São
Lourenço de Brindisi, presbítero e doutor da Igreja
1ª
Leitura (Jer 23,1-6): Diz o Senhor: «Ai dos pastores que perdem e
dispersam as ovelhas do meu rebanho!». Por isso, assim fala o Senhor, Deus de
Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas
e as escorraçastes, sem terdes cuidado delas. Vou ocupar-Me de vós e
castigar-vos, pedir-vos contas das vossas más ações – oráculo do Senhor. Eu
mesmo reunirei o resto das minhas ovelhas de todas as terras onde se
dispersaram e as farei voltar às suas pastagens, para que cresçam e se
multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as apascentem e não mais terão medo nem
sobressalto; nem se perderá nenhuma delas – oráculo do Senhor. Dias virão, diz
o Senhor, em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro
rei e governará com sabedoria; há-de exercer no país o direito e a justiça. Nos
seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome:
‘O Senhor é a nossa justiça’».
Salmo
Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada
me faltará.
O Senhor é meu pastor: nada me
falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e
reconforta a minha alma.
Ele me guia por sendas direitas
por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não
temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo
me enchem de confiança.
Para mim preparais a mesa à vista
dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça, e o meu cálice
transborda.
A bondade e a graça hão de
acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para
todo o sempre.
2ª
Leitura (Ef 2,13-18): Irmãos: Foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe
de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de
facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o
muro da inimizade que os separava, anulando, pela imolação do seu corpo, a Lei
de Moisés com as suas prescrições e decretos. E assim, de uns e outros, Ele fez
em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com
Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte à
inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis
longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos
aproximar-nos do Pai, num só Espírito.
Aleluia. As minhas ovelhas
escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas
seguem-Me. Aleluia.
Evangelho
(Mc 6,30-34): Naquele tempo, os apóstolos se reuniram junto de Jesus e
lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Ele disse-lhes: «Vinde, a sós,
para um lugar deserto, e descansai um pouco!» Havia, de fato, tanta gente
chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco,
para um lugar deserto, a sós. Muitos os viram partir e perceberam a intenção;
saíram então de todas as cidades e, a pé, correram à frente e chegaram lá antes
deles. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão
por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a
ensinar-lhes muitas coisas.
«Vinde, a sós, para um lugar
deserto, e descansai um pouco!»
Rev. D. David AMADO i Fernández (Barcelona,
Espanha)
Hoje, o Evangelho nos convida a
descobrir a importância de descansar no Senhor. Os apóstolos voltavam da missão
que Jesus lhes havia dado. Haviam expulsado demônios, curado doentes e pregado
o Evangelho. Estavam cansados e Jesus lhes disse: «vinde, a sós, para um lugar
deserto, e descansai um pouco!» (Mc 6, 31).
Uma das tentações a que pode
sucumbir qualquer cristão é a de querer fazer muitas coisas descuidando do
trato com o Senhor. O Catecismo recorda que, na hora de fazer oração, um dos
maiores perigos é pensar que há outras coisas mais urgentes e, dessa forma, se
acaba descuidando do trato com Deus. Por isso Jesus, a seus Apóstolos, que
trabalharam muito, que estavam esgotados e eufóricos porque tudo lhes correu
bem, manda que descansem. E, acrescenta o Evangelho «foram, então, de barco,
para um lugar deserto, a sós» (Mc 6,32). Para poder rezar bem são necessárias,
ao menos duas coisas: a primeira é estar com Jesus, porque é a pessoa com que
vamos falar. Temos que ter certeza de que estamos com Ele. Por isso todo tempo
de oração começa, geralmente, e é o mais difícil, com um ato de presença de
Deus. Tomar consciência de que estamos com Ele. E a segunda é a necessidade de
solidão. Se queremos falar com alguém, ter uma conversa íntima e profunda,
escolhemos um lugar isolado.
São Pedro Julião Eymard
recomendava descansar em Jesus depois de comungar. E advertia do perigo de
encher a ação de graças com muitas palavras ditas de cabeça. Dizia, que depois
de receber o Corpo de Cristo, o melhor é estar um tempo em silêncio, para repor
nossas forças deixando que Jesus nos fale no silêncio do nosso coração. Às
vezes, muito melhor do que explicar a Ele nossos projetos é deixar que Jesus
nos instrua e anime.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Ele, enquanto Deus, está acima
do sofrimento; sofre por causa do Seu amor pelos homens. A emoção invade-Lhe o
coração. Não está apenas comovido, mas cura-os de todas as suas enfermidades e
livra-os de todo o mal» (Orígenes)
«Jesus encarna Deus Pastor com o
seu modo de pregar e com as suas obras, ocupando-se dos doentes e dos
pecadores, de quantos estão «perdidos», para os reconduzir para um lugar
seguro, na misericórdia do Pai» (Bento XVI)
C(...) pelo fato de Cristo se
tomar `a Cabeça´ deste povo que é, desde então, o seu corpo. À volta deste
centro, agrupam-se imagens tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da
construção ou também da família e matrimónio» (Catecismo da Igreja Católica, nº
753)
Jesus viu uma grande multidão
e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor.
Ordem do Carmo em Portugal.
* O texto que meditamos
neste 16º Domingo do Tempo Comum é pequeno. É constituído por cinco versículos.
À primeira vista, estas poucas linhas parecem ser uma introdução ao milagre da
multiplicação dos pães no deserto (Mc 6, 34-44). Mas se a liturgia deste Domingo
o separou do resto e realçou estes cinco versículos, quer dizer que têm algo de
muito importante que talvez não se notasse se servissem unicamente de
introdução ao milagre da multiplicação dos pães.
* Estes cinco versículos
mostram uma característica de Jesus que sempre chamou a atenção e continua a
chamar: a sua preocupação pela saúde e formação dos discípulos, a sua
humanidade acolhedora em relação ao povo pobre da Galileia, a sua ternura para
com as pessoas. Se a Igreja, por intermédio da liturgia do Domingo, nos convida
a refletir sobre estes aspectos das atividades de Jesus é para nos animar a
continuar esta mesma conduta na nossa relação com os outros. Durante a sua
leitura prestaremos atenção aos mínimos pormenores do comportamento de Jesus
para com os outros.
* O capítulo 6º de Marcos
mostra um grande contraste. Por um lado, Marcos fala do banquete da morte,
promovido por Herodes com os poderosos da Galileia, no palácio da capital,
durante o qual João Baptista será assassinado (Mc 6, 17-29). Por outro, o
banquete da vida, promovido por Jesus para as pessoas da Galileia, mortas de
fome no deserto, para que não perecessem no caminho (Mc 6, 35-44). Os cinco
versículos da leitura deste Domingo (Mc 6, 30-34) estão colocados exatamente
entre estes dois banquetes. Estes cinco versículos põem em relevo duas coisas:
dão um retrato de Jesus formador dos discípulos e indicam que anunciar a Boa
Nova de Jesus não é só uma questão de doutrina, mas sobretudo de acolhimento,
bondade, ternura, disponibilidade, revelação do amor de Deus.
* Marcos 6, 30-34: O
acolhimento dado aos discípulos. Estes versículos indicam que Jesus formava
novos leaders. Comprometia os discípulos na missão e costumava levá-los
imediatamente para um lugar mais tranquilo para poderem descansar e fazer uma
revisão (Lc 10, 17-20). Preocupava-se com a sua alimentação e com o seu
descanso, porque o trabalho da missão era tal que nem tinham tempo para comer
(cf. Jo 21, 9-13).
* Marcos 6, 33-34: Movido pela
compaixão Jesus altera o seu plano e acolhe o povo. As pessoas deram-se
conta de que Jesus fora para a outra margem do lago e seguiram-no. Quando
Jesus, ao descer da barca, viu aquela multidão, renunciou ao descanso e começou
a ensinar. Aqui aparece o abandono das pessoas. Jesus fica comovido “porque eram
como ovelhas sem pastor”. Quem ler estas palavras recordará o salmo do Bom
Pastor (Sl 123). Quando Jesus se dá conta de que as pessoas não têm pastor,
começa ele a sê-lo. Guia a multidão no deserto da vida e a multidão podia
cantar assim: “O Senhor é o meu Pastor! Nada me falta!”.
Um retrato de Jesus formador
* “Seguir” era o termo que
fazia parte do sistema educativo da época. Usava-se para indicar a relação
entre o discípulo e o mestre. A relação mestre-discípulo é diferente da de
professor-aluno. Os alunos assistem às aulas do professor sobre determinada matéria.
Os discípulos “seguem” o mestre e vivem com ele. É precisamente nesta
“convivência” de três anos com Jesus que os discípulos receberam a sua
formação.
* Jesus, o Mestre, é o
eixo, o centro e o modelo da formação. Nos seus comportamentos é uma prova do
Reino, encarna e revela o amor de Deus (Mc 6, 1; Mt 10, 30-31; Lc 15, 11-32).
Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus indicava
a sua presença na vida dos seus discípulos, preparando-os para a vida e para a
missão. Era o seu modo de dar uma forma humana à experiência que ele mesmo
tinha do Pai:
- compromete-os na missão (Mc 6,
7; Lc 9, 1-2; 10, 1);
- por sua vez, revê esta missão
com eles (Lc 10, 17-20);
- corrige-os quando erram ou
quando querem ser os primeiros (Mt 10, 13-15; Lc 9, 46-48);
- espera o momento oportuno para
os corrigir (Mc 9, 33-35);
- ajuda-os a discernir (Mc 9,
28-29);
- interpela-os quando são lentos
(Mc 4, 13; 8, 14-21);
- prepara-os para o conflito (Jo
16, 33; Mt 10, 17-25);
- manda-os observar e analisar a
realidade (Mc 8, 27-29; Jo 4, 35; Mt 16, 1-3);
- reflete com eles sobre questões
do momento (Lc 13, 1-5);
- coloca diante dos seus olhos as
necessidades da multidão (Jo 6, 5);
- corrige a mentalidade de
vingança (Lc 9, 54-55);
- ensina que as necessidades das
pessoas estão acima das prescrições rituais (Mt 12, 7.12);
- luta contra a mentalidade que
considera a enfermidade como um castigo de Deus (Jo 9, 2-3);
- passa o tempo a sós com eles
para os instruir (Mc 4, 34; 7, 17; 9, 30-31; 10, 10; 13, 3);
- sabe escutar mesmo quando o
diálogo é difícil (Jo 4, 7-42);
- ajuda-os a aceitarem-se (Lc 22,
32);
- é exigente e pede-lhes que
deixem tudo por Ele (Mc 10, 17-31);
- é severo com a hipocrisia (Lc
11, 37-53);
- dá mais perguntas do que
respostas (Mc 8, 17-21);
- é seguro e não se deixa desviar
do caminho (Mc 8, 33; Lc 9, 54-55).
* Eis aqui um retrato de
Jesus formador. A formação do “seguimento de Jesus” não era em primeiro lugar a
transmissão de verdades para serem aprendidas de memória, mas a comunicação da
nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos. A
comunidade que se formava à volta de Jesus era a expressão desta nova
experiência. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras
atitudes. Fazia nascer uma nova consciência relativamente à missão e a eles
próprios. Agia de modo que os colocava ao lado dos marginalizados. Produzia em
alguns a “conversão” por terem aceitado a Boa Nova (Mc 1, 15).
Como Jesus anuncia a Boa Nova
à multidão
* O fato da prisão de João
Baptista obriga Jesus a regressar e a começar o anúncio da Boa Nova. Foi um
começo explosivo e criativo! Jesus percorre toda a Galileia: aldeias, povoações
e cidades (Mc 1, 39). Visita as comunidades. Inclusivamente muda de residência
e vai viver para Cafarnaum (Mc 1, 21; 2, 1), cidade situada na encruzilhada de
vários caminhos, o que lhe facilita a divulgação da mensagem. Quase nunca pára,
está sempre em caminho. Os discípulos, com muito entusiasmo, vão com Ele para
onde quer que vá: nos campos, ao longo dos caminhos, na montanha, no deserto,
na barca, na sinagoga, nas casas.
* Jesus ajuda as pessoas
servindo-as de muitas maneiras: expulsa os espíritos imundos (Mc 1, 39), cura
os enfermos e os que são maltratados (Mc 11, 34), purifica os marginalizados
por causa da impureza (Mc 1, 40-45), acolhe os marginalizados e confraterniza
com eles (Mc 2, 15). Anuncia, chama e convoca. Atrai, consola e ajuda. Onde
encontra pessoas que o escutam, fala e transmite a Boa Nova, qualquer que seja
o lugar.
* Em Jesus tudo é
revelação que sai de dentro! Ele é a prova, a testemunha viva do Reino. N'Ele
aparece o que sucede quando uma pessoa deixa reinar Deus, deixa que Deus guie a
sua vida. Na sua maneira de viver e agir, Jesus revela o que Deus tinha em
mente quando chamou Abraão e Moisés. Jesus transformou a nostalgia em
esperança! De imediato as pessoas entenderam: “Isto é o que Deus queria para o
seu povo”!
* Este foi o começo do
anúncio da Boa Nova do Reino que se divulgava rapidamente pelas aldeias da
Galileia, de uma forma pequena, como uma semente, que depois cresce e se
converte numa grande árvore, onde as pessoas podem descansar debaixo dela (Mc
4, 31-32). E as pessoas encarregavam-se de difundir a notícia.
* As pessoas da Galileia
ficavam impressionadas com o modo de ensinar de Jesus: “Eis um novo ensinamento
e feito com tal autoridade... diferente do dos escribas” (Mc 1, 22.27). O que
Jesus mais fazia era ensinar (Mc 2, 13; 4, 1-2; 6, 34). Era o que costumava
fazer (Mc 10, 1). O evangelho de Marcos diz mais de quinze vezes que Jesus
ensinava. Mas Marcos quase nunca diz o que ensinava. Talvez não lhe
interessasse o conteúdo? Depende o que entendemos por conteúdo. Ensinar não
quer dizer somente ensinar verdades novas de modo que as pessoas as aprendam de
memória. O conteúdo que Jesus oferece não só se vê nas palavras mas também nos
gestos e no modo de se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está
separado da pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6, 34).
Amava as pessoas. A bondade e o amor que transpareciam nas suas palavras faziam
parte do conteúdo. São o seu temperamento. Um conteúdo bom mas sem bondade é
como um líquido derramado. Marcos define o conteúdo do ensino de Jesus como
“Boa Nova de Deus” (Mc 1, 14). A Boa Nova que Jesus proclama vem de Deus e
revela algo sobre Deus. Em tudo o que Jesus diz e faz reflete-se os traços do
rosto de Deus. Reflete a experiência que Ele mesmo tem de Deus, a experiência
do Pai. Revelar Deus como Pai é a fonte, o conteúdo e o fim da Boa Nova de
Deus.
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