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sábado, 30 de dezembro de 2023

1º de janeiro Santa Maria, Mãe de Deus

Circuncisão do Senhor
 
1ª Leitura (Num 6,22-27):
O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
 
Salmo Responsorial: 66
R. Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção.
 
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação.
 
Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra.
 
Os povos Vos louvem, ó Deus, todos os povos Vos louvem. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu temor aos confins da terra.
 
2ª Leitura (Gal 4,4-7): Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.
 
Aleluia. Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por seu Filho. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,16-21): Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito. No oitavo dia, quando o menino devia ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre da mãe.
 
«Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura»
 
Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a Igreja contempla agradecida a maternidade da Mãe de Deus, modelo de sua própria maternidade para com todos nós. Lucas nos apresenta o “encontro” dos pastores “com o Menino”, o qual está acompanhado de Maria, sua Mãe, e de José. A discreta presença de José sugere a importante missão de ser custódio do grande mistério do Filho de Deus. Todos juntos, pastores, Maria e José, «Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura» (Lc 2,16) é como uma imagem preciosa da Igreja em adoração.
 
“A Manjedoura”: Jesus já está na manjedoura, numa noite alusiva à Eucaristia. Foi Maria quem o colocou lá! Lucas fala de um “encontro”, de um encontro dos pastores com Jesus. Em efeito, sem a experiência de um “encontro” pessoal com o Senhor, a fé não acontece. Somente este “encontro”, o qual se entende um “ver com os próprios olhos”, e em certa maneira um “tocar”, faz com que os pastores sejam capazes de chegar a ser testemunhas da Boa Nova, verdadeiros evangelizadores que podem dar a conhecer o que lhes haviam dito sobre aquela Criança. «Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino» (Lc 2,17).
 
Aqui vemos o primeiro fruto do “encontro” com Cristo: «Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores» (Lc 2,18). Devemos pedir a graça de saber suscitar este “maravilhamento”, esta admiração naqueles a quem anunciamos o Evangelho.
 
Ainda há um segundo fruto deste encontro: «Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito» (Lc 2,20). A adoração do Menino lhes enche o coração de entusiasmo por comunicar o que viram e ouviram, e a comunicação do que viram e ouviram os conduz até a pregaria de louvor e de ação de graças, à glorificação do Senhor.
 
Maria, mestra de contemplação —«Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lc 2,19)— nos dá Jesus, cujo nome significa “Deus salva”. Seu nome é também nossa Paz. Acolhamos coração este sagrado e doce Nome e tenhamo-lo frequentemente nos nossos lábios!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Todo o povo da cidade de Éfeso ficou ansioso à espera da resolução [do Sínodo sobre a Maternidade de Maria]... Quando se soube que o autor das blasfêmias [Nestório] tinha sido deposto, todos em uma só voz começaram a glorificar a Deus» (São Cirilo de Alexandria)
 
«Jesus é o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, é filho de uma mulher: Maria. Vem dela. É de Deus e de Maria. É por isso que a Mãe de Jesus pode e deve ser chamada de Mãe de Deus, “Theotókos” (Concílio de Éfeso, ano 431)» (Bento XVI)
 
«O Concílio de Éfeso proclamou, no ano 431, que Maria se tornou, com toda a verdade Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque é Dela” (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 466)
 
“Maria, porém, conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.”
 
Fr. Pedro Bravo, ocarm
 
*
O texto de hoje, exclusivo de Lucas, tem duas partes: a visita dos pastores, que conclui o relato do nascimento de Jesus (vv. 15-20); e a notícia da circuncisão de Jesus (v. 21).
 
* v. 15. Depois do anúncio do nascimento de Jesus aos pastores (vv. 8-14), os anjos “afastaram-se” (1,38; 7,24; At 10,7) “dos pastores para o céu” (o domínio de Deus: cf. 24,51; Ne 9,6; 2Rs 2,1.11; 1Pd 3,22). Os pastores, que guardavam o rebanho fora de Belém, nos campos (v. 8), obedecem à palavra do anjo e dizem: “Vamos, pois, a Belém e vejamos esta palavra”. “Palavra” (gr. rema) traduz aqui o hebraico dabar, que significa não só “palavra”, mas também “acontecimento”. “Ver a palavra” significa constatar, “vendo” com os próprios olhos (v. 17), “a grande coisa que o Senhor realizou” (1Sm 12,16).
 
* “Que aconteceu”: os pastores acreditam na palavra do anjo (cf. At 13,12), que é verdadeira (v. 20; 1,38; Dt 18,22), e vão a Belém, para receber “o que o Senhor” lhes “deu a conhecer”. Através dos anjos, é Deus que fala. É uma alusão ao Sl 98,2: “O Senhor deu a conhecer a sua salvação e aos olhos dos gentios revelou a sua justiça”. Tidos pelos rabinos como “ladrões”, “mentirosos” e “impuros”, considerados os últimos de todos (9,48; cf. 1Sm 16,11), os pastores são os primeiros a receber a Boa Nova do nascimento do Messias e a acreditar nela. Boa nova que se dirige antes de mais aos pobres, aos fracos e pecadores e só se revela aos humildes e pequeninos (5,32; 11,21; 1Cor 1,25-29).
 
* v. 16. Do “Campo dos Pastores” (tradicionalmente identificado com Beit Sahour, “Casa do sentinela da noite”, a 2,5 km de Belém, cerca de uma hora a pé), eles dirigem-se para Belém (he. “Casa do pão”), “apressadamente” (Lc, 3x: 19,5s; Gn 18,6; Mq 4,1), impelidos pela alegria da fé na Boa Nova (cf. 1,39), pelo amor (cf. Gn 24,18.20.46) e o desejo de ver o Senhor. Para encontrar Jesus, há que pô-lo em primeiro lugar.
 
* Em Belém não terá sido difícil encontrar “um bebé, deitado (gr. queimenos: 23,53) na manjedoura (lat. praesepium)” de uma gruta situada fora das portas da cidade, que servia de estábulo e nessa noite estava iluminada.
 
* Ao entrarem, os pastores veem primeiro “Maria e José”, e só depois Jesus. Maria representa a comunidade cristã, a Igreja, e José, a fé na Palavra de Deus, transmitida pelo Povo de Deus (Mt 1,24; 2,13.19). Só é possível encontrar Jesus na Igreja, pela fé na Palavra (cf. At 9,5s).
 
* v. 17. “Vendo, deram a conhecer a palavra”. São duas ações: primeiro, os pastores veem o Menino e contemplam-no, atentamente. “Ver” (gr. oraô) indica aqui o olhar da fé que nasce do encontro com Deus em Cristo e se traduz na experiência da salvação (At 4,20). Só depois é que dão a conhecer o que lhes tinha sido anunciada pelo anjo “acerca do menino”. “Menino” (gr. paidíon, não bréphos, vv. 12.16). evoca Is 7,16; 9,5, o anúncio do nascimento do Messias. De evangelizados, os pastores tornam-se evangelizadores: primeiro, de Maria e José (que não sabiam dos anjos); depois, dos que encontram pelo caminho.
 
* v. 18. Lucas anota três tipos de reações à palavra dos pastores. 1) A dos ouvintes, “admirados” (Lc, 12 x: 1,21.63; 2,33) com a notícia que eles lhes anunciam. Lucas não diz se foram ver Jesus ou não.
 
* v. 19. 2) A de Maria, que, de protagonista dos acontecimentos, passa a ser discípula do Evangelho, recebendo-o quase só da boca de testemunhas e dos discípulos do seu Filho (cf. 2,33s; 8,19ss; 11,27s; At 9,6).
 
* Dela refere Lucas: “Maria, porém, conservava” (v. 51; 1,66; Gn 37,11; Sr 2,15). Como verdadeira filha de Abraão, a) Maria CRÊ nas promessas de Deus (cf. Dn 7,28) e em “todas as palavras” (palavras e acontecimentos) que os pastores lhe anunciam, b) “CONSERVA-AS” no seu íntimo (Sr 2,15; 39,2), para as pôr em prática (cf. 8,21; 11,28; Sr 15,15; 35,1; 37,12, 44,20),; c) “MEDITANDO-AS” (gr. symbalein), isto é, refletindo sobre elas (14,31), ligando as palavras aos acontecimentos, confrontando-os com a Palavra de Deus, para perceber à luz desta o seu sentido, que supera a compreensão humana (2,50s), e saber como deve agir (Sr 6,26); d) “EM SEU CORAÇÃO” (cf. Dn 7,28): “Deus deseja o coração” (Sanh 106b). É aí que há que escutar, meditar e penetrar a Palavra de Deus, para a pôr em prática, dando muito fruto (cf. 6,45; 8,15; 10,27; 12,34; 24,32).
 
* v. 20. 3) A dos pastores que, apesar de não verem um rei, mas apenas um menino pobre, deitado numa manjedoura, nele reconhecem, pela fé na palavra do anjo, o Messias Senhor (v. 11). E “voltam”, cheios de alegria, anunciando a Boa Nova a todos (10,17; 24,33), e, como Lucas gosta sempre de notar após uma intervenção divina – “louvando e glorificando a Deus” (1,46; 4,15; 5,25.26; 7,16; 13,13; 17,15; 18,43; 23,47; At 4,21; 11,18; 13,48; Sl 22,24; Dn 4,34.37). O louvor dos homens une-se ao dos anjos do céu (v. 13), fazendo-o ressoar na terra (Sl 56,11; 148; 150).
 
* “Por tudo o que tinham ouvido e visto” (cf. At 4,20). A escuta precede a visão, porque a fé nasce da escuta da Palavra de Deus (Rm 10,17; Gl 3,5), sendo só a fé que possibilita “ver” a salvação (2,30; cf. Jo 11,40).
 
*
«Tal como lhes fora dito» (1,55.70; 2Sm 7,25; Sl 48,9; 1Rs 2,24; 5,19.26; 8,12.20; 9,5; Tb 14,5; Jon 3,3). Deus é fiel e verdadeiro: a sua Palavra e as suas promessas cumprem-se sempre. Os pastores acreditam nela, obedecem-lhe e veem «o Salvador, o Cristo Senhor» (v. 11). Completa-se assim o ciclo da fé, típico de Lucas: 1) anúncio; 2) escuta; 3) obediência; 4) caminhada; 5) experiência; 6) anúncio; 7) louvor a Deus.
 
* v. 21. A narrativa do nascimento de Jesus encerra-se com a nota da sua circuncisão (he. berit milah, “aliança da circuncisão”), que é feita ao oitavo dia do nascimento do filho (Gn 17,12; Lv 12,3; Fl 3,5). Este é posto ao colo do padrinho (he. sandák), sentado na cadeira do profeta Elias (“o anjo da Aliança”: Ml 3,1; 1Rs 19,10), ali presente como convidado e testemunha. O circuncidador (mohel) pronuncia a bênção, corta o prepúcio do bebé, de modo a provocar-lhe dor e derramamento de sangue (pois sem derramamento de sangue não há Aliança: Hb 9,18ss) e remove-o. Pela circuncisão, o menino: 1) entra na Aliança de Deus com Abraão (Gn 17,10-14); 2) passa a fazer parte do Povo eleito; 3) fica obrigado a: a) submeter-se ao jugo da Lei (Sf 3,9; Lm 3,27; Jr 2,20; 5,5; Sr 51,26); b) cumprir todos os mandamentos de Deus (Rm 2,25s; Gl 5,2s); c) praticar boas obras; d) e dar uma descendência a Abraão.
 
* Circuncidado o menino, é recitada a bênção e o pai impõe-lhe o nome (1,59-63), assumindo-se legalmente como seu pai, seja ele seu filho carnal ou apenas adotivo. O nome da criança compõe-se do nome próprio (geralmente escolhido pela mãe: 1,60), e do apelido, indicando de quem é filho, neste caso: Ieshuah bar-Iosef (“Jesus, filho de José”: 3,23; Mt 1,16; Jo 1,45; 6,42).
 
* “Jesus” (Mt 1,21) é a versão grega de “Josué” (he. Ioshuah, “Deus salva”), o sucessor de Moisés que introduziu o povo eleito na Terra prometida. Em aramaico diz-se Ieshuah, a palavra hebraica “salvação”. Era o nome indicado (lit. “o chamado”) pelo Anjo a Maria (1,31), antes dela ter concebido. Indicando na Sagrada Escritura o nome a missão da pessoa, indica-se assim que Jesus é o Salvador, enviado por Deus ao homem, para lhe dar a salvação (vv. 10.14).
 
Para uma reflexão pessoal
1. Tenho consciência de que a salvação está em Jesus e não nas ideologias, no poder, no dinheiro, na posição social ou no prazer?
2. Como reajo diante da boa nova: acredito ou desconfio? Agradeço ou esqueço-a? Caminho ou fico parado? Difundo-a ou calo-me?
3. Dedico algum tempo diário à oração para, com Maria, em diálogo com Jesus, meditar e aprofundar a Palavra de Deus, a fim de discernir a vontade de Deus e a pôr em prática?

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