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terça-feira, 31 de outubro de 2023

2 de novembro: Comemoração de todos os fiéis defuntos

1ª Leitura (Sab Jó 19, 1.23-27a ):
Jó tomou a palavra e disse: «Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar».
 
Salmo Responsorial: 26
R. Espero contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos.
 
O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é o protetor da minha vida: de quem hei de ter medo?
 
Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.
 
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me. A vossa face, Senhor, eu procuro: não escondais de mim o vosso rosto.
 
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia no Senhor.
 
2ª Leitura (Rom 2 Cor 4, 14 – 5,1 ): Como sabemos, irmãos, Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele. Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia. Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 23,33.39-43): Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar. Ele lhe respondeu: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso
 
«Construís os túmulos dos profetas! No entanto, foram vossos pais que os mataram»
 
Fr. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho recorda o fato fundamental do Cristianismo: a morte e ressurreição de Jesus. Façamos nossa, agora, a oração do Bom Ladrão: Jesus, lembra-te de mim (Lc 23, 42). A Igreja não reza pelos santos como ora pelos defuntos, que dormem no Senhor, mas encomenda-se às orações daqueles e reza por estes, diz Sto. Agostinho num Sermão. Pelo menos uma vez por ano nós, os cristãos, questionamo-nos sobre o sentido da nossa vida e sobre o sentido da nossa morte e ressurreição. É no dia da comemoração dos fiéis defuntos, da qual Sto. Agostinho nos apontou a diferença em relação à festa de Todos os Santos.
 
Os sofrimentos da Humanidade são os sofrimentos da Igreja e têm em comum, sem dúvida, o fato de todo o sofrimento ser de algum modo privação de vida. Por isso a morte de um ser querido nos causa uma dor tão indescritível que nem a fé sozinha consegue aliviá-la. Assim, os homens sempre quiseram honrar os defuntos. Na verdade, a memória é uma forma de fazer com que os ausentes estejam presentes, de perpetuar a sua vida. Mas os mecanismos psicológicos e sociais, com o tempo, amortecem as recordações. E se, humanamente, esse fato pode levar à angústia, os cristãos, graças à ressurreição, têm paz. A vantagem de nela crermos é que nos permite confiar em que, apesar do esquecimento, voltaremos a encontrar-nos na outra vida.
 
Uma segunda vantagem de crermos consiste em que, ao recordar os defuntos, rezamos por eles. Fazemo-lo no nosso interior, na intimidade com Deus, e cada vez que rezamos juntos, na Eucaristia: não estamos sós perante o mistério da morte e da vida, antes o compartilhamos como membros do Corpo de Cristo. Mais ainda: ao ver a cruz, suspensa entre o céu e a terra, sabemos que se estabelece uma comunhão entre nós e os nossos defuntos. Por isso S. Francisco proclamou agradecido: Louvado sejas, Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Por que duvidar que os nossos sacrifícios pelos defuntos lhes levem algum consolo? Não hesitemos, pois, em socorrer os que já partiram e em oferecer as nossas orações por eles» (São João Crisóstomo)
 
«Finalmente seremos revestidos pela alegria, paz e amor de Deus de uma forma completa, sem qualquer limite, e estaremos cara a cara com Ele! É belo pensar nisto! Pensar no céu é belo. Dá força à alma» (Francisco)
 
«A comunhão com os defuntos. Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam venerou, com muita piedade, desde os primeiros tempos do cristianismo, a memória dos defuntos; e, porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados, por eles ofereceu também sufrágios. A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor» (Catecismo da Igreja Católica, nº 958)
 
“Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno, e a luz perpétua os ilumine”
 
Do site: www.ordem-do-carmo.pt
 
*
A vida nova, recebida no Batismo, não está sujeita à corrupção e ao poder da morte. Para quem vive em Cristo a morte é a passagem da peregrinação terrena para a pátria do Céu, onde o Pai acolhe todos os seus filhos, "de toda a nação, raça, povo e língua", como lemos hoje no Livro do Apocalipse (7, 9). A "comunhão dos santos", que professamos no Credo, é uma realidade que se constrói aqui, mas que se manifestará plenamente quando nós contemplarmos Deus "assim como ele é" (1 Jo 3, 2). É a realidade de uma família ligada por profundos laços de solidariedade espiritual, que une os fiéis defuntos a quantos peregrinam no mundo.
 
Em tal dimensão de fé compreende-se também a prática de oferecer orações de sufrágio pelos defuntos, de modo especial o Sacrifício eucarístico, memorial da Páscoa de Cristo, que abriu aos crentes a passagem para a vida eterna (Bento XVI, Angelus, 1 de Nov., 2005).
 
* "Vida eterna", para nós cristãos, não indica, contudo somente uma vida que dura para sempre, mas sim uma nova qualidade de existência, plenamente imersa no amor de Deus, que liberta do mal e da morte e nos põe em comunhão infinita com todos os irmãos e irmãs que participam do mesmo Amor. Portanto, a eternidade pode estar já presente no centro da vida terrena e temporal, quando a alma, mediante a graça, está unida a Deus, seu derradeiro fundamento. Tudo passa, só Deus não muda. (…) Todos os cristãos, chamados à santidade, são homens e mulheres que vivem solidamente alicerçados naquela "Rocha"; têm os pés na terra, mas o coração já no Céu, morada definitiva dos amigos de Deus.
 
* Amados irmãos e irmãs, meditemos sobre estas realidades com a alma voltada para o nosso destino último e definitivo, que dá sentido às situações quotidianas. Reavivemos o jubiloso sentimento da comunhão dos santos e deixemo-nos atrair por eles, rumo à meta da nossa existência: o encontro face a face com Deus. Oremos para que esta seja a herança de todos os fiéis defuntos, não somente dos nossos queridos, mas também de todas as almas, especialmente das mais esquecidas e necessitadas da misericórdia divina  (Bento XVI, Angelus, 1 de Nov., 2006).
 
* Na realidade, a Igreja convida-nos todos os dias a rezar por eles, oferecendo também os sofrimentos e as fadigas quotidianas para que, completamente purificados, eles sejam admitidos a gozar eternamente da luz e da paz do Senhor (Bento XVI, Angelus, 1 de Nov., 2007).
 
* Gostaria de convidar a viver esta data (Comemoração de todos os fiéis defuntos) segundo o autêntico espírito cristão, isto é, na luz que provém do Mistério pascal. Cristo morreu e ressuscitou e abriu-nos a passagem para a casa do Pai, o Reino da vida e da paz. Quem segue Jesus nesta vida é recebido onde Ele nos precedeu. Portanto, enquanto visitamos os cemitérios, recordemo-nos que ali, nos túmulos, repousam só os despojos dos nossos entes queridos na expectativa da ressurreição final. As suas almas – como diz a Escritura – já "estão nas mãos de Deus" (Sb 3, 1). Portanto, o modo mais justo e eficaz de os honrar é rezar por eles, oferecendo atos de fé, de esperança e de caridade. Em união ao Sacrifício eucarístico, podemos interceder pela sua salvação eterna e experimentar a mais profunda comunhão, na esperança de nos encontrarmos juntos, a regozijar para sempre no Amor que nos criou e redimiu (Bento XVI, Angelus, 1 de nov., 2009).
 
* A liturgia do dia 2 de novembro e o exercício piedoso de visitar os cemitérios recordam-nos que a morte cristã faz parte do caminho de assimilação a Deus e desaparecerá quando Deus for tudo em todos. A separação dos afetos terrenos certamente é dolorosa, mas não devemos temê-la, porque ela, acompanhada pela oração de sufrágio da Igreja, não pode romper o vínculo profundo que nos une em Cristo (Bento XVI, Angelus, 1 de nov., 2010).
 
* A Comemoração dos fiéis defuntos ajuda-nos a recordar os nossos entes queridos que nos deixaram, e todas as almas a caminho rumo à plenitude da vida, precisamente no horizonte da Igreja celeste, para a qual a Solenidade hodierna nos elevou. Desde os primeiros tempos da fé cristã, a Igreja terrena, reconhecendo a comunhão de todo o Corpo místico de Jesus Cristo, cultivou com grande piedade a memória dos mortos e ofereceu sufrágios por eles. Portanto, a nossa oração pelos defuntos é não só útil, mas também necessária, enquanto ela não só os pode ajudar, mas ao mesmo tempo torna eficaz a sua intercessão em nosso benefício (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 958). Também a visita aos cemitérios, enquanto conserva os vínculos de afeto com quantos nos amaram nesta vida, recordamos que todos tendemos para uma outra vida, para além da morte. Por isso o pranto, devido à separação terrena, não prevaleça sobre a certeza da ressurreição, sobre a esperança de alcançar a bem-aventurança da eternidade, «instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade» (Spe salvi, 12). Com efeito, o objeto da nossa esperança é o júbilo na presença de Deus na eternidade. Jesus prometeu-o aos seus discípulos, dizendo: «Hei de ver-vos novamente, e o vosso coração alegrar-se-á, e ninguém vos privará da vossa alegria» (Jo 16, 22) (Bento XVI, Angelus, 1 de nov., 2011).
 
* “Só a fé na vida eterna nos faz amar deveras a história e o presente, mas sem se prender, na liberdade do peregrino, que ama a terra porque tem o coração no Céu” (Bento XVI, Angelus, 1 de nov., 2012).
 
* O salmo 90 recita: «Ensinai-nos a contar assim os nossos dias, para que guiemos o coração na sabedoria» (v. 12). Contar os próprios dias faz com que o coração se torne sábio! Palavras que nos reconduzem a um realismo sadio, afastando o delírio da omnipotência. O que somos? Somos «quase nada», diz outro salmo (cf. 88, 48); os nossos dias passam velozes: mesmo se vivêssemos cem anos, no final teremos a impressão de que tudo foi um sopro. Muitas vezes ouvi idosos dizerem: “Para mim a vida passou como um sopro...”.
 
* Assim a morte põe a nossa vida a nu. Faz-nos descobrir que as nossas ações de orgulho, ira e ódio eram vaidade: pura vaidade. Apercebemo-nos, desapontados, que não amámos o suficiente e que não procurámos o que era essencial. E, ao contrário, vemos o que de verdadeiramente bom semeámos: os afetos pelos quais nos sacrificámos, e que agora nos levam pela mão (Papa Francisco, Audiência Geral, 18 de outubro de 2017).

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