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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

I Domingo do Advento

S. Carlos de Foucauld (Carlos de Jesus), presbítero
 
1ª Leitura (Jer 33,14-16):
Eis o que diz o Senhor: «Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá: Naqueles dias, naquele tempo, farei germinar para David um rebento de justiça que exercerá o direito e a justiça na terra. Naqueles dias, o reino de Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome que chamarão à cidade: ‘O Senhor é a nossa justiça’».
 
Salmo Responsorial: 24
R. Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.
 
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador.
 
O Senhor é bom e reto, ensina o caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
 
Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos. O Senhor trata com familiaridade os que O temem e dá-lhes a conhecer a sua aliança.
 
2ª Leitura (1Tes 3,12—4,2): Irmãos: O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós a temos tido para convosco. O Senhor confirme os vossos corações numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor, com todos os santos. Finalmente, irmãos, eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus: recebestes de nós instruções sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus e assim estais procedendo; mas deveis progredir ainda mais. Conheceis bem as normas que vos demos da parte do Senhor Jesus.
 
Aleluia. Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia e dai-nos a vossa salvação.
 
Evangelho (Lc 21,25-28.34-36): Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas. apavoradas com o bramido do mar e das ondas. As pessoas vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as potências celestes serão abaladas. Então, verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem, com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós, pois cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de conseguirdes escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem».
 
«Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de conseguirdes escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, precisamente ao começar um novo ano litúrgico, fazemos o propósito de renovar o nosso anseio e a nossa luta pessoal visando a santidade, a própria e a de todos. A própria Igreja a isso nos convida, recordando-nos no Evangelho de hoje a necessidade de estar sempre preparados, sempre “enamorados” do Senhor: «Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida» (Lc 21,34).
 
Mas reparemos num detalhe que é importante entre namorados: esta atitude de alerta - de preparação - não pode ser intermitente, deve antes ser permanente. Por isso, nos diz o Senhor: «ficai atentos e orai a todo momento» (Lc 21,36). A todo o momento!: esta é a justa medida do amor. A fidelidade não se faz na base de um “agora sim, agora não”. É, portanto, muito conveniente que o nosso ritmo de piedade e de formação espiritual seja um ritmo habitual (dia a dia e semana a semana). Tomara que cada dia da nossa vida o vivamos com mentalidade de estreia; tomara que cada manhã - ao acordar - consigamos dizer: - Hoje volto a nascer - (obrigado, meu Deus!); hoje volto a receber o Baptismo; hoje volto a fazer a Primeira Comunhão; hoje volto a me casar-me... Para perseverar com ar alegre, é necessário “re-estrear-se” e renovar-se.
 
Nesta vida não temos cidade permanente. Chegará o dia que até «as forças celestes serão abaladas» (Lc 25,26). Bom motivo para permanecer em estado de alerta! Mas, neste Advento, a Igreja acrescenta um motivo muito bonito para a nossa festiva preparação: certamente, um dia os homens «verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem, com grande poder e glória» (Lc 25,27), mas agora Deus chega à terra com mansidão e discretamente; em forma de recém-nascido, até ao ponto de «Cristo viu-se envolto em faixas dentro de um presépio» (São Cirilo de Jerusalém). Somente um espírito atento descobre neste Menino a magnitude do amor de Deus e a sua salvação (cf. Sal 84,8).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Proclamamos a vinda de Cristo, não apenas a Sua primeira vinda, mas também uma segunda. A primeira está marcada pelo signo da paciência enquanto a outra trará o diadema da realeza divina» (S. Cirilo de Jerusalém)
 
«O Advento, tempo próprio para preparar os nossos corações para receberem o Salvador, ou seja, o único Justo e o único Juiz que pode dar a cada um o que merece. A salvação que se espera em Deus tem igualmente o sabor do amor» (Francisco)
 
«A vinda do Filho de Deus à Terra é um acontecimento tão grandioso, que Deus quis prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da “primeira Aliança” (Hb 9,15), tudo Deus faz para convergir para Cristo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 522)
 
Vigiai e orai em todo o tempo a fim de poderdes comparecer de pé diante do Filho do homem».
 
Fr. Pedro Bravo, OCarm

*
O texto de hoje, onde se omite a parábola da figueira (vv. 29-33), situa-nos no Templo de Jerusalém, a poucos dias da paixão do Senhor. Divide-se em duas partes: o anúncio da vinda do Filho do Homem (vv. 25-28) e uma exortação à vigilância e à oração (vv. 34-36).
 
* v. 25 (vv. 25-28: Mt 24,29-31; Mc 13,24-27). Os fenómenos cósmicos aqui referidos por Jesus não são uma ante prima do fim do mundo, mas “sinais” (gr. semeíon: vv. 7.11) que anunciam a chegada do “tempo do fim” (Dn 8,19; 8,25s; 11,35; 12,4.7), no qual Deus iria cumprir as suas promessas e intervir na história para instaurar o seu Reino, libertando o seu povo do mal e dando-lhe a luz e a paz verdadeiras, chegada perante a qual a velha ordem das coisas acabaria por ruir, irrompendo uma nova criação. Esta intervenção de Deus na história é chamada “o Dia do Senhor” (Ez 30,2s; Am 5,18.20; Jl 2,1s; Sf 1,14ss; Zc 14,13; Hb 12,26s; 2Pd 3,10), “o Dia” (Rm 2,16; 1Cor 3,13; 1Ts 5,4) ou “dia eterno” (2Pd 3,18), inaugurado pela morte e ressurreição de Cristo, Dia que Ele é (1Cor 1,8; Fl 1,10). E, tal como no princípio, quando a luz foi criada, o dia começou com a noite e depois veio a manhã (Gn 1,3ss), também o Dia que Cristo é já está em ação entre nós, embora oculto, só se vindo a revelar plenamente quando Ele despontar, na última vinda de Cristo, na glória (v. 27; 1Ts 5,2.4s; 2Pd 1,19).
 
Num mundo que pensava que os astros eram deuses e que as estrelas regiam o destino dos homens (Is 47,13), a magnitude destes fenómenos cósmicos, que escapam a toda a previsão, controle e poder humanos, encherá de medo as pessoas que neles buscavam a sua segurança: “Os habitantes dos confins da terra temerão os teus sinais” (Sl 65,9; cf. Br 6,66). Estes “sinais”, retirados de textos proféticos do AT, destinam-se a ajudar os discípulos a fazer uma leitura profética dos acontecimentos. E assim como, quando Deus se revelava no AT, essa revelação era descrita com a ajuda de fenómenos naturais, localizados (Ex 19,18; Sl 18,8-18), também o alcance da vinda de Cristo é significado por fenómenos de dimensão cósmica: a) “haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas” (Jl 3,3s; Is 13,10), no céu; b) ”na terra angústia entre as nações” (Is 24,19). c) “O rugido do mar e das ondas” (Sl 65,8; 46,4; 89,10; Sb 5,22), símbolo das forças do mal, que só Deus pode dominar (Sl 89,9; Jb 1,15) d) e os “poderes celestes” que serão “abalados” (passivo divino, “por Deus”: Is 34,4; Ag 2,6.21; Jl 4,16; Ap 6,13s), farão “as nações” – os gentios que não têm fé – ficar cheios de “angústia” e de “perplexidade” (gr. aporía: Is 8,22).
 
* v. 26. “Os homens desfalecerão com medo” (cf. Sr 40,1-11; Jn 1,10.15) por não saberem o que “vai sobrevir ao mundo habitado” (gr. oikoméne, a humanidade). Mas quem crê em Cristo, sabe que Ele é o único Criador e Senhor do universo que tudo comanda e, por isso, põe nele toda a sua confiança, certo de que Ele, aqui e sempre, vem ao seu encontro.
 
* v. 27. O ponto central do texto é, pois, o anúncio da vinda do “Filho do Homem numa nuvem com grande poder e glória”. É uma citação de Dn 7,13 (Mc 14,62; Mt 26,64; At 1,11; Ap 1,7) que indica que Jesus, “o Filho do homem, vem” (12,40). Ele vem, envolto na nuvem da história, em cada pessoa e acontecimento, mas no último dia há de revelar-se a todos: “com grande poder”, como o Senhor que vence a morte e renova todo o universo; e com “grande glória” (9,26), manifestando a sua divindade e tornando tudo participante da sua ressurreição.
 
* v. 28. Com tal esperança, os discípulos são exortados a, logo desde o início, “erguer-se”, afastando-se do desânimo (Hb 12,3.12) e do pecado, e a “levantar a cabeça” (Jb 10,15; Dn 13,35) com confiança, certos da vitória de Cristo (Rm 8,37; 1Cor 15,57), porque “se aproxima a sua redenção” (cf. Hen 51,2). A “redenção” (gr. apolytrôsis: 1,68; 2,38) é a libertação dum cativo ou dum escravo mediante o pagamento de um resgate. É uma imagem típica de Paulo (1Cor 1,30; Rm 3,24; 8,23; Cl 1,14; Ef 1,14; 4,30), de quem Lucas foi companheiro (Cl 4,14; 2Tm 4,11). Descreve a obra salvífica de Cristo que, pela sua morte e ressurreição, libertou o homem da miséria e da ignomínia (cf. Jb 10,15) do pecado e da morte.
 
* v. 34. O texto conclui com a exortação final de Jesus antes de entrar em Jerusalém. É própria de Lucas. A imagem, de cariz paulino, descreve a vida cristã a partir dos combates de gladiadores na arena (1Cor 9,24; 1Tm 6,12; 2 Tm 4,7; Hb 12,1): o treino cuidadoso, a sobriedade e o regime alimentar rigoroso, para estar em forma; a atenção ao reciário, para não o deixar aproximar-se, ficar preso na sua rede e ser morto por ele; o esforço por poder comparecer de pé no fim, diante do rei, que assiste ao combate, e de cuja decisão depende a vida e a morte. É preciso aplicar-se à vida cristã, dedicar-se de alma e coração ao Senhor, renunciando a tudo o que dele afastar, tendo o cuidado de não se deixar vencer pela “devassidão” (lit. “ressaca” das orgias, dos vícios, do consumo, do prazer: Rm 13,13; Is 5,11ss), a embriaguez (12,45; Mt 24,49; 1Ts 5,6ss; Gl 5,21; Rm 13,13; Ef 5,18) e as preocupações da vida (12,22; 8,14p; 10,41; Mc 4,19; 1Cor 7,29-32), que escravizam a pessoa e a faz cair no torpor, na ansiedade e depressão, impedindo-a de se levantar e acolher na sua vida o Senhor que vem. Muitos vivem alienados do presente, presos que estão ao passado ou preocupados com o futuro, agitados por tantos medos, quantas esperanças nutrem, não “tendo tempo para o Senhor” que vem ao seu encontro apenas no hoje, aqui e agora, não o reconhecendo e rejeitando assim a sua oferta de salvação (2Cor 6,2).
v. 35. Jesus fundamenta a sua exortação, lembrando que ninguém está livre de perigo, nem é imune a situações que se podem abater sobre si “como um laço”, isto é, uma armadilha mortal (Js 23,13; Sl 9,16; 57,7; 69,23; Qo 9,12; Os 9,7; Is 8,14; 24,17; Sb 14,11; 1Ts 5,3). “O Dia” chegará a todos, sem exceção (Jr 25,29), pois todos têm de comparecer perante Cristo (2Cor 5,10; Rm 14,10): os que tiverem morrido, na hora da morte; toda a humanidade, quando Ele vier no último dia, na glória.
 
* v 36: cf. Mc 13,33; 14,38p. Jesus termina com uma exortação final à vigilância e oração. “Vigiar” (Cl 4,2; Ef 5,18; 1Pd 4,7; 5,8) é estar desperto, crescer numa fé viva e expectante, alimentada pela Palavra de Deus, aberta aos apelos de Deus e atenta à sua voz, capaz de reconhecer a sua presença e discernir a sua vontade, a fim de a pôr em prática em cada situação da vida. “Orar” é manter um diálogo pessoal e amigo, uma relação íntima e amorosa com o Senhor, estreitando a união com Ele, abandonando-se a Ele e deixando-se conduzir por Ele. Este diálogo pessoal com o Senhor, alimentado, “vigiando”, de noite (porque então se trabalhava de sol a sol), deve ser diário e estender-se a “todo o tempo” (18,1; 1Ts 5,17; Rm 12,12; Ef 6,18). “Tempo” (gr. kairós) não é a hora cronológica (gr. krónos), mas a ocasião oportuna, o momento da graça. Só a fé e a oração permitem “remir o tempo” (Ef 5,16), descobrindo a presença do Senhor em tudo – tudo é graça – e correspondendo-lhe com amor. Só assim se estará preparado, para poder “escapar de todas essas coisas que estão para acontecer e comparecer de pé diante do Filho do homem” (cf. Ef 6,11ss), para dele receber a coroa da glória eterna (cf. 2Tm 4,7s).
 
Reflexão:
1. Qual é a minha atitude perante a notícia de catástrofes ou anúncios de fim do mundo difundidas pelos meios de comunicação social?
2. Que atitudes devo cultivar, que medidas vou tomar, que meios vou usar neste Advento para estar mais atento e pronto para acolher o Senhor que vem ao meu encontro? Há algum vício que devo deixar, algum pecado que devo evitar, alguma preocupação que Lhe devo confiar, para O acolher melhor no meu coração e na minha vida?

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