São
José Bento Cottolengo, presbítero
1ª
Leitura (At 14,19-28): Naqueles dias, chegaram uns judeus de Antioquia e
de Icónio, que aliciaram a multidão, apedrejaram Paulo e arrastaram-no para
fora da cidade, dando-o por morto. Mas, tendo-se reunido os discípulos à sua
volta, ele ergueu-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé
para Derbe. Depois de terem anunciado a boa nova a esta cidade e de terem feito
numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a
Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a
permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas
tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada
Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos
ao Senhor em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à
Panfília. Depois anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá
navegaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus,
para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram
tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé.
Demoraram-se ali bastante tempo com os discípulos.
Salmo
Responsorial: 144
R. Aqueles que Vos amam,
Senhor, proclamem a glória do vosso reino.
Graças Vos deem, Senhor, todas as
criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem e glória do vosso reino e
anunciem os vossos feitos gloriosos;
Para darem a conhecer aos homens
o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino
eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
Cante a minha boca os louvores do
Senhor e todo o ser vivo bendiga eternamente o seu nome santo.
Aleluia. Cristo tinha de
sofrer e ressuscitar dos mortos para entrar na sua glória. Aleluia.
Evangelho
(Jo 14,27-31a): «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira
do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração.
Ouvistes o que eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis,
ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais.
Já não falarei mais convosco, pois vem o chefe deste mundo. Ele não pode nada
contra mim. Mas é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai
mandou».
«Deixo-vos a paz, dou-vos a
minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou»
Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona,
Espanha)
Hoje, Jesus nos fala
indiretamente da cruz: deixara-nos a paz, mas ao preço de sua dolorosa saída
deste mundo. Hoje lemos suas palavras ditas antes do sacrifício da Cruz e que
foram escritas depois de sua Ressurreição. Na Cruz, com sua morte venceu a morte
e ao medo. Não nos dá a paz como a do mundo «Não é à maneira do mundo que eu a
dou» (cf. Jo 14,27), senão que o faz passando pela dor e a humilhação: assim
demonstrou seu amor misericordioso ao ser humano.
Na vida dos homens é inevitável o
sofrimento, a partir do dia em que o pecado entrou no mundo. Umas vezes é dor
física; outras, moral; em outras ocasiões se trata de uma dor espiritual..., e
a todos nos chega a morte. Mas Deus, em seu infinito amor, nos deu o remédio
para ter paz no meio da dor: Ele aceitou “ir-se” deste mundo com uma “saída”
cheia de sofrimento e serenidade.
Por que ele fez assim? Porque,
deste modo, a dor humana —unida à de Cristo— se converte em um sacrifício que
salva do pecado. «Na Cruz de Cristo (...), o mesmo sofrimento humano ficou
redimido» (João Paulo II). Jesus Cristo sofre com serenidade porque satisfaz ao
Pai celestial com um ato de custosa obediência, mediante o qual se oferece
voluntariamente por nossa salvação.
Um autor desconhecido do século
II põe na boca de Cristo as seguintes palavras: «Veja as cuspidas no meu rosto,
que recebi por ti, para restituir-te o primitivo alento de vida que inspirei em
teu rosto. Olha as bofetadas de meu rosto, que suportei para reformar à imagem
minha teu aspecto deteriorado. Olha as chicotadas de minhas costas, que recebi
para tirar da tua o peso de teus pecados. Olha minhas mãos, fortemente seguras
com pregos na árvore da cruz, por ti, que em outro tempo estendeste funestamente
uma de tuas mãos à árvore proibida».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«A Paz é um autêntico dom da
presença de Jesus no meio da Igreja. Senhor, protege a tua Igreja na
tribulação, para que não perca a fé, para que não perca a esperança» (Santo
Agostinho)
«O que o nosso espírito, quer
dizer, o que a nossa alma, é para os nossos membros, assim também o é o Espírito
Santo para os membros de Cristo, para o Corpo de Cristo, que é a Igreja»
(Francisco)
«A paz terrena é imagem e fruto
da paz de Cristo, (...). Pelo sangue da sua cruz, Ele, levando em Si próprio a
morte à inimizade, reconciliou com Deus os homens e fez da sua Igreja o
sacramento da unidade do género humano e da sua união com Deus (...)» (Catecismo
da Igreja Católica, nº 2.305)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Aqui, em Jo 14,27, começa a
despedida de Jesus e no fim do capítulo 14, ele encerra a conversa dizendo: “Levantem-se!
Vamos embora daqui!" (Jo 14,31). Mas, em vez de sair da sala, Jesus
continua falando por mais três capítulos: 15, 16 e 17. Se você pular estes três
capítulos, você vai encontrar no começo do capítulo 18 a seguinte frase:
"Tendo dito isto, Jesus foi com seus discípulos para o outro lado da
torrente do Cedron. Havia ali um jardim onde entrou com seus discípulos"
(Jo 18,1). Em Jo 18,1, está a continuação de Jo 14,31. O Evangelho de João é
como um prédio bonito que foi sendo construído lentamente, pedaço por pedaço,
tijolo por tijolo. Aqui e acolá, ficaram sinais destes remanejamentos. De
qualquer maneira, todos os textos, todos os tijolos, fazem parte do edifício e
são Palavra de Deus para nós.
* João 14,27: O dom da Paz. Jesus comunica
a sua paz aos discípulos. A mesma paz será dada depois da ressurreição (Jo
20,19). Esta paz é mais uma expressão da manifestação do Pai, de que Jesus
tinha falado antes (Jo 14,21). A paz de Jesus é a fonte da alegria que ele nos
comunica (Jo 15,11; 16,20.22.24; 17,13). É uma paz diferente da paz que o mundo
dá, diferente da Pax Romana. Naquele fim do primeiro século a Pax Romana era
mantida pela força das armas e pela repressão violenta contra os movimentos
rebeldes. A Pax Romana garantia a desigualdade institucionalizada entre
cidadãos romanos e escravos. Esta não é a paz do Reino de Deus. A Paz que Jesus
comunica é o que no AT se chama Shalom. É a organização completa de toda a vida
em torno dos valores da justiça, fraternidade e igualdade.
* João 14,28-29: O motivo por que Jesus volta
ao Pai. Jesus volta ao Pai para poder retornar em seguida. Ele dirá a
Madalena: “Não me segure, porque ainda não subi para o Pai “ (Jo 20,17).
Subindo para o Pai, ele voltará através do Espírito que nos enviará (cf Jo
20,22). Sem o retorno ao Pai ele não poderá estar conosco através do seu
Espírito.
* João 14,30-31a: Para que o mundo saiba que
amo o Pai. Jesus está encerrando a última conversa com os discípulos. O
príncipe deste mundo vai tomar conta do destino de Jesus. Jesus vai ser morto.
Na realidade, o Príncipe, o tentador, o diabo, nada pode contra Jesus. Jesus
faz em tudo o que lhe ordena o Pai. O mundo vai saber que Jesus ama o Pai. Este
é o grande e único testemunho de Jesus que pode levar o mundo a crer nele. No
anúncio da Boa Nova não se trata de divulgar uma doutrina, nem de impor um
direito canônico, nem de unir todos numa organização. Trata-se, antes de tudo,
de viver e de irradiar aquilo que o ser humano mais deseja e tem de mais
profundo dentro de si: o amor. Sem isto, a doutrina, o direito, a celebração
não passam de peruca em cabeça calva.
* João 14,31b: Levantem-se e vamos embora
daqui. São as últimas palavras de Jesus, expressão da sua decisão de ser
obediente ao Pai e de revelar o seu amor. Na eucaristia, na hora da
consagração, em alguns países se diz: “Na véspera da sua paixão,
voluntariamente aceita”. Jesus diz em outro lugar: “O Pai me ama, porque eu dou
a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou
livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o
mandamento que recebi do meu Pai” (Jo 10,17-18).
Para confronto pessoal
1) Jesus disse: “Dou-vos a
minha paz”. Como contribuo para a construção da paz na minha família e na minha
comunidade?
2) Olhando no espelho da
obediência de Jesus ao Pai, em que ponto eu poderia melhorar a minha obediência
ao Pai?
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