S.
Teotônio, presbítero e fundador da
Congregação dos Cônegos Regrantes da Santa Cruz.
Bto.
João de Fiésole ou Fra Angélico, presbítero
1ª
Leitura (Gen 9:8-15): Deus disse a Noé e a seus filhos: «Estabelecerei a
minha aliança convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos que
vos acompanham: as aves, os animais domésticos, os animais selvagens que estão
convosco, todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra. Estabelecerei
convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada
pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra». Deus disse
ainda: «Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco e com todos os
animais que vivem entre vós, por todas as gerações futuras: farei aparecer o
meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra.
Sempre que Eu cobrir a terra de nuvens e aparecer nas nuvens o arco, recordarei
a minha aliança convosco e com todos os seres vivos e nunca mais as águas
formarão um dilúvio para destruir todas as criaturas».
Salmo
Responsorial: 24
R. Todos os vossos caminhos,
Senhor, são amor e verdade para os que são fiéis à vossa aliança.
Mostrai-me, Senhor, os vossos
caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas
misericórdias e das vossas graças que são eternas. Lembrai-Vos de mim segundo a
vossa clemência, por causa da vossa bondade, Senhor.
O Senhor é bom e reto, ensina o
caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer a
sua aliança.
2ª
Leitura (1Pe 3:18-22): Caríssimos: Cristo morreu uma só vez pelos
pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a
carne, mas voltou à vida pelo Espírito. Foi por este Espírito que Ele foi
pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora
rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se
construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da
água. Esta água é figura do Baptismo que agora vos salva, que não é uma
purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa
consciência; ele vos salva pela ressurreição de Jesus Cristo, que subiu ao Céu
e está à direita de Deus, tendo sob o seu domínio os Anjos, as Dominações e as
Potestades.
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Evangelho
(Mc 1,12-15): Logo depois, o Espírito o fez sair para o deserto. Lá
durante quarenta dias, foi posto à prova por Satanás. E ele convivia com as
feras, e os anjos o serviam. Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galileia,
proclamando a Boa Nova de Deus: «Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está
próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova».
«Logo depois, o Espírito o fez
sair para o deserto. Lá, durante quarenta dias, foi posto à prova por Satanás»
Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí,
Girona, Espanha)
Hoje, a Igreja celebra a liturgia
do Primeiro Domingo de Quaresma. O Evangelho apresenta Jesus preparando-se para
a vida pública. Vai ao deserto onde passa quarenta dias fazendo oração e
penitência. Lá é tentado por Satanás.
Nós temos que prepararmos para a
Páscoa. Satanás é nosso grande inimigo. Há pessoas que não acreditam nele,
dizem que é um produto de nossa imaginação, ou que é o mal em abstrato, diluído
nas pessoas e no mundo. Não!
A Sagrada Escritura fala dele
muitas vezes como de um ser espiritual e concreto. É um anjo caído. Jesus o
define dizendo: «É mentiroso e pai da mentira» (Jn 8, 44). São Pedro compara-o
com um leão rugente : «Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o
leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé» (1 Pe 5,8). E
Paulo VI ensina: «O demônio é o inimigo número um, é o tentador por excelência.
Sabemos que este ser obscuro e perturbador existe realmente e que continua
atuando».
Como? Mentindo, enganando. Onde
há mentira ou engano, ali há ação diabólica. «A maior vitória do Demônio é
fazer crer que não existe» (Baudelaire). E, como mente? Apresenta-nos ações
perversas como se fossem boas, estimula-nos a fazer más obras; e, em terceiro
lugar, sugere-nos razões para justificar os pecados. Depois de nos enganar,
enche-nos de inquietude e de tristeza. Não tem experiência disso?
Nossa atitude ante a tentação?
Antes: vigiar, rezar e evitar as ocasiões. Durante: resistência direta ou
indireta. Depois: se tem vencido, dar graças a Deus. Se não tem vencido, pedir
perdão e adquirir experiência. Qual tem sido a sua atitude até agora?
A Virgem Maria esmagou a cabeça
da serpente infernal. Que Ela nos dê fortaleza para superar as tentações de
cada dia.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Nossa vida em médio desta
peregrinação não pode estar sem tentações, porque o nosso progresso se realiza
precisamente por médio da tentação, e ninguém se conhece a si mesmo se não é
tentado, nem pode ser coronado se não há vencido, nem vencer se não há combatido,
nem combater se carece de inimigo e de tentações» (São Agostinho)
«A tentação, de onde vem? Como
age dentro de nós? O Apostolo nos diz que não vem de Deus, mas de nossas
paixões, de nossas debilidades interiores, das feridas que tem deixado em nós o
pecado original. Fato curioso, a tentação tem três características: cresce,
contagia e se justifica» (Francisco)
«Os evangelhos falam dum tempo de
solidão que Jesus passou no deserto, imediatamente depois de ter sido batizado
por João: “Impelido” pelo Espírito para o deserto, Jesus ali permanece sem
comer durante quarenta dias. Vive com os animais selvagens e os anjos servem-no
(Mc 1,12-13). No fim desse tempo, Satanás tenta-O por três vezes, procurando
pôr em causa a sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques,
que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto»
(Catecismo da Igreja Católica, n° 538)
Ele esteve no deserto quarenta
dias, sendo tentado por Satanás.
Fr. Pedro Bravo, ocarm
* O texto de hoje tem duas
secções: a primeira (vv. 12-13) segue-se ao batismo de Jesus e leva-nos ao
deserto, concluindo a introdução do Evangelho de S. Marcos; a segunda (vv.
14s), abre a primeira parte do mesmo Evangelho (1,14‑8,30) e
leva-nos até à Galileia, apresentando-nos a súmula da pregação de Jesus.
* v. 12 (vv.12-13:Mt
4,1-11; Lc 4,1-13; Hb 2,17s). A primeira cena, repleta de simbolismo, refere os
quarenta dias (a “quaresma”) que Jesus passou no deserto (da Judeia). O
“deserto” é, no AT, o lugar do noivado e do encontro com Deus, do cuidado e
desvelo deste para com o seu povo (Os 2,16; 11,1-4; Jr 2,2; Dt 1,31; 2,7). É
também o lugar “terrível” (Dt 8,15; Jr 2,6) de prova e tentação do povo de Deus
no Êxodo, desde que saiu do Egito até entrar na Terra prometida (Dt 8,2.15s; Sl
95,8s).
* Para aí vai Jesus “impelido”
(gr. ekbállo: Jo 2,11; Jr 12,14s) pelo Espírito – ou seja, o “Espírito
Santo” (v. 8; 3,29; 12,36; 13,11) – que sobre Ele descera depois que foi
batizado por João Batista no rio Jordão (v. 10).
* v. 13. Jesus esteve no
deserto “quarenta dias”. “Quarenta” tem um valor simbólico no AT. Evoca: a) os 40 dias que por duas vezes Moisés passou
no Sinai, primeiro para receber a Lei de Deus (Ex 24,18), depois para
restabelecer a Aliança (Ex 34,28); b)
os 40 dias da caminhada de Elias pelo deserto até chegar ao Sinai (1Rs 19,8); c) os 40 dias do dilúvio com que Deus
purificou a terra da violência e iniquidade que a asfixiavam (Gn 7,4.12.17); d) o tempo necessário para um discípulo ser
introduzido no ensino do seu mestre (At 1,3); e) os 40 anos da peregrinação do povo de Israel no
deserto até entrar na Terra Prometida (Nm 32,13; Dt 2,7; 8,2; 29,5; Js 5,6); f) uma geração (Nm 14,33). Eles representam
assim as tentações que Jesus teve de sofrer ao longo de toda a sua vida (cf. Hb
4,15).
* No deserto, Jesus é “tentado
por Satanás”. “Satanás” (he. “adversário”; gr. diábolos, “o que divide”)
era o advogado que num processo movia a acusação contra alguém (cf. Sl 109,6).
É o nome do anjo mau que se rebelou contra Deus e agora, por inveja, tenta o
homem (cf. Jb 1,6-17; 2,1-7; Sb 2,24; Ap 12,9), para o levar a desconfiar de
Deus e do seu amor e assim desobedecer à sua Palavra, rebelando-se contra Ele e
pecando, a fim de condenar o homem. Sem mencionar o jejum de Jesus e as três
tentações que sofreu (como Mt e Lc), Marcos mostra que Jesus venceu Satanás
porque confiou em Deus e se deixou conduzir pelo Espírito.
* Sinal dessa vitória é que no
deserto Jesus “estava entre as feras e os Anjos serviam-no”. A alusão às
“feras” evoca o ideal messiânico anunciado pelos profetas de um retorno à paz
paradisíaca (Is 11,1-12). A referência ao serviço que os anjos lhe prestam (gr.
diakoneô: v. 31; 10,45; 15,41), exprime a proteção divina (Jb 5,22s; 1Rs
19,5ss; Sl 91,11ss). Estas notas evocam o apócrifo judaico A vida de Adão e Eva
(7,3s.9-8,1), segundo o qual o primeiro homem vivia no paraíso em paz com todos
os seres vivos (cf. Gn 1,29s), estando-lhe sujeitas todas as feras e servindo-o
os anjos de Deus. Mas quando o homem, seduzido por Satanás, desobedeceu a Deus
e pecou (cf. Gn 3,1-7), rompeu-se a harmonia original, as feras tornaram-se
inimigas do homem e os anjos deixaram de o servir.
* Jesus, o Messias a
quem foi dada a plenitude do Espírito (v.10) para O comunicar em plenitude
(v. 8), é conduzido pelo Espírito ao deserto para recapitular a história da
humanidade e a do povo de Deus. Jesus é o novo Adão, o Homem novo, o novo
Israel, que assume logo no início da sua missão a condição do homem, expulso do
paraíso, sujeito à miséria e às tentações de Satanás, bem como às provas que o
povo de Israel sofreu ao longo dos 40 anos em que peregrinou no deserto, para
com a sua obediência curar a nossa desobediência, com a sua confiança vencer a
nossa falta de fé, triunfando sobre o pecado e Satanás, de modo a reconduzir o
homem ao paraíso, sua verdadeira pátria, ou seja, ao Reino de Deus, de modo a
poder voltar a viver em comunhão com Deus, com os homens e com todas as
criaturas.
* v. 14 (vv. 14-15: Mt
4,12.7; Lc 4,14s). Na segunda cena, Marcos apresenta o início da missão de
Jesus. Esta começa depois de “João” Batista “ter sido entregue” (3,19; 9,31;
10,33; 14,10s.18.21.41; 15,1.10.15), ou seja, preso (6,17p), um prenúncio do
que irá acontecer a Jesus. Jesus vai para a Galileia (Jo 4,3.43ss), a “região”
norte de Israel, em permanente contacto com os gentios (Is 8,23; 1Ma 5,21). O
Evangelho destina-se a todos, a começar pelos mais afastados e os mais
prolongadamente humilhados.
* Aí, Jesus “prega”
(gr. queryssein, “apregoar”), verbo que significa: “proclamar um decreto”;
“anunciar uma oferta, uma recompensa, uma vitória”. O arauto (gr. querux)
apregoava (“pregava”) a notícia (gr. querygma) em voz alta, de modo que todos a
ouvissem, pois muitos não sabiam ler. A notícia que Jesus prega é “o Evangelho
de Deus”. “Evangelho” (he. bessorá; gr. “boa nova”) é uma palavra que significa
uma “notícia” (gr. anguelion) que provoca gritos de alegria (gr. eu), como a
cura duma doença, o fim duma carestia ou guerra, o nascimento de alguém, uma
vitória. “Evangelho de Deus” (v. 1) entende-se aqui na dupla acepção do
genitivo: a) objetivo: a boa-nova que
Jesus prega é a oferta de salvação que Deus no seu amor faz à humanidade; b) subjetivo:
essa oferta é alguém, o Evangelho vivo que Jesus é na sua Pessoa, palavra, vida
e obra, revelando o amor do Pai.
* v. 15. O querigma de
Jesus retoma a pregação de João Batista (cf. Mt 3,2), resumindo-se em duas
frases, cada uma com dois pontos: a) o dom da iniciativa divina: (1)
“cumpriu-se o tempo” e (2) “está próximo o Reino de Deus”; b) o convite ao
homem a responder a esse dom: (3) “arrependei-vos” e (4) “crede no Evangelho”.
(1) “Cumpriu-se o tempo” (passivo divino): não
o tempo cronológico (gr. kronós), mas “o momento” (gr. kairós) determinado por
Deus, no seu desígnio salvífico, para realizar as suas promessas (Dn 7,12s.22;
12,4.7; Tb 14,5; Mq 5,2; Is 49,8; 60,22; Jr 3,17; Ha 2,3; 2Co 6,2), ou seja: a
“plenitude dos tempos” (Gl 4,4; Ef 1,4), em que Deus envia o Messias para
instaurar o seu Reino.
(2) Jesus reafirma-o, dizendo que “o Reino de Deus
está próximo” (lit. “aproximou-se”). “Reino” (gr. basileia) não designa
apenas o espaço geográfico, mas também a casa, o reinado e o exercício do poder
real. O Reino de Deus (Dn 7,22.27; Tb 13,2; Sl 22,29; 103,19; 145,11s; Sb
10,10) é a presença viva e atuante de Deus entre os homens, nos quais vai
estabelecer a sua morada (Ez 37,27), requerendo para isso a livre adesão deles.
Não havendo um rei, descendente de David, desde o exílio (s. VI a.C.), é o
próprio Deus que através do Messias vem reinar sobre o seu povo, reunindo-o de
todas as partes onde estava disperso, para o reconduzir à sua verdadeira
pátria, o Reino de Deus, e aí reinar sobre ele.
(3) À oferta de Deus, o homem responde com o
arrependimento e a fé (At 2,38). “Arrepender-se” não é apenas
“converter-se”, “voltar” (he. shuv) para Deus”, como no AT, mas metanoia, todo
um processo de mudança interior de mentalidade, atitudes, modos de ver, de
sentir e de agir (cf. Jn 3,10), para caminhar segundo o Evangelho, pondo Deus
em primeiro lugar, como centro e meta da própria vida.
(4) “Crer” não é apenas aceitar um conjunto de
verdades, mas: (a) escutar a palavra de Jesus, Evangelho vivo do Pai
(1,1); (b)
acolhê-lo; (c) e construir sobre Ele a sua existência (dat. en
tô Euanguelíô), aderindo a Ele e seguindo-o como único Senhor da sua própria
vida.
MEDITAÇÃO
1. Jesus teve que escolher
entre o projeto do Pai e a autossuficiência, tendo optado por viver em
obediência ao Pai. E eu? O que é que determina as minhas opções? Que valor dou
à obediência a Deus?
2. A minha vida tem sido
coerente com o Evangelho? Que tentações mais comuns e fortes sinto na minha
existência quotidiana? Nesta Quaresma que devo mudar na minha vida, atitudes,
palavras e obras?
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