São
John Henry Newman, presbítero e cardeal
Venerável
PIO XII, papa
1ª
Leitura (Jn 1,1—2,1.11): A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho
de Amitai: «Levanta-te e vai à grande cidade de Nínive e anuncia-lhe que a fama
da sua malícia chegou à minha presença». Jonas levantou-se, a fim de fugir para
Társis, para longe da presença do Senhor. Desceu a Jope, onde encontrou um
navio que ia para Társis. Pagou a sua passagem e embarcou, a fim de seguir com
os viajantes para Társis, para longe da presença do Senhor. Mas o Senhor fez
que soprasse um forte vento sobre o mar e levantou-se uma grande tempestade, a
ponto de o navio ameaçar afundar-se. Os marinheiros estavam aterrados e começou
cada qual a clamar pelo seu deus. Para aliviarem o navio, deitaram a carga ao
mar. Entretanto, Jonas tinha descido ao porão do navio e, deitado, dormia
profundamente. O capitão foi ter com ele e disse-lhe: «Como podes dormir?
Levanta-te e invoca o teu Deus. Talvez Ele Se lembre de nós e não pereçamos».
Os tripulantes disseram uns para os outros: «Vamos deitar sortes, para sabermos
quem é o responsável desta desgraça». Deitaram sortes e a sorte caiu sobre
Jonas. Então disseram-lhe: «Declara-nos por que motivo nos vem esta desgraça.
Qual é a tua profissão? Donde vens? Qual é a tua terra e a que povo pertences?»
Jonas respondeu-lhes: «Eu sou hebreu e presto culto ao Senhor, Deus do Céu, que
fez o mar e a terra». Então aqueles homens sentiram um grande temor e
disseram-lhe: «Que fizeste? – Pelo que Jonas lhes tinha contado, eles sabiam
que fugia da presença do Senhor – Que havemos de fazer-te, para que o mar se
acalme à nossa volta?». É que o mar se tornava cada vez mais impetuoso. Jonas disse-lhes:
«Agarrai-me e lançai-me ao mar e o mar acalmar-se-á à vossa volta, porque eu
sei que é por minha causa que esta grande tormenta caiu sobre vós». Os
marinheiros remaram, tentando alcançar a costa, mas em vão, porque o mar se
agitava cada vez mais contra eles. Então invocaram o Senhor, dizendo: «Ah,
Senhor! Não queremos morrer por causa deste homem; mas não nos torneis
responsáveis pela morte dum inocente, porque Vós, Senhor, fareis o que Vos
agrada». Pegaram em Jonas e lançaram-no ao mar e o mar acalmou a sua fúria.
Aqueles homens começaram a temer muito o Senhor; ofereceram-Lhe um sacrifício e
fizeram-Lhe votos. Então o Senhor enviou um grande peixe para engolir Jonas e
Jonas ficou nas entranhas do peixe três dias e três noites. Por fim, o Senhor ordenou
ao peixe que vomitasse Jonas na praia.
Salmo
Responsorial:
R. Livrastes a minha vida do
profundo abismo, Senhor, meu Deus.
Na minha aflição invoquei o
Senhor e Ele respondeu-me. Da morada dos mortos clamei por socorro e ouvistes a
minha voz.
Lançastes-me no profundo abismo
dos mares e as ondas me envolveram; as vossas torrentes e vagas passaram sobre
mim.
Na minha aflição eu dizia: «Fui
afastado da vossa presença. Como poderei ainda voltar a ver o vosso templo
santo?»
Quando minha alma desfalecia,
lembrei-me do Senhor e a minha oração chegou à vossa presença, ao vosso templo
santo.
Aleluia. Dou-vos um mandamento
novo, diz o Senhor: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Aleluia.
Evangelho
(Lc 10,25-37): Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar
Jesus, perguntou: «Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?». Jesus
lhe disse: «Que está escrito na Lei? Como lês?». Ele respondeu: «Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua
força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!». Jesus lhe
disse: «Respondeste corretamente. Faze isso e viverás». Ele, porém, querendo
justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus retomou: «Certo
homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes
arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto.
Por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho. Quando viu o homem,
seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao
lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que
estava viajando, chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se
dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o
em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte,
pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: Toma conta
dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gastado a mais». E Jesus
perguntou: «Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas
mãos dos assaltantes?». Ele respondeu: «Aquele que usou de misericórdia para
com ele». Então Jesus lhe disse: «Vai e faze tu a mesma coisa».
«Mestre, que devo fazer para
herdar a vida eterna?»
Rev. Pe. Ivan LEVYTSKYY CSsR (Lviv,
Ucrânia)
Hoje, a mensagem evangélica
assinala o caminho da vida: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração
(...) e teu próximo como a ti mesmo!»(Lc 10,27) E porque Deus nos amou
primeiro, leva-nos à união com Ele. Santa Teresa de Calcutá disse: «Nós
necessitamos dessa união íntima com Deus na nossa vida quotidiana. Mas, como
podemos consegui-la? Através da oração». Estando em união com Deus começamos a
experimentar que tudo é possível com Ele, inclusive amar o próximo.
Alguém dizia que o cristão entra
na Igreja para amar a Deus e sai para amar o próximo. O Papa Bento sublinha que
o programa do cristão - o programa do bom samaritano, o programa de Jesus - é
«um coração que vê». Ver e parar! Na parábola, duas pessoas veem o necessitado,
mas não param. Por isso Cristo repreende os fariseus dizendo: «Tendes olhos e
não vedes» (Mc 8,18) Pelo contrário, o samaritano vê e para, tem compaixão e
assim salva a vida ao necessitado e a si mesmo.
Quando o famoso arquiteto catalão
Antonio Gaudí foi atropelado por um eléctrico, algumas pessoas que passavam não
pararam para ajudar aquele ancião ferido. Não levava nenhum documento e pelo
aspecto parecia um mendigo. Se tivessem sabido quem era aquele próximo,
certamente teriam feito fila para o ajudar.
Quando praticamos o bem, pensamos
que o fazemos pelo próximo, mas na verdade também o fazemos por Cristo: «Em
verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos,
que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25,40) E o meu próximo,
disse Bento XVI, é qualquer pessoa que tenha necessidade de mim e que eu possa
ajudar.
Se cada um, ao ver o próximo em
necessidade, parasse e se compadecesse dele uma vez por dia ou por semana, a
crise diminuiria e o mundo seria melhor. «Nada nos faz tão semelhantes a Deus
como as boas obras» (São Gregório de Nisa).
«Aquele que usou de
misericórdia para com ele»
Ir. Lluís SERRA i Llançana (Roma,
Itália)
Hoje, um mestre da Lei faz a
Jesus uma pergunta que talvez nós tenhamos feito mais de uma vez: «Que hei de
fazer para ter como herança a vida eterna?» (Lc 10,25). Era uma pergunta feita
com segundas intenções, pois queria pôr Jesus à prova. O mestre responde
sabiamente o que diz a Lei, isto é, amar a Deus e ao próximo como a si mesmo
(cf. Lc 10,27). A chave é amar. Se buscarmos a vida eterna, sabemos que «a fé e
a esperança passarão, enquanto o amor não passará nunca» (cf. 1Cor 13,13).
Qualquer projeto de vida e qualquer espiritualidade cujo centro não seja o amor
nos distancia do sentido da existência. Um ponto de referência importante é o
amor a si mesmo, frequentemente esquecido. Somente podemos amar a Deus e ao
próximo desde nossa própria identidade.
O mestre da Lei vai mais longe
ainda e pergunta a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10,29). A resposta
chega através de um conto, de uma parábola, de história curta, sem formulações
teóricas complicadas, mas com um grande conteúdo. O modelo de próximo é um
samaritano, quer dizer um marginado, um excluído do povo de Deus. Um sacerdote
e um levita passam de longe ao ver o homem espancado e malferido. Os que
parecem estar mais perto de Deus (o sacerdote e o levita) são os que estão mais
distantes do próximo. O mestre da Lei evita pronunciar a palavra samaritano
para indicar a quem se comportou como próximo do homem malferido e diz: «Aquele
que usou de misericórdia para com ele» (Lc 10,37).
A proposta de Jesus é clara: «Vai
e faze tu o mesmo». Não é a conclusão teórica do debate, e sim o convite a
viver a realidade de amor, o qual é muito mais do que um sentimento etéreo,
pois se trata de um comportamento que vence as discriminações sociais e que
surge do coração da pessoa. São João da Cruz nos recorda que «ao entardecer da
vida te examinarão o amor».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Porque o objetivo que se nos foi
indicado não consiste em algo pequeno, mas sim que nos esforcemos pela
possessão da vida eterna» (São Cirilo de Jerusalém)
«No programa messiânico de
Cristo, que é a sua vez o programa do reino de Deus, o sofrimento está presente
no mundo para provocar amor, para fazer nascer obras de amor ao próximo» (São
João Paulo II)
«Não podemos estar em união com
Deus se não escolhermos livremente amá-Lo. Mas não podemos amar a Deus se pecarmos
gravemente contra Ele, contra o nosso próximo ou contra nós mesmos: “Quem não
ama permanece na morte. Todo aquele que odeia o seu irmão é um homicida: ora
vós sabeis que nenhum homicida tem em si a vida eterna” (1Jo 3, 14-15)»
(Catecismo da Igreja Católica, n° 1033)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz a parábola do Bom
Samaritano. Meditar uma parábola é o mesmo que aprofundar a vida, a fim de
descobrir dentro dela os apelos de Deus. Ao descrever a longa viagem de Jesus a
Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas ajuda as comunidades a entender melhor em
que consiste a Boa Nova do Reino. Ele faz isto apresentando pessoas que vêm
falar com Jesus e lhe fazem perguntas. Eram perguntas reais do povo do tempo de
Jesus e eram também perguntas reais das comunidades do tempo de Lucas. Assim,
no evangelho de hoje, um doutor da lei pergunta: "O que devo fazer para
obter a vida eterna?" A resposta, tanto do doutor como de Jesus, ajuda a
entender melhor o objetivo da Lei de Deus.
* Lucas 10,25-26: "O que devo fazer para
herdar a vida eterna?" Um doutor, conhecedor da lei, quer provocar
Jesus e pergunta: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?" O
doutor acha que deve fazer algo para poder herdar. Ele quer garantir a herança
pelo seu próprio esforço. Mas uma herança não se merece. Herança, nós a
recebemos pelo simples fato de sermos filho ou filha. “Você já não é escravo,
mas filho; e se é filho, é também herdeiro por vontade de Deus”. (Gal 4,7).
Como filhos e filhas não podemos fazer nada para merecer a herança. Podemos é
perdê-la!
* Lucas 10,27-28: A resposta do doutor. Jesus
responde com uma nova pergunta: "O que diz a lei?" O doutor responde
corretamente. Juntando duas frases da Lei, ele diz: "Amar a Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento e ao
próximo como a ti mesmo!" A frase vem do Deuteronômio (Dt 6,5) e do
Levítico (Lv 19,18). Jesus aprova a resposta e diz: "Faz isto e
viverás!" O importante, o principal, é amar a Deus! Mas Deus vem até mim
no próximo. O próximo é a revelação de Deus para mim. Por isso, devo amar
também o próximo de todo o meu coração, de toda a minha alma, com toda a minha
força e com todo o meu entendimento!
* Lucas 10,29: "E quem é o meu
próximo?" Querendo justificar-se, o doutor pergunta: "E quem é o meu
próximo?" Ele quer saber para si mesmo: "Em que próximo Deus vem até
mim?" Ou seja, qual é a pessoa humana próxima de mim que é revelação de
Deus para mim? Para os judeus, a expressão próximo estava ligada ao clã. Quem
não era do clã, não era próximo. Conforme o Deuteronômio, eles podiam explorar
ao “estrangeiro”, mas não ao “próximo” (Dt 15,1-3). A proximidade era baseada
nos laços de raça e de sangue. Jesus tem outra maneira de ver, que ele expressa
na parábola do Bom Samaritano.
* Lucas 10,30-36: A parábola
1. Lucas 10,30: O assalto na
estrada de Jerusalém para Jericó. Entre Jerusalém e Jericó encontra-se o
deserto de Judá, refúgio de revoltosos, marginais e assaltantes. Jesus conta um
caso real que deve ter acontecido muitas vezes. “Um homem ia descendo de
Jerusalém para Jericó, e caiu na mão de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e
o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto”.
2. Lucas 10,31-32: Passa um
sacerdote, passa um levita. Casualmente, passa um sacerdote e, em seguida,
um levita. São funcionários do Templo, da religião oficial. Os dois viram o
assaltado, mas passaram adiante. Não fizeram nada. Por que não fizeram nada?
Jesus não o diz. Ele deixa você supor ou se identificar. Deve ter acontecido
muitas vezes, tanto no tempo de Jesus como no tempo de Lucas. Acontece também
hoje: uma pessoa de igreja passa perto de um pobre sem dar-lhe ajuda. Pode até
ser que o sacerdote e o levita tenham tido a justificativa: "Ele não é meu
próximo!" ou: "Ele está impuro e se eu tocar nele, ficarei impuro
também!" E hoje: "Se eu ajudar, perco a missa do domingo e faço
pecado mortal!"
3. Lucas 10,33-35: Passa um
samaritano. Em seguida, chega um samaritano que estava de viagem. Ele vê,
move-se de compaixão, aproxima-se, cuida das chagas, coloca o homem no seu
próprio animal, leva-o até a hospedaria, cuida dele durante a noite e, no dia
seguinte, dá ao dono da hospedaria dois denários, o salário de dois dias,
dizendo: "Cuida dele e o que gastares a mais no meu regresso te pago!"
É ação concreta e eficiente. É ação progressiva: chegar, ver, mover-se de
compaixão, aproximar-se e partir para a ação. A parábola diz "um
samaritano que estava de viagem". Jesus também estava em viagem até
Jerusalém. Jesus é o bom samaritano. As comunidades devem ser o bom samaritano.
* Lucas 10,36-37: Quem dos três foi o próximo
do homem assaltado? No início, o doutor tinha perguntado: "Quem é o
meu próximo?" Por de trás da pergunta estava a preocupação consigo mesmo.
Ele queria saber: "A quem Deus me manda amar, para que eu possa ter a
consciência em paz e dizer: Fiz tudo que Deus pede de mim!" Jesus faz
outra pergunta: "Quem dos três foi o próximo do homem assaltado?" A
condição de próximo não depende da raça, do parentesco, da simpatia, da
vizinhança ou da religião. A humanidade não está dividida em próximos e
não-próximos. Para você saber quem é o seu próximo, isto depende de você
chegar, ver, mover-se de compaixão e se aproximar. Se você se aproximar, o
outro será o seu próximo! Depende de você e não do outro! Jesus inverteu tudo e
tirou a segurança que a observância da lei poderia dar ao doutor.
* Os
Samaritanos. A palavra samaritano vem de Samaria, capital do reino de
Israel no Norte. Depois da morte de Salomão, em 931 antes de Cristo, as dez tribos
do Norte se separaram do reino de Judá no Sul e formaram um reino independente
(1Rs 12,1-33). O Reino do Norte sobreviveu durante uns 200 anos. Em 722, o seu
território foi invadido pela Assíria. Grande parte da sua população foi
deportada (2Rs 17,5-6) e gente de outros povos foram trazidos para Samaria (2Rs
17,24). Houve mistura de raça e de religião (2Rs 17,25-33). Desta mistura
nasceram os samaritanos. Os judeus do Sul desprezavam os samaritanos como
infiéis e adoradores de falsos deuses (2Rs 17,34-41). Havia muito preconceito
contra os samaritanos. Eles eram malvistos. Dizia-se deles que tinham uma
doutrina errada e que não faziam parte do povo de Deus. Alguns chegaram ao
ponto de dizer que ser samaritano era coisa do diabo (Jo 8,48). Muito provavelmente,
a causa deste ódio não era só a raça e a religião. Era também um problema
político-econômico, ligado à posse da terra. Esta rivalidade perdurava até o
tempo de Jesus. Mesmo assim Jesus coloca os samaritanos como exemplo e modelo
para os outros.
Para um confronto pessoal
1. O samaritano da
parábola não era do povo judeu, mas era ele que fazia o que Jesus pede. Isto
acontece hoje? Você conhece gente que não frequenta a igreja, mas vive o que
evangelho pede? Quem são hoje o sacerdote, o levita e o samaritano?
2. O doutor perguntou:
“Quem é o meu próximo?” Jesus perguntou:
“Quem foi próximo do homem assaltado?” São duas perspectivas diferentes: o
doutor pergunta a partir de si mesmo. Jesus pergunta a partir das necessidades
do outro. Qual é a minha perspectiva?
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