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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Jesus Cristo, Rei do Universo

1ª Leitura (Dan 7,13-14):
Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram. O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído.
 
Salmo Responsorial: 92
R. O Senhor é rei num trono de luz.
 
O Senhor é rei, revestiu-Se de majestade, revestiu-Se e cingiu-Se de poder.
 
Firmou o universo, que não vacilará. É firme o vosso trono desde sempre, Vós existis desde toda a eternidade.
 
Os vossos testemunhos são dignos de toda a fé, a santidade habita na vossa casa por todo o sempre.
 
2ª Leitura (Ap 1,5-8): Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém. Ei-lo que vem entre as nuvens, e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram; e por sua causa hão de lamentar-se todas as tribos da terra. Sim. Amém. «Eu sou o Alfa e o Ómega», diz o Senhor Deus, «Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do Universo».
 
Aleluia. Bendito o que vem em nome do Senhor, bendito o reino do nosso pai David. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 18,33-37): Naquele tempo, Pilatos entrou, de volta, no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu: «Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isso de mim?» Pilatos respondeu: “Acaso sou eu judeu? Teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”. Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino não é daqui». Pilatos disse: “Então, tu és rei?». Jesus respondeu: «Tu dizes que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
 
«Sou rei. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»
 
Rev. D. Frederic RÀFOLS i Vidal (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus Cristo nos é apresentado como Rei do Universo. Sempre me chamou a atenção o ênfase que a Bíblia dá ao nome de Rei quando o aplica ao Senhor. «O Senhor reina, vestido de majestade”, cantamos no Salmo 92. «Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz.» (Jo 18,37), ouvimos pela própria boca de Jesus mesmo. «Bendito o rei que vem em nome do Senhor» (Lc 19,14), diziam as pessoas quando ele entrava em Jerusalém.
 
Certamente, a palavra Rei, aplicada a Deus e a Jesus Cristo, não tem as conotações da monarquia política tal como a conhecemos. Mas, sim que há alguma relação entre a linguagem popular e a linguagem bíblica com respeito à palavra rei. Por exemplo, quando uma mãe cuida ao seu bebê de poucos meses e lhe diz: - Tu és o rei da casa. Que está dizendo? Algo muito simples: que para ela este menino ocupa o primeiro lugar, que é tudo para ela. Quando os jovens dizem que fulano é o rei do Rock querem dizer que não há ninguém igual, o mesmo quando falam do rei do basquete. Entre no quarto de um adolescente e verá na parede quem são seus reis. Penso que essas expressões populares se parecem mais ao que queremos dizer quando clamamos a Deus como nosso Rei e nos ajudam a entender a afirmação de Jesus sobre sua realeza: «O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo» (Jo 18,36).
 
Para os cristãos nosso Rei é o Senhor, quer dizer, o centro onde se dirige o sentido mais profundo de nossa vida. Ao pedir no Pai Nosso que venha a nós seu reino, expressamos nosso desejo de que cresça o número de pessoas que encontrem em Deus a fonte da felicidade e se esforcem por seguir o caminho que Ele nos ensinou, o caminho das bem-aventuranças. Peçamos de todo coração, que «onde queira que esteja Jesus Cristo, ali estará nossa vida e nosso reino» (Santo Ambrósio).
 
“Eu sou rei.”
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
* O diálogo de hoje, exclusivo de João, apresenta-nos o início da inquirição de Jesus por Pilatos, o governador romano da Judeia e da Samaria (26-36 d.C.). Os historiadores da época (Flávio Josefo e Filão de Alexandria), descrevem-no como um governante áspero, duro, violento e obstinado, culpado de ordenar a execução de opositores seus sem processo legal. As queixas de excessiva crueldade apresentadas contra ele pelos samaritanos em 35 d.C. levaram Vitélio, o Legado romano da Síria, a enviá-lo a Roma para se explicar perante o Imperador, o qual logo o depôs. No Quarto Evangelho, porém, no processo de Jesus. aparece como um homem fraco, indeciso e volúvel, manobrado pelos “judeus”, designação que, em João, inclui também os saduceus, grupo que na época em que João escreve já tinha sido extinto, por ocasião da destruição do Templo, em 70 d.C.
 
* v. 33: Mt 27,11; Mc 15,2; Lc 23,3. É a sexta-feira da paixão e estamos em Jerusalém, no pretório, a residência oficial do Procurador romano. A inquirição de Jesus começa por uma pergunta irónica e direta que denota o desdém que Pilatos sentia pelo povo que governava: “Tu és o Rei dos judeus?” (cf. 12,13; 19,15). A pergunta surpreende porque é a primeira vez que este título aparece em João, sem nunca ter sido proferido pelas autoridades judaicas, que o rejeitam (19,21), embora seja esse o motivo oficial da condenação de Jesus, como atesta o titulum da cruz (19,19p.21). Este título resume, porém, em termos romanos, o teor da acusação aduzida pelas autoridades religiosas contra Jesus, dizendo que Ele pretende ser o Messias prometido a Israel (Mc 15,2p), quando, de facto, é um impostor, um agitador político que quer revoltar o povo contra Roma, para o libertar do seu jugo. Que diz Jesus em sua defesa?
 
* v. 34. Jesus, à boa maneira dos rabinos, responde com outra pergunta, passando agora da esfera legal para a pessoal. De facto, para João, Jesus, no seu processo, não é o arguido, mas o arguidor do mundo (12,31). Pergunta, pois, Pilatos se a sua questão nasce do desejo de o conhecer (1,39.46; 4,42; 17,8) ou se é uma mera repetição do que ouviu?
 
* v. 35. Pilatos escusa-se, replicando que nada tem a ver com Jesus, porque nem sequer é judeu (cf. 4,9), devendo apenas cumprir a sua função. Pergunta-lhe que fez Ele de tão grave (v. 30), para que, não só as autoridades religiosas do seu povo, como a sua própria nação, o tenham rejeitado, entregando-o à autoridade romana. De facto, os judeus nunca entregavam ninguém do seu povo para ser julgado por um estrangeiro, não só porque isso era visto como uma traição, mas também porque implicava o reconhecimento da autoridade de um gentio (cf. At 23,12-22). Jesus é o único a quem isso aconteceu, mostrando até que ponto as autoridades do seu povo se empenharam em que fosse condenado como um maldito (vv. 31s; cf. Dt 21,23; Sl 22,17).
 
* v. 36. Na sua defesa, Jesus põe as coisas na sua devida perspectiva. Ele não é uma ameaça política, pois não é um rei terreno: o seu reino não é deste mundo (cf. 8,23). A prova é que, ao invés dos reis terrenos, não tem guardas, nem recorreu à força das armas para se defender. Neste mundo, não são os reis que dão a vida pelos seus súbditos, mas os súbditos que dão a sua vida por eles. Jesus, porém, é um prisioneiro indefeso, que não se insurge contra ninguém, nem pretende impor-se à força, mas só quer fazer a vontade do Pai.
O seu reino (reinado) não é cá de baixo, deste mundo (cf. 3,12), mas do alto, de Deus (3,3.5) Foi o Pai que lho deu, na sua qualidade de “Filho do homem” (1,51; 5,27; Dn 7,13s). A sua realeza radica nos corações, atraindo-os (12,32) e transformando-os, sem se impor, os oprimir ou ameaçar de morte (19,10). Pretende apenas fazer o que nenhum rei da terra pode fazer: libertar o homem condenado, a fim de o tornar participante da sua própria vida e realeza, junto do Pai (cf. Ef 2,6; Cl 3,1ss; Ap 3,20s). Esse reino começa a ser instaurado e é oferecido “agora” (12,31; 13,31; 16,5 17,5.7.13), a partir da “hora” da sua paixão, morte e ressurreição.
 
v. 37: Mt 27,11; Mc 15,2; Lc 23,3; 1Tm 6,13. Pilatos pensa ter apanhado Jesus numa contradição e deduz com ironia: “Logo tu és rei?”.
Jesus responde, dando testemunho da verdade, declarando-lhe abertamente que sim, embora definindo a natureza do seu reinado. “Rei” em hebraico diz-se melek, nome que vem do verbo malak, “subir ao trono” para “julgar” e “reinar”. A raiz de malak significa “consultar”, “aconselhar-se”, “escutar” para bem “discernir”. Por isso, Salomão pediu a Deus: “Dá ao teu servo um coração que saiba escutar para poder julgar o teu povo e discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). Jesus atesta que é Rei, não apenas “o Rei de Israel” (1,19) – título que no AT originalmente só se aplicava a Deus (12,13; cf. Jz 8,22; Sl 72,18; Is 44,6; Sf 3,15) –, mas Rei, sem mais especificações. Ou seja: é o Enviado de Deus “ao mundo” (11,27; 1,9; 6,14; 9,39; 12,46; 16,28; 1Tm 1,15), para salvar o homem. Ele é, pois, o Messias (6,14; 11,27; cf. Jr 10,7; Ez 37,22; Zc 14,16; Ml 1,14).
 
* Tendo o pecado entrado no mundo pela inveja (Sb 2,24), graças a uma mentira de Satanás (Gn 3,1.4s), “o pai da mentira” (8,44), a missão de Jesus, que “tira o pecado do mundo” (1,29; 1Jo 3,5), consiste em dar testemunho da verdade” (5,33; 8,40.45; 16,7; cf. Sl 45,5; Jr 23,28), do que viu (5,19) e ouviu junto do Pai (15,15; 17,8) e assim libertar o homem (8,32), implantando o conhecimento de Deus sobre a terra (17,3; Is 11,9; Os 4,1).
 
* O que é a verdade? A “verdade” (Jo, 20x) é um dos atributos de Deus, por Ele revelados a Moisés no monte Sinai (Ex 34,6). Está ligada ao amor (hesed), à graça, à bondade e à misericórdia de Deus (1,14.17; 14,6; cf. Sl 25,10; 36,6; 40,12; 83,12G; 85,11), tendo como consequência a salvação (Sl 40,11). É um atributo do Pai (17,3), de Jesus (1,14.17; 4,23s), da sua Palavra (8,32.40.45s; 16,7; 17,17.19) e do Espírito Santo (14,17; 15,26; 16,13). Em última análise, é o próprio Deus (cf. 3,21; 7,28). É Jesus que o dá a conhecer, dando testemunho dele, na sua Pessoa, palavras e obras.
 
* Em hebraico, “verdade” diz-se ‘emet, palavra que deriva de ‘em, “mãe”, significando “o que é fiel, firme, sólido, fiável, fiel, contínuo”. Escreve-se com três letras: a primeira (alef), uma mediana (mem) e a última (tau) do alfabeto hebraico (bShab 104a). A verdade é quando o que se diz e o que se faz se confirmam, quando o princípio e o fim se conciliam, numa conjugação de esforços que tudo engloba e em que tudo concorre e se completa, mantendo a sua continuidade, consistência e coesão ao longo de todo o processo, desde o início até ao fim. Jesus, Palavra do Pai (1,1) é a Verdade (14,6), a Testemunha fiel e verdadeira, o Amém de Deus às suas promessas (Ap 1,5s; 3,14; 2Cor 1,20; Is 65,16; Rm 15,8s), que realiza e consuma dando a própria vida (19,30). Porque é a Verdade, Jesus cala-se na paixão, deixando as obras falar.
 
* “Quem é da verdade” aceita Jesus como Rei da sua vida e escuta a sua voz (8,47; 10,3-5.16.27), que lhe chega também através dos seus discípulos (v. 21; 17,20), das pessoas e dos acontecimentos, acredita nele, obedece à sua Palavra e entra no redil do seu Povo (10,3; 10,27), a fim de seguir o seu exemplo de amor, serviço, entrega e doação da própria vida. É este o reino que Jesus traz, ao qual preside, ao qual chama o homem e no qual o convida a participar.
 
Meditação
1. Procuro escutar a Palavra de Deus? Como? Ela ajuda-me a crescer, no meu dia a dia, na escuta e obediência à voz de Jesus?
2. Que sinais posso dar esta semana àqueles que me rodeiam para testemunhar a presença do Reino de Deus no meio dos homens?

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