São João de Capistrano,
presbítero
Beato João Ângelo Porro,
presbítero
1ª
Leitura (Rom 4,20-25): Irmãos: Perante a promessa de Deus, Abraão não se
deixou abalar pela desconfiança, antes se fortaleceu na fé, dando glória a
Deus, plenamente convencido de que Deus era capaz de cumprir o que tinha
prometido. Por este motivo é que isto «lhe foi atribuído como justiça». Não é
só por causa dele que está escrito «Isto foi-lhe atribuído», mas também por
causa de nós, que acreditamos n’Aquele que ressuscitou dos mortos, Jesus, Nosso
Senhor, que foi entregue à morte por causa das nossas faltas e ressuscitou para
nossa justificação.
Salmo
Responsorial: Lc 1
R. Bendito seja o Senhor, Deus
de Israel, que visitou e redimiu o seu povo.
O Senhor nos deu um Salvador
poderoso, na casa de David, seu servo, como prometeu pela boca dos seus santos,
os profetas dos tempos antigos;
Para nos libertar dos nossos
inimigos e das mãos daqueles que nos odeiam; para mostrar a sua misericórdia a
favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança:
O juramento que fizera a Abraão,
nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: de O servirmos um dia, sem
temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça na sua
presença, todos os dias da nossa vida.
Aleluia. Bem-aventurados os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
Evangelho
(Lc 12,13-21): Alguém do meio da multidão disse a Jesus: Mestre, diz ao
meu irmão que reparta a herança comigo. Ele respondeu: Homem, quem me
encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós?. E disse-lhes: Atenção!
Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a
vida não consiste na abundância de bens. E contou-lhes uma parábola: A terra de
um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: Que vou
fazer? Não tenho onde guardar minha colheita. Então resolveu: Já sei o que
fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o
meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro,
tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida! Mas
Deus lhe diz: Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem
ficará o que acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não se torna rico diante de Deus.
«A vida não consiste na
abundância de bens»
Frei Lluc TORCAL Monge do Mosteiro
de Sta. Mª de Poblet (Sta Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Hoje, o Evangelho, se não nos
tapamos os ouvidos e não fechamos os olhos, provocará em nós uma grande comoção
pela sua clareza: E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a
avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não
depende de suas riquezas (Lc 12,15). Que é o que garante a vida do homem?
Sabemos muito bem em que está
garantida a vida de Jesus, porque Ele mesmo disse: Pois como o Pai tem a vida
em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo (Jn 5,26).
Sabemos que a vida de Jesus não somente procede do Pai, mas que consiste em
fazer sua vontade, já que este é seu alimento, e a vontade do Pai equivale a
realizar sua grande obra de salvação entre os homens, dando a vida por seus
amigos, signo do mais sublime amor. A vida de Jesus é, pois, uma vida recebida
totalmente do Pai e entregada totalmente ao mesmo Pai e, por amor ao Padre, aos
homens. A vida humana poderá ser então suficiente em si mesma? Poderá negar-se
que nossa vida é um dom, que a recebemos e que, somente por isso, já devemos
agradecer? Que ninguém pense que é dono de sua própria vida (São Jerônimo).
Seguindo esta lógica, só falta
perguntar-nos: Que sentido pode ter nossa vida se se encerra em si mesma, se
tem prazer ao dizer: E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em
depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te (Lc 12,19) Se
a vida de Jesus é um dom recebido e entregue sempre em amor, nossa vida; que
não podemos negar ter recebido; deve converter-se, seguindo à de Jesus, em uma
doação total a Deus e aos irmãos, porque, Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas
quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jn 12,25).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Minha presunção exagerada me
decepcionou, meu Cristo: caí muito baixo das alturas. Mas levanta-me de novo
agora, pois vejo que me enganei a mim proprio» (São Gregório de Nazianzo)
«As realidades da verdade e do
amor —nosso autêntico caminho— não se encontram no mundo das quantidades»
(Bento XVI)
«A economia da Lei e da Graça
desvia o coração dos homens da cobiça e da inveja (…). O Deus das promessas
desde sempre pôs o homem em sentinela contra a sedução daquilo que, desde as
origens, aparece como ‘bom para comer, de atraente aspecto e precioso para
esclarecer a inteligência’ (Gn 3, 6)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.541)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O episódio narrado no evangelho de hoje só
se encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos outros evangelhos.
Ele faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a Galileia até
Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte das
informações que ele conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se
encontram nos outros três evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a
resposta de Jesus à pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma
herança.
* Lucas 12,13: Um pedido para repartir herança.
“Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: "Mestre, dize ao meu irmão
que reparta a herança comigo". Até hoje, a distribuição da herança entre
os familiares sobreviventes é sempre uma questão delicada e, muitas vezes,
ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a herança tinha a ver
também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm
27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição das terras entre os
filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo de a herança se
esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam garantir a
sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o esfacelamento ou desintegração
da herança e manter vivo o nome da família, o mais velho recebia o dobro dos
outros filhos (Dt 21,17; cf. 2Rs 2,11).
* Lucas 12,14-15: Resposta de Jesus: cuidado
com a ganância. “Jesus respondeu: "Homem, quem foi que me encarregou
de julgar ou dividir os bens entre vocês?" Na resposta de Jesus transparece
a consciência que ele tinha da sua missão. Jesus não se sente enviado por Deus
para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que brigam entre si por
causa da repartição da herança. Mas o pedido do homem despertou nele a missão
de orientar as pessoas, pois “ele falou a todos: Atenção! Tenham cuidado com
qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua
vida não depende de seus bens". Fazia parte da sua missão esclarecer as
pessoas a respeito do sentido da vida. O valor de uma vida não consiste em ter
muitas coisas, mas sim em ser rico para Deus (Lc 12,21). Pois, quando a
ganância toma conta do coração, não há como repartir a herança com equidade e
paz.
* Lucas 12,16-19: Parábola que faz pensar no
sentido da vida. Em seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as
pessoas a refletir sobre o sentido da vida: "A terra de um homem rico deu
uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar
minha colheita”. O homem rico está totalmente fechado dentro da preocupação com
os seus bens que aumentaram de repente por causa de uma colheita abundante. Ele
só pensa em acumular para garantir-se uma vida despreocupada. Ele diz: “Já sei
o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou
guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim
mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos;
descanse, coma e beba, alegre-se!”
* Lucas 12,20: Primeira conclusão da parábola. “Mas
Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida.
E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave
importante para redescobrir o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo,
pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser
perde tudo na hora da morte. Aqui transparece um pensamento muito frequente nos
livros sapienciais: para que acumular bens nesta vida, se você não sabe para
quem vão ficar os bens que você acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro
com aquilo que você deixou para ele (Ecle 2,12.18-19.21).
* Lucas 12,21: Segunda conclusão da parábola. “Assim
acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus”.
Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu várias sugestões e conselhos: quem
quer ser o primeiro, seja o último (Mt 20,27; Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que
receber (At 20,35); o maior é o menor (Mt 18,4; 23,11; Lc 9,48) preserva vida
quem perde a vida (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc 9,24).
Para um confronto pessoal
1) O homem pediu a Jesus
para ajudar na repartição da herança. E você, o que você pede a Deus nas suas
orações?
2) O consumismo cria
necessidades e desperta em nós a ganância. Como você faz para não ser vítima da
ganância provocado pelo consumismo?
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