Nossa
Senhora do Bom-Conselho
São Maria
Rafael Arnáiz Baron, religioso
1ª
Leitura (At 8,1-8): Naquele dia, levantou-se uma grande perseguição
contra a Igreja de Jerusalém e todos, à excepção dos Apóstolos, se dispersaram
pelas terras da Judeia e da Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão
e fizeram grandes lamentações por ele. Saulo, por sua vez, devastava a Igreja:
ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e metia-os na prisão.
Entretanto, os irmãos dispersos andaram de terra em terra, a anunciar a palavra
do Evangelho. Foi assim que Filipe, tendo descido a uma cidade da Samaria,
começou a anunciar Cristo àquela gente. As multidões aderiam unanimemente às
palavras de Filipe, porque ouviam falar dos milagres que fazia e também os
viam. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e
numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquele
cidade.
Salmo
Responsorial: 65
R. A terra inteira aclame o
Senhor.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
cantai a glória do seu nome, celebrai os seus louvores, dizei a Deus: «Maravilhosas
são as vossas obras».
«A terra inteira Vos adore e
celebre, entoe hinos ao vosso nome». Vinde contemplar as obras de Deus,
admirável na sua ação pelos homens.
Mudou o mar em terra firme,
atravessaram o rio a pé enxuto. Alegremo-nos n’Ele: domina eternamente com o
seu poder.
Aleluia. Quem acredita no
Filho de Deus tem a vida eterna: Eu o ressuscitarei no último dia, diz o
Senhor. Aleluia.
Evangelho
(Jo 6,35-40): Jesus lhes disse: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim
não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede. Contudo, eu vos
disse que me vistes, mas não credes. Todo aquele que o Pai me dá, virá a mim, e
quem vem a mim eu não lançarei fora, porque eu desci do céu não para fazer a
minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele
que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os
ressuscite no último dia. Esta é a vontade do meu Pai: quem vê o Filho e nele
crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia».
«Aquele que vem a mim, não
terá fome»
Fr. Gavan JENNINGS (Dublín,
Irlanda)
Hoje, vemos o quanto preocupa a
Deus nossa fome e nossa sede. Como poderíamos continuar pensando que Deus é
indiferente diante de nossos sofrimentos? Mais ainda, muito frequentemente
"recusamos a crer" no amor terno que Deus tem por cada um de nós.
Escondendo-se a Si mesmo na Eucaristia, Deus mostra a incrível distância que
Ele está disposto a percorrer para saciar nossa sede e nossa fome.
Mas, de que se trata a nossa
"sede" e a nossa "fome"? Definitivamente, são a fome e a
sede da "vida eterna". A fome e a sede físicas são somente um pálido
reflexo de um profundo desejo que cada homem tem diante da vida divina que
somente Cristo pode alcançar-nos. «Esta é a vontade do meu Pai: que todo aquele
que veja ao Filho e creiam Nele, tenha vida eterna» (Jo 6,39). E o que devemos
fazer para obter esta vida eterna tão desejada? Algum fato heroico ou
sobre-humano? Não! É algo muito mais simples. Por isso, Jesus diz: «Aquele que
vier a mim não o expulsarei» (Jo 6,37). Nós só temos que buscá-lo, ir a Ele.
Estas palavras de Cristo nos
estimulam a aproximar-nos a Ele cada dia na Missa. É a coisa mais simples no mundo!
Simplesmente, assistir à Missa; rezar e então receber seu Corpo. Quando o
fazemos, não somente possuímos esta nova vida, mas que ademais a irradiamos
sobre outros. O Papa Francisco, então Cardeal Bergoglio, em uma homilia do
Corpus Christi, disse: «Assim como é lindo despois de comungar, pensar nossa
vida como uma Missa prolongada na que levamos o fruto da presença do Senhor ao
mundo da família, do bairro, do estudo e do trabalho, assim também nos faz bem
pensar em nossa vida cotidiana como preparação para a Eucaristia, na que o
Senhor toma tudo o que é nosso e o oferece ao Pai».
«Esta é a vontade do meu Pai:
quem vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Hoje, Jesus apresenta-se como o
pão da vida. À primeira vista, causa curiosidade e perplexidade a definição que
dá de si mesmo; mas, quando aprofundamos, damo-nos conta de que nestas palavras
se manifesta o sentido da sua missão: salvar o homem e dar-lhe vida. «E esta é
a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me
deu, mas os ressuscite no último dia» (Jo 6,39). Por esta razão e para
perpetuar a sua ação salvadora e a sua presença entre nós, Jesus Cristo fez-se
para nós alimento de vida.
Deus torna possível que
acreditemos em Jesus Cristo e nos aproximemos dele: «Todo aquele que o Pai me
dá, virá a mim, e quem vem a mim eu não lançarei fora, porque eu desci do céu
não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou» (Jo
6,37-38). Aproximemo-nos, pois, com a fé Àquele que quis ser nosso alimento,
nossa luz e nossa vida, «já que a fé é o princípio da verdadeira vida», como
afirma Santo Inácio de Antioquia.
Jesus Cristo convida-nos a
segui-lo, a alimentarmo-nos dele, dado que isto é o que significa vê-lo e crer
nele, já que nos ensina a realizar a vontade do Pai, tal como Ele a leva a
cabo. Ao ensinar aos discípulos a oração dos filhos de Deus, o Pai-Nosso,
colocou seguidos estes pedidos: «Seja feita a tua vontade assim na terra como
no céu. O pão-nosso de cada dia nos dai hoje». Este pão não se refere apenas ao
alimento material, mas a si mesmo, alimento de vida eterna, com quem devemos
permanecer unidos um dia atrás de outro com a coesão profunda que nos dá o
Espírito Santo.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Senhor, fazei de mim o que Vos
aprouver. Não coloco qualquer impedimento ou restrição perante Vós, pois Vós
sois todo o meu deleite e o amor da minha alma. E eu, do mesmo modo, derramo
perante Ti a torrente das minhas confidências» (Santa Faustina Kowalska)
«Só aquele que é Deus, vê Deus, e
esse é Jesus. Ele fala realmente desde a visão do Pai, a partir do diálogo
permanente com o Pai, um diálogo que é a sua vida» (Benedito XVI)
«O Filho de Deus, descido do céu,
não para fazer a sua vontade, mas a do seu Pai, que O enviou´ (Jo 6,38),diz, ao
entrar no mundo: (...) Eis-me aqui, (...) ó Deus, para fazer a tua vontade´. E
em virtude dessa mesma vontade, é que nós fomos santificados, pela oferenda do
corpo de Jesus Cristo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 606)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* João 6,35-36: Eu sou o pão da vida.
Entusiasmado com a perspectiva de ter o pão do céu de que falava Jesus e que dá
vida para sempre (Jo 6,33), o povo pede: "Senhor, dá nos sempre desse
pão!" (Jo 6,34). Pensavam que Jesus estivesse falando de um pão especial.
Por isso, interesseiramente pede: “Dá-nos sempre desse pão!” Este pedido do
povo faz lembrar a conversa de Jesus com a Samaritana. Jesus tinha dito que ela
poderia ter dentro de si a fonte de água que brota para a vida eterna, e ela
interesseiramente pedia: "Senhor, dá-me dessa água!" (Jo 4,15). A
Samaritana não percebeu que Jesus não estava falando da água material. Da mesma
maneira, o povo não se deu conta de que Jesus não estava falando do pão
material. Por isso, Jesus responde bem claramente: "Eu sou o pão da vida!
Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá
sede”. Comer o pão do céu é o mesmo que crer em Jesus. É crer que ele veio do
céu como revelação do Pai. É aceitar o caminho que ele ensinou. Mas o povo,
apesar de estar vendo Jesus, não acredita nele. Jesus percebe a falta de fé e
diz: “Vocês me veem, mas não acreditam”.
*João 6,37-40: Fazer a vontade
daquele que me enviou. Depois da
conversa com a Samaritana, Jesus tinha dito aos discípulos: "O meu
alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!" (Jo 4,34). Aqui, na
conversa com o povo a respeito do pão do céu, Jesus toca no mesmo assunto: “Eu desci
do céu, não para fazer a minha vontade, e sim para fazer a vontade daquele que
me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum
daqueles que ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia. Sim, esta é a
vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele acredita, tenha a
vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” Este é o alimento que o povo deve buscar:
fazer a vontade do Pai do céu. É este o pão que sustenta a pessoa na vida e lhe
dá rumo. Aí começa a vida eterna, vida que é mais forte que a morte! Se
estivessem realmente dispostos a fazer a vontade do Pai, não teriam dificuldade
em reconhecer o Pai presente em Jesus.
* João 6,41-43: Os judeus murmuram. O
evangelho de amanhã começa com o versículo 44 (Jo 6,44-51) e salta os
versículos 41 a 43. No versículo 41, começa a conversa com os judeus, que
criticam Jesus. Damos aqui uma breve explicação do significado da palavra
judeus no evangelho de João para evitar que uma leitura superficial alimente em
nós cristãos o sentimento do antissemitismo. Antes de tudo, é bom lembrar que
Jesus era Judeu e continua sendo judeu (Jo 4,9). Judeus eram seus discípulos e
discípulas. As primeiras comunidades cristãs eram todas de judeus que aceitavam
Jesus como o Messias. Só depois, pouco a pouco, nas comunidades do Discípulo
Amado, gregos e pagãos começam a ser aceitos em pé de igualdade com os judeus.
Eram comunidades mais abertas. Mas tal abertura não era aceita por todos.
Alguns cristãos vindos do grupo dos fariseus queriam manter a “separação” entre
judeus e pagãos (At 15,5). A situação ficou mais crítica depois da destruição
de Jerusalém no ano 70. Os fariseus se tornam a corrente religiosa dominante
dentro do judaísmo e começam a definir as diretrizes religiosas para todo o
povo de Deus: suprimir o culto em língua grega; adotar unicamente o texto
bíblico em hebraico; definir a lista dos livros sagrados eliminando os livros
que estavam só na tradução grega da Bíblia: Tobias, Judite, Ester; Baruc,
Sabedoria, Eclesiástico e os dois livros dos Macabeus; segregar os
estrangeiros; não comer nenhuma comida, suspeita de impureza ou de ter sido
oferecida aos ídolos. Todas estas medidas assumidas pelos fariseus repercutiam
nas comunidades dos judeus que aceitavam Jesus como Messias. Estas comunidades
já tinham caminhado muito. A abertura para os pagãos era irreversível. A Bíblia
em grego já era usada há muito tempo. Não podiam voltar atrás. Assim,
lentamente, cresce um distanciamento mútuo entre cristianismo e judaísmo. As
autoridades judaicas nos anos 85-90 começam a discriminar os que continuavam
aceitando Jesus de Nazaré como Messias (Mt 5, 11-12; 24,9-13). Quem teimava em
permanecer na fé em Jesus era expulso da sinagoga (Jo 9,34) . Muitos das
comunidades cristãs sentiam medo desta expulsão (Jo 9,22), já que significava
perder o apoio de uma instituição forte e tradicional como a sinagoga. Os que
eram expulsos perdiam os privilégios legais que os judeus tinham conquistado ao
longo dos séculos dentro do império. As pessoas expulsas perdiam até a
possibilidade de ter um enterro decente. Era um risco muito grande. Esta
situação conflituosa do fim do primeiro século repercute na descrição do
conflito de Jesus com os fariseus. Quando o evangelho de João fala em judeus
não está falando do povo judeu como tal, mas está pensando muito mais naquelas
poucas autoridades farisaicas que estavam expulsando os cristãos das sinagogas
nos anos 85-90, época em que o evangelho foi escrito. Não podemos permitir que
esta afirmações sobre os façam crescer o antissemitismo entre os cristãos.
Para um confronto pessoal
1) Antissemitismo: olhe
bem dentro de você e arranque qualquer resto de antissemitismo.
2) Comer o pão do céu é
crer em Jesus. Como isto me ajuda a viver melhor a Eucaristia?
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