contrário. Com calma, como uma pessoa dona da situação, inclina-se e
começa a escrever na terra com o dedo. Que significado tem escrever na terra? Alguns
afirmam que Jesus escreve na terra os pecados dos acusadores. Outros, que é um
simples gesto de quem é dono da situação e não faz caso das acusações . Mas é
também possível que se trate de um ato simbólico, a alusão a qualquer coisa
muito comum. Se tu escreves qualquer coisa na terra, na manhã seguinte não
encontrarás o que escreveste, porque o vento ou a chuva apagaram-na e
fizeram-na desaparecer. Encontramos uma alusão ao que estamos a dizer em
Jeremias, onde se lê que os nomes atribuídos a Deus são escritos na terra, quer
dizer que não têm futuro. O vento ou a chuva os farão desaparecer (cf. Jer 17,
13). Talvez Jesus queira dizer: o pecado que acusais a esta mulher, Deus já o
perdoou com estas letras que estou a escrever na terra. De agora em diante os
pecados não serão mais recordados.
* João 8, 7-8: Segunda
provocação e a mesma reação de Jesus. A calma de Jesus enerva os
adversários. Insistem e querem uma opinião de Jesus. Jesus levanta-se e diz:
“Quem de vós está sem pecado atire a primeira pedra”. E inclinando-se começa de
novo a escrever na terra. Não entra numa discussão estéril e inútil acerca da
lei quando, na realidade, o problema é outro. Jesus altera o centro da
discussão. Em vez de permitir que se coloque a luz da lei sobre a mulher para a
condenar, quer que os seus adversários se examinem à luz do que a lei exige
deles. Jesus não discute a letra da lei. Discute e condena a conduta malévola
de quem manipula as pessoas e a lei para defender os interesses que são
contrários a Deus, autor da lei.
* João 8, 9-11: Epílogo final:
Jesus e a mulher. A resposta de Jesus desconcerta e desarma os adversários.
Os fariseus e escribas retiram-se envergonhados, um após outro, “começando
pelos mais velhos”. Aconteceu o contrário do que eles queriam. A pessoa
condenada pela lei não era a mulher mas eles mesmos que se tinham por fiéis à
lei. Finalmente Jesus fica a sós com a mulher. Jesus levanta-se e dirige-se a
ela: “Mulher, onde estão? Ninguém te condenou?”. Ela responde: “Ninguém,
Senhor!”. E Jesus diz: “Tampouco eu te condeno. Vai, e não peques mais”. Jesus
não permite que ninguém use a lei de Deus para condenar o irmão, mesmo quando o
irmão é pecador. Quem tem uma trave no próprio olho não pode acusar quem tem no
olho somente uma palha. “Hipócrita, tira primeiro a trave dos teus olhos e
então poderás ver bem para tirar a palha do olho do teu irmão” (Lc 6, 42).
* Este episódio, melhor do que
qualquer outro ensinamento, revela que Jesus é a luz do mundo (Jo 11, 12) que
faz aparecer a verdade. Faz ver o que está escondido nas pessoas, no seu
mais íntimo. À luz da palavra de Jesus, os que pareciam ser os defensores da
lei, mostram-se cheios de pecados e eles próprios o reconhecem e saem um após
outro, começando pelos mais velhos. E a mulher, considerada culpada e ré da
pena de morte, está de pé diante de Jesus, perdoada, redimida, cheia de
dignidade (cf. Jo 3, 19-21). O gesto de Jesus fá-la renascer e restitui-a como
mulher e filha de Deus.
* Ao comentar este episódio,
Santo Agostinho diz luminosamente que só ficaram dois em cena: a miserável e a
misericórdia! Os escribas e fariseus prenderam e acusaram a mulher, mas
foram eles que se sentiram acusados, desvendados, lidos, descobertos no
esconderijo do seu próprio pecado! Nem sequer viram a mulher como uma pessoa:
nunca falam com ela ou para ela; falam simplesmente dela, como se de um objecto
se tratasse. É o MESTRE Jesus o primeiro na cena que fala para a mulher, e não
a prende, mas liberta-a, colocando-a no caminho novo da liberdade: «Vai e não
tornes a pecar», diz-lhe Jesus.
MEDITAÇÃO
a) Estou à espreita do
agir de meus irmãos a fim de criticá-los?
b) Ponho em dúvida a
misericórdia de Deus para com os outros?
c) Já experimentei a
misericórdia de Deus em minha vida?
d) Esforço-me para não
voltar a pecar?
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