São
Carlos de Foucauld, presbítero
1ª
Leitura (Dan 7,2-14): Contemplava eu as visões da noite, quando vi os
quatro ventos do céu que agitavam o grande mar e do mar subiam quatro animais
monstruosos, cada um diferente dos outros. O primeiro era semelhante a um leão
com asas de águia. Eu estava a olhar, quando as asas lhe foram arrancadas; ele
ergueu-se da terra e ficou de pé como um homem e foi-lhe dado um coração
humano. Depois apareceu um segundo animal semelhante ao urso, erguido sobre um
lado, com três costelas na boca, entre os dentes. E disseram-lhe: «Levanta-te e
come carne com abundância». Eu estava a olhar, quando apareceu outro animal,
semelhante ao leopardo, que tinha quatro asas de pássaro nas costas; tinha
também quatro cabeças e foi-lhe dado um poder soberano. A seguir, contemplava
eu as visões da noite, quando apareceu um quarto animal, terrível, pavoroso e
extremamente forte; tinha enormes dentes de ferro, com os quais comia,
triturava e calcava aos pés o que sobrava. Era diferente de todos os animais
que o tinham precedido e tinha dez chifres. Enquanto eu observava esses
chifres, surgiu no meio deles outro chifre mais pequeno e três dos primeiros
foram arrancados para lhe dar lugar. Nesse chifre havia olhos semelhantes aos
do homem e uma boca que dizia palavras arrogantes. Estava eu a olhar, quando
foram colocados tronos e um Ancião sentou-se. Tinha vestes brancas como a neve
e os cabelos eram como a lã pura. O seu trono eram chamas de fogo, com rodas de
lume vivo. Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Milhares de milhares
o serviam e miríades de miríades o assistiam. O tribunal abriu a sessão e os
livros foram abertos. Eu estava a olhar, por causa das palavras arrogantes que
o chifre dizia, quando vi que o animal foi morto e o seu corpo destruído e
lançado às chamas ardentes. Quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o poder,
mas a vida foi-lhes prolongada até certo tempo e determinada data. Contemplava
eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a
um Filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua
presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos,
nações e línguas O serviram. O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu
reino jamais será destruído.
Salmo
Responsorial: Dan 3
R. Louvai o Senhor, exaltai-O
para sempre.
Montes e colinas, bendizei o
Senhor, louvai-O e exaltai-O para sempre.
Plantas que germinam na terra,
bendizei o Senhor, louvai-O e exaltai-O para sempre.
Mares e rios, bendizei o Senhor,
louvai-O e exaltai-O para sempre.
Fontes, bendizei o Senhor,
louvai-O e exaltai-O para sempre.
Monstros e animais marinhos,
bendizei o Senhor, louvai-O e exaltai-O para sempre.
Aves do céu, bendizei o Senhor,
louvai-O e exaltai-O para sempre.
Animais e rebanhos, bendizei o Senhor,
louvai-O e exaltai-O para sempre.
Aleluia. Erguei-vos e levantai
a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Aleluia.
Evangelho
(Lc 21,29-33): E Jesus contou-lhes uma parábola: «Olhai a figueira e
todas as árvores. Quando começam a brotar, basta olhá-las para saber que o
verão está perto. Vós, do mesmo modo, quando virdes acontecer essas coisas,
ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. Em verdade vos digo: esta geração
não passará antes que tudo aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas
palavras não passarão».
«Quando virdes acontecer essas
coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto»
Diácono D. Evaldo PINA FILHO (Brasília,
Brasil)
Hoje nós somos convidados por
Jesus a ver os sinais que se descortinam no nosso tempo e época e a reconhecer
nestes sinais a aproximação do Reino de Deus. O convite é para que repousemos o
nosso olhar na figueira e nas outras árvores— «Olhai a figueira e todas as
árvores» (Lc 21,29)— e para que fixemos nossa atenção naquilo que percebemos
estar acontecendo nelas: «basta olhá-las para saber que o verão está perto» (Lc
21,30). As figueiras começavam a brotar. Os botões começavam a surgir. Não era
apenas a expectativa das flores ou dos frutos viriam a surgir, mas sobretudo o
prenúncio do verão, em que todas as árvores “começam a brotar”.
Segundo o Papa Bento XVI, «a
Palavra de Deus impele-nos a mudar o nosso conceito de realismo». Efetivamente,
«realista é quem conhece o fundamento de tudo no Verbo de Deus». Essa Palavra
viva que nos indica o verão como sinal de proximidade e de exuberância da
luminosidade é a própria Luz: «quando virdes acontecer essas coisas, ficai
sabendo que o Reino de Deus está perto» (Lc 21,31). Neste sentido, «a Palavra
já não é apenas audível, não possui apenas uma voz, agora a Palavra tem um
rosto (...) que podemos ver: Jesus de Nazaré” (Bento XVI).
A comunicação de Jesus com o Pai
foi perfeita; e tudo o que Ele recebeu do Pai, Ele deu-nos a nós,
comunicando-se da mesma forma perfeita conosco. Assim, a proximidade do Reino
de Deus, que expressa a livre iniciativa de Deus que vem ao nosso encontro, deve
mover-nos a reconhecer a proximidade do Reino, para que também nós nos
comuniquemos de forma perfeita com o Pai por meio da Palavra do Senhor – Verbum
Domini -, reconhecendo os sinais do Reino de Deus que está perto como
realização das promessas do Pai em Cristo Jesus.
«O Reino de Deus está perto»
Rev. D. Albert TAULÉ i Viñas (Barcelona,
Espanha)
Hoje, Jesus convida-nos a ver
como brota a figueira, símbolo da Igreja que se renova periodicamente graças
àquela força interior que Deus lhe comunica (recordemos a alegoria da videira e
dos ramos, cf. Jo 15): «Olhai a figueira e todas as árvores. Quando começam a
brotar, basta olhá-las para saber que o verão está perto» (Lc 21, 29-30).
O discurso escatológico que lemos
nestes dias, segue um estilo profético que distorce deliberadamente a
cronologia, de maneira que põe no mesmo plano acontecimentos que hão de
acontecer em momentos diversos. O fato de que no fragmento escolhido para a leitura
de hoje tenhamos um âmbito muito reduzido, dá-nos pé para pensar que teríamos
que entender o que se nos diz como algo dirigido a nós, aqui e agora: «esta
geração não passará antes que tudo aconteça» (Lc 21,32). De fato, Origenes
comenta: «Tudo isto pode suceder em cada um de nós; em nós pode ficar destruída
a morte, definitiva inimiga nossa».
Eu queria falar hoje como os
profetas: estamos a ponto de contemplar um grande broto na Igreja. Vede os
sinais dos tempos (cf Mt 16,3). Rapidamente ocorrerão coisas muito importantes.
Não tenhais medo. Permanecei no vosso lugar. Semeai com entusiasmo. Depois
podereis recolher formosas colheitas (cf. Sal 126,6). É verdade que o homem
inimigo continuará a semear a discórdia. O mal não ficará separado até ao fim
dos tempos (cf. Mt 13,30). Mas o Reino de Deus já está aqui entre nós. E abre
caminho, ainda que com muito esforço (cf. Mt 11,12).
O Papa João Paulo II dizia-nos no
início do terceiro milênio: «Duc in altum» (cf. Lc 5,4). Às vezes temos a
sensação de não fazer nada proveitoso, ou inclusive de retroceder. Mas estas
impressões pessimistas procedem de cálculos excessivamente humanos, ou da má
imagem que malevolamente difundem de nós alguns meios de comunicação. A
realidade escondida, que não faz ruído, é o trabalho constante realizado por
todos com a força que nos dá o Espírito Santo.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«A verdade sofre, mas não perece»
(Santa Teresa de Jesus)
«O tempo não é uma realidade
alheia a Deus. O tempo foi "tocado" por Cristo, Filho de Deus e de
Maria, e dele recebeu novos e surpreendentes significados: tornou-se
"tempo salvífico", isto é, tempo definitivo de salvação e graça» (Francisco)
«(…) O Reino de Deus está diante
de nós. Aproximou-se no Verbo encarnado, foi anunciado através de todo o
Evangelho, veio na morte e ressurreição de Cristo (…)» (Catecismo da Igreja
Católica, nº 2.816)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz as recomendações
finais do Discurso Apocalíptico. Jesus insiste em dois pontos: (1) na
atenção a ser dada aos sinais dos tempos (Lc 21,29-31) e (2) na
esperança, fundada na firmeza da palavra de Jesus, que expulsa o medo e o desespero (Lc
21,32-33).
* Lucas 21,29-31: Olhem a figueira e todas as
árvores. Jesus manda olhar a natureza: "Olhem a figueira e todas as
árvores. Vendo que elas estão dando brotos, vocês logo sabem que o verão está
perto. Vocês também, quando virem acontecer essas coisas, fiquem sabendo que o
Reino de Deus está perto”. Jesus pede
para a gente contemplar os fenômenos da natureza para aprender deles como ler e
interpretar as coisas que estão acontecendo no mundo. O aparecimento de brotos
na figueira é um sinal evidente de que o verão está chegando. Assim, o
aparecimento daqueles sete sinais é uma prova de “que o Reino de Deus está
perto!” Fazer este discernimento não é fácil. Uma pessoa sozinha não dá conta
do recado. É refletindo juntos em comunidade que a luz aparece. E a luz é esta:
experimentar em tudo que acontece um apelo para a gente nunca se fechar no
momento presente, mas manter o horizonte aberto e perceber em tudo que acontece
uma seta que aponta para além dela mesma em direção ao futuro. Mas a hora exata
da chegada do Reino, porém, ninguém sabe. No evangelho de Marcos, Jesus chega a
dizer: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos,
nem o Filho, mas somente o Pai!" (Mc 13,32).
* Lucas 21,32-33: “Eu garanto
a vocês: tudo isso vai acontecer, antes que passe esta geração. O céu e a terra
desaparecerão, mas as minhas palavras não desaparecerão. Esta palavra de
Jesus evoca a profecia de Isaías que dizia: "Todo ser humano é erva e toda
a sua beleza é como a flor do campo: a erva seca, a flor murcha, quando sobre
elas sopra o vento de Javé; a erva seca, a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus
se realiza sempre” (Is 40,7-8). A palavra de Jesus é fonte da nossa esperança.
O que ele disse vai acontecer!
* A vinda do Messias e o fim do mundo. Hoje,
muita gente vive preocupado com o fim do mundo. Alguns, baseando-se numa
leitura errada e fundamentalista do Apocalipse de João, chegam a calcular a
data exata do fim do mundo. No passado, a partir dos “mil anos”, mencionados no
Apocalipse (Ap 20,7), se costumava repetir: “De 1000 passou, mas de 2000 não
passará!” Por isso, na medida em que o ano 2000 chegava mais perto, muitos
ficavam preocupados. Teve até gente que, angustiada com a chegada do fim do
mundo, chegou a cometer suicídio. Mas o ano 2000 passou e nada aconteceu. O fim
não chegou! A mesma problemática havia nas comunidades cristãs dos primeiros
séculos. Elas viviam na expectativa da vinda iminente de Jesus. Jesus viria
realizar o Juízo Final para encerrar a história injusta do mundo cá de baixo e
inaugurar a nova fase da história, a fase definitiva do Novo Céu e da Nova
Terra. Achavam que isto aconteceria dentro de uma ou duas gerações. Muita gente
ainda estaria viva quando Jesus fosse aparecer glorioso no céu (1Ts 4,16-17; Mc
9,1). Havia até pessoas que já nem trabalhavam mais, porque achavam que a vinda
fosse coisa de poucos dias ou semanas (2Tes 2,1-3; 3,11). Assim pensavam. Mas
até hoje, a vinda de Jesus ainda não aconteceu! Como entender esta demora? Nas
ruas das cidades, a gente vê pintado nas paredes Jesus voltará! Vem ou não vem? E como será a vinda? Muitas
vezes, a afirmação “Jesus voltará” é usada para meter medo nas pessoas e
obrigá-las a frequentar uma determinada igreja!
* No Novo Testamento a volta
de Jesus sempre é motivo de alegria e de paz! Para os explorados e
oprimidos, a vinda de Jesus é uma Boa Notícia!
Quando vai acontecer esta vinda? Entre os judeus, as opiniões eram
variadas. Os saduceus e os herodianos diziam: “Os tempos messiânicos já chegaram!”
Achavam que o bem-estar deles durante o governo de Herodes fosse expressão do
Reino de Deus. Por isso, não queriam mudança e combatiam a pregação de Jesus
que convocava o povo a mudar e a converter-se. Os fariseus diziam: “A chegada
do Reino vai depender do nosso esforço na observância da lei!” Os essênios
diziam: “O Reino prometido só chegará quando tivermos purificado o país de
todas as impurezas”. Entre os cristãos havia a mesma variedade de opiniões.
Alguns da comunidade de Tessalônica na Grécia, apoiando-se na pregação de
Paulo, diziam: “Jesus vai voltar logo!” (1 Tes 4,13-18; 2 Tes 2,2). Paulo
responde que não era tão simples como eles imaginavam. E aos que já não
trabalhavam avisa: “Quem não quiser trabalhar não tem direito de comer!” (2Tes
3,10). Provavelmente, eram uns preguiçosos que, na hora do almoço, iam mendigar
a comida na casa do vizinho. Outros cristãos eram de opinião que Jesus só
voltaria depois que o evangelho fosse anunciado no mundo inteiro (At 1,6-11). E
achavam que, quanto maior o esforço de evangelizar, mais rápido viria o fim do
mundo. Outros, cansados de esperar, diziam: “Ele não vai voltar nunca! (2 Pd
3,4). Outros, baseando-se em palavras do próprio Jesus, diziam acertadamente:
“Ele já está no meio de nós!” (Mt 25,40).
* Hoje acontece o mesmo. Tem
gente que diz: “Do jeito que está, está bem, tanto na Igreja como na
sociedade”. Eles não querem mudança. Outros esperam pela volta imediata de
Jesus. Outros acham que Jesus só voltará através do nosso trabalho e anúncio.
Para nós, Jesus já está no nosso meio (Mt 28,20). Ele já está do nosso lado na
luta pela justiça, pela paz, pela vida. Mas a plenitude ainda não chegou. Por
isso, aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade e da
natureza (Rm 8,22-25).
Para um confronto pessoal
1) Jesus pede para olhar a
figueira, para contemplar os fenômenos da natureza. Na minha vida já aprendi
alguma coisa contemplando a natureza?
2) Jesus disse: “O céu e a
terra desaparecerão, mas as minhas palavras não desaparecerão”. Como encarno
estas palavras de Jesus em minha vida?
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