Bto
Luís Morbioli,, Terceiro carmelita, penitente
1ª
Leitura (3Jo 5-8): Caríssimo Gaio: Tu procedes fielmente em tudo o que
fazes pelos irmãos, apesar de serem estrangeiros. Eles deram testemunho da tua
caridade perante a Igreja. Farás bem, provendo-os do necessário para a viagem,
de maneira digna aos olhos de Deus. Foi pelo nome do Senhor que eles se puseram
a caminho, sem nada receberem dos pagãos. Devemos, portanto, ajudar esses
homens, para sermos cooperadores da verdade.
Salmo
Responsorial: 111
R. Feliz o homem que espera no
Senhor.
Feliz o homem que teme o Senhor e
ama ardentemente os seus preceitos. A sua descendência será poderosa sobre a
terra, será abençoada a geração dos justos.
Haverá em sua casa abundância e
riqueza, a sua generosidade permanece para sempre. Brilha aos homens retos,
como luz nas trevas, o homem misericordioso, compassivo e justo.
Ditoso o homem que se compadece e
empresta e dispõe das suas coisas com justiça. Este jamais será abalado; o
justo deixará memória eterna.
Aleluia. Deus chamou-nos por
meio do Evangelho, para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aleluia.
Evangelho
(Lc 18,1-8): Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes
a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir: «Numa cidade havia um juiz
que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma
viúva, que vinha à procura do juiz, e lhe pedia: Fazei-me justiça contra o meu
adversário! Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: Não
temo a Deus e não respeito ninguém. Mas esta viúva já está me importunando. Vou
fazer-lhe justiça, para que ela não venha, por fim, a me agredir!». E o Senhor
acrescentou: «Escutai bem o que diz esse juiz iníquo! E Deus, não fará justiça
aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los
esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do
Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?».
«A necessidade de orar sempre,
sem nunca desistir»
Rev. D. Joan FARRÉS i Llarisó (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Hoje, nos últimos dias do tempo
litúrgico, Jesus exorta-nos a orar, a dirigir-nos a Deus. Podemos pensar como
aqueles pais e mães de família que esperam -todos os dias!- que os seus filhos
lhes digam algo, que lhes demonstrem o seu afeto amoroso.
Deus, que é Pai de todos, também
o espera, Jesus nos diz muitas vezes no Evangelho, e sabemos que falar com Deus
é fazer oração. A oração é a voz da fé, da nossa crença nele, também da nossa
confiança, e tomara fosse sempre manifestação do nosso amor.
Para que a nossa oração seja
perseverante e confiada, diz São Lucas, que «Jesus contou aos discípulos uma
parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir»
(Lc 18,1). Sabemos que a oração se pode fazer louvando o Senhor ou dando
graças, ou reconhecendo a própria debilidade humana -o pecado-, implorando a
misericórdia de Deus, mas na maioria das vezes será pedido alguma graça ou
favor. E, mesmo que no momento não se consiga o que se pede, só o fato de se
poder dirigir a Deus, o fato de poder contar a esse Alguém a pena ou a
preocupação, já é a obtenção de algo, e seguramente, -mesmo que não de
imediato, mas no tempo-, obterá resposta, porque «Deus, não fará justiça aos
seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? (Lc 18,7).
São João Clímaco, a propósito
desta parábola evangélica, diz que «aquele juiz que não temia a Deus, cede
frente à insistência da viúva para não ter mais o peso de a ouvir. Deus fará
justiça à alma, viúva dele pelo pecado, frente ao Corpo, o seu primeiro
inimigo, e frente aos demônios, os seus adversários invisíveis. O Divino
Comerciante saberá intercambiar bem as nossas boas mercadorias, pôr à
disposição os seus grandes bens com amorosa solicitude e estar pronto para
acolher as nossos súplicas».
Perseverança na oração, confiança
em Deus. Dizia Tertuliano que «só a oração vence a Deus».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O traidor sabe que tem perdida a
alma que tem oração perseverante» (Santa Teresa de Jesus)
«A criação foi feita para ser um
espaço de oração. A criação está aí para que nós adoremos a Deus. Disse são
Bento em sua regra: “Nada seja preferido ao serviço de Deus”» (Bento XVI)
«Quando começamos a orar, mil
trabalhos e preocupações, julgados urgentes, apresentam-se nos como
prioritários. É mais uma vez o momento da verdade do coração e do seu amor
preferencial.» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2732)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O Evangelho de hoje traz um outro assunto
muito caro a Lucas, a saber, a oração.
É a segunda vez que Lucas traz palavras de Jesus para ensinar como rezar. Na
primeira vez (Lc 11,1-13), ensinou o Pai-Nosso e, por meio de comparações e
parábolas, ensinou que devemos rezar com insistência sem esmorecer. Agora,
nesta segunda vez (Lc 18,1-8), ele recorre novamente a uma parábola tirada da
vida para ensinar a insistência na oração. É a parábola da viúva que incômoda o
juiz sem moral. A maneira de apresentar
a parábola é muito didática. Primeiro, Lucas dá uma breve introdução que serve
como chave de leitura. Em seguida, Jesus conta a parábola. No fim, o próprio
Jesus faz a aplicação.
* Lucas 18,1: A introdução. Lucas introduz
a parábola com a seguinte frase: "Contou-lhes ainda uma parábola para
mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais desanimar". A
recomendação para “orar sem desanimar” aparece muitas vezes no Novo Testamento
(1 Tes 5,17; Rm 12,12; Ef 6,18; etc). Este é um traço característico da
espiritualidade das primeiras comunidades cristãs.
* Lucas 18,2-5: A parábola. Em
seguida, Jesus traz dois personagens da vida real: um juiz sem consideração por
Deus e sem consideração para com as pessoas, e uma viúva que luta pelos seus
direitos junto do juiz. O simples fato de Jesus trazer estes dois personagens
revela a consciência crítica que ele tinha da sociedade do seu tempo. A
parábola apresenta o povo pobre lutando no tribunal pelos seus direitos. O juiz
resolve atender à viúva e fazer-lhe justiça. O motivo é este: ficar livre da
chateação da viúva e não ser esbofeteado por ela. Motivo bem interesseiro. Mas
a viúva conseguiu o que ela queria! Este é o fato da vida diária, usado por
Jesus para ensinar como rezar.
* Lucas 18,6-8: A aplicação. Jesus
aplica a parábola: "Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus
não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que
vai fazê-los esperar? Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem
depressa”. Se não fosse Jesus, nós não teríamos tido a coragem de comparar Deus
com um Juiz ateu sem moral! No fim, Jesus expressa uma dúvida: "Mas, o
Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?"
Ou seja, será que vamos ter a coragem de esperar, de ter paciência, mesmo que
Deus demore em atender?
* Jesus orante. Os
primeiros cristãos conservaram uma imagem de Jesus orante, em contato
permanente com o Pai. De fato, a respiração da vida de Jesus era fazer a
vontade do Pai (Jo 5,19). Jesus rezava muito e insistia, para que o povo e seus
discípulos também rezassem. Pois é no confronto com Deus, que a verdade aparece
e que a pessoa se encontra consigo mesma em toda a sua realidade e
humildade. Lucas é o evangelista que
mais nos informa sobre a vida de oração de Jesus. Ele apresenta Jesus em
constante oração. Eis alguns dos momentos em que Jesus aparece rezando. Você
pode completar a lista:
* Aos doze anos de idade, ele vai
no Templo, na Casa do Pai (Lc 2,46-50).
* Na hora de ser batizado e de
assumir a missão, ele reza (Lc 3,21).
* Na hora de iniciar a missão,
passa quarenta dias no deserto (Lc 4,1-2).
* Na hora da tentação, ele
enfrenta o diabo com textos da Escritura (Lc 4,3-12).
* Jesus tem o costume de
participar das celebrações nas sinagogas aos sábados (Lc 4,16)
* Procura a solidão do deserto
para rezar ( Lc 5,16; 9,18).
* Na véspera de escolher os doze
Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12).
* Reza antes das refeições (Lc
9,16; 24,30).
* Na hora de fazer levantamento
da realidade e de falar da sua paixão, ele reza (Lc 9,18).
* Na crise, sobe o Monte para
rezar e é transfigurado enquanto reza (Lc 9,28).
* Diante da revelação do
Evangelho aos pequenos, ele diz: “Pai eu te agradeço!” (Lc 10,21)
* Rezando, desperta nos apóstolos
vontade de rezar (Lc 11,1).
* Rezou por Pedro para ele não
desfalecer na fé (Lc 22,32).
* Celebra a Ceia Pascal com seus
discípulos (Lc 22,7-14).
* No Horto das Oliveiras, ele
reza, mesmo suando sangue (Lc 22,41-42).
* Na angústia da agonia pede aos
amigos para rezar com ele (Lc 22,40.46).
* Na hora de ser pregado na cruz,
pede perdão pelos carrascos (Lc 23,34).
* Na hora da morte, ele diz:
"Em tuas mãos entrego meu espírito!" (Lc 23,46; Sl 31,6)
* Jesus morre soltando o grito do
pobre (Lc 23,46).
*
Esta longa lista mostra o seguinte. Para Jesus, a oração estava
intimamente ligada à vida, aos fatos concretos, às decisões que devia tomar.
Para poder ser fiel ao projeto do Pai, ele buscava ficar a sós com ele. Escutá-lo.
Nos momentos difíceis e decisivos de sua vida, Jesus rezava os Salmos. Como
todo judeu piedoso, conhecia-os de memória. A recitação dos Salmos não matou
nele a criatividade. Pelo contrário. Jesus chegou a fazer um salmo que ele
transmitiu para nós. É o Pai Nosso. Sua vida era uma oração permanente:
"Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra para fazer!" (Jo
5,19.30) A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu sou oração!" (Sl
109,4)
Para um confronto pessoal
1. Tem gente que diz que
não sabe rezar, mas conversa com Deus o dia todo. Você conhece pessoas assim?
Conte. Há muitas maneiras do povo hoje expressar a sua devoção e oração. Quais?
2. O que estas duas
parábolas nos ensinam sobre a oração? O que elas nos ensinam sobre a maneira de
ver a vida e as pessoas?
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