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terça-feira, 15 de abril de 2025

Quinta-feira da Semana Santa

Bto Batista Mantuano (Spagnoli), presbítero de nossa Ordem
 
1ª Leitura (Ex 12,1-8.11-14):
Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto: «Este mês será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano. Falai a toda a comunidade de Israel e dizei-lhe: No dia dez deste mês, procure cada qual um cordeiro por família, uma rês por cada casa. Se a família for pequena demais para comer um cordeiro, junte-se ao vizinho mais próximo, segundo o número de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Tomareis um animal sem defeito, macho e de um ano de idade. Podeis escolher um cordeiro ou um cabrito.  Deveis conservá-lo até ao dia catorze desse mês. Então, toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao cair da tarde. Recolherão depois o seu sangue, que será espalhado nos dois umbrais e na padieira da porta das casas em que o comerem. E comerão a carne nessa mesma noite; comê-la-ão assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Comereis a toda a pressa: é a Páscoa do Senhor. Nessa mesma noite, passarei pela terra do Egipto e hei de ferir de morte, na terra do Egipto, todos os primogénitos, desde os homens até aos animais. Assim exercerei a minha justiça contra os deuses do Egipto, Eu, o Senhor. O sangue será para vós um sinal, nas casas em que estiverdes: ao ver o sangue, passarei adiante e não sereis atingidos pelo flagelo exterminador, quando Eu ferir a terra do Egipto. Esse dia será para vós uma data memorável, que haveis de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em geração, como instituição perpétua».
 
Salmo Responsorial: 115
R. O cálice de bênção é comunhão do Sangue de Cristo.
 
Como agradecerei ao Senhor tudo quanto Ele me deu? Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor.
 
É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis. Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva: quebrastes as minhas cadeias.
 
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor, invocando, Senhor, o vosso nome. Cumprirei as minhas promessas ao Senhor, na presença de todo o povo.
 
2ª Leitura (1Cor 11,23-26): Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha.
 
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.
 
Evangelho (Jo 13,1-15): Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a ceia. O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus. Sabendo que o Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava, Jesus levantou-se da ceia, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a à cintura. Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura. Chegou assim a Simão Pedro. Este disse: «Senhor, tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás». Pedro disse: «Tu não me lavarás os pés nunca!». Mas Jesus respondeu: «Se eu não te lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro disse: «Senhor, então lava-me não só os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu: «Quem tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo. Vós também estais limpos, mas não todos». Ele já sabia quem o iria entregar. Por isso disse: «Não estais todos limpos». Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e voltou ao seu lugar. Disse aos discípulos: «Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós».
 
«Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros»
 
Mons. José Ángel SAIZ Meneses, Arcebispo de Sevilha (Sevilla, Espanha)
 
Hoje lembramos aquela primeira Quinta-feira Santa da história, na qual Jesus Cristo se reúne com os seus discípulos para celebrar a Páscoa. Então inaugurou a nova Páscoa da nova Aliança, na que se oferece em sacrifício pela salvação de todos.
 
Na Santa Ceia, ao mesmo tempo que a Eucaristia, Cristo institui o sacerdócio ministerial. Mediante este, poderá se perpetuar o sacramento da Eucaristia. O prefácio da Missa Crismal revela-nos o sentido: «Ele escolhe alguns para fazê-los participes de seu ministério santo; para que renovem o sacrifício da redenção, alimentem a teu povo com a tua Palavra e o reconfortem com os teus sacramentos».
 
E aquela mesma Quinta-feira, Jesus nos dá o mandamento do amor: «Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei» (Jo 13,34). Antes, o amor fundamentava-se na recompensa esperada em troca, ou no cumprimento de uma norma imposta. Agora, o amor cristão fundamenta-se em Cristo. Ele nos ama até dar a vida: essa tem que ser a medida do amor do discípulo, e esse tem que ser o sinal, a característica do reconhecimento cristão.
 
Mas, o homem não tem a capacidade para amar assim. Não é simplesmente o fruto de um esforço, senão dom de Deus. Afortunadamente, Ele é amor e —ao mesmo tempo— fonte de amor que se nos dá no Pão Eucarístico.
 
Finalmente, hoje contemplamos o lavatório dos pés. Na atitude de servo, Jesus lava os pés dos Apóstolos, e lhes recomenda que o façam uns aos outros (cf. Jo 13,14).
 
Há algo mais que uma lição de humildade neste gesto do Mestre. É como uma antecipação, como um símbolo da Paixão, da humilhação total que sofrerá para salvar todos os homens.
 
O teólogo Romano Guardini diz que «a atitude do pequeno que se inclina ante o grande, ainda não é humildade. É, simplesmente, verdade. O grande que se humilha ante o pequeno, é o verdadeiro humilde». Por isto Jesus Cristo é autenticamente humilde. Ante este Cristo humilde, nossos moldes se quebram. Jesus Cristo inverte os valores humanos e convida-nos a segui-lo para construir um mundo novo e diferente desde o serviço.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A utilidade do rebaixamento humano é tão grande que até o recomendou com seu exemplo a sublimidade divina, porque o homem orgulhoso pereceria para sempre, se o humilde Deus não o tivesse encontrado» (Santo Agostinho)
 
«Viver implica sujar os pés pelos caminhos poeirentos da vida, da história. Todos nós precisamos ser purificados, ser lavados» (Francisco)
 
«Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor. Para lhes deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para os tornar participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua morte e da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem até ao seu regresso, constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.337)
 
Amou até ao fim e amou sem limites.
 
D. António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro
 
* Aprender com Jesus a viver -
pelo significado especial de que se reveste este dia, é necessário olhar para Jesus e aprender como Ele viveu os momentos mais difíceis da sua vida e que hoje celebramos nesta Eucaristia. Na Última Ceia juntaram-se todas as causas que que levaram Jesus à sua paixão e morte de cruz: o perigo de vida que tinha sido experimentado no Jardim das Oliveiras, o abandono por parte dos seus discípulos, a acusação de homicida, quando não tinha praticado qualquer crime, e o silêncio aparente do Pai nos momentos mais duros da sua vida.
 
Contudo, neste momento observamos como Jesus manifesta o que de mais profundo existe em si mesmo: é agora que ele ama até ao fim, lava os pés aos seus discípulos para lhes dizer que a atitude mais nobre da vida é o serviço, e ao partir o pão e distribuir o vinho dá-se Ele próprio na entrega da sua vida e no derramamento do seu sangue. Este seria o sinal da sua presença e permanência no meio de nós.
 
* Fazei isto em memória de Mim - Os sacramentos que hoje celebramos – a instituição da Eucaristia e o ministério ordenado – não são ações de Cristo que devemos simplesmente admirar. A Eucaristia temos de a celebrar sempre em relação com a comunidade onde cada um de nós está inserido, se queremos que Ele seja vida para o mundo.
 
* Na celebração da Ceia do Senhor expressamos a plenitude da nossa fé, e afirmamos a presença do Senhor vivo e ressuscitado presente na sua Igreja. Unimo-nos uns aos outros como família à volta da mesma mesa e temos um momento de profunda comunhão com o Senhor. Professamos, ainda, a nossa unidade com o corpo de Cristo e proclamamos a vitória final de Jesus Cristo sobre a obra da criação, porque Ele venceu a morte. Renovamos o nosso pacto com Deus por meio de Jesus, porque o que de melhor existe no ser humano em relação com Deus deve renovar-se continuamente.
 
* O sacramento da Ordem leva cada um dos sacerdotes a “fazer o que Jesus fez” e a dar a sua vida para que os irmãos tenham vida e a tenham em abundância. Como diz São Paulo, “Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,5-8).
 
* O mandamento novo do amor - 
O mandamento novo do amor deve ser a meta da nossa pastoral e da vida das nossas comunidades cristãs. Deus é amor e é a fonte do amor. Só quem ama permanece em Deus e Deus nele.
 
* O lava-pés, este ano suprimido devido à pandemia e às regras sanitárias que devemos observar, significa a morte de Jesus como sinal de amor consumado pelos seus discípulos. Jesus cinge-se, com uma toalha, para não morrer odiando, mas amando. Esta é a guerra entre a luz e as trevas, isto é, entre o projeto de Deus e do mundo. A sua morte é por todos, por isso também lava os pés a Judas, aquele que o vai entregar. Jesus cinge-se para a sua morte, porque na sua morte está a vitória divina sobre o ódio do mundo. Na sua morte está a sua glorificação, porque ela é a consequência de uma vida em favor dos outros, e assim o amor vence o ódio. Este mundo não deixa que viva o amor e Jesus vai ser sacrificado, como tantos homens e mulheres vítimas da guerra (vejamos Cabo Delgado – Moçambique), da fome, das desigualdades sociais… mas não deixará que o ódio tenha a última palavra, antes pelo contrário, será vencido pelo amor. Deixar-se lavar por Jesus significa abraçar o seu projeto de amor, que o levou a entregar a sua vida pela nossa salvação.
 
* Ao redor do altar se constrói a comunidade cristã e a vida comunitária. Peçamos a Jesus Eucaristia que as nossas comunidades cristãs cada vez mais celebrem e vivam a Eucaristia dominical, que a levem para a vida através do mandamento novo do amor, e que os nossos jovens sintam que vale a pena gastar a sua vida na entrega ao próximo através do ministério ordenado, na vida sacerdotal.

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