São
Fabiano, papa e mártir
Bto.
Ângelo Paoli, presbítero de nossa Ordem
1ª
Leitura (2Sam 1,1-4.11-12.19.23-27): Naqueles dias, David, ao voltar da
vitória sobre os amalecitas, ficou dois dias em Siclag. Ao terceiro dia, chegou
um homem que vinha do acampamento de Saul: trazia as vestes rasgadas e a cabeça
coberta de poeira. Ao chegar à presença de David, prostrou-se por terra em
profunda reverência. David perguntou-lhe: «De onde vens?». Ele respondeu:
«Escapei-me do acampamento de Israel». Disse David: «Que aconteceu? Conta-me
tudo». O homem respondeu: «O exército fugiu do campo de batalha, muitos homens
tombaram e o próprio Saul e seu filho Jónatas também pereceram». Então David
agarrou as suas vestes e rasgou-as e o mesmo fizeram todos os que estavam com
ele. Depois lamentaram-se, choraram e jejuaram até à tarde por Saul e seu filho
Jónatas, pelo povo do Senhor e pela casa de Israel, porque tinham sucumbido ao
fio da espada. E David exclamou: «Como pereceram nos altos montes os que eram o
teu esplendor, Israel! Como sucumbiram os heróis! Saul e Jónatas, tão amados e
queridos, nem na vida nem na morte foram separados. Eram mais velozes do que as
águias, mais valentes do que os leões. Filhas de Israel, chorai por Saul, que
vos vestiu de púrpura e linho e enfeitava de ouro os vossos vestidos. Como
sucumbiram os heróis no combate! Como pereceu Jónatas nos altos montes! Choro
por ti, Jónatas, meu irmão. Eras o meu melhor amigo e para mim a tua amizade
era mais maravilhosa que o amor de uma mulher. Como sucumbiram os heróis, como
pereceram estes valentes guerreiros!».
Salmo
Responsorial: 79
R. Mostrai-nos, Senhor, o
vosso rosto e seremos salvos.
Pastor de Israel, escutai, Vós
que conduzis José como um rebanho. Vós que estais sobre os Querubins, aparecei
à frente de Efraim, Benjamim e Manassés. Despertai o vosso poder e vinde em
nosso auxílio.
Senhor, Deus do universo, até
quando ardereis em cólera, apesar da oração do vosso povo? Destes-nos a comer o
pão das lágrimas e a beber copioso pranto. Fizestes de nós objeto de contenda
entre vizinhos e os inimigos zombam de nós.
Aleluia. Abri, Senhor, os
nossos corações, para recebermos a palavra do vosso Filho. Aleluia.
Evangelho
(Mc 3,20-21): Jesus voltou para casa, e outra vez se ajuntou tanta gente
que eles nem mesmo podiam se alimentar. Quando seus familiares souberam disso,
vieram para detê-lo, pois diziam: «Está ficando louco».
«Está ficando louco»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant
Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje vemos como os próprios
integrantes da família de Jesus atrevem-se a dizer dele que «Está ficando
louco» (Mc 3,21). Uma vez mais, cumpre-se o antigo provérbio de que «Um profeta
só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa!» (Mt 13,57).
Esta lamentação não “salpica” Maria Santíssima, porque desde o primeiro até o
último momento —quando ela estava ao pé da Cruz— manteve-se solidamente firme
na fé e confiança para com seu Filho.
Agora bem, e nós? Façamos exame!
Quantas pessoas que vivem ao nosso redor, que as temos ao nosso alcance, são
luz para nossas vidas e, nós...? Não é necessário ir muito longe: Pensemos no
Papa João Paulo II: quanta gente o seguiu e, ao mesmo tempo, quantos o
interpretavam como um “teimoso-antiquado”, ciumento do seu “poder”? É possível
que Jesus —dois mil anos depois— ainda continue na Cruz pela nossa salvação e,
que nós, desde aqui embaixo, continuemos dizendo-lhe «desça agora da cruz, para
que vejamos e acreditemos!» (cf. Mc 15,32)?
Ou pelo contrário. Se nos
esforçarmos por configurarmos com Cristo, nossa presença não resultará neutra
para quem interagem conosco por motivos de parentesco, trabalho, etc. Ainda
mais, para alguns será molesta, porque seremos um reclamo de consciência. Bem
garantido o temos! «Se me perseguiram, perseguirão a vós também» (Jo 15,20).
Através das suas burlas esconderão seu medo, mediante suas desqualificações
farão uma má defesa de sua “poltronaria”
Quantas vezes nos rotulam aos
católicos de sermos "exagerados”? Devemos lhes responder que não o somos,
porque em questões de amor é impossível exagerar. Mas que é verdade que somos
“radicais”, porque o amor é assim de “totalizador” «ou todo, ou nada»; «ou o
amor mata o eu, ou o eu mato o amor».
É por isso que o Santo Pai nos
falou de “radicalismo evangélico” e de “não ter medo”: «Na causa do Reino não
há tempo para olhar para atrás, menos ainda para dar-se à preguiça» (S. João
Paulo II).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Um sector do povo julga
pejorativamente a obra e a mensagem de Cristo. Devemos de aprender da força de
Cristo ao sofrer tamanha difamação e calúnia. O que interessa se os homens nos
desonram, se a nossa consciência nos defende?» (São Gregório Magno)
«A sua Mãe seguiu-o sempre
fielmente, mantendo o olhar do seu coração fixo em Jesus e no seu mistério.
Peçamos a Maria que nos ajude também a manter o olhar fixo em Jesus e a
segui-lo sempre, mesmo quando custa» (Francisco)
«Muitas coisas que interessam à
curiosidade humana, a respeito de Jesus, não figuram nos evangelhos. Quase nada
se diz da sua vida em Nazaré e mesmo grande parte da sua vida pública não é
relatada. O que foi escrito nos evangelhos, foi-o ‘para acreditardes que Jesus
é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu
nome’ (Jo 20, 31)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 514)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* O evangelho de hoje é bem
curto. Apenas dois versículos. Ele fala de duas coisas: (1) da grande
atividade de Jesus a ponto de ele não ter tempo para comer, e (2) da reação
contrária da família de Jesus a ponto de achar que ele estava louco. Jesus teve
problemas com a família. A família, às vezes, ajuda e, outras vezes, atrapalha.
Assim foi com Jesus e assim é conosco.
* Marcos 3,20: A atividade de
Jesus. Jesus voltou para casa. O domicílio dele agora é em Cafarnaum (Mc
2,1). Já não mora mais com a família em Nazaré. Sabendo que Jesus estava em
casa, o povo foi para lá. Juntou tanta gente que eles não tinham nem tempo para
comer. Mais adiante Marcos novamente fala do muito serviço a ponto de não terem
tempo para poder comer sossegados (Mc 6,31)
* Marcos 3,20: Conflito com a
família. Quando os parentes de Jesus souberam disso, disseram: “Ficou
louco!” Talvez, porque Jesus tinha saído fora do comportamento normal. Talvez,
porque comprometia o nome da família. Seja como for, os parentes decidem
levá-lo de volta para Nazaré. Sinal de que o relacionamento de Jesus com a sua
família estava estremecido. Isto deve ter sido fonte de muito sofrimento, tanto
para ele como para Maria, sua mãe. Mais adiante (Mc 3,31-35) Marcos conta como
foi o encontro dos parentes com Jesus. Eles chegaram na casa onde Jesus estava.
Provavelmente tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns 40
quilômetros. Sua mãe veio junto. Eles não podiam entrar na casa, porque havia
gente demais na entrada. Por isso mandaram um recado: Tua mãe, teus irmãos e
tuas irmãs estão lá fora e te procuram! A reação de Jesus foi firme
perguntando: Quem é minha mãe, quem são meus irmãos? E ele mesmo responde
apontando para a multidão que estava ao redor: Eis aqui minha mãe e meus
irmãos! Pois todo aquele que faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã,
minha mãe! Alargou a família! Jesus não permite que a família o afaste da
missão.
* A situação da família no
tempo de Jesus. No antigo Israel, o clã, isto é, a grande família (a
comunidade), era a base da convivência social. Era a proteção das pequenas
famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da
tradição, a defesa da identidade. Era a maneira concreta do povo daquela época
encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã, a comunidade, era o
mesmo que defender a Aliança. Na Galileia do tempo de Jesus, por causa do
sistema romano, implantado durante os longos governos de Herodes Magno (37 a.C.
a 4 a.C.) e de seu filho Herodes Antipas (4 a.C. a 39 d.C.), tudo isto já não
existia mais, ou cada vez menos. O clã (comunidade) estava enfraquecendo. Os
impostos a serem pagos tanto ao governo como ao templo, o endividamento
crescente, a mentalidade individualista da ideologia helenista, as frequentes
ameaças de repressão violenta por parte dos romanos, a obrigação de acolher os
soldados e dar-lhes hospedagem, os problemas cada vez maiores de sobrevivência,
tudo isto levava as famílias a se fecharem sobre si mesmas e dentro das suas
próprias necessidades. Já não se praticava mais a hospitalidade, a partilha, a
comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos. Este fechamento era reforçado pela
religião da época. A observância das normas de pureza era fator de
marginalização de muita gente: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros,
leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados, paraplégicos. Em vez de
acolhida, partilha e comunhão, estas normas favoreciam a separação e a
exclusão.
Assim, tanto a conjuntura
política, social e econômica como a ideologia religiosa da época, tudo
conspirava para o enfraquecimento dos valores centrais do clã, da comunidade.
Ora, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se, novamente, na convivência comunitária
do povo, as pessoas tinham de ultrapassar os limites estreitos da pequena
família e abrir-se de novo para a grande família, para a Comunidade.
* Jesus deu o exemplo.
Quando seus parentes chegaram em Cafarnaum e tentaram apoderar-se dele para
levá-lo de volta para casa, ele reagiu. Em vez de fechar-se na sua pequena
família, e alargou a família (Mc 3,33-35). Criou comunidade. Ele pedia o mesmo
de todos que queriam segui-lo. As famílias não podiam fechar-se. Os excluídos e
os marginalizados deviam ser acolhidos, novamente, dentro da convivência e,
assim, sentir-se acolhidos por Deus (cf Lc 14,12-14). Este era o caminho para
realizar o objetivo da Lei que dizia: “Entre vocês não pode haver pobres” (Dt
15,4). Como os grandes profetas do passado, Jesus procura reforçar a vida
comunitária nas aldeias da Galileia. Ele retoma o sentido profundo do clã, da
família, da comunidade, como expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao
próximo.
Para um confronto pessoal
1. A família ajuda ou
dificulta a sua participação na comunidade cristã? Como você assume o seu
compromisso na comunidade cristã?
2. O que tudo isso nos tem
a dizer para as nossas relações na família e na comunidade?
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