Bta. Francisca de Amboise, viúva, religiosa de nossa Ordem
S. Zacarias e S. Isabel, pais de S. João Batista
Bto Mariano de La Mata, presbítero
1ª
Leitura (Mal 1,14b–2, 2b.8-10) - Eu
sou um grande Rei, diz o Senhor do Universo, e o meu nome é temível entre as
nações. Agora, este aviso é para vós, sacerdotes: Se não Me ouvirdes, se não
vos empenhardes em dar glória ao meu nome, diz o Senhor do Universo, mandarei
sobre vós a maldição. Vós desviastes-vos do caminho, fizestes tropeçar muitos
na lei e destruístes a aliança de Levi, diz o Senhor do Universo. Por isso,
como não seguis os meus caminhos e fazeis acepção de pessoas perante a lei,
também Eu vos tornarei desprezíveis e abjetos aos olhos de todo o povo. Não
temos todos nós um só Pai? Não foi o mesmo Deus que nos criou? Então porque
somos desleais uns para com os outros, profanando a aliança dos nossos pais?
Salmo
Responsorial Sl 130 (131), 1.2.3
R. Guardai-me junto de Vós, na
vossa paz, Senhor.
Senhor, não se eleva soberbo o
meu coração, nem se levantam altivos os meus olhos. Não ambiciono riquezas, nem
coisas superiores a mim.
Antes fico sossegado e tranquilo,
como criança ao colo da mãe. Espera, Israel, no Senhor, agora e para sempre.
2ª
Leitura (1Ts 2, 7b-9.13) - Irmãos:
Fizemo-nos pequenos no meio de vós. Como a mãe que acalenta os filhos que anda
a criar, assim nós também, pela viva afeição que vos dedicamos, desejaríamos
partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas ainda a própria vida, tão
caros vos tínheis tornado para nós. Bem vos lembrais, irmãos, dos nossos
trabalhos e canseiras. Foi a trabalhar noite e dia, para não sermos pesados a
nenhum de vós, que vos pregámos o Evangelho de Deus. Por isso, também nós damos
graças a Deus sem cessar, porque, depois de terdes ouvido a palavra de Deus por
nós pregada, vós a acolhestes, não como palavra humana, mas como ela é
realmente, palavra de Deus, que permanece ativa em vós, os crentes.
Aleluia. Um só é o vosso pai,
o Pai celeste; um só é o vosso mestre, Jesus Cristo. Aleluia.
Evangelho
(Mt 23,1-12): Depois, Jesus falou às multidões e aos discípulos: «Os
escribas e os fariseus sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. Portanto,
tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações!
Pois eles falam e não praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os
põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com
um dedo. Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros, usam
faixas bem largas com trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. Gostam
do lugar de honra nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de
serem cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de ‘Rabi’. Quanto
a vós, não vos façais chamar de ‘Rabi’, pois um só é vosso Mestre e todos vós
sóis irmãos. Não chameis a ninguém na terra de ‘Pai’, pois um só é vosso Pai,
aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de ‘Guia’, pois um só é o
vosso Guia, o Cristo. Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que
vos serve. Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado».
«Quem se exaltar será
humilhado, e quem se humilhar será exaltado»
Rev. D. Miquel PLANAS i Buñuel (Montornès
del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje o Senhor faz-nos um relato
dos notáveis de Israel (fariseus, mestres da Lei...). Estes vivem numa situação
superficial, não são mais que aparências: «Fazem todas as suas ações só para
serem vistos pelos outros» (Mt 23,5). E, também caem na incoerência, «Pois eles
falam e não praticam» (Mt 23,3), fazem-se escravos da sua própria mentira ao
buscar só a aprovação ou a admiração dos homens. Disto depende a sua
consistência. Por si mesmo não são mais que patética vaidade, orgulho absurdo,
vacância... Necedade.
Desde os inícios da humanidade
continua sendo a tentação mais frequente; a antiga serpente continua
sussurrando ao ouvido: « no dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se
abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal» (Gn 3,5). E continuamos
caindo nele, fazemo-nos chamar: “rabi”, “pai” e “guias”... E tantos outros
opulentos qualificativos. Demasiadas vezes queremos ocupar o lugar que não nos
corresponde. É a atitude farisaica.
Os discípulos de Jesus não hão de
ser assim, pelo contrário: «o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve»
(Mt 23,11). E como que temos um único Pai, todos eles são irmãos. Como sempre,
o Evangelho deixa-nos claro que não podemos desligar a dimensão vertical (Pai)
e a horizontal (nosso) ou como explicitava no domingo passado, «amarás o
Senhor, teu Deus (...). Amarás teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22,37.39).
Toda a liturgia da Palavra deste
domingo está impregnada pela ternura y a exigência da filiação e da
fraternidade. Facilmente ressonam em nosso coração aquelas palavras de São
João: «Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso» (1Jo
4,20). A nova evangelização —cada vez mais urgente— pede-nos fidelidade,
confiança e sinceridade com a vocação recebida no batismo. Se o fazemos nos
iluminará «O caminho da vida me indicarás, alegria plena à tua direita, para
sempre» (Sl 16,11).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
« Somos governantes e somos
também servos: presidimos, mas sim, servimos» (Santo Agostinho)
«É necessário estar disposto a
"perder-se" pelo outro em vez de o explorar, e a "servi-lo"
em vez de o oprimir em proveito próprio. O "outro" - pessoa, povo ou
nação - não pode ser considerado como um instrumento qualquer, mas como nosso
"semelhante", uma "ajuda"» (Francisco)
«(...) Ouvistes que foi dito aos
antigos... Eu, porém, digo-vos» (Mt 5, 33-34). Com esta mesma autoridade
divina, desaprova certas tradições humanas´ (Mc 7,8) dos fariseus, que anulam a
Palavra de Deus´(Mc 7,13)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 581)
“Dizem e não fazem”.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel
Barbosa, P. José Ornelas Carvalho - Província Portuguesa dos Sacerdotes do
Coração de Jesus
O Evangelho deste domingo
coloca-nos, mais uma vez, em Jerusalém, nos últimos dias antes da paixão e
morte de Jesus. É nesses dias que se desenrola o confronto final entre Jesus e
o judaísmo. Os líderes da nação judaica, escudados nas suas certezas, convicções
e preconceitos, continuam a recusar a proposta do Reino e a preparar o processo
contra Jesus.
A passagem que hoje nos é
proposta é a introdução a um extenso discurso de condenação, que Jesus
pronuncia contra os líderes religiosos de Israel (cf. Mt 23,13-36). É neste
discurso que aparecem os sete famosos “ai de vós, escribas e fariseus…”. Para
Mateus, o discurso é a resposta de Jesus à intransigência dos judeus em acolher
as propostas de Deus.
Ao longo do discurso, Mateus põe
na boca de Jesus uma apreciação extremamente negativa dos escribas
(especialistas da Escritura, muitos dos quais eram fariseus) e dos fariseus. É
preciso dizer, no entanto, que este retrato dos fariseus não é totalmente
justo… No geral, os fariseus eram crentes entusiastas, que procuravam conhecer
e se esforçavam por cumprir escrupulosamente a Lei de Moisés. Estavam presentes
em todos os passos da vida religiosa dos israelitas e procuravam instilar no
Povo o respeito pela Lei, a fim de que Israel fosse, cada vez mais, um Povo
santo, dedicado a Jahwéh e vivendo na órbita de Jahwéh. Tratava-se de um grupo
sério, bem-intencionado, verdadeiramente empenhado na santificação da
comunidade israelita. No entanto, o seu fundamentalismo em relação à Lei foi,
algumas vezes, criticado por Jesus. Ao afirmarem a superioridade da Lei,
desprezavam muitas vezes o Homem e criavam no Povo um sentimento de pecado e de
indignidade que oprimia as consciências… Dando demasiado relevo à Lei,
esqueciam o essencial – o amor e a misericórdia. E ao considerarem-se a si
próprios os “puros” que viviam de acordo com a Lei, desprezavam o “‘am aretz”
(o “povo do país”) que, por causa da ignorância e da dura vida que levava, não
podia cumprir integralmente os preceitos da Lei.
A opinião que Jesus fazia dos
fariseus seria tão dura como a que este texto nos apresenta? Provavelmente não.
É preciso recordar que o Evangelho segundo Mateus apareceu na parte final do
séc. I (década de 80), quando os fariseus eram a corrente dominante no judaísmo
e apareciam como o rosto polémico desse adversário judaico com que os cristãos
todos os dias se confrontavam. Este texto deve estar marcado por essa
perspectiva. Talvez mais do que transmitir a opinião de Jesus sobre os
fariseus, apresenta a imagem que os cristãos dos finais do primeiro século
tinham do judaísmo e dos seus líderes.
O nosso texto divide-se em duas
partes. Na primeira, Jesus traça um retrato dos fariseus (vers. 1-7); na
segunda, Jesus deixa alguns conselhos aos discípulos para que não se
transformem também em “fariseus” (vers. 8-12).
Como são, então, os fariseus?
Deles diz-se, em primeiro lugar,
que se sentam na cadeira de Moisés (vers. 2). A expressão refere-se à
autoridade exclusiva que os fariseus a si próprios se atribuíam para
interpretar a Lei de Moisés (é preciso dizer, no entanto, que a acusação quadra
melhor com os fariseus da época de Mateus, do que com os fariseus da época de
Jesus: na época de Mateus – no judaísmo pós-destruição de Jerusalém – os
fariseus já eram a corrente dominante e funcionavam como a autoridade exclusiva
na interpretação e na aplicação da Lei, facto que não acontecia na época de
Jesus). Eles são acusados aqui de se terem apropriado da Palavra de Deus e de a
terem desvirtuado com regras, normas, obrigações interpretações legalistas e
casuísticas que, em lugar de favorecerem o encontro do homem com Deus, só
serviram para afastar cada vez mais os dois parceiros da Aliança.
Deles diz-se, em segundo lugar,
que são incoerentes (vers. 3). “Dizem e não fazem”. O seu comportamento não é
coerente com as suas palavras e os seus ensinamentos. Os cristãos são
convidados a escutar os seus ensinamentos – coisa que muitos cristãos de origem
judaica faziam – mas a não imitar o seu exemplo.
Deles diz-se, em terceiro lugar,
que carregam os homens com fardos pesados e insuportáveis (vers. 4). Na
verdade, as exigências dos fariseus tornavam impossível a vida dos crentes,
tantas eram as leis, as obrigações, as proibições que eles faziam derivar da
Lei. A impossibilidade de conhecer e de cumprir todo esse imenso arsenal legal,
criava nos crentes uma consciência de impureza e de pecado que oprimia as
consciências e que matava a alegria. Era uma autêntica escravatura da Lei.
Deles diz-se, finalmente, que
gostam de fazer da sua fé e da sua piedade um espetáculo e uma exibição. Fazem
as coisas para que todos percebam a sua grandeza e superioridade, e não se
esquecem nunca de publicitar a sua fé e a sua piedade. Por vaidade, alargam as
filactérias (caixinhas de couro contendo trechos da Torah, que os israelitas usam,
a partir dos 13 anos, durante as orações matinais) e as borlas (franjas
colocadas nas quatro extremidades do manto – tallît – que o judeu piedoso
colocava aos ombros durante a oração). O que lhes interessa é a imagem que dão,
o reconhecimento dos homens e os títulos de honra.
E os cristãos, como devem viver?
Que cuidados é preciso ter para que o farisaísmo não se perpetue na Igreja de
Jesus?
Fundamentalmente, é preciso que a
comunidade cristã seja uma verdadeira fraternidade (vers. 8: “vós sois todos
irmãos”). A Igreja não é constituída por “superiores” e “súbditos”, “mestres” e
“discípulos”, “pais” e “filhos”, “doutores” e “alunos”, mas por irmãos iguais,
que têm um Pai comum (vers. 9: “um só é o vosso Pai, aquele que está no céu”) e
que seguem o mesmo Cristo (vers. 10: “um só é o vosso doutor, Cristo”). Na
Igreja de Jesus não pode haver quem queira mandar nos outros, ou quem se
considere a si próprio mais importante, mais digno, mais honrado, mais
preparado do que os outros… Na Igreja de Jesus não pode existir, à imagem da
estrutura hierárquica judaica, um esquema complicado de graus, de acordo com a
diferente dignidade dos membros da comunidade. Na Igreja de Jesus os títulos de
honra, os lugares reservados, a luta pelos primeiros lugares, não fazem
qualquer sentido. Na comunidade de Jesus, só o amor e o serviço devem ter o
primeiro lugar (vers. 11: “o maior de entre vós, será o vosso servo”).
A comunidade cristã deve anunciar
profeticamente o Reino de Deus… Ora, nesse Reino proposto aos homens por Deus e
inaugurado por Jesus, só o Pai (Deus) e o Filho (Jesus) ocupam um lugar de
honra. Os crentes, iguais em dignidade, são irmãos; entre si, devem amar-se e
fazer-se servidores uns dos outros.
• O Evangelho do 31º Domingo do
Tempo Comum dá conta de uma das mais profundas divergências entre a proposta de
Jesus e a cultura contemporânea… Os valores que governam o nosso mundo
garantem-nos que a realização plena e a felicidade do homem dependem da posição
a que ele conseguir elevar-se na estrutura hierárquica da comunidade em que
está inserido (social, religiosa, profissional…) e do poder, da importância, do
reconhecimento que ele souber granjear, da sua capacidade de obter sucesso;
Jesus garante-nos que a realização plena do homem depende da sua capacidade de
amar e de servir… Em jogo estão duas visões antagónicas da finalidade da vida
do homem e dos caminhos que cada pessoa deve percorrer para atingir a sua
realização plena… De acordo com a nossa sensibilidade e a nossa experiência de
todos os dias, quem tem razão?
• A Igreja, testemunha do Reino e
dos valores propostos por Jesus, tem de ser uma comunidade de irmãos que vivem
no amor. Nela, não podem ser determinantes os títulos, os lugares de honra, os
privilégios, a importância hierárquica… Na comunidade cristã, a única coisa
determinante é o serviço simples e humilde que se presta aos irmãos. Na
prática, é assim que as coisas se passam? Que valor tem, na Igreja, os títulos,
as posições hierárquicas, a visibilidade, os cargos, os privilégios, os lugares
de honra? Tudo isso não poderá contribuir decisivamente para criar divisões que
afetam a fraternidade e que negam os princípios sobre os quais se constrói o
Reino? Quando a vida das nossas comunidades cristãs é marcada por lutas pelo
poder, conflitos, ciúmes, a comunidade está a avançar em direção à fraternidade
e ao amor?
• Mateus, ao apresentar-nos essa
poderosa invectiva contra os “fariseus”, está a avisar os crentes contra a
perpetuação de um “farisaísmo” que destrói a comunidade. Está a sugerir que
quando alguém se arroga o direito divino de se instalar na cadeira do poder e
se constitui como único e decisivo critério de verdade, pode facilmente
substituir o Evangelho pelas suas próprias normas, pelas suas próprias leis,
pelos seus próprios esquemas e visões de Deus e do mundo.
• Mateus, ao escalpelizar a
incoerência dos “fariseus”, está a avisar-nos contra a tentação de mostrarmos o
que não somos, de vendermos uma imagem “corrigida e aumentada” de nós próprios
para obtermos o aplauso e admiração dos outros, de vivermos para as aparências
e não para o compromisso simples e humilde com o Evangelho… É que a mentira e a
incoerência destroem a paz do nosso coração, roubam-nos a alegria e a
serenidade, comprometem o nosso testemunho, minam a comunidade e põem em causa
os fundamentos do Reino.
• Mateus, ao denunciar a
tendência dos “fariseus” para impor aos outros pesos insuportáveis, está a
avisar-nos contra a tentação de inventar exigências e obrigações, mandamentos e
leis que criam escravidão, que oprimem as consciências, que metem medo, que
impedem os filhos de Deus de viverem livres e felizes. Isso acontece na Igreja
de que fazemos parte? As cargas com que, às vezes, carregamos os homens e
mulheres nossos irmãos, serão sempre consequência da radicalidade do Evangelho?
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