Comemoração de todos os
Defuntos da nossa Ordem
Santo
Alberto Magno, bispo e doutor da Igreja
1ª
Leitura (2Jo 4-9): Senhora eleita de Deus: Muito me alegrei por saber
que os teus filhos vivem no caminho da verdade, segundo o mandamento que
recebemos do Pai. E agora, Senhora, peço-te, não como quem escreve um
mandamento novo, mas aquele que tivemos desde o princípio: amemo-nos uns aos
outros. Ora o amor consiste em viver segundo os seus mandamentos. Este é o
mandamento que ouvistes desde o princípio e segundo o qual deveis viver.
Apareceram no mundo muitos sedutores, os quais não professam a fé em Jesus
feito homem. Este é o sedutor e o anticristo. Tende cuidado convosco, para não
perderdes os frutos do nosso trabalho, mas, pelo contrário, para receberdes a
plena recompensa. Quem se afasta e não permanece na doutrina de Cristo não
possui a Deus. Quem permanece na doutrina, esse possui o Pai e o Filho.
Salmo
Responsorial: 118
R. Ditoso o que anda na lei do
Senhor.
Felizes os que seguem o caminho
perfeito e andam na lei do Senhor. Felizes os que observam as suas ordens e O
procuram de todo o coração.
De todo o coração Vos procuro,
não me deixeis afastar dos vossos mandamentos. Conservo a vossa palavra dentro
do coração, para não pecar contra Vós.
Fazei bem ao vosso servo: viverei
e cumprirei a vossa palavra. Abri, Senhor, os meus olhos para ver as maravilhas
da vossa lei.
Aleluia. Erguei-vos e levantai
a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Aleluia.
Evangelho
(Lc 17,26-37): «Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá
nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam, homens e mulheres casavam-se, até
ao dia em que Noé entrou na arca. Então chegou o dilúvio e fez morrer todos.
Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam
e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e
enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no dia em que se
manifestar o Filho do Homem. Naquele dia, quem estiver no terraço não entre
para apanhar objeto algum em sua casa. E quem estiver no campo não volte atrás.
Lembrai-vos da mulher de Ló! Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e quem
a perder, vai salvá-la. Eu vos digo: naquela noite, dois estarão na mesma cama;
um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas; uma será
tomada e a outra será deixada». Os discípulos perguntaram: «Senhor, onde
acontecerá isto?». Ele respondeu: «Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os
abutres».
«Comiam e bebiam, compravam e
vendiam, plantavam e construíam»
Fr. Austin NORRIS (Mumbai, Índia)
Hoje, no texto do Evangelho está
marcados o final dos tempos e a incerteza da vida, não tanto para
atemorizar-nos, quanto para estarmos bem precavidos e atentos, preparados para
o encontro com nosso Criador. A dimensão do sacrifício presente no Evangelho se
manifesta em seu Senhor e Salvador Jesus-cristo liderando-nos com seu exemplo,
em vista de estar sempre preparados para buscar e cumprir a Vontade de Deus. A
vigilância constante e a preparação são o selo do discípulo vibrante. Não
podemos ser semelhantes às pessoas que «comiam, bebiam, compravam, vendiam,
plantavam, construíam» (Lc 17,28). Nós, discípulos, devemos estar preparados e
vigilantes, não fosse que terminássemos por ser arrastados para um letargo
espiritual escravo da obsessão —transmitida de uma geração à seguinte— pelo
progresso na vida presente, pensando que —depois de tudo— Jesus não voltará.
O secularismo tem criado
profundas raízes em nossa sociedade. A investida da inovação e a rápida
disponibilidade de coisas e serviços pessoais nos faz sentir autossuficientes e
nos despoja da presença de Deus em nossas vidas. Só quando uma tragédia nos machuca
despertamos de nosso sonho para ver a Deus no meio de nosso “vale de
lágrimas”... Inclusive deviéramos estar agradecidos por esses momentos
trágicos, porque certamente servem para robustecer nossa fé.
Em tempos recentes, os ataques
contra os cristãos em diversas partes do mundo, incluindo meu próprio país —a
Índia— sacudiu nossa fé. Mas o Papa Francisco disse: «No entanto, os cristãos
estão desesperançados porque, em última instância, Jesus faz uma promessa que é
garantia de vitória: ‘Quem perca sua vida, a conservará’ (Lc 17,33)». Esta é
uma verdade na qual podemos confiar… Ele, poderoso testemunha de nossos irmãos
e irmãs, que dão sua vida pela fé e por Cristo não será em vão.
Así, nós lutamos por avançar na
viagem de outras vidas na sincera esperança de encontrar ao nosso Deus «o Dia
em que o Filho do homem se manifeste» (Lc 17,30).
«Quem procurar salvar a vida,
vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la»
Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort,
Lleida, Espanha)
Hoje, no contexto predominante de
uma cultura materialista, muitos agem como nos tempos de Noé: «Comiam, bebiam,
homens e mulheres casavam-se»(Lc 17,27);acontecerá como nos dias de Ló: Comiam
e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam» (Lc 17,28). Com uma
visão tão míope, a aspiração suprema de muitos reduz-se a sua própria vida
física temporal e, em consequência, todo seu esforço orienta-se a conservar
essa vida, a protegê-la e enriquecê-la.
No fragmento do Evangelho que
estamos comentando, Jesus quer sair ao passo dessa concepção fragmentária da
vida que mutila ao ser humano e o leva à frustação. E o faz mediante uma
sentença séria e contundente, capaz de remover as consciências e de obrigar a
fazer perguntas fundamentais: «Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e
quem a perder, vai salvá-la». (Lc 17,33). Meditando sobre este ensino de Jesus
Cristo, diz São Agostinho: «Que dizer, então? Pereceram todos os que fazem
essas coisas, isto é, quem se casa, plantam videiras e edificam? Não eles,
senão quem presumem dessas coisas, quem antepõem essas coisas a Deus, quem
estão dispostos a ofender a Deus ao instante por essas coisas».
De fato, quem perde a vida por
conservá-la senão aquele que viveu exclusivamente na carne, sem deixar aflorar
o espírito; ou ainda mais, aquele que vive ensimesmado, ignorando por completo
aos demais? Porque é evidente que a vida na carne se perde necessariamente e,
que a vida no espírito, se não se compartilha, debilita-se
Toda a vida, por ela mesma, tende
naturalmente ao crescimento, à exuberância, à frutificação e a reprodução. Pelo
contrário, se é sequestrada e encerrada no intento de apodera-se afanosa e
exclusivamente, murcha-se, esteriliza-se e morre. Por esse motivo, todos os
santos, tomando como modelo a Jesus, que viveu intensamente para Deus e para os
homens, deram generosamente sua vida de multiformes maneiras ao serviço de Deus
e de seus semelhantes.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Mais do que o pecado em si, o
que irrita e ofende a Deus é que os pecadores não sintam nenhuma dor pelos seus
pecados» (São João Crisóstomo)
«A pretensão de que a humanidade
possa fazer justiça sem Deus é presunçosa e intrinsecamente falsa. Se as
maiores crueldades derivaram desta premissa, não é por acaso» (Bento XVI)
«(…) A caridade constitui o maior
mandamento social. Ela respeita o outro e os seus direitos, exige a prática da
justiça, de que só ela nos torna capazes e inspira-nos uma vida de entrega:
‘Quem procurar preservar a vida, há-de perdê-la; quem a perder, há-de salvá-la’
(Lc 17, 33)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1889)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje continua
a reflexão sobre a chegada do fim dos tempos e traz palavras de Jesus sobre
como preparar-se para a chegada do Reino. Era um assunto quente que,
naquele tempo, provocava muita discussão. Quem determina a hora da chegada do
fim é Deus. Mas o tempo de Deus (kairós) não se mede pelo tempo do nosso
relógio (chronos). Para Deus, um dia pode ser igual a mil anos, e mil anos igual
a um dia (Sl 90,4; 2Pd 3,8). O tempo de Deus corre invisível dentro do nosso
tempo, mas independente de nós e do nosso tempo. Nós não podemos interferir no
tempo, mas devemos estar preparados para o momento em que a hora de Deus se
fizer presente dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui a mil anos.
O que dá segurança, não é saber a hora do fim do mundo, mas sim a certeza da
presença da Palavra de Jesus presente na vida. O mundo passará, mas a palavra
dele jamais passará (cf Is 40,7-8).
* Lucas 17,26-29: Como nos
dias de Noé e de Ló. A vida corre normalmente: comer, beber, casar,
comprar, vender, plantar, colher. A rotina pode envolver-nos de tal modo que já
não conseguimos pensar em outra coisa, em mais nada. E o consumismo do sistema
neoliberal contribui para aumentar em muitos de nós esta total desatenção à
dimensão mais profunda da vida. Deixamos o cupim entrar na viga da fé que
sustenta o telhado da nossa vida. Quando tempestade derrubar a casa, muitos dão
a culpa ao carpinteiro: “Mau serviço!” Na realidade, a causa da queda foi a nossa
desatenção prolongada. A alusão à destruição de Sodoma como figura do que vai
acontecer no fim dos tempos, é uma alusão à destruição de Jerusalém pelos
romanos no ano 70 dC (cf Mc 13,14).
* Lucas 17,30-32: Assim será
nos dias do Filho do Homem. “O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do
Homem for revelado”. Difícil para nós imaginar o sofrimento e o trauma que a
destruição de Jerusalém causou nas comunidades, tanto dos judeus como dos
cristãos. Para ajudá-las a entender e a enfrentar o sofrimento, Jesus usa
comparações tiradas da vida: “Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça
para apanhar os bens que estão em casa, e quem estiver nos campos não volte
para trás”. A destruição virá com tal rapidez que não vale a pena descer para
casa para buscar alguma coisa dentro da casa (Mc 13,15-16). “Lembrem-se da
mulher de Ló” (cf. Gn 19,26), isto é, não olhem para trás, não percam tempo,
tomem a decisão e vão em frente: é questão de vida ou de morte.
* Lucas 17,33: Perder a vidas
para ganhá-la. “Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem a
perde, vai conservá-la”. Só se sente realizada na vida a pessoa que for capaz
de doar-se inteiramente pelos outros. Perde a vida quem quer conservá-la só
para si. Este conselho de Jesus é a confirmação da mais profunda experiência
humana: a fonte da vida está na doação da vida. É dando que se recebe. “Eu
garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho.
Mas se morre, produz muito fruto” (Jo
12,24). Importante é a motivação que o Evangelho de Marcos acrescenta: “Por
causa de mim e por causa do Evangelho” (Mc 8,35). Dizendo que ninguém é capaz
de conservar sua vida com seu próprio esforço, Jesus evoca o salmo onde se diz
que ninguém é capaz de pagar o preço do resgate da vida: “O homem não pode
comprar seu próprio resgate, nem pagar a Deus o preço de si mesmo. É tão caro o
resgate da vida, que nunca bastará para ele viver perpetuamente, sem nunca ver
a cova”. (Sl 49,8-10).
* Lucas 17,34-36: Vigilância. “Eu
digo a vocês: nessa noite, dois estarão numa cama. Um será tomado, e o outro
será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas. Uma será tomada, e a outra
deixada. Dois homens estarão no campo. Um será levado, e o outro será
deixado". Evoca a parábola das dez moças. Cinco eram prudentes e cinco
eram bobas (Mt 25,1-11). O que importa é estar preparado. As palavras “Um será
tomado, e o outro será deixado” evocam as palavras de Paulo aos Tessalonicenses
(1Tes 4,13-17), quando diz que, na vinda do Filho do homem, seremos arrebatados
ao céu junto com Jesus. Estas palavras “deixados para trás” forneceram o título
para um terrível e perigoso romance da extrema direita fundamentalista dos
Estados Unidos: “Lefted behind!” Este romance não nada tem a ver com o sentido
real das palavras de Jesus.
* Lucas 17,37: Onde e quando? “Os
discípulos perguntaram: "Senhor, onde acontecerá isso?" Jesus
respondeu: "Onde estiver o corpo, aí se reunirão os urubus". Resposta
enigmática. Alguns acham que Jesus evoca a profecia de Ezequiel, retomada no
Apocalipse, na qual o profeta se refere à batalha vitoriosa final contra os
poderes do mal. As aves de rapina ou os urubus serão convidadas para comer a
carne dos cadáveres (Ez 39,4.17-20; Ap 19,17-18). Outros acham que se trata do
vale de Josafá, onde será realizado o juízo final conforme a profecia de Joel
(Joel 4,2.12). Outros ainda acham que se trata simplesmente de um provérbio
popular que significava mais ou menos o mesmo que diz o nosso provérbio: “Onde
tem fumaça, tem fogo!”
Para um confronto pessoal
1) Sou dos tempos de
Noé e de Ló?
2) Romance da extrema
direita. Como me situa diante desta manipulação política da fé em Jesus?
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