Santa
Isabel da Hungria, viúva
1ª
Leitura (Sab 13,1-9): Todos os homens que vivem na ignorância de Deus
são verdadeiramente insensatos, porque, pelos bens visíveis, não foram capazes
de conhecer Aquele que é, nem reconheceram o Artífice, pela consideração das
suas obras. Mas foi o fogo, o vento, o ar ligeiro, o ciclo dos astros, a água
impetuosa ou os luzeiros do céu que eles tomaram como deuses e senhores do
mundo. Se, fascinados pela beleza das coisas, as tomaram por deuses, reconheçam
quanto é mais excelente o seu Senhor, pois foi o Autor da beleza que as criou.
Se o que os impressionou foi a sua força e energia, compreendam quanto é mais
poderoso Aquele que as fez. Porque a grandeza e a beleza das criaturas,
conduzem, por analogia, à contemplação do seu Autor. Contudo, esses homens
incorrem apenas em ligeira censura, porque talvez se extraviem, buscando a Deus
e desejando encontrá-lo: ocupados na investigação das suas obras, deixam-se
seduzir pelas aparências, pois são belas as coisas que veem. Mas nem esses têm
desculpa: se conseguiram obter tanta ciência que podem examinar o mundo, como
não encontraram mais depressa o Senhor do mundo?
Salmo
Responsorial: 18
R. Os céus proclamam a glória
de Deus.
Os céus proclamam a glória de
Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta
mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite.
Não são palavras nem linguagem
cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia
até aos confins do mundo.
Aleluia. Erguei-vos e levantai
a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Aleluia.
Evangelho
(Lc 17,26-37): «Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá
nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam, homens e mulheres casavam-se, até
ao dia em que Noé entrou na arca. Então chegou o dilúvio e fez morrer todos.
Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam
e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e
enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no dia em que se
manifestar o Filho do Homem. »Naquele dia, quem estiver no terraço não entre
para apanhar objeto algum em sua casa. E quem estiver no campo não volte atrás.
Lembrai-vos da mulher de Ló! Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e quem
a perder, vai salvá-la. Eu vos digo: naquela noite, dois estarão na mesma cama;
um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas; uma será
tomada e a outra será deixada». Os discípulos perguntaram: «Senhor, onde
acontecerá isto?». Ele respondeu: «Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os
abutres».
«Comiam e bebiam, compravam e
vendiam, plantavam e construíam»
Fr. Austin NORRIS (Mumbai, Índia)
Hoje, no texto do Evangelho está
marcados o final dos tempos e a incerteza da vida, não tanto para
atemorizar-nos, quanto para estarmos bem precavidos e atentos, preparados para
o encontro com nosso Criador. A dimensão do sacrifício presente no Evangelho se
manifesta em seu Senhor e Salvador Jesus-cristo liderando-nos com seu exemplo,
em vista de estar sempre preparados para buscar e cumprir a Vontade de Deus. A
vigilância constante e a preparação são o selo do discípulo vibrante. Não
podemos ser semelhantes às pessoas que «comiam, bebiam, compravam, vendiam,
plantavam, construíam» (Lc 17,28). Nós, discípulos, devemos estar preparados e
vigilantes, não fosse que terminássemos por ser arrastados para um letargo
espiritual escravo da obsessão —transmitida de uma geração à seguinte— pelo
progresso na vida presente, pensando que —depois de tudo— Jesus não voltará.
O secularismo tem criado
profundas raízes em nossa sociedade. A investida da inovação e a rápida
disponibilidade de coisas e serviços pessoais nos faz sentir autossuficientes e
nos despoja da presença de Deus em nossas vidas. Só quando uma tragédia nos machuca
despertamos de nosso sonho para ver a Deus no meio de nosso “vale de
lágrimas”... Inclusive deviéramos estar agradecidos por esses momentos
trágicos, porque certamente servem para robustecer nossa fé.
Em tempos recentes, os ataques
contra os cristãos em diversas partes do mundo, incluindo meu próprio país —a
Índia— sacudiu nossa fé. Mas o Papa Francisco disse: «No entanto, os cristãos
estão desesperançados porque, em última instância, Jesus faz uma promessa que é
garantia de vitória: ‘Quem perca sua vida, a conservará’ (Lc 17,33)». Esta é
uma verdade na qual podemos confiar… Ele, poderoso testemunha de nossos irmãos
e irmãs, que dão sua vida pela fé e por Cristo não será em vão.
Así, nós lutamos por avançar na
viagem de outras vidas na sincera esperança de encontrar ao nosso Deus «o Dia
em que o Filho do homem se manifeste» (Lc 17,30).
«Quem procurar salvar a vida,
vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la»
Rev. D. Enric PRAT i Jordana
(Sort, Lleida, Espanha)
Hoje, no contexto predominante de
uma cultura materialista, muitos agem como nos tempos de Noé: «Comiam, bebiam,
homens e mulheres casavam-se»(Lc 17,27);acontecerá como nos dias de Ló: Comiam
e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam» (Lc 17,28). Com uma
visão tão míope, a aspiração suprema de muitos reduz-se a sua própria vida
física temporal e, em consequência, todo seu esforço orienta-se a conservar
essa vida, a protegê-la e enriquecê-la.
No fragmento do Evangelho que
estamos comentando, Jesus quer sair ao passo dessa concepção fragmentária da
vida que mutila ao ser humano e o leva à frustação. E o faz mediante uma
sentença séria e contundente, capaz de remover as consciências e de obrigar a
fazer perguntas fundamentais: «Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e
quem a perder, vai salvá-la». (Lc 17,33). Meditando sobre este ensino de Jesus
Cristo, diz São Agostinho: «Que dizer, então? Pereceram todos os que fazem
essas coisas, isto é, quem se casa, plantam videiras e edificam? Não eles,
senão quem presumem dessas coisas, quem antepõem essas coisas a Deus, quem
estão dispostos a ofender a Deus ao instante por essas coisas».
De fato, quem perde a vida por
conservá-la senão aquele que viveu exclusivamente na carne, sem deixar aflorar
o espírito; ou ainda mais, aquele que vive ensimesmado, ignorando por completo
aos demais? Porque é evidente que a vida na carne se perde necessariamente e,
que a vida no espírito, se não se compartilha, debilita-se
Toda a vida, por ela mesma, tende
naturalmente ao crescimento, à exuberância, à frutificação e a reprodução. Pelo
contrário, se é sequestrada e encerrada no intento de apodera-se afanosa e
exclusivamente, murcha-se, esteriliza-se e morre. Por esse motivo, todos os
santos, tomando como modelo a Jesus, que viveu intensamente para Deus e para os
homens, deram generosamente sua vida de multiformes maneiras ao serviço de Deus
e de seus semelhantes.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Mais do que o pecado em si, o
que irrita e ofende a Deus é que os pecadores não sintam nenhuma dor pelos seus
pecados» (São João Crisóstomo)
«A pretensão de que a humanidade
possa fazer justiça sem Deus é presunçosa e intrinsecamente falsa. Se as
maiores crueldades derivaram desta premissa, não é por acaso» (Bento XVI)
«(…) A caridade constitui o maior
mandamento social. Ela respeita o outro e os seus direitos, exige a prática da
justiça, de que só ela nos torna capazes e inspira-nos uma vida de entrega:
‘Quem procurar preservar a vida, há-de perdê-la; quem a perder, há-de salvá-la’
(Lc 17, 33)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1889)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje continua a reflexão sobre
a chegada do fim dos tempos e traz palavras de Jesus sobre como preparar-se
para a chegada do Reino. Era um assunto quente que, naquele tempo,
provocava muita discussão. Quem determina a hora da chegada do fim é Deus. Mas
o tempo de Deus (kairós) não se mede pelo tempo do nosso relógio (chronos).
Para Deus, um dia pode ser igual a mil anos, e mil anos igual a um dia (Sl
90,4; 2Pd 3,8). O tempo de Deus corre invisível dentro do nosso tempo, mas
independente de nós e do nosso tempo. Nós não podemos interferir no tempo, mas
devemos estar preparados para o momento em que a hora de Deus se fizer presente
dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui a mil anos. O que dá
segurança, não é saber a hora do fim do mundo, mas sim a certeza da presença da
Palavra de Jesus presente na vida. O mundo passará, mas a palavra dele jamais
passará (cf Is 40,7-8).
* Lucas 17,26-29: Como nos dias de Noé e de Ló.
A vida corre normalmente: comer, beber, casar, comprar, vender, plantar,
colher. A rotina pode envolver-nos de tal modo que já não conseguimos pensar em
outra coisa, em mais nada. E o consumismo do sistema neoliberal contribui para
aumentar em muitos de nós esta total desatenção à dimensão mais profunda da
vida. Deixamos o cupim entrar na viga da fé que sustenta o telhado da nossa
vida. Quando tempestade derrubar a casa, muitos dão a culpa ao carpinteiro:
“Mau serviço!” Na realidade, a causa da queda foi a nossa desatenção
prolongada. A alusão à destruição de Sodoma como figura do que vai acontecer no
fim dos tempos, é uma alusão à destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70
dC (cf Mc 13,14).
* Lucas 17,30-32: Assim será nos dias do Filho
do Homem. “O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado”.
Difícil para nós imaginar o sofrimento e o trauma que a destruição de Jerusalém
causou nas comunidades, tanto dos judeus como dos cristãos. Para ajudá-las a
entender e a enfrentar o sofrimento, Jesus usa comparações tiradas da vida:
“Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça para apanhar os bens que estão
em casa, e quem estiver nos campos não volte para trás”. A destruição virá com
tal rapidez que não vale a pena descer para casa para buscar alguma coisa
dentro da casa (Mc 13,15-16). “Lembrem-se da mulher de Ló” (cf. Gn 19,26), isto
é, não olhem para trás, não percam tempo, tomem a decisão e vão em frente: é
questão de vida ou de morte.
* Lucas 17,33: Perder a vidas para ganhá-la. “Quem
procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem a perde, vai conservá-la”. Só
se sente realizada na vida a pessoa que for capaz de doar-se inteiramente pelos
outros. Perde a vida quem quer conservá-la só para si. Este conselho de Jesus é
a confirmação da mais profunda experiência humana: a fonte da vida está na
doação da vida. É dando que se recebe. “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo
não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito
fruto” (Jo 12,24). Importante é a
motivação que o Evangelho de Marcos acrescenta: “Por causa de mim e por causa
do Evangelho” (Mc 8,35). Dizendo que ninguém é capaz de conservar sua vida com
seu próprio esforço, Jesus evoca o salmo onde se diz que ninguém é capaz de
pagar o preço do resgate da vida: “O homem não pode comprar seu próprio
resgate, nem pagar a Deus o preço de si mesmo. É tão caro o resgate da vida,
que nunca bastará para ele viver perpetuamente, sem nunca ver a cova”. (Sl 49,8-10).
* Lucas 17,34-36: Vigilância. “Eu digo a
vocês: nessa noite, dois estarão numa cama. Um será tomado, e o outro será
deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas. Uma será tomada, e a outra
deixada. Dois homens estarão no campo. Um será levado, e o outro será
deixado". Evoca a parábola das dez moças. Cinco eram prudentes e cinco
eram bobas (Mt 25,1-11). O que importa é estar preparado. As palavras “Um será
tomado, e o outro será deixado” evocam as palavras de Paulo aos Tessalonicenses
(1Tes 4,13-17), quando diz que, na vinda do Filho do homem, seremos arrebatados
ao céu junto com Jesus. Estas palavras “deixados para trás” forneceram o título
para um terrível e perigoso romance da extrema direita fundamentalista dos
Estados Unidos: “Lefted behind!” Este romance não nada tem a ver com o sentido
real das palavras de Jesus.
* Lucas 17,37: Onde e quando? “Os
discípulos perguntaram: "Senhor, onde acontecerá isso?" Jesus
respondeu: "Onde estiver o corpo, aí se reunirão os urubus". Resposta
enigmática. Alguns acham que Jesus evoca a profecia de Ezequiel, retomada no
Apocalipse, na qual o profeta se refere à batalha vitoriosa final contra os
poderes do mal. As aves de rapina ou os urubus serão convidadas para comer a
carne dos cadáveres (Ez 39,4.17-20; Ap 19,17-18). Outros acham que se trata do
vale de Josafá, onde será realizado o juízo final conforme a profecia de Joel
(Joel 4,2.12). Outros ainda acham que se trata simplesmente de um provérbio
popular que significava mais ou menos o mesmo que diz o nosso provérbio: “Onde
tem fumaça, tem fogo!”
Para um confronto pessoal
1) Sou dos tempos de
Noé e de Ló?
2) Romance da extrema
direita. Como me situa diante desta manipulação política da fé em Jesus?
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