Bto
Inácio de Azevedo e 39 companheiros, Mártires do Brasil
Bta
Teresa de S. Agostinho e Companheiras, Virgens e Mártires de nossa Ordem
1ª
Leitura (Ex 1,8-14.22): Naqueles dias, subiu ao trono do Egipto um novo
rei, que não tinha conhecido José. Ele disse ao seu povo: «Vede como o povo de
Israel se tornou maior e mais forte do que nós. Temos de tomar contra ele
medidas prudentes, para que não aumente ainda mais. De contrário, em caso de
guerra, juntar-se-ia aos nossos inimigos, combateria contra nós e acabaria por
abandonar o país». Colocaram então o povo de Israel sob as ordens de capatazes,
para o sujeitarem a trabalhos forçados, e foi assim que ele construiu para o
faraó as cidades de armazenagem Pitom e Ramsés. Mas quanto mais o oprimiam,
tanto mais o povo se multiplicava e crescia. Por isso os egípcios, temendo os
filhos de Israel, sujeitaram-nos a duros trabalhos e fizeram-lhes a vida amarga
com tarefas pesadas: preparação de barro e de tijolos, toda a espécie de
serviços agrícolas, além das restantes tarefas a que os obrigavam duramente. E
o faraó deu esta ordem ao seu povo: «Deitai ao rio todos os filhos que nascerem
aos hebreus; mas deixai viver todas as filhas».
Salmo
Responsorial: 123
R. A nossa proteção está no
nome do Senhor.
Se o Senhor não estivesse conosco,
que o diga Israel, se o Senhor não estivesse conosco, os homens que se
levantaram contra nós ter-nos-iam devorado vivos, no furor da sua ira.
As águas ter-nos-iam afogado, a
torrente teria passado sobre nós; sobre nós teriam passado as águas impetuosas.
Bendito seja o Senhor, que não nos abandonou como presa dos seus dentes.
A nossa vida escapou como pássaro
do laço dos caçadores: quebrou-se a armadilha e nós ficámos livres. A nossa proteção
está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.
Aleluia. Bem-aventurados os
que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus.
Aleluia.
Evangelho
(Mt 10,34--11,1): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Não penseis
que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz, mas sim, a espada. De fato, eu
vim pôr oposição entre o filho e seu pai, a filha e sua mãe, a nora e sua
sogra; e os inimigos serão os próprios familiares. Quem ama pai ou mãe mais do
que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim não
é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.
Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a
encontrará. Quem vos recebe, é a mim que está recebendo; e quem me recebe, está
recebendo aquele que me enviou. Quem receber um profeta por ele ser profeta,
terá uma recompensa de profeta. Quem receber um justo por ele ser justo, terá
uma recompensa de justo. E quem der, ainda que seja apenas um copo de água
fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não
ficará sem receber sua recompensa». Quando Jesus terminou estas instruções aos
doze discípulos, partiu dali, a fim de ensinar e proclamar a Boa Nova nas
cidades da região.
«E quem não toma a sua cruz e
não me segue, não é digno de mim»
Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona,
Espanha)
Hoje, Jesus nos oferece uma
importante mistura de recomendações; é como um desses banquetes modernos onde
os pratos são pequenas porções para saborear. Trata-se de conselhos profundos e
de difícil digestão, destinados a seus discípulos na formação e preparação
missionária (cf. Mt 11,1). Para gostar deles devemos contemplar o texto em
partes diferentes.
Jesus começa dando a conhecer o
efeito do seu ensino. Não obstante os efeitos positivos, evidentes na atuação
do Senhor, o Evangelho evoca as contrariedades e contratempos da predicação: «e
os inimigos serão os próprios familiares» (Mt 10,36). Isso é o contraditório de
viver na fé, temos a possibilidade de enfrentarmos, até mesmo com os que estão
mais perto de nós, quando não compreendemos quem é Jesus, o Senhor, e não o
percebemos como o Mestre da comunhão.
Em um segundo momento Jesus nos
pede para ocupar o lugar mais alto na escala do amor: «Quem ama pai ou mãe mais
do que a mim...» (Mt 10,37), «e quem ama filho ou filha mais do que a mim...»
(Mt 10,37). Desse jeito, propõe deixarmos acompanhar por Ele como presença de
Deus, já que «quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou» (Mt 10,40).
O resultado de morar acompanhados pelo Senhor, acolhido em nossa morada, é
gozar da recompensa dos profetas e justos, porque temos recebido um profeta e
um justo.
A recomendação do Mestre acaba
valorizando as pequenas demonstrações de ajuda e proteção às pessoas que moram
acompanhadas pelo Senhor, os seus discípulos, que somos todos os cristãos.
«Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos,
por ser meu discípulo...» (Mt 10,42). A partir deste conselho, nasce uma
responsabilidade: em relação ao próximo, sejamos conscientes de que as pessoas
que moram com o Senhor, quem quer que sejam, devem ser tratadas como Ele mesmo.
São João Crisóstomo diz: «Se o amor estivesse espalhado por todas as partes,
nasceria dele uma quantidade infinita de bens».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Até que venha a paz, na qual não
teremos qualquer inimigo, a nossa tarefa é lutar longa, fiel e corajosamente,
para que possamos merecer ser coroados pelo Senhor Deus» (Santo Agostinho)
«A Virgem Maria, Rainha da Paz,
partilhou até ao martírio da alma a luta do seu Filho Jesus contra o Maligno.
Invoquemos a sua intercessão materna para nos ajudar sempre a sermos
testemunhas da paz de Cristo, sem jamais nos comprometermos com o mal» (Bento
XVI)
«Tudo o que Cristo viveu, Ele
próprio faz com que o possamos viver n'Ele e Ele vivê-lo em nós. «Pela sua
Encarnação, o Filho de Deus uniu-Se, de certo modo, a cada homem» (Concilio
Vaticano II). Nós somos chamados a ser um só com Ele» (Catecismo da Igreja Católica,
nº 521).
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* A V Conferência dos bispos da América Latina,
realizada em Aparecida do Norte (2007), Brasil, elaborou um documento muito
importante sobre o tema: “Discípulos - Missionários de Jesus Cristo, para que
nele nossos povos tenham vida”. O Sermão da Missão do capítulo 10 do Evangelho
de São Mateus, que estamos meditando nestes dias, oferece muitas luzes para
poder realizar a missão de discípulos e missionários de Jesus Cristo. O
evangelho de hoje traz a parte final deste Sermão da Missão.
* Mateus 10,34-36: Não vim trazer a paz, mas
sim a espada. Jesus sempre fala em paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5;
19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33; 20,21.26). Então, como entender a frase do
evangelho de hoje que parece dizer o contrário: "Não pensem que eu vim
trazer paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a espada”? Esta afirmação não significa que Jesus
estivesse a favor da divisão e da espada. Não! Jesus não quer a espada (Jo
18,11) nem a divisão. Ele quer é a união de todos na verdade (cf. Jo 17,17-23).
Naquele tempo, porém, o anúncio da verdade de que ele, Jesus de Nazaré, era o
Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus. Dentro da mesma família
ou comunidade, uns eram a favor e outros radicalmente contra. Neste sentido a
Boa Nova de Jesus era realmente uma fonte de divisão, um “sinal de contradição”
(Lc 2,34) ou, como dizia Jesus, ela trazia a espada. Assim se entende a outra
advertência: “Eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de
sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares”. Era o que
estava acontecendo, de fato, nas famílias e nas comunidades: muita divisão,
muita discussão, como consequência do anúncio da Boa Nova entre os judeus
daquela época, uns aceitando, outros negando. Até hoje é assim. Muitas vezes,
lá onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova se torna um “sinal de
contradição” e de divisão. Pessoas que durante anos viveram acomodadas na
rotina da sua vida cristã, já não querem ser incomodadas pelas “inovações” do
Vaticano II. Incomodadas pelas mudanças, elas usam toda a sua inteligência para
encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para condenar as mudanças
como contrárias ao que elas pensam ser a verdadeira fé.
* Mateus 10,37: Quem ama seu pai e sua mãe mais
do que a mim, não é digno de mim. Lucas traz esta mesma frase mas muito
mais exigente. Ele diz literalmente: "Se alguém vem a mim, e não odeia seu
próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs, e até mesmo sua própria vida,
esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Como combinar esta afirmação de
Jesus com aquela outra em que ele manda observar o quarto mandamento: amar e
honrar pai e mãe? (Mc 7,10-12; Mt 19,19).
Duas observações: (1) O critério básico em que Jesus sempre insiste é
este: a Boa Nova de Deus deve ser o valor supremo da nossa vida. Não pode haver
um valor mais alto na vida. (2) A situação econômica social na época de Jesus era
tal que as famílias eram obrigadas a se fechar sobre si mesmas. Já não tinham
condições de manter as obrigações da convivência comunitária como, por exemplo,
a partilha, a hospitalidade, a comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos.
Este fechamento individualista, causado pela conjuntura nacional e
internacional, provocava as seguintes distorções: (1) Impossibilitava a vida em comunidade. (2) Estreitava
o mandamento “honrar pai e mãe” exclusivamente para a pequena família nuclear e
não mais para a grande família da comunidade. (3) Impedia a manifestação plena da Boa Nova de Deus,
pois se Deus é Pai/Mãe, nós somos irmãos e irmãs uns dos outros. E esta verdade
deve encontrar sua expressão na vida em comunidade. Uma comunidade viva e
fraterna é o espelho do rosto de Deus. Convivência humana sem comunidade é
espelho rachado que desfigura o rosto de Deus. Neste contexto, o pedido de
Jesus para “odiar pai e mãe” significava que os discípulos e as discípulas
deviam superar o fechamento individualista da pequena família sobre si mesma e
alargá-la para a dimensão da comunidade. Jesus mesmo praticou o que ensinou
para os outros. Sua família queria chamá-lo de volta e fechar-se sobre si
mesma. Quando lhe deram o aviso: “Olha, tua mãe e teus irmãos estão aí fora e
te procuram”, ele respondeu: “Quem é minha mãe e meus irmãos? E olhando para as
pessoas ao redor ele disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a
vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,32-35).
Alargou a família! Aliás, este era e continua sendo até hoje o único caminho
para a pequena família poder preservar e transmitir os valor em que acredita.
* Mateus 10,38-39: As exigências da missão dos
discípulos. Nestes dois versículos Jesus dá dois conselhos importantes e
exigentes: (1) Tomar a cruz atrás de Jesus: Quem não toma a sua cruz e não me
segue, não é digno de mim. Para perceber todo o alcance deste primeiro conselho
convém ter presente o testemunho de São Paulo: “Quanto a mim, que eu não me
glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o
mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6,14). Carregar a cruz
implica, até hoje, na ruptura radical com o sistema iníquo vigente no mundo. (2) Ter a
coragem de doar a vida: Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E
quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Só se sente realizado
na vida quem for capaz de doar-se inteiramente pelos outros. Perde a vida quem
quer conservá-la só para si. Este segundo conselho é a confirmação da mais
profunda experiência humana: a fonte da vida está na doação da vida. É dando
que se recebe. Se o grão de trigo não morrer, ... (Jo 12,24).
* Mateus 10,40: A identificação do discípulo
com Jesus e com o próprio Deus
Esta experiência tão humana da
doação e da entrega recebe aqui um clarão, um aprofundamento: “Quem recebe a
vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. É na
doação total de si que o discípulo se identifica com Jesus; que se realiza o
encontro dele com Deus, e que Deus se deixa encontrar por quem o procura.
* Mateus 10,41-42: A recompensa de profeta, de
justo e de discípulo. Para encerrar o Sermão da Missão segue uma frase
sobre a recompensa: Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a
recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a
recompensa de justo. Quem der ainda que
seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo,
eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa. Nesta frase existe uma sequência
muito significativa: o profeta é reconhecido pela sua missão como enviado de
Deus. O justo é reconhecido pelo seu comportamento, pela sua maneira perfeita
de observar a lei de Deus. O discípulo é reconhecido por nenhuma qualidade ou
missão especial, mas simplesmente pela sua condição social de gente pequena. O
Reino não é feito de coisas grandes. É como um prédio muito grande que se
constrói com tijolos pequenos. Quem despreza o tijolo nunca vai ter o prédio.
Até um copo de água serve de tijolo na construção do Reino.
* Mateus 11,1: O final do Sermão da Missão. Fim
do Sermão da Missão. Quando Jesus terminou de dar essas instruções aos seus
doze discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles. Agora
Jesus parte para praticar o que ensinou. É o que veremos nos próximos dias
meditando os capítulos 11 e 12 do evangelho de Mateus.
Para um confronto pessoal
1) Perder a vida para
poder ganhá-la. Você já teve alguma experiência de sentir-se recompensado/a por
um ato de doação ou de entrega gratuita de si aos outros?
2) Quem recebe a vocês,
recebe a mim, e quem recebe a mim, recebe aquele que me enviou. Pare e pense no
que Jesus diz aqui: ele e o próprio Deus se identificam com você.
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