Sto.
André Corsini, bispo de nossa Ordem
1ª
Leitura (1Sam 1,9-20): Naqueles dias, depois de ter comido em Silo, Ana
levantou-se e apresentou-se diante do Senhor. O sacerdote Heli estava sentado
em sua cadeira, à entrada do templo do Senhor. Com a alma cheia de amargura,
Ana orou ao Senhor, derramando muitas lágrimas, e fez o seguinte voto: «Senhor
do Universo! Se Vos dignardes olhar para a humilhação da vossa serva, se Vos
lembrardes de mim e não esquecerdes esta vossa serva, se lhe derdes um filho
varão, eu o consagrarei ao Senhor por toda a vida e a navalha não passará pela
sua cabeça». Enquanto ela continuava a rezar diante do Senhor, Heli observou os
movimentos dos seus lábios: Ana falava em seu coração; só mexia os lábios, mas
não se ouvia a sua voz. Por isso Heli pensou que estivesse embriagada e
perguntou-lhe: «Até quando estarás embriagada? Livra-te desse vinho». Ana
respondeu: «Não, meu senhor; sou apenas uma infeliz. Não bebi vinho nem outra
bebida que embriague; estava apenas a desabafar diante do Senhor. Não tomes a
tua serva por uma vadia, porque o excesso da minha dor e da minha aflição é que
me fez falar até agora». Então Heli disse-lhe: «Vai em paz e o Deus de Israel
te conceda o que Lhe pediste». Ana respondeu: «Queira Deus que a tua serva
encontre sempre em ti acolhimento favorável». A mulher foi-se embora, comeu e
já tinha outro semblante. No outro dia, levantaram-se de manhã cedo e, depois
de se terem prostrado diante do Senhor, voltaram para sua casa, em Ramá. Elcana
uniu-se a sua mulher, Ana, e o Senhor lembrou-Se dela. Ana concebeu e,
decorrido o tempo, deu à luz um filho, a quem deu o nome de Samuel, dizendo:
«Eu o pedi ao Senhor».
Salmo
Responsorial: 1Sam
R. O meu coração exulta no
Senhor, meu Salvador.
Exulta o meu coração no Senhor,
no meu Deus se eleva a minha fronte. Abre-se a minha boca contra os inimigos,
porque me alegro com a vossa salvação.
A arma dos fortes foi destruída e
os fracos foram revestidos de força. Os que viviam na abundância andam em busca
de pão e os que tinham fome foram saciados.
A mulher estéril deu à luz muitos
filhos e a mãe fecunda deixou de conceber. É o Senhor quem dá a morte e dá a
vida, faz-nos descer ao túmulo e de novo nos levanta. É o Senhor quem despoja e
enriquece, é o Senhor quem humilha e exalta.
Levanta do chão os que vivem
prostrados, retira da miséria os indigentes; fá-los sentar-se entre os
príncipes e destina-lhes um lugar de honra.
Aleluia. Escutai o que diz o
Senhor, não como palavra dos homens, mas como palavra de Deus. Aleluia.
Evangelho
(Mc 1,21-28): Entraram em Cafarnaum. No sábado, Jesus foi à sinagoga e
pôs-se a ensinar. Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os
ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas. Entre eles na sinagoga
estava um homem com um espírito impuro; ele gritava: «Que queres de nós, Jesus
Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!». Jesus
o repreendeu: «Cala-te, sai dele!». O espírito impuro sacudiu o homem com
violência, deu um forte grito e saiu. Todos ficaram admirados e perguntavam uns
aos outros: «Que é isto? Um ensinamento novo, e com autoridade: ele dá ordens
até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!». E sua fama se espalhou
rapidamente por toda a região da Galileia.
«Todos ficaram admirados com
seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade, não como os
escribas»
Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic,
Barcelona, Espanha)
Hoje, primeira terça-feira do
tempo comum, São Marcos apresenta-nos Jesus ensinando na sinagoga e, ato
seguido, comenta: «Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os
ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas» (Mc 1,22). Essa observação
inicial é impressionante. De fato, a razão dessa admiração dos ouvintes, por um
lado, não é a doutrina, senão o mestre; não aquilo que se explica, senão Aquele
que o explica; e, por outro lado, não é já o predicador visto globalmente,
senão remarcado especificamente. Jesus ensinava «com autoridade», quer dizer,
com poder legítimo e irrecusável. Essa particularidade fica ulteriormente
confirmada por meio de uma nítida contraposição: «Não como os escribas».
Mas, num segundo momento, a cena
da cura do homem possuído por um espírito maligno incorpora à motivação
admirativa pessoal o dado doutrinal: «Que é isto? Um ensinamento novo, e com
autoridade» (Mc 1,27). Porém, notemos que o qualificativo não é tanto de
conteúdo quanto de singularidade: a doutrina é «nova». Está é outra razão de
contraste: Jesus comunica algo inaudito (nunca como aqui este qualificativo tem
sentido).
Acrescentamos uma terceira
advertência. A autoridade provém, também, do fato que a Jesus «até os espíritos
imundos lhe obedecem». Estamos diante uma contraposição tão intensa quanto as
duas anteriores. À autoridade do Mestre e à novidade da doutrina há que somar a
força contra os espíritos do mal.
Irmãos! Pela fé sabemos que esta
liturgia da palavra nos faz contemporâneos do que acabamos de escutar e que
estamos comentando. Perguntemo-nos com humilde agradecimento: Tenho consciência
de que nenhum outro homem tenha jamais falado como Jesus, a Palavra de Deus
Pai? Me sinto rico de uma mensagem que não tem comparação? Dou-me conta da
força libertadora que Jesus e seu ensino tem na vida humana e, mais
precisamente na minha vida? Movidos pelo Espírito Santo, digamos ao nosso
Redentor: Jesus-vida, Jesus-doutrina, Jesus-vitória, faz que, como lhe
comprazia dizer ao memorável Ramon Llull, vivamos na continua “maravilha” de
Você!
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O amor de Deus não é algo que se
aprenda com regras e preceitos, não é algo que se possa ensinar, mas desde que
este vivente a quem chamamos homem começa a existir, uma força espiritual se
deposita nele, como uma semente , que contém em si a tendência para o amor»
(São Basílio Magno)
«A novidade de Jesus é que ele
carrega consigo a Palavra de Deus, o amor de Deus por cada um de nós. Jesus
busca o coração das pessoas. E procura também trazer Deus para mais perto das
pessoas e as pessoas para mais perto de Deus» (Francisco)
«As suas obras e as suas palavras
tornaram-no conhecido como 'o santo de Deus' (Mc 1,24)» (Catecismo da Igreja
Católica, n. 438)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* A sequência dos evangelhos
dos dias desta semana. O evangelho de ontem informava sobre a primeira
atividade de Jesus: chamou quatro pessoas para formar comunidade com ele (Mc
1,16-20). O evangelho hoje descreve a admiração do povo diante do ensinamento
de Jesus (Mt 1,21-22) e o primeiro milagre expulsando um demônio (Mt 1,23-28).
O evangelho de amanhã narra a cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-31), a cura de
muitos doentes (Mc 1,32-34) e a oração de Jesus num lugar isolado (Mc 1.35-39).
Marcos recolheu estes episódios, que eram transmitidos oralmente nas comunidades,
e os uniu entre si como tijolos numa parede. Nos anos 70, ano em que ele
escreve, as Comunidades necessitavam de orientação. Descrevendo como foi o
início da atividade de Jesus, Marcos indicava como elas deviam fazer para
anunciar a Boa Nova. Marcos faz catequese contando para as comunidades os
acontecimentos da vida de Jesus.
* Jesus ensina com autoridade,
diferente dos escribas. A primeira coisa que o povo percebe é o jeito
diferente de Jesus ensinar. Não é tanto o conteúdo, mas sim o jeito de ensinar,
que impressiona. Por este seu jeito diferente, Jesus cria consciência crítica
no povo com relação às autoridades religiosas da época. O povo percebe, compara
e diz: Ele ensina com autoridade, diferente dos escribas. Os escribas da época
ensinavam citando autoridades. Jesus não cita autoridade nenhuma, mas fala a
partir da sua experiência de Deus e da vida. Sua palavra tem raiz no coração.
* Vieste para nos destruir!
Em Marcos, o primeiro milagre é a expulsão de um demônio. Jesus combate e
expulsa o poder do mal que tomava conta das pessoas e as alienava de si mesmas.
O possesso gritava: “Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” O homem repetia
o ensinamento oficial que apresentava o messias como “Santo de Deus”, isto é,
como um Sumo Sacerdote, ou como rei, juiz, doutor ou general. Hoje também,
muita gente vive alienada de si mesma, enganada pelo poder dos meios de
comunicação, da propaganda do comércio. Repete o que ouve dizer. Vive escrava
do consumismo, oprimida pelas prestações em dinheiro, ameaçada pelos
cobradores. Muitos acham que sua vida ainda não é como deveria ser se eles não
puderem comprar aquilo que a propaganda anuncia e recomenda.
* Jesus ameaçou o espírito
mau: “Cale-se, e saia dele!” O espírito sacudiu o homem, deu um grande
grito e saiu dele. Jesus devolve as pessoas a si mesmas. Devolve a consciência
e a liberdade. Faz a pessoa recuperar o seu perfeito juízo (cf. Mc 5,15). Não é
nem era fácil, nem ontem, nem hoje, fazer com que a pessoa comece a pensar e
atuar diferentemente da ideologia oficial.
* Ensinamento novo! Ele
manda até nos espíritos impuros. Os dois primeiros sinais da Boa Nova que o
povo percebe em Jesus, são estes: o seu jeito diferente de ensinar as coisas de
Deus, e o seu poder sobre os espíritos impuros. Jesus abre um novo caminho para
o povo conseguir a pureza. Naquele tempo, uma pessoa declarada impura já não
podia comparecer diante de Deus para rezar e receber a bênção prometida por
Deus a Abraão. Ela teria que purificar-se primeiro. Esta e muitas outras leis e
normas dificultavam a vida do povo e marginalizavam muita gente como impura,
longe de Deus. Agora, purificadas pelo contato com Jesus, as pessoas impuras
podiam comparecer novamente na presença de Deus. Era uma grande Boa Notícia
para eles!
Para um confronto pessoal
1) Será que posso dizer:
“Eu sou plenamente livre, senhor de mim mesmo”? Se não o posso dizer de mim
mesmo, então algo em mim é possesso por outros poderes. Como faço para expulsar
este poder estranho?
2) Hoje muita gente não
vive, mas é vivido. Não pensa, mas é pensado pelos meios de comunicação. Já não
tem pensamento crítico. Já não é dono de si mesmo. Como expulsar este
“demônio”?
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