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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

XXVIII Domingo do Tempo Comum

 Bta. Beata Alexandrina Mª da Costa (de Balasar), virgem
 
1ª Leitura (Sab 7,7-11):
Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos ceptros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis.
 
Salmo Responsorial: 89
R. Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de alegria.
 
Ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração. Voltai, Senhor! Até quando? Tende piedade dos vossos servos.
 
Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade, para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias. Compensai em alegria os dias de aflição, os anos em que sentimos a desgraça.
 
Manifestai a vossa obra aos vossos servos e aos seus filhos a vossa majestade. Desça sobre nós a graça do Senhor. Confirmai em nosso favor a obra das nossas mãos.
 
2ª Leitura (Heb 4,12-13): A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que devemos prestar contas.
 
Aleluia. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 10,17-30): Jesus saiu caminhando, quando veio alguém correndo, caiu de joelhos diante dele e perguntou: Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna? Disse Jesus: Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Conheces os mandamentos: não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe! Ele então respondeu: Mestre, tudo isso eu tenho observado desde a minha juventude. Jesus, olhando bem para ele, com amor lhe disse: Só te falta uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me. Ao ouvir isso, ele ficou pesaroso por causa desta palavra e foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens. Olhando em volta, Jesus disse aos seus discípulos: Como é difícil, para os que possuem riquezas, entrar no Reino de Deus. Os discípulos ficaram espantados com estas palavras. E Jesus tornou a falar: Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus! Eles ficaram mais admirados e diziam uns aos outros: Quem então poderá salvar-se? Olhando bem para eles, Jesus lhes disse: Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível! Pedro começou a dizer-lhe: Olha, nós deixamos tudo e te seguimos. Jesus respondeu: Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida - casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições -, e no mundo futuro, vida eterna.
 
«Foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens»
 
Rev. D. Xavier SERRA i Permanyer (Sabadell, Barcelona, Espanha)
 
Hoje vemos como Jesus, que nos ama, quer que todos entremos no Reino dos céus. Daí esta advertência tão severa aos ricos. Também eles estão chamados a entrar nele. Mas sim, eles têm uma situação mais difícil para se abrir a Deus. As riquezas podem fazer crer que já têm tudo; têm a tentação de pôr a própria segurança e a confiança em suas possibilidades e riquezas, sem se dar conta de que a confiança e a segurança deve-se pôr em Deus. Mas não somente de palavra: é fácil dizer Sagrado Coração de Jesus, em vos confio, mas é difícil dizê-lo com a vida. Se somos ricos, quando digamos essa jaculatória de coração, trataremos de fazer de nossas riquezas um bem para os demais, nos sentiremos administradores dos bens que Deus nos tem dado.
 
Acostumo ir à Venezuela em missão, e ali realmente, na pobreza, ao não ter muitas seguranças humanas, as pessoas se dão conta de que a vida pendura de um fio, que sua existência é frágil. Essa situação lhes facilita ver que é Deus quem lhes dá consistência, que suas vidas estão nas mãos de Deus. Ao contrário, aqui em nosso mundo consumista, temos tantas coisas que podemos cair na tentação de crer que elas nos outorgam segurança, que nos seguram com uma grande corda. Mas na realidade, ao igual que os pobres, estamos pendurados por um fio. Dizia a Mãe Teresa: Deus não pode encher o que está cheio de outras coisas; temos o perigo de ter a Deus como um elemento mais em nossa vida, um livro a mais na biblioteca; importante, sim, mas um livro a mais. E, portanto, não considerá-lo em verdade como nosso Salvador.
 
Mas tanto os ricos como os pobres, ninguém se pode salvar por si mesmo: Quem então poderá salvar-se? (Mc 10,26), exclamarão os discípulos. Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível!(Mc 10,27), responderá Jesus. Confiemo-nos todos e plenamente à Jesus, e que essa confiança se manifeste em nossas vidas.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A pobreza acompanhou Cristo na cruz: com Cristo foi sepultada, com Cristo foi ressuscitada, com Cristo subiu ao céu. As almas que se apaixonam pela pobreza recebem, ainda nesta vida, a leveza para voar para o céu» (S. Francisco de Assis)
 
«O jovem não se deixou conquistar pelo olhar amoroso de Jesus, e por isso não conseguiu mudar. Só acolhendo o amor do Senhor com humilde gratidão é que nos libertamos da sedução dos ídolos: eles prometem a vida, mas causam a morte» (Francisco)
 
«(...) Nos três evangelhos sinópticos, o apelo de Jesus ao jovem rico, para O seguir na obediência de discípulo e na observância dos preceitos, está associado ao apelo à pobreza e à castidade. Os conselhos evangélicos são inseparáveis dos mandamentos» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.053)
 
Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «... vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres ...; depois, vem e segue-me.»
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
* O evangelho deste 28º Domingo do Tempo Comum conta a história de um jovem que pergunta a Jesus qual é o caminho para alcançar a vida eterna.
Jesus dá-lhe uma resposta mas o jovem não a aceita porque era muito rico. A riqueza oferece uma certa segurança às pessoas que encontram dificuldade em privarem-se desta segurança. Ligados aos benefícios dos seus bens, estas pessoas vivem preocupadas em defender os seus próprios interesses. O pobre não tem esta preocupação e por isso acha-se mais livre. Mas há pobres com mentalidade de rico. São pobres, mas não são “pobres de espírito” (Mt 5, 3). Não só a riqueza mas também o desejo de riqueza pode transformar a pessoa e torná-la escrava dos bens deste mundo. Terão dificuldade em aceitar o convite de Jesus: “Vai, vende tudo o que tens e dá-lo aos pobres e terás um tesouro no céu, e toma a tua cruz e segue-me” (Mc 10, 21). Não dará o passo que Jesus pede. E eu, sou capaz de deixar tudo pelo Reino?
 
* O evangelho deste Domingo descreve a conversão progressiva, que segundo o convite de Jesus, deve acontecer na nossa relação com os bens materiais. Para se compreender totalmente as instruções de Jesus é bom recordar o contexto mais amplo em que Marcos coloca estes textos. Jesus caminha para Jerusalém onde será crucificado (Mc 8, 27; 9, 30.33; 10, 1.17.32). Está para dar a sua vida. Sabe que vai ser morto mas não recua. E diz: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos” (Mc 10, 45). Esta atitude de fidelidade e de entrega à missão recebida do Pai dá-lhe as condições para indicar o que é realmente importante na vida.
 
* As recomendações de Jesus valem para todos os tempos, tanto para as pessoas do seu tempo e dos tempos de Marcos, como para nós hoje, que vivemos no século XXI. São como espelhos onde se reflete o que é verdadeiramente importante na vida, ontem e hoje: recomeçar sempre de novo a construção do Reino, renovando as relações humanas a todos os níveis, seja entre nós, de nós com Deus, como com os bens materiais.
 
* Marcos 10, 17-19: Os mandamentos e a vida eterna. Uma pessoa aproxima-se e pergunta: “Bom mestre, que devo fazer para ter em herança a vida eterna?”. O evangelho de Mateus diz que se trata de um jovem (Mt 19, 20-22). Jesus responde bruscamente: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus”. Jesus desvia a atenção de si mesmo e orienta-a para Deus porque interessa-lhe fazer a vontade do Pai, revelar o Projeto do Pai. Em seguida Jesus diz: “Conheces os mandamentos: não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, honra o teu pai e a tua mãe”. O jovem pedira o que fazer para ter como herança a vida eterna. Queria viver junto a Deus! E Jesus recorda-lhe unicamente os mandamentos que indicam uma vida de relação com o próximo. Para Jesus, estamos bem com Deus se estivermos bem com o próximo. A porta para chegar a Deus é o próximo. Não há outra!
 
* Marcos 10, 20: Para que serve cumprir os mandamentos? O jovem responde que já observava os mandamentos desde há muito tempo. O que é estranho é o que se segue. O jovem queria saber qual é o caminho da vida eterna. Agora, o caminho da vida eterna era e continua a ser fazer a vontade de Deus expressa nos mandamentos. Quer dizer que aquele homem observava os mandamentos sem saber para que serviam. Não sabia que a observância dos mandamentos que ele praticava desde a infância, era o caminho para chegar a Deus, a vida eterna. É como muitos católicos de hoje que não sabem para que serve ser católico. “Nasci em Portugal, nasci na Espanha, nasci em Itália, por isso sou católico”. Um costume!
 
* Marcos 10, 21-22: Compartilhar os bens com os pobres. “Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me»”. Jesus não condena o jovem, não o critica, mas procura ajudá-lo a dar um passo em frente. A conversão que Jesus quer é progressiva. A observância dos mandamentos é somente o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e leva cada vez mais alto. Jesus pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para poder chegar ao dom total de si mesma a favor do próximo. Os Dez Mandamentos são o caminho para chegar à prática perfeita dos dois mandamentos: do amor a Deus e do amor ao próximo (Mc 12, 29-31; Mt 7, 12). Jesus pede muito, mas pede com muito amor. O jovem não aceita a proposta de Jesus e retira-se “porque era muito rico”.
 
* Marcos 10, 23-27: O camelo e o olho da agulha. Depois do jovem se retirar Jesus comenta a sua decisão: “ Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus!”. Os discípulos ficam estupefatos. Jesus repete a mesma frase e acrescenta um provérbio que era usado para indicar uma coisa que humanamente era impossível: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. Os discípulos ficam admirados com a afirmação de Jesus, sinal de que não tinham entendido a resposta de Jesus dada ao jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens e dá-lo aos pobres e vem e segue-me!”. O jovem cumpria os mandamentos mas sem entender porque os observava. Algo parecido estava a acontecer com os discípulos. Para seguir Jesus abandonaram tudo (Mc 1, 18-20) mas sem entender o porquê do abandono. Porque se o tivessem entendido não teriam ficado assombrados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo de riqueza ocupa o coração e o interesse da pessoa ela não consegue entender o sentido da vida e do Evangelho. Só o próprio Deus a pode ajudar: “Para os homens isto é impossível, mas não para Deus. Porque para Deus tudo é possível”.
 
* Quando Jesus fala da quase impossibilidade do facto de que “um rico entre no Reino de Deus”, refere-se, não em primeiro lugar à entrada no céu depois da morte, mas à comunidade formada à volta de Jesus. Até hoje, é muito difícil um rico entrar numa pequena comunidade eclesial de base e juntar-se aos pobres e sentar-se junto deles, para assim seguir Jesus.
 
* Marcos 10, 28-30: O diálogo entre Jesus e Pedro. Pedro cria que “entrar no reino de Deus” era o mesmo que seguir Jesus na pobreza, pelo que pergunta: “Nós deixamos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?”. Apesar do abandono, Pedro continuava com a mentalidade inicial. Todavia não havia compreendido o sentido do serviço e da gratuitidade. Ele e os seus companheiros abandonaram tudo para receber qualquer coisa em troca. Qual será a nossa recompensa? A resposta de Jesus é simbólica. Deixa entrever que não devem esperar nenhuma vantagem, nenhuma segurança, nenhuma promoção. Receberão o cêntuplo, isto sim! Mas com perseguições nesta vida. No mundo futuro terão a vida eterna de que falava o jovem rico. “Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna”.
 
* Jesus e a preferência pelos pobres.
Uma dupla escravidão recaía sobre o povo da Galileia no tempo de Jesus: 1) – a escravidão política de Herodes, apoiada pelo império romano, mantinha por todo o lado um sistema bem-organizado de violência e repressão. 2) – a escravidão da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Devido a isto a família, a comunidade, o clã, desintegravam-se pouco a pouco e uma grande parte das pessoas vivia marginalizada, sem um lugar, uma religião e uma sociedade. Para combater esta desintegração da vida comunitária e familiar, existiam diversos movimentos que, como Jesus, procuravam um novo modo de viver e conviver em comunidade. Por exemplo, os essênios, os fariseus, e mais tarde os zelotes, todos eles viviam em comunidade. Na comunidade de Jesus, por exemplo, havia algo de novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude em relação aos pobres e marginalizados.
 
* As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separados do povo impuro. Muitos fariseus consideravam o povo ignorante e maldito (Jo 7, 49), cheio de pecados (Jo 9, 34). Não aprendiam nada das pessoas (Jo 9, 34). Jesus e a sua comunidade, pelo contrário, viviam misturados com os marginalizados, considerados impuros: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2, 16; 1, 41; Lc 7, 37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que possuem Mt 11, 25-26; Lc 21, 1-4). Proclama-os bem-aventurados porque o Reino pertence aos pobres (Lc 6, 20); Mt 5, 3). Ele mesmo vive como um pobre. Não tem nada próprio, nem sequer uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9, 58). E aos que queriam segui-lo para viver com Ele em comunidade propõe-lhes a escolha: ou Deus ou o dinheiro (Mt 6, 24)! Manda fazer esta escolha por causa dos pobres (Mc 10, 21).
 
* A  pobreza que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23, 25), os discípulos de Jesus não podiam levar nada consigo: nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem alforje, nem sandálias (Mt 10, 9-10). Deviam confiar na hospitalidade (Lc 9, 4; 10, 5-6). No caso de serem acolhidos pelas pessoas, deveriam trabalhar como os outros e viver do que tinham recebido em troca (Lc 10, 7-8). Deviam ocupar-se dos enfermos e necessitados (Lc 10, 9; Mt 10, 8). E então podiam dizer às pessoas “O Reino de Deus chegou” (Lc 10, 9).
 
* Por outro lado, quando se trata de administrar os bens, o que chama a atenção nas parábolas de Jesus é a seriedade que pede no uso destes mesmos bens (Mt 25, 21.26; Lc 19, 22-23). Jesus quer que o dinheiro seja colocado ao serviço da vida (Lc 16, 9-13). Para Jesus ser pobre não é sinónimo de ser preguiçoso e negligente.
 
* Este testemunho a favor dos pobres era o passo que faltava no movimento popular da época dos  fariseus, essênios e zelotes. Cada vez que na Bíblia surge um movimento para renovar a Aliança, começa de novo a ser estabelecido o direito dos pobres e marginalizados. Sem isto, a Aliança não é possível. Assim faziam os Profetas, assim fazia Jesus. Denuncia o antigo sistema que em nome de Deus excluía os pobres. Jesus anuncia um novo começo que em nome de Deus acolhe os marginalizados. Este é o sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos povos. Vai à raiz e inaugura a Nova Aliança.

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