Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
A parábola de Jesus fala da
resposta que se dá ao convite de Deus, inclusive de indiferença, irritação,
desprezo e hostilidade.
* O evangelho de hoje traz a
parábola do banquete que se encontra em Mateus e em Lucas, mas com diferenças
significativas, provenientes da perspectiva de cada evangelista. O pano de
fundo, porém, que levou os dois evangelistas a conservar esta parábola é o mesmo.
Na comunidades dos primeiros cristãos, tanto de Mateus como de Lucas,
continuava bem vivo o problema da convivência entre judeus convertidos e pagãos
convertidos. Os judeus tinham normas antigas que os impediam de comer com os
pagãos. Mesmo depois de terem entrado na comunidade cristã, muitos judeus
mantinham o costume antigo de não sentar à mesma mesa com um pagão. Assim,
Pedro teve conflitos na comunidade de Jerusalém, por ter entrado na casa de
Cornélio, um pagão, e ter comido com ele (At 11,3). Este mesmo problema, porém,
era vivido de maneira diferente nas comunidades de Lucas e nas de Mateus.
* Nas comunidades de Lucas,
apesar das diferenças de raça, classe e gênero, eles tinham um grande ideal de
partilha e de comunhão (At 2,42; 4,32; 5,12). Por isso, no evangelho de
Lucas (Lc 14,15-24), a parábola insiste no convite feito a todos. O dono da
festa, indignado com a desistência dos primeiros convidados, mandou chamar os
pobres, os aleijados, os cegos, os mancos para virem participar do banquete.
Mesmo assim sobrava lugar. Então, o dono da festa mandou convidar todo mundo,
até que a casa ficasse cheia. No evangelho de Mateus, a primeira parte da
parábola (Mt 22,1-10) tem o mesmo objetivo de Lucas. Ele chega a dizer que o
dono da festa mandou entrar “bons e maus” (Mt 22,10). Mas no fim ele acrescenta
uma outra parábola (Mt 22,11-14) sobre o traje de festa, que insiste no que é
específico dos judeus, a saber, a necessidade da pureza para poder comparecer
diante de Deus.
* Mateus 22,1-2: O convite
para todos. Alguns manuscritos dizem que a parábola foi contada para os
chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo. Esta afirmação pode até servir
como chave de leitura, pois ajuda a compreender alguns pontos estranhos que
aparecem na história que Jesus conta. A parábola começa assim: "O Reino do
Céu é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Esta
afirmação inicial evoca a esperança mais profunda: o desejo do povo de estar
com Deus para sempre. Várias vezes nos evangelhos se alude a esta esperança,
sugerindo que Jesus, o filho do Rei, é o noivo que veio preparar o casamento
(Mc 2,19; Apc 21,2; 19,9).
* Mateus 22,3-6: Os convidados
não quiseram vir. O rei fez dois convites muita insistentes, mas os
convidados não quiseram vir. “Um foi para o seu campo, outro foi fazer os seus
negócios, e outros agarraram os empregados, bateram neles, e os mataram”. *
Mateus 22,3-6: Os convidados não quiseram vir. O rei fez dois convites muita
insistentes, mas os convidados não quiseram vir. “Um foi para o seu campo,
outro foi fazer os seus negócios, e outros agarraram os empregados, bateram
neles, e os mataram”. Em Lucas são os deveres da vida cotidiana que impedem os
convidados de aceitar o convite. O primeiro diz: “Comprei um terreno. Preciso
vê-lo!” O segundo: “Comprei cinco juntas de bois! Vou experimentá-las!” O
terceiro: “Casei. Não posso ir!” (cf. Lc 14,18-20).Dentro das normas e costumes
da época, aquelas pessoas tinham o direito e até o dever de recusar o convite
que lhes foi feito (cf Dt 20,5-7).
* Mateus 22,7: Uma guerra
incompreensível. A reação do rei diante da recusa surpreende. “Indignado, o
rei mandou suas tropas, que mataram aqueles assassinos, e puseram fogo na
cidade deles. Como entender esta reação tão violenta? A parábola foi contada
para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (Mt 22,1), os responsáveis
pelos da nação. Muitas vezes, Jesus tinha falado a eles sobre a necessidade da
conversão. Ele chegou a chorar sobre a cidade de Jerusalém e dizer: "Se
também você compreendesse hoje o caminho da paz! Agora, porém, isso está
escondido aos seus olhos! Vão chegar dias em que os inimigos farão trincheiras
contra você, a cercarão e apertarão de todos os lados. Eles esmagarão você e
seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. Porque você não
reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 14,41-44). A reação
violenta do rei na parábola refere-se provavelmente ao que aconteceu de fato de
acordo com a previsão de Jesus. Quarenta anos depois, Jerusalém foi destruída
(Lc 19,41-44;21,6;).
* Mateus 22,8-10: O convite
permanece de pé. Pela terceira vez, o rei convida o povo. Ele disse aos
empregados: “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não a
mereceram. Portanto, vão até as encruzilhadas dos caminhos, e convidem para a
festa todos os que vocês encontrarem. Então os empregados saíram pelos
caminhos, e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa
ficou cheia de convidados“. Os maus que eram excluídos como impuros da
participação no culto dos judeus, agora são convidados, especificamente, pelo
rei para participar da festa. No contexto da época, os maus eram os pagãos.
Eles também são convidados para participar da festa de casamento.
* Mateus 22,11-14: O traje de
festa. Estes versos contam como o rei entrou na sala da festa e viu alguém
sem o traje da festa. O rei perguntou: 'Amigo, como foi que você entrou aqui
sem o traje de festa?' Mas o homem nada respondeu. A história conta que o homem
foi amarrado e jogado fora na escuridão. E conclui: “Muitos são chamados, e
poucos são escolhidos”. Alguns estudiosos acham que aqui se trata de uma
segunda parábola que foi acrescentada para abrandar a impressão que ficou da
primeira parábola onde se disse que “maus e bons” entraram para a festa (Mt
22,10). Mesmo admitindo que já não é a observância da lei que nos traz a salvação,
mas sim a fé no amor gratuito de Deus, isto em nada diminui a necessidade da
pureza do coração como condição para poder comparecer diante de Deus.
Para um confronto pessoal:
1. Quais as pessoas que
normalmente são convidadas para as nossas festas? Por quê? Quais as pessoas que
não são convidadas para as nossas festas? Por quê?
2. Quais os motivos que
hoje limitam a participação de muitas pessoas na sociedade e na igreja? Quais
os motivos que certas pessoas alegam para se excluir do dever de participar na
comunidade? Será que são motivos justos?
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