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sexta-feira, 19 de julho de 2024

XVI Domingo do Tempo Comum

São Lourenço de Brindisi, presbítero e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Jer 23,1-6):
Diz o Senhor: «Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho!». Por isso, assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas e as escorraçastes, sem terdes cuidado delas. Vou ocupar-Me de vós e castigar-vos, pedir-vos contas das vossas más ações – oráculo do Senhor. Eu mesmo reunirei o resto das minhas ovelhas de todas as terras onde se dispersaram e as farei voltar às suas pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as apascentem e não mais terão medo nem sobressalto; nem se perderá nenhuma delas – oráculo do Senhor. Dias virão, diz o Senhor, em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há-de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome: ‘O Senhor é a nossa justiça’».
 
Salmo Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada me faltará.
 
O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma.
 
Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.
 
Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça, e o meu cálice transborda.
 
A bondade e a graça hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
 
2ª Leitura (Ef 2,13-18): Irmãos: Foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava, anulando, pela imolação do seu corpo, a Lei de Moisés com as suas prescrições e decretos. E assim, de uns e outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte à inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito.
 
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6,30-34): Naquele tempo, os apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Ele disse-lhes: «Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!» Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós. Muitos os viram partir e perceberam a intenção; saíram então de todas as cidades e, a pé, correram à frente e chegaram lá antes deles. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas.
 
«Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!»
 
Rev. D. David AMADO i Fernández (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos convida a descobrir a importância de descansar no Senhor. Os apóstolos voltavam da missão que Jesus lhes havia dado. Haviam expulsado demônios, curado doentes e pregado o Evangelho. Estavam cansados e Jesus lhes disse: «vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!» (Mc 6, 31).
 
Uma das tentações a que pode sucumbir qualquer cristão é a de querer fazer muitas coisas descuidando do trato com o Senhor. O Catecismo recorda que, na hora de fazer oração, um dos maiores perigos é pensar que há outras coisas mais urgentes e, dessa forma, se acaba descuidando do trato com Deus. Por isso Jesus, a seus Apóstolos, que trabalharam muito, que estavam esgotados e eufóricos porque tudo lhes correu bem, manda que descansem. E, acrescenta o Evangelho «foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós» (Mc 6,32). Para poder rezar bem são necessárias, ao menos duas coisas: a primeira é estar com Jesus, porque é a pessoa com que vamos falar. Temos que ter certeza de que estamos com Ele. Por isso todo tempo de oração começa, geralmente, e é o mais difícil, com um ato de presença de Deus. Tomar consciência de que estamos com Ele. E a segunda é a necessidade de solidão. Se queremos falar com alguém, ter uma conversa íntima e profunda, escolhemos um lugar isolado.
 
São Pedro Julião Eymard recomendava descansar em Jesus depois de comungar. E advertia do perigo de encher a ação de graças com muitas palavras ditas de cabeça. Dizia, que depois de receber o Corpo de Cristo, o melhor é estar um tempo em silêncio, para repor nossas forças deixando que Jesus nos fale no silêncio do nosso coração. Às vezes, muito melhor do que explicar a Ele nossos projetos é deixar que Jesus nos instrua e anime.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ele, enquanto Deus, está acima do sofrimento; sofre por causa do Seu amor pelos homens. A emoção invade-Lhe o coração. Não está apenas comovido, mas cura-os de todas as suas enfermidades e livra-os de todo o mal» (Orígenes)
 
«Jesus encarna Deus Pastor com o seu modo de pregar e com as suas obras, ocupando-se dos doentes e dos pecadores, de quantos estão «perdidos», para os reconduzir para um lugar seguro, na misericórdia do Pai» (Bento XVI)
 
C(...) pelo fato de Cristo se tomar `a Cabeça´ deste povo que é, desde então, o seu corpo. À volta deste centro, agrupam-se imagens tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e matrimónio» (Catecismo da Igreja Católica, nº 753)
 
Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor.
 
Ordem do Carmo em Portugal.
 
*
O texto que meditamos neste 16º Domingo do Tempo Comum é pequeno. É constituído por cinco versículos. À primeira vista, estas poucas linhas parecem ser uma introdução ao milagre da multiplicação dos pães no deserto (Mc 6, 34-44). Mas se a liturgia deste Domingo o separou do resto e realçou estes cinco versículos, quer dizer que têm algo de muito importante que talvez não se notasse se servissem unicamente de introdução ao milagre da multiplicação dos pães.
 
* Estes cinco versículos mostram uma característica de Jesus que sempre chamou a atenção e continua a chamar: a sua preocupação pela saúde e formação dos discípulos, a sua humanidade acolhedora em relação ao povo pobre da Galileia, a sua ternura para com as pessoas. Se a Igreja, por intermédio da liturgia do Domingo, nos convida a refletir sobre estes aspectos das atividades de Jesus é para nos animar a continuar esta mesma conduta na nossa relação com os outros. Durante a sua leitura prestaremos atenção aos mínimos pormenores do comportamento de Jesus para com os outros.
 
* O capítulo 6º de Marcos mostra um grande contraste. Por um lado, Marcos fala do banquete da morte, promovido por Herodes com os poderosos da Galileia, no palácio da capital, durante o qual João Baptista será assassinado (Mc 6, 17-29). Por outro, o banquete da vida, promovido por Jesus para as pessoas da Galileia, mortas de fome no deserto, para que não perecessem no caminho (Mc 6, 35-44). Os cinco versículos da leitura deste Domingo (Mc 6, 30-34) estão colocados exatamente entre estes dois banquetes. Estes cinco versículos põem em relevo duas coisas: dão um retrato de Jesus formador dos discípulos e indicam que anunciar a Boa Nova de Jesus não é só uma questão de doutrina, mas sobretudo de acolhimento, bondade, ternura, disponibilidade, revelação do amor de Deus.
 
* Marcos 6, 30-34: O acolhimento dado aos discípulos. Estes versículos indicam que Jesus formava novos leaders. Comprometia os discípulos na missão e costumava levá-los imediatamente para um lugar mais tranquilo para poderem descansar e fazer uma revisão (Lc 10, 17-20). Preocupava-se com a sua alimentação e com o seu descanso, porque o trabalho da missão era tal que nem tinham tempo para comer (cf. Jo 21, 9-13).
 
* Marcos 6, 33-34: Movido pela compaixão Jesus altera o seu plano e acolhe o povo. As pessoas deram-se conta de que Jesus fora para a outra margem do lago e seguiram-no. Quando Jesus, ao descer da barca, viu aquela multidão, renunciou ao descanso e começou a ensinar. Aqui aparece o abandono das pessoas. Jesus fica comovido “porque eram como ovelhas sem pastor”. Quem ler estas palavras recordará o salmo do Bom Pastor (Sl 123). Quando Jesus se dá conta de que as pessoas não têm pastor, começa ele a sê-lo. Guia a multidão no deserto da vida e a multidão podia cantar assim: “O Senhor é o meu Pastor! Nada me falta!”.
 
Um retrato de Jesus formador
 
* “Seguir” era o termo que fazia parte do sistema educativo da época. Usava-se para indicar a relação entre o discípulo e o mestre. A relação mestre-discípulo é diferente da de professor-aluno. Os alunos assistem às aulas do professor sobre determinada matéria. Os discípulos “seguem” o mestre e vivem com ele. É precisamente nesta “convivência” de três anos com Jesus que os discípulos receberam a sua formação.
 
* Jesus, o Mestre, é o eixo, o centro e o modelo da formação. Nos seus comportamentos é uma prova do Reino, encarna e revela o amor de Deus (Mc 6, 1; Mt 10, 30-31; Lc 15, 11-32). Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus indicava a sua presença na vida dos seus discípulos, preparando-os para a vida e para a missão. Era o seu modo de dar uma forma humana à experiência que ele mesmo tinha do Pai:
- compromete-os na missão (Mc 6, 7; Lc 9, 1-2; 10, 1);
- por sua vez, revê esta missão com eles (Lc 10, 17-20);
- corrige-os quando erram ou quando querem ser os primeiros (Mt 10, 13-15; Lc 9, 46-48);
- espera o momento oportuno para os corrigir (Mc 9, 33-35);
- ajuda-os a discernir (Mc 9, 28-29);
- interpela-os quando são lentos (Mc 4, 13; 8, 14-21);
- prepara-os para o conflito (Jo 16, 33; Mt 10, 17-25);
- manda-os observar e analisar a realidade (Mc 8, 27-29; Jo 4, 35; Mt 16, 1-3);
- reflete com eles sobre questões do momento (Lc 13, 1-5);
- coloca diante dos seus olhos as necessidades da multidão (Jo 6, 5);
- corrige a mentalidade de vingança (Lc 9, 54-55);
- ensina que as necessidades das pessoas estão acima das prescrições rituais (Mt 12, 7.12);
- luta contra a mentalidade que considera a enfermidade como um castigo de Deus (Jo 9, 2-3);
- passa o tempo a sós com eles para os instruir (Mc 4, 34; 7, 17; 9, 30-31; 10, 10; 13, 3);
- sabe escutar mesmo quando o diálogo é difícil (Jo 4, 7-42);
- ajuda-os a aceitarem-se (Lc 22, 32);
- é exigente e pede-lhes que deixem tudo por Ele (Mc 10, 17-31);
- é severo com a hipocrisia (Lc 11, 37-53);
- dá mais perguntas do que respostas (Mc 8, 17-21);
- é seguro e não se deixa desviar do caminho (Mc 8, 33; Lc 9, 54-55).
 
* Eis aqui um retrato de Jesus formador. A formação do “seguimento de Jesus” não era em primeiro lugar a transmissão de verdades para serem aprendidas de memória, mas a comunicação da nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos. A comunidade que se formava à volta de Jesus era a expressão desta nova experiência. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras atitudes. Fazia nascer uma nova consciência relativamente à missão e a eles próprios. Agia de modo que os colocava ao lado dos marginalizados. Produzia em alguns a “conversão” por terem aceitado a Boa Nova (Mc 1, 15).
 
Como Jesus anuncia a Boa Nova à multidão
 
*
O fato da prisão de João Baptista obriga Jesus a regressar e a começar o anúncio da Boa Nova. Foi um começo explosivo e criativo! Jesus percorre toda a Galileia: aldeias, povoações e cidades (Mc 1, 39). Visita as comunidades. Inclusivamente muda de residência e vai viver para Cafarnaum (Mc 1, 21; 2, 1), cidade situada na encruzilhada de vários caminhos, o que lhe facilita a divulgação da mensagem. Quase nunca pára, está sempre em caminho. Os discípulos, com muito entusiasmo, vão com Ele para onde quer que vá: nos campos, ao longo dos caminhos, na montanha, no deserto, na barca, na sinagoga, nas casas.
 
* Jesus ajuda as pessoas servindo-as de muitas maneiras: expulsa os espíritos imundos (Mc 1, 39), cura os enfermos e os que são maltratados (Mc 11, 34), purifica os marginalizados por causa da impureza (Mc 1, 40-45), acolhe os marginalizados e confraterniza com eles (Mc 2, 15). Anuncia, chama e convoca. Atrai, consola e ajuda. Onde encontra pessoas que o escutam, fala e transmite a Boa Nova, qualquer que seja o lugar.
 
* Em Jesus tudo é revelação que sai de dentro! Ele é a prova, a testemunha viva do Reino. N'Ele aparece o que sucede quando uma pessoa deixa reinar Deus, deixa que Deus guie a sua vida. Na sua maneira de viver e agir, Jesus revela o que Deus tinha em mente quando chamou Abraão e Moisés. Jesus transformou a nostalgia em esperança! De imediato as pessoas entenderam: “Isto é o que Deus queria para o seu povo”!
 
* Este foi o começo do anúncio da Boa Nova do Reino que se divulgava rapidamente pelas aldeias da Galileia, de uma forma pequena, como uma semente, que depois cresce e se converte numa grande árvore, onde as pessoas podem descansar debaixo dela (Mc 4, 31-32). E as pessoas encarregavam-se de difundir a notícia.
 
* As pessoas da Galileia ficavam impressionadas com o modo de ensinar de Jesus: “Eis um novo ensinamento e feito com tal autoridade... diferente do dos escribas” (Mc 1, 22.27). O que Jesus mais fazia era ensinar (Mc 2, 13; 4, 1-2; 6, 34). Era o que costumava fazer (Mc 10, 1). O evangelho de Marcos diz mais de quinze vezes que Jesus ensinava. Mas Marcos quase nunca diz o que ensinava. Talvez não lhe interessasse o conteúdo? Depende o que entendemos por conteúdo. Ensinar não quer dizer somente ensinar verdades novas de modo que as pessoas as aprendam de memória. O conteúdo que Jesus oferece não só se vê nas palavras mas também nos gestos e no modo de se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está separado da pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6, 34). Amava as pessoas. A bondade e o amor que transpareciam nas suas palavras faziam parte do conteúdo. São o seu temperamento. Um conteúdo bom mas sem bondade é como um líquido derramado. Marcos define o conteúdo do ensino de Jesus como “Boa Nova de Deus” (Mc 1, 14). A Boa Nova que Jesus proclama vem de Deus e revela algo sobre Deus. Em tudo o que Jesus diz e faz reflete-se os traços do rosto de Deus. Reflete a experiência que Ele mesmo tem de Deus, a experiência do Pai. Revelar Deus como Pai é a fonte, o conteúdo e o fim da Boa Nova de Deus.

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