Sto. Alberto de Trapani, presbítero da nossa Ordem
São
Caetano de Thiene, presbítero
1ª
Leitura (Jer 31,1-7): «Naquele tempo – diz o Senhor – serei o Deus de
todas as tribos de Israel e elas serão o meu povo». Assim fala o Senhor: «O
povo que escapou à espada foi favorecido no deserto: Israel vai chegar ao seu
repouso». De longe o Senhor apareceu-lhe, dizendo: «Amei-te com amor eterno;
por isso tive compaixão de ti. Hei-de edificar-te novamente e serás
reconstruída, virgem de Israel. Voltarás a adornar-te com os teus tamborins,
para tomar parte em danças festivas. De novo plantarás vinhas nos montes da
Samaria e aqueles que as plantarem colherão os seus frutos. Porque virá um dia
em que as sentinelas gritarão sobre os montes de Efraim: ‘Levantai-vos! Subamos
a Sião, ao encontro do Senhor, nosso Deus’». Assim fala o Senhor: «Soltai
brados de alegria por causa de Jacob, aclamai a primeira das nações. Fazei
ouvir os vossos louvores e proclamai: ‘O Senhor salvou o seu povo, o resto de
Israel’».
Salmo
Responsorial: Jer 31
R. Como o pastor guarda o seu
rebanho, assim nos guarda o Senhor.
Escutai, ó povos, a palavra do
Senhor e anunciai-a às ilhas distantes: Aquele que dispersou Israel vai
reuni-lo e guardá-lo como um pastor ao seu rebanho.
O Senhor resgatou Jacob e
libertou-o das mãos do seu dominador. Regressarão com brados de alegria ao
monte Sião, acorrendo às bênçãos do Senhor.
A virgem dançará alegremente,
exultarão os jovens e os velhos. Converterei o seu luto em alegria e a sua dor
será mudada em consolação e júbilo.
Aleluia. Apareceu entre nós um
grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
Evangelho
(Mt 15,21-28): Naquele tempo, Jesus foi para a região de Tiro e Sidônia.
Uma mulher Cananéia, vinda daquela região, pôs-se a gritar: «Senhor, filho de
Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente atormentada por um
demônio!». Ele não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos aproximaram-se
e lhe pediram: «Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós».
Ele tomou a palavra: «Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de
Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante de Jesus e começou a implorar:
«Senhor, socorre-me!». Ele lhe disse: «Não fica bem tirar o pão dos filhos para
jogá-lo aos cachorrinhos». Ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas os
cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!». Diante
disso, Jesus respondeu: «Mulher, grande é tua fé! Como queres, te seja feito!».
E a partir daquela hora, sua filha ficou curada.
«Mulher, grande é tua fé»
Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Vic,
Barcelona, Espanha)
Hoje, frequentemente, escutamos
expressões como já não existe mais fé!, e o dizem pessoas que pedem às nossas
comunidades o batismo de seus filhos ou a catequese das crianças ou o
sacramento do matrimônio. Essas palavras refletem uma visão negativa do mundo,
mostra o convencimento de que em qualquer tempo passado as coisas eram melhores
do que agora e que estamos no fim de uma etapa em que não há nada novo a dizer,
nem tampouco nada de novo a fazer. Evidentemente são pessoas jovens que, em sua
maioria, veem com certa tristeza que o mundo mudou muito, desde o tempo de seus
pais, que talvez vivessem uma fé mais popular, a qual eles não se souberam
ajustar. Esta experiência os deixa insatisfeitos e sem capacidade de reação
quando, na verdade, quem sabe, não estão às portas de uma nova etapa que
deveriam aproveitar.
Esta passagem do Evangelho chama
a nossa atenção para aquela mãe Cananéia que pede uma graça para sua filha,
reconhecendo em Jesus o Filho de Davi: «Senhor, filho de Davi, tem compaixão de
mim: minha filha é cruelmente atormentada por um demônio!» (Mt 15,22). O Mestre
é surpreso: «Mulher, grande é tua fé!», e não pode fazer outra coisa senão
atuar em favor daquelas pessoas: «Como queres, te seja feito!» (Mt 15,28),
ainda que isto não pareça estar em seus planos. Apesar da realidade humana, a
graça de Deus sempre se manifesta.
A fé não é patrimônio de uns
quantos, nem tampouco é propriedade dos que se creem bons ou dos que o foram,
ou de quem tem esta etiqueta social ou eclesial. A ação de Deus precede a ação
da Igreja e, o Espírito Santo está atuando já em pessoas que não havíamos
suspeitado que nos trouxessem uma mensagem de parte de Deus, uma solicitação em
favor dos mais necessitados. Diz São Leão: «Amados meus, a virtude e a
sabedoria da fé cristã são o amor a Deus e ao próximo: nada falta a nenhuma
obrigação de piedade a quem procura dar culto a Deus e a ajudar a seu irmão».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«É certo que a verdade foge
sempre das mentes que não são humildes» (Santo Agostinho)
«O Ser de Deus é o que há de mais
verdadeiro: é o eterno, a origem e o fundamento de tudo. E Cristo é a imagem
encarnada dessa Verdade» (Bento XVI)
«Muitíssimas vezes, nos
evangelhos, aparecem pessoas que se dirigem a Jesus chamando-lhe «Senhor». Este
título exprime o respeito e a confiança dos que se aproximam de Jesus (...) `É
o Senhor!´ (Jo 21, 7)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 448)
Reflexão
• Contexto. O pão dos
filhos e a grande fé de uma mulher cananeia é a questão apresentada por esta
passagem do capítulo 15 de Mateus, que propõe ao leitor do seu Evangelho um
posterior aprofundamento da fé em Cristo. O episódio é precedido por uma
iniciativa dos escribas e fariseus chegados de Jerusalém, que causam um
encontro de curta duração com Jesus, até que ele se afastou com os seus
discípulos para se retirar à região de Tiro e Sidônia.
Enquanto ia pelo caminho, é
alcançado por uma mulher que vem de lugares pagãos. Mateus apresenta esta
mulher com o nome de "cananeia", que aparece no Antigo Testamento com
toda a sua dureza. No livro do Deuteronômio, os habitantes de Canaã são vistos
como um povo cheio de pecado e por consequência um povo mau e idólatra.
• Dinâmica da história.
Enquanto Jesus desenvolvia sua atividade na Galileia e está a caminho de Tiro e
de Sidônia, uma mulher se aproxima dele e começa a incomodá-lo com um pedido de
ajuda para sua filha doente. A mulher aborda Jesus com o título de "filho
de Davi", um título que soa estranho na boca de um pagão e poderia se
justificar pela extrema necessidade em que vivia aquela mulher. Poderia se
pensar que esta mulher já acreditava de alguma forma na pessoa de Jesus como o
salvador final, mas se exclui visto que só no v. 28 aparece reconhecido seu ato
de fé, precisamente por Jesus.
No diálogo com a mulher, parece
que Jesus mostra a mesma distância e desconfiança que existia entre o povo de
Israel e os pagãos. Por um lado, Jesus manifesta à mulher a prioridade de
Israel em relação à salvação, e diante do insistente pedido de sua interlocutora,
Jesus parece tomar distância, uma atitude incompreensível para o leitor, mas na
intenção de Jesus expressa um alto valor pedagógico. A primeira súplica
"Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de Davi", Jesus não responde.
À segunda intervenção, desta vez pelos discípulos que o convidam para atender a
mulher, apenas expressa uma rejeição que sublinha a distância secular entre o
povo escolhido e os povos pagãos (vv. 23b-24). Mas, devido a insistência da
mulher que se prostra ante Jesus, segue uma resposta difícil e misteriosa:
"Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos" (v. 26). Ela vai
além da dureza das palavras de Jesus e apega a um pequeno sinal de esperança: a
mulher reconhece que o plano de Deus que Jesus realiza inicialmente afeta o povo
escolhido e Jesus pede a observância deste prioridade; a mulher explora esta
prioridade, a fim de apresentar um motivo forte para o milagre: “os
cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos” (v.
27). A mulher superou a prova de fé: "Ó mulher, grande é tua fé!" (v.
28); na verdade, à humilde insistência de sua fé, Jesus responde com um gesto
de salvação.
Este episódio dirige a todo
leitor do Evangelho um convite para ter uma atitude de "abertura"
para todos, crentes ou não, ou seja, disponibilidade e aceitação sem reserva
para qualquer pessoa.
Para um confronto pessoal
1. A palavra Deus
convida-o a romper seu fechamento e seus esquemas pequenos. Você é capaz de
acolher todos os irmãos que vêm até você?
2. Você está ciente de sua
pobreza para ser capaz, como a cananéia, de confiar na palavra salvadora de
Jesus?
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