Bto.
Columba Marmion, presbítero e abade da Ordem de São Bento.
1ª
Leitura (2Sam 8,9-10.14b.24-25a.30—19,3): Naqueles dias, Absalão, depois
da derrota do seu exército, encontrou-se por acaso com os homens de David. Ora
o macho em que ia montado meteu-se por debaixo da ramaria de um grande
carvalho. A cabeleira prendeu-se nos ramos e ele ficou suspenso entre o céu e a
terra, enquanto o macho que ele montava seguiu para diante. Alguém o viu e
avisou Joab: «Vi agora Absalão suspenso de um carvalho». Joab tomou três dardos
e cravou-os no peito de Absalão. Entretanto, David estava sentado entre as duas
portas da cidade. A sentinela, que subira ao terraço da porta, sobre a muralha,
ergueu os olhos e avistou um homem a correr sozinho. A sentinela gritou e
avisou o rei. O rei observou: «Se vem só, traz boas notícias». Depois disse ao
homem que chegara: «Retira-te para o lado e espera aí». Ele afastou-se e
esperou. Entretanto chegou um mensageiro etíope, que disse: «Trago boas
notícias, ó rei, meu senhor. Hoje, Deus fez-te justiça, ao livrar-te de todos
os que se levantaram contra ti». O rei perguntou ao etíope: «Está bem o jovem
Absalão?». O etíope respondeu: «Tenham a sorte desse jovem os inimigos do rei,
meu senhor, e todos os que se levantaram contra ti para te fazerem mal». O rei
ficou perturbado. Subiu ao aposento que ficava por cima da porta e começou a
chorar, dizendo: «Meu filho Absalão! Meu filho! Meu filho Absalão! Quem me dera
ter morrido em teu lugar! Meu filho Absalão! Meu filho!». Foram então dizer a
Joab: «O rei está a chorar e a lamentar-se por causa de Absalão». Assim a vitória
desse dia transformou-se em luto para todo o exército, ao saber que o rei
estava consternado por causa de seu filho. Naquele dia, o exército entrou
furtivamente na cidade, como fazem as tropas envergonhadas, quando fogem da
batalha.
Salmo
Responsorial: 85
R. Inclinai os vossos ouvidos
e atendei-me, Senhor.
Inclinai, Senhor, o vosso ouvido
e atendei-me, porque sou pobre e desvalido. Defendei a minha vida, pois Vos sou
fiel, salvai o vosso servo que em Vós confia, meu Deus.
Tende piedade de mim, Senhor, que
a Vós clamo todo o dia. Alegrai a alma do vosso servo, porque a Vós, Senhor,
elevo a minha alma.
Vós, Senhor, sois bom e
indulgente, cheio de misericórdia para com todos os que Vos invocam. Ouvi,
Senhor, a minha oração, atendei a voz da minha súplica.
Aleluia. Cristo suportou as
nossas enfermidades e tomou sobre Si as nossas dores. Aleluia.
Evangelho
(Mc 5,21-43): Jesus passou novamente para a outra margem, e uma grande
multidão se ajuntou ao seu redor. Ele estava à beira-mar. Veio então um dos
chefes da sinagoga, chamado Jairo. Vendo Jesus, caiu-lhe aos pés e
suplicava-lhe insistentemente: «Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe as
mãos sobre ela para que fique curada e viva!». Jesus foi com ele. Uma grande
multidão o acompanhava e o apertava de todos os lados. Estava aí uma mulher que
havia doze anos sofria de hemorragias e tinha padecido muito nas mãos de muitos
médicos; tinha gastado tudo o que possuía e, em vez de melhorar, piorava cada
vez mais. Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se, na multidão, por detrás e
tocou-lhe no manto. Ela dizia: «Se eu conseguir tocar na roupa dele ficarei
curada». Imediatamente a hemorragia estancou, e a mulher sentiu dentro de si
que estava curada da doença. Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele
e, voltando-se para a multidão, perguntou: «Quem tocou na minha roupa»? Os
discípulos disseram: «Tu vês a multidão que te aperta, e ainda perguntas: ‘Quem
me tocou? ’». Ele olhava ao redor para ver quem o havia tocado. A mulher,
tremendo de medo ao saber o que lhe havia acontecido, veio, caiu-lhe aos pés e
contou toda a verdade. Jesus então disse à mulher: «Filha, a tua fé te salvou.
Vai em paz e fica livre da tua doença». Enquanto ainda estava falando, chegaram
alguns da casa do chefe da sinagoga dizendo: «Tua filha morreu. Por que ainda
incomodas o mestre?». Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: «Não
tenhas medo, somente crê». Ele não permitiu que ninguém o acompanhasse, a não
ser Pedro, Tiago e seu irmão João. Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga,
Jesus viu a agitação, pois choravam e lamuriavam muito. Entrando na casa, ele
perguntou: «Por que essa agitação, por que chorais? A menina não morreu, ela dorme».
E começaram a zombar dele. Afastando a multidão, levou consigo o pai e a mãe da
menina e os discípulos que o acompanhavam. Entrou no lugar onde estava a
menina. Pegou a menina pela mão e disse-lhe: «Talitá cum!(que quer dizer:
«Menina, eu te digo, levanta-te»). A menina logo se levantou e começou a andar
— já tinha doze anos de idade. Ficaram extasiados de tanta admiração. Jesus
recomendou com insistência que ninguém soubesse do caso e falou para que dessem
de comer à menina.
«Filha, a tua fé te salvou.
Vai em paz e fica livre da tua doença»
Rev. D. Francesc PERARNAU i
Cañellas (Girona, Espanha)
Hoje o Evangelho apresenta-nos
dois milagres de Jesus que nos falam da fé de duas pessoas bem diferentes.
Tanto Jairo —um dos chefes da sinagoga— quanto aquela mulher doente mostram uma
grande fé: Jairo tem a certeza de que Jesus pode curar a sua filha, enquanto
aquela boa mulher confia em que um mínimo de contato com a roupa de Jesus será
suficiente para ficar liberada de uma doença grave. E Jesus, porque são pessoas
de fé, concede-lhes o favor que buscavam.
A primeira foi a mulher, aquela
que pensava não era digna de que Jesus lhe dedicara tempo, aquela que não se
atrevia a incomodar o Mestre nem a aqueles judeus tão influentes. Sem fazer
barulho, aproxima-se e, tocando a borla do manto de Jesus, "arranca"
sua cura e ela em seguida o nota em seu corpo. Mas Jesus, que sabe o que
aconteceu, quer lhe dizer umas palavras: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz
e fica livre da tua doença» (Mc 5,34).
A Jairo, Jesus pede-lhe uma fé
ainda maior. Como já Deus tinha feito com Abraham no Antigo Testamento, pedirá
uma fé contra toda esperança, a fé das coisas impossíveis. Comunicaram-lhe a
Jairo a terrível notícia que sua filha acabara de morrer. Podemo-nos imaginar a
grande dor que sentia nesse momento, e talvez a tentação da desesperação. E
Jesus, que o ouviu, lhe diz: «Não tenhas medo, somente crê» (Mc 5,36). E como
aqueles patriarcas antigos, crendo contra toda esperança, viu como Jesus
devolvia-lhe a vida a sua amada filha.
Duas grandes lições de fé para
nós. Desde as páginas do Evangelho, Jairo e a mulher que sofria hemorragias,
juntamente com tantos outros, falam-nos da necessidade de ter uma fé imóvel.
Podemos fazer nossa aquela bonita exclamação evangélica: «Eu creio, Senhor,
ajuda-me na minha falta de fé» (Mc 9,24).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«A leitura de hoje é um compendio
de esperança e é a exclusão de qualquer motivo de desespero» (São Pedro
Crisólogo)
«A Deus, pedimos muitas
resoluções de problemas, de necessidades concretas e podemos fazê-lo, mas o que
devemos pedir com insistência, é uma fé cada vez mais solida, para que o Senhor
renove a nossa vida» (Benedito XVI)
«Jesus atende a oração da fé
expressa em palavras (do leproso, de Jairo, da cananeia, do bom ladrão ou feita
em silêncio (dos que trouxeram o paralítico, da hemorroíssa que Lhe tocou na
veste, as lágrimas e o perfume da pecadora. (...) Seja a cura das doenças ou o
perdão dos pecados, Jesus responde sempre à oração de quem Lhe implora com fé
(...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.616)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* No evangelho de hoje, vamos
meditar sobre dois milagres de Jesus em favor de duas mulheres. O primeiro,
em favor de uma senhora, considerada impura por causa de uma hemorragia que já
durava doze anos. O outro, em favor de uma menina de doze anos, que acabava de
falecer. Conforme a mentalidade da época, qualquer pessoa que tocasse em sangue
ou em cadáver era considerada impura. Sangue e morte eram fatores de exclusão!
Por isso, aquelas duas mulheres eram pessoas marginalizadas, excluídas da
participação na comunidade.
* O ponto de partida.
Jesus chega de barco. O povo se junta. Jairo, o chefe da sinagoga, pede pela
filha que está morrendo. Jesus vai com ele e o povo todo o acompanha,
apertando-o de todos os lados. Este é o ponto de partida para as duas curas,
que seguem: a cura da mulher e a ressurreição da menina de doze anos.
* A situação da mulher.
Doze anos de hemorragia! Por isso, ela vivia excluída, pois, naquele tempo, o
sangue tornava a pessoa impura, e quem tocasse nela também ficava impura.
Marcos informa que a mulher tinha gastado toda a sua economia com os médicos.
Em vez de ficar melhor, ficou pior. Situação sem solução!
* A atitude da mulher. Ela
ouviu falar de Jesus. Nasceu uma nova esperança. Ela disse consigo: “Se ao
menos tocar na roupa dele, eu ficarei curada”. O catecismo da época mandava
dizer: “Se eu tocar na roupa dele, ele ficará impuro”. A mulher pensa
exatamente o contrário! Sinal de que as mulheres não concordavam com tudo o que
as autoridades religiosas ensinavam. A mulher meteu-se no meio da multidão e,
de maneira desapercebida, tocou em Jesus, pois todo mundo o apertava e tocava
nele. No mesmo instante ela sentiu no corpo que estava curada.
* A reação de Jesus e dos
discípulos. Jesus também sentiu que uma força tinha saído dele e perguntou:
“Quem foi que me tocou?” Os discípulos reagem: “O senhor está vendo essa
multidão que o aperta de todos os lados e ainda pergunta ‘Quem foi que me
tocou?’” Aqui aparece o desencontro entre Jesus e os discípulos. Jesus tinha
uma sensibilidade que não era percebida pelos discípulos. Estes reagiram como
todo mundo e não entenderam a reação diferente de Jesus. Mas Jesus nem liga, e
continua indagando.
* A cura pela fé. A mulher
percebeu que tinha sido descoberta. Foi um momento difícil e perigoso. Pois,
conforme a crença da época, uma pessoa impura que, como aquela senhora, se
metia no meio de uma multidão, contaminava todo mundo através do toque. Fazia
todos ficar impuro diante de Deus (Lv 15,19-30). Por isso, como castigo, ela
poderia ser apedrejada. Mas a mulher teve a coragem de assumir o que fez.
“Cheia de medo e tremendo” caiu aos pés de Jesus e contou toda a verdade. Jesus
dá a palavra final: “Minha filha, sua fé curou você. Vai em paz e fique curada
dessa doença!” (1) “Minha filha”, isto é, Jesus acolhe a mulher na nova
família, na comunidade, que se formava ao seu redor. (2) Aquilo que ela
acreditava aconteceu de fato. (3) Jesus reconhece que sem a fé daquela mulher
ele não poderia ter feito o milagre.
* A notícia da morte da
menina. Neste momento o pessoal da casa de Jairo informa que a filha tinha
morrido. Já não adiantava molestar Jesus. Para eles, a morte era a grande
barreira. Jesus não conseguiria ir além da morte! Jesus escuta, olha para Jairo
e aplica o que acabava de presenciar, a saber, que a fé é capaz de realizar o
que a pessoa acredita. E ele diz: “Não tenha medo! Crê somente!”
* Na casa de Jairo. Jesus
só permite três discípulos com ele. Vendo o alvoroço dos que fazem luto pela
morte da menina, ele diz: “A criança não morreu. Está dormindo!”. O pessoal deu
risada. O povo sabe distinguir quando uma pessoa está dormindo ou quando está
morta. É a risada de Abraão e de Sara, isto é, dos que não conseguem crer que
para Deus nada é impossível (Gn 17,17; 18,12-14; Lc 1,37). Também para eles, a
morte era uma barreira que ninguém poderia ultrapassar! As palavras de Jesus
têm ainda um significado mais profundo. A situação das comunidades perseguidas
do tempo de Marcos parecia uma situação de morte. Elas tinham que ouvir: “Não é
morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!” Jesus não dá importância à risada
e entra no quarto onde está a menina, só ele, os três discípulos e os pais da
menina.
* A ressurreição da menina.
Jesus toma a criança pela mão e diz: “Talita kúmi!” Ela levantou-se. Grande
alvoroço! Jesus conserva a calma e pede que lhe deem de comer. Duas mulheres
são curadas! Uma tem doze anos de vida, a outra tem doze anos de hemorragia,
doze anos de exclusão! Aos doze anos começa a exclusão da menina, pois começa a
menstruação, começa a morrer! Jesus tem poder maior e ressuscita: “Levante-se!”
Para um confronto pessoal
1) Qual o ponto deste
texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2) Uma mulher foi curada e
reintegrada na convivência da comunidade. Uma menina foi levantada do seu leito
de morte. O que esta ação de Jesus nos ensina para nossa vida em família e na
comunidade, hoje?
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